José Maurício Guimarães
Desde que fui iniciado, percebo uma espécie de arrepio entre os maçons quando se fala em “estudar maçonaria”. A princípio, estranhei muito isso − pois os que me indicaram para participar da Ordem e os que fizeram minha sindicância, garantiam que a Maçonaria era uma escola de filosofia moral, social e espiritual estruturada num sistema consciente, uma união de homens sábios e inteligentes, ligados pelo dever de esclarecer e preparar a humanidade para a emancipação e progresso.
Quem não se entusiasmaria com uma “propagada” dessa? E quem, nos tempos tumultuosos que vivemos, não se entusiasma diante de uma “pregação” dessa magnitude?
Por que então – eu sempre me perguntava, e ainda me pergunto – esse ar de admiração, esse estremecimento de espanto e calafrio quando falamos em “estudar maçonaria”? Por que a estupefação que desanda em deboche e pilhéria quando nos referimos à História, à Filosofia, à Psicologia e à literatura especializadas? Nenhuma dessas coisas ou aspectos são mais espetaculosas do que a avalanche de fotografias, medalhas, títulos, diplomas e condecorações de que vivem alguns setores da Ordem − condecorações, títulos e medalhas diplomas que só se justificam pelo mérito (sendo mérito o conjunto de fatos e provas que norteiam uma decisão).
Pois bem: “estudar maçonaria” é fato e prova de relevância na formação do Mérito Maçônico, ou seja: o adquirir habilidades e conhecimentos próprios da “escola essencial” à existência e sobrevivência da Maçonaria, como organização e instituição.
Se o que eu disse até aqui, nessas 240 palavras, pareceu obscuro, recomendo uma releitura atenta (à moda das “análises e interpretações de texto” dos cursos pré-universitários). Tive o cuidado de – eliminando, por substituição, quaisquer palavras ou indícios referentes à Maçonaria − mostrar esse texto de 240 palavras a quatro jovens escolares na faixa entre 14 e 19 anos; e eles entenderam perfeitamente o sentido do texto, apenas me questionando sobre os significados das palavras “sindicância”, “emancipação”, “magnitude” e “estupefação”. Um acerto interpretativo, portanto, de 98,3% do que eu escrevera!
O que pretendo demonstrar com isso?
Se quatro jovens em idade escolar pré-universitária abarcaram, pelo entendimento, 98,3% desse texto, significa que qualquer maçom – independentemente do nível de estudo formal – tem potencial para ler, entender e colocar em prática a seguinte Síntese de Conhecimentos ou de habilidades próprias da Maçonaria:
a) os textos ritualísticos;
b) as instruções dos Graus;
c) a legislação maçônica básica (que reúne os seguintes documentos: A Constituição da Potência; o Regulamento Geral da Potência; a Legislação Penal Maçônica; o Regimento Interno da Loja Simbólica.
É esse “LER, ENTENDER E COLOCAR EM PRÁTICA” acima citado que constitui “ESTUDAR MAÇONARIA”. Por que, então, a persistência nos mesmos erros?
Ninguém vai exigir do maçom que ele se especialize em história egípcia, filosofia grega, cânones medievais, estética renascentista, matemática superior, geometria descritiva de Gaspard Monge, geometria analítica, música ou resistência dos materiais – pelo contrário: às vezes muita informação acaba criando confusão, visto que não somos uma Universidade, e sim uma UNIVERSALIDADE.
Chegará o momento em que o maçom investigativo, ávido por conhecimento, definirá suas prioridades na aplicação do escopo (intenção, objetivo) geral da Maçonaria. Ele poderá optar por uma “especialidade” e, paralelamente a um dos saberes Universitários, desenvolver esta ou aquela PESQUISA, por sua própria iniciativa e no âmbito da Maçonaria. Pode acontecer (e de fato SEMPRE acontece) que estoutro ou aqueloutro definam suas prioridades como conquistar o cargo de Venerável Mestre... ou alonguem seus anseios em alcançar o Primeiro Malhete de sua Potência. Então, esses desprendidos servidores de seus Irmãos se empenharão mais ainda em PESQUISAS mais enraizadas e entranhadas nos textos originais dos “Landmarks” e das “Constituições de Anderson”, além de esmerada proficiência no que tange à Justiça Maçônica e à técnica legislativa Maçônica.
(No parágrafo anterior, coloquei a palavra PESQUISA em destaque como indicativo de relevância ao objetivo das Lojas de Pesquisas que vêm sendo criadas a exemplo daquela que foi a primeira do mundo – a “Quatuor Coronati Lodge Nº 2076” da Grande Loja Unida da Inglaterra) (1)
CONCLUSÃO: Isto, meus caríssimos Irmãos, significa – em síntese − “estudar maçonaria”; nada além do cumprimento do dever de iniciados e, principalmente, galardão daqueles que ostentam o avental de Mestre Maçom.
(1) A “Quatuor Coronati Lodge Nº 2076”, primeira Loja de Pesquisas do mundo, assim define seus objetivos (The Aims of the Lodge):
- Proporcionar centro e vínculo de união aos que estudam a Maçonaria e a história maçônica;
- Atrair maçons para reuniões, a fim de incentivar uma visão crítica (apreciação) da pesquisa maçônica;
- Submeter as descobertas ou conclusões dos pesquisadores ao julgamento e críticas de seus pares por meio de artigos lidos em Loja;
- Submeter e comunicar as discussões (debates, exames minuciosos) que surjam ao corpo geral do Simbolismo publicando os anais da Loja;
- Reimprimir trabalhos escassos e valiosos sobre a Maçonaria;
- Permitir que a língua pátria se familiarize com o progresso dos estudos maçônicos em outros lugares por traduções (e vice-versa);
- Organizar, de maneira concisa, as relações da Loja e seu progresso com as Oficinas congêneres no país e no exterior;
- Formar uma biblioteca e museu maçônicos em instalações permanentes.
(tradução livre e adaptada do Site da “Quatuor Coronati Lodge Nº 2076”
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