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sábado, 16 de maio de 2020

MAÇONARIA POR UM PROFANO

UMA HISTÓRIA SOBRE A MAÇONARIA CONTADA POR UM PROFANO
*Mauro Tavares Cerdeira

Não sou maçom. Nunca fui. Eis uma organização interessante. Quase ninguém sabe exatamente o que é e qual sua importância. Um e outro chega a dizer que é uma organização secreta, ou até uma espécie de “máfia”. Não é nada disso. A maçonaria é uma sociedade de ajuda mútua. É uma organização em que homens do comércio e da indústria, profissionais liberais e outros se reúnem, para se conhecer, trocar impressões, indicações profissionais, experiências, ajudar aos que necessitam de quando em vez, fofocar um pouco, e se meter uns na vida dos outros, como de resto todos nós fazemos, em família ou fora dela.

O mistério e os segredos vem por conta de uma briga antiga com a Igreja Católica, que temia uma competição da organização, quando reinava soberana entre as sociedades civis organizadas. A crítica à maçonaria, nos dias atuais, talvez fique por conta de estar um pouco desatualizada, de conservar-se muito fechada, machista etc. Mas isso é coisa para ser resolvida lá entre os maçons. Cada um com seus problemas. Já fui indicado por um primo e um tio, muito queridos, para a maçonaria, e confesso que fiquei entusiasmado, já que gosto muito de fazer amigos, trocar idéias, de ajudar e ser ajudado. Mas nas duas vezes aconteceu de começarem a ligar para os bancos que tenho conta, para os meus amigos, e não resisti à varredura. Vai ver que valorizo mais a privacidade que a oportunidade do convívio. “Cada cabeça, uma sentença”.

Estava explicando isso tudo para meu irmão caçula, em viagem que fizemos por conta de uma audiência, quando me contou que havia sido convidado por um médico, amigo dele, a ingressar na maçonaria. E daí contei uma história antiga, que me deixou bastante comovido na época, que passo a contar agora, rapidinho, para quem quiser ler.

Morávamos no sul de Minas, em uma pequena cidade. Eu devia ter uns 11 anos. Uma prima, quatro ou cinco anos mais velha, inteligente e independente, havia tido um arranca-rabo com os pais e achou por bem pegar o dinheirinho que tinha e embarcar em um ônibus que, sete horas depois, às 22h, a deixou na rodoviária da Capital de São Paulo. Como já era crescida em tamanho, enganou bem o motorista, passando-se por maior de idade.

Havia se vingado dos pais, mas o tempo começou a passar, a madrugada se aproximava, a barra foi ficando pesada, dinheiro quase não tinha. Enquanto isso, em Muzambinho, a família enlouquecia, procurando a mocinha por todos os lugares, sem poder supor a viagem insólita. Instaurado o desespero, a menina telefonou para casa, não me lembro de que forma. A família entrou em pânico. Tinham apenas um parente na cidade de São Paulo, mas não conseguiam contato. Isso já faz mais de 20 anos, não tinha celular, nem todo mundo tinha telefone. Tudo era difícil. Confiar em polícia que não iam. Quase meia-noite. Quinze anos de idade. 450 quilômetros de péssimas estradas de distância. Um pesadelo.

Mas meu tio, pai da prima viajante, era, e é até hoje, um bom maçom. E havia uma lista de líderes maçons em cada município. Contatado o de São Paulo, este localizou um outro, que residia próximo da rodoviária, que trocou o pijama, pegou um táxi, e em menos de 40 minutos minha prima estava jogando dominó no conforto de seu apartamento, com sua filha de mesma idade.

No outro dia, o parente, que era um tio querido, então localizado, foi buscá-la. O pai se dirigiu a São Paulo e, entre beijos e abraços, encerrou-se o caso, sem processo contra a empresa de ônibus, o que se fosse hoje, certamente teria ocorrido.

O tempo leva muito de nossa memória e algumas coisas ouvi de terceiros. Não sei dizer se tudo o que conto é exatamente a verdade. Talvez seja uma mistura de ficção e realidade. Mas fiquei impressionado, na época, com o fato de haver uma organização, um elo de união, capaz de promover um ato de ajuda, humanitário, com confiança plena, entre pessoas que efetivamente não se conheciam. Até hoje dou parabéns aos maçons por isso.

E em um mundo que cada vez percebe mais um pouco, que a saída para a solução de seus constantes problemas é a união, a organização e a associação, acho que a maçonaria é um bom exemplo, assim como hoje em dia temos muitos outros.

*Mauro Tavares Cerdeira é advogado

Fonte: https://luizsergiocastro.files.wordpress.com

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