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sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

O ÚLTIMO TRABALHO DE UM IRMÃO APRENDIZ

O ÚLTIMO TRABALHO DE UM IRMÃO APRENDIZ
Ir Laerte Augusto Rolim

Nada mais será como antes! Esta é a única certeza que hoje tenho comigo. Ainda sou um AM, tenho deveres para comigo, com minha família, com a Ordem e com a sociedade e, entretanto, isso não me pesa, não me oprime.

Ouvi, algumas vezes: você já era maçom, e não sabia. Não era verdade, embora eu compreenda que o Ir referia-se a certos princípios éticos que tenho muito presentes em minha alma, e que vejo reiterados nas virtudes maçônicas, na forma preconizada e incentivada pela Ordem para o comportamento do maçom.

Meu pai foi maçom, e de sua convivência, recebi o conceito (que jamais abandonei) de que eu poderia manter a seriedade e o respeito, compreender profundamente quaisquer conceitos e, mais ainda, praticá-los, incorporá-los à minha vida, ao meu modo de viver, sem que, necessariamente me tornasse uma pessoa triste. De uma época muito difícil, de escassez inclusive de valores humanos, causada por uma doença que acometeu meu pai por longos anos, aprendi, em uma época em que ainda sequer tinha raciocínio lógico, a virtude basilar da Maçonaria: a Solidariedade.

Não entendia bem porque, mas via aqueles homens, que sabia serem amigos de meu pai, nos visitar e, ao saírem, sempre restava um envelope que não se sabia qual deles deixara. Era o que era justo e possível, e foi o que possibilitou à minha mãe manter a união e alimentar nossa numerosa família, durante o longo período de doença de meu pai, uma vez que seus esforços, como professora, não eram suficientes!

Já adulto, médico formado, recebí um convite para ser iniciado em uma das lojas de Sorocaba. Após os preparativos iniciais, precisei pedir ao amigo que me convidara que postergasse minha iniciação, por motivos profanos. Recebi novo convite há cerca de quinze anos, mas declinei do mesmo, pois minha então esposa era católica ferrenha, e não aceitava a Maçonaria.

Novo convite, desta vez em São Paulo e, tendo sido aceito (com a aceitação e concordância de minha esposa), fui iniciado há exatamente um ano. Assim, não posso concordar com o que me dizia o Ir, pois acredito que ao ser iniciado estava mais maduro, certamente com mais sabedoria e liberdade (até mesmo por força de minha vivência) e sabendo expressar muito melhor minhas idéias e minha sensibilidade. Sei estabelecer o que quero e não quero, bem como sei adotar posições firmes em defesa de minhas idéias e meus ideais.

Isso, entretanto não me faz e não me fez um maçom. Ao passar a usar o avental de AM, tornei-me, novamente, alguém com uma imensa curiosidade e vontade de aprender, mas ao mesmo tempo, alguém que cultiva o silêncio e a discrição (mais ainda: aprende-as), que sabe a necessidade de aguardar o tempo certo de fazer as coisas, que sabe respeitar seu próprio tempo e dos outros.

Desde minha iniciação, tenho estudado constantemente, pesquisado muito, pois compreendi, após algum tempo, que meu caminho e suas dificuldades ou facilidades seriam traçadas e estabelecidas por mim. Aprendi que não bastava ser iniciado para ser um maçom. Que, se não houvesse esforço de minha parte para ampliar minha consciência, eu não passaria de um semi profano.

Sendo assim, dediquei-me a produzir peças de arquitetura que pudessem passar para os lIr.·. aquilo que havia compreendido em meus estudos e minhas pesquisas, assim como pudessem reproduzir para eles como compreendo a espiritualidade, o esoterismo e a ritualística. Percebo que não houve uma mudança espetacular em minha vida. Mas percebo que as mudanças que ocorreram foram sólidas e duradouras.

A compreensão dos conceitos de Justiça, Temperança, Prudência e Solidariedade passaram a efetivamente fazer parte de minha vida, de uma forma muito prática e vivência!. Passei a ressignificar sentimentos, em relação à família, à comunidade e, mais ainda, a sentir vividamente o conceito de unicidade com o restante da humanidade.

Percebo que não houve uma mudança espetacular em minha vida. Mas percebo que as mudanças que ocorreram foram sólidas e duradouras.

Neste primeiro ano do resto de minha vida, aprendi a valorizar a Amizade, a Fraternidade que unem todos os maçons, que unem particularmente os queridos IIr de minha Loja.

Pude sentir o prazer de defender valores, de cerrar fileiras com os que acreditavam nas mesmas coisas que eu, de tomar posição e não temer por isso, enfim de experimentar a verdadeira Liberdade, de perceber que por muito que ainda tenha que aprender (e creiam os IIr, eu tenho), eu me tornei um homem melhor, e posso espelhar isso no mundo profano.

Sou profundamente grato ao GADU por ter permitido que eu adentrasse à Ordem apenas quando tivesse maturidade para estar aqui e para compreender seus mistérios e simbolismo.

Que a Egrégora coletada e reunida do trabalho de todas as Lojas Maçônicas possa ser igualitariamente distribuída por todos os IIr e que essa energia nos renove internamente e nos prepare para os trabalhos deste ano.

Fonte: JBNews - Informativo nº 054 - 26/10/2010

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