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quinta-feira, 23 de abril de 2020

SAUDAÇÃO NO TELHAMENTO

SAUDAÇÃO NO TELHAMENTO
(republicação)

Em 19.07.2015 o Respeitável Irmão Raphael Poffo, atual Segundo Vigilante da Loja Cavaleiros de São João, 2.903, REAA, GOB-PR, Oriente de Curitiba, Estado do Paraná, solicita a seguinte informação: super.poffo@gmail.com

Durante instrução dos Aprendizes, um Mestre Instalado, pediu a palavra, buscando corrigir-me e aos Irmãos telhados. A dita correção é a seguinte: DURANTE O TELHAMENTO, NUM DADO MOMENTO DO QUESTIONÁRIO, O OBREIRO TELHADO DEVERIA FAZER 3 SAUDAÇÕES AO VENERÁVEL MESTRE [(...) o V∴M∴ de minha Loja vos saúda por 3x3. - e daí executar 3 saudações (...)]. Eu na sequência expliquei que isto não constava no Ritual, que poderia ser de um outro Rito, mas que isto não pertencia ao REAA. O tal Mestre Instalado insistiu e então busquei silenciar para que não houvesse um bate boca na Sessão que já estava conturbada. Eu fui iniciado em 2004, tornei-me Mestre em 2008 e até a data de 16 de Julho de 2015 eu nunca havia ouvido falar disto. Nasci no Rito Adonhiramita, já trabalhei no Rito Brasileiro e hoje sou do Rito Escocês Antigo e Aceito (sempre no GOB) e EU NUNCA OUVI FALAR DISTO. Procurei e não encontrei nenhuma referência sobre isto. Por favor, podes me esclarecer acerca disto? Estive e estou errado?

CONSIDERAÇÕES:

A sua respeitável pessoa está corretíssima na avaliação. Infelizmente ainda existem certos “entendidos” que se vestem do título distintivo de Mestre Instalado e “acham” que podem tudo, inclusive essa de inventar práticas inexistentes no ritual em vigência.

Deixando esses professores de Deus em segundo plano, segue abaixo um texto de uma resposta que eu dei ainda no mês de abril desse ano que acredito possa lhe ajudar e também avaliar se o preceptor instalado saberia alguma coisa nesse sentido.

Segue o texto:

Resposta dada em abril/2015 sobre o telhamento e a expressão TVVT

Segundo alguns autores essa declaração advém dos antigos canteiros medievais da Francomaçonaria que saudavam pelo sinal o Mestre da Obra por nove vezes – “Eu vos saúdo, eu vos saúdo, eu vos” ... (repetia-se o procedimento por nove vezes). O número nove associava-se à unidade de proporção do cubo poliédrico – três partes para a largura somadas as três para a profundidade e ainda mais três partes para a altura.

Três desses cubos compostos por três partes iguais na sua largura, profundidade e altura quando sequencialmente unidos nessa proporção perfaziam geralmente o volume do edifício ou o quadrilongo.

Essa harmonia proporcional construtiva mais tarde seria muito usada para determinar os limites simbólicos da Loja (Oficina ou Canteiro) da Moderna Maçonaria – um cubo para o Oriente e dois cubos para o Ocidente, ou ainda, um para o Oriente, um e meio para o Ocidente e meio para o Átrio.

Outro provável aspecto originário do termo TVVT está na saudação oriunda das Lojas maçônicas inglesas no que se refere ao cumprimento às Três Luzes Maiores, às Três Luzes Menores e aos três principais Oficiais, a saber: o Livro da Lei, o Esquadro e o Compasso; O Sol, a Lua e o Venerável (o Sol para governar o dia, a Lua para governar a noite e o Venerável para governar a Loja); os dois Vigilantes e o Guarda do Templo. 

Assim, o termo TVVT se reportava também à saudação aos componentes de uma Oficina maçônica daquela época, anterior ao século XVIII e da profusão e aparecimento de Ritos e Trabalhos maçônicos.

Cabe nesse particular uma importante observação: essa conduta não pode ser tomada como exclusividade deste ou daquele Rito, já que a expressão comentada antecede a existência desses na Maçonaria.

Assim o termo TVVT pela sua importância histórica e dos seus usos e costumes ficaria fazendo parte do complexo ideário maçônico.

Ainda, em se tratando da vertente deísta da Moderna Maçonaria francesa, o termo também se reporta à evolução e aperfeiçoamento da Natureza onde T corresponde a cada ciclo natural (estação do ano) que somados por T corresponde ao número nove (meses) – a primavera, o verão e o outono. 

Os três meses de inverno não aparecem por se reportarem a estação em que a Terra fica viúva da Luz. 

Daí o quadrado de T (3²) ou TVVT

Nesse sentido as tríades se apresentam na Maçonaria em vários aspectos simbólicos, todavia apenas como tríades e não como origem da expressão usada especificamente no telhamento maçônico.

Embora exista também influência anglo-saxônica no simbolismo do Rito Escocês (o termo “antigo” em seu título), este pela sua origem francesa adotaria em seu arcabouço doutrinário a alegoria da evolução da Natureza aqui já mencionada – note as nove luzes dispostas em grupo de três em três sobre o Altar ocupado pelo Venerável Mestre e as mesas dos Vigilantes.

Concluindo. Nunca é demais lembrar que entre as duas vertentes principais da Maçonaria – a inglesa e a francesa – as práticas litúrgicas e ritualísticas dos Ritos e Trabalhos (working do Craft) não raras vezes se diferenciam entre eles, principalmente pelos seus costumes culturais, daí práticas como o próprio Telhamento latino (questionário tal qual conhecemos no Brasil) aplicado no REAA, por exemplo, não podem ser generalizados como artifício único para toda a Maçonaria universal. Como dito, há entre eles práticas diferenciadas e muitas vezes desconhecidas conforme a sua vertente maçônica – anglo-saxônica ou latina.

Espero que esse texto lhe seja suficiente para esclarecer. Enfim, cumprindo o que está legalmente previsto, o protagonista telhado não faz sinal e saudação alguma durante o interrogatório do Telhamento (t∴vv∴t∴). As saudações devidas ele já as fez assim que fora concluída a Marcha do Grau – saudou pelo Sinal as Luzes da Loja uma vez cada uma hierarquicamente.

É sempre bom lembrar que três vezes três tem sido na matemática terrestre igual a nove. Daí se fosse esse o caso - dessa quantidade de saudações (por três vezes três); o que não é – o protagonista teria então que saudar o Venerável nove vezes consecutivas e não três conforme apregoava naquela oportunidade aquele iluminado Irmão Mestre Instalado. 

Aliás, pergunta-se: será que ele mesmo saberia pronunciar todo o Telhamento sem abrir o ritual e ler o texto diante do protagonista que estava sendo telhado?

Nada contra os respeitabilíssimos Mestres Instalados, todavia tem sido público que alguns deles equivocadamente se acham verdadeiras “potestades”.

T∴F∴A∴
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 1.924 – Florianópolis (SC) – sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

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