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terça-feira, 14 de julho de 2020

COLUNETAS JÔNICA, DÓRICA E CORÍNTIA NO REAA

COLUNETAS JÔNICA, DÓRICA E CORÍNTIA NO REAA
(republicação)

Em 13/10/2015 o Respeitável Irmão Paulo Fagundes de Lima, Loja Basiléia, no 4.109, REAA, GOSP/GOB, Oriente de São Paulo, Capital, apresenta a seguinte questão:
paulo.lima@sgcib.com

Venho mais uma vez solicitar seu auxilio e abusar de seus conhecimentos. Outro dia estando na Sala dos Passos Perdidos esperando para o inicio de uma sessão em uma Loja que estava visitando, presenciei uma acirrada discussão sobre a presença e uso das colunas Jónica, Coríntia e Dórica em uma Loja do Rito Escocês Antigo e Aceito.

Enquanto alguns Irmãos sustentavam a existência destas como partes da decoração da Loja (tínhamos Irmãos da GLESP, e aparentemente elas estão explicitamente citadas em seu ritual), outros se baseavam em nosso ritual para condenar sua utilização e presença em Loja.

Fui pesquisar e confesso que fiquei confuso. Olhando nosso ritual (2009) é transparente que estas colunas não são citadas como peça de decoração do Templo (pg. 14 a 21). Porém na 2ª instrução (pg. 174) as três colunas são citadas explicitamente como peças de sustentação da Loja, sendo a Sabedoria, a Beleza e a Força e representando respectivamente, o Venerável Mestre, o 2º Vigilante e o 1º Vigilante.

Ao concordar com os Irmãos que constatam que estas colunas não fazem parte da decoração da Loja, pois não está escrito, noto que também não é citado no ritual, pelo menos do de Aprendiz, as colunas (ou meia colunas) que sustentam os signos do Zodíaco. Sabemos que estão lá por conhecermos o Templo, e sabemos que os signos estão lá, pois consta no mapa da Loja (pg. 22) e na sua descrição quanto ao desenho e significado (pg. 24 e 25).

Do mesmo modo, quando da descrição sobre o que fica sobre a mesa do Venerável Mestre, não há qualquer citação quanto à existência de um relógio, ou de uma ampulheta, instrumentos tão comuns de se encontrar em uma Loja.

Pensando na lógica de nosso simbolismo, e considerando que estas colunas estão explicitamente citadas na 2ª instrução, e que todo o simbolismo utilizado por nossa Ordem aparece sempre nos símbolos ou nos instrumentos expostos em Loja quanto aplicáveis a seu grau, me pergunto:

a) A falta de menção das referidas colunas na decoração da Loja teria sido um mero esquecimento, ou um erro de impressão?

b) Se sim, qual o problema em apresentá-las em Loja, visto que inclusive fazem parte da 2ª instrução?

c) Estariam os Irmãos que a condenam certos, principalmente quanto afirmam que a sua citação nos rituais das Grandes Lojas, se devem a um equívoco da confecção destes quando da cisão com o Grande Oriente, pegando assim estes símbolos do Rito Adonhiramita?

d) Se sim, por que então estas colunas constam na 2ª instrução, já que não seriam próprias do nosso rito? Não seria o caso de simplesmente retirá-las desta instrução?

e) Sendo legalistas e aplicando ao pé da letra as leis, ao se proibir as colunas por não fazerem parte do descritivo da decoração da Loja, não teríamos que também proibir a utilização de relógios, ampulhetas e quaisquer outros objetos na mesa do Venerável?

Nossa obrigação é de sempre cumprir de forma estrita a legislação (neste caso, o ritual), até por uma questão de coerência com nosso juramento, mas neste item estou realmente confuso, pois se estas colunas realmente fazem parte da instrução, me parece lógico que as mesmas estejam presentes fisicamente em Loja, até como uma forma de melhor fixação dos seus ensinamentos por parte dos Irmãos.

Agradeço desde já sua atenção, seu carinho e sua disponibilidade e disposição em compartilhar seus conhecimentos com todos os Irmãos.

CONSIDERAÇÕES:

Primeiro dois aspectos a serem considerados:

1. O Venerável Mestre e os Vigilantes como Luzes da Loja, independente do Rito praticado representam figuradamente a Sabedoria, a Força e a Beleza como sustentáculos da moral maçônica.

2. A Sabedoria, a Força e a Beleza são representadas na Moderna Maçonaria pelas Ordens de Arquitetura gregas Jônica, Dórica e Coríntia respectivamente.

O termo “figurado” é como um elemento oculto ou abstrato usado na doutrina de aperfeiçoamento do Maçom. Assim essa prática é apenas simbólica e não carece de elementos distintivos e palpáveis para existirem. A doutrina maçônica ao se valer do conceito simbólico exprime a lição por exemplos e não fatos literais. Um bom exemplo disso e para melhor compreensão do fato está na Lenda do 3º Grau e a sua teatralização durante a cerimônia de Exaltação. Tudo o que ali ocorre é simplesmente simbólico e não um fato literalmente sacramentado.

Às questões:

a) Em se tratando do REAA, não é esquecimento. Embora as Luzes da Loja figuradamente representem a Sabedoria, a Força e a Beleza, não existe a configuração ou colocação obrigatória e palpável das colunas representativas sobre o Altar ocupado pelo Venerável e as mesas dos respectivos Vigilantes. Ratifico – não existe a presença das colunetas, colunas ou outras quaisquer representações das ordens Jônica, Dórica e Coríntia no Rito Escocês.

b) A menção das Ordens de Arquitetura, embora significativas e que fazem parte da instrução, não está prevista no escocesismo tradicional qualquer colocação de elementos decorativos a elas relacionados, já que essa representação física é comum em outra vertente maçônica a exemplo do Trabalho de Emulação (inglês). A título de ilustração o Rito Escocês é filho espiritual da França e não da Inglaterra.

c) Eu diria: meio-certos. De fato, após a cisão de 1.927, Mário Béhring buscou reconhecimento para as recém-criadas Grandes Lojas Estaduais brasileiras nos Estados Unidos da América do Norte, cuja Maçonaria lá praticada (até hoje) é oriunda da Inglaterra. Assim, muitos costumes ingleses inseridos no Craft Norte-americano, acabariam aportando equivocadamente no REAA aqui no Brasil por conta desse reconhecimento. Um exemplo disso é a colocação equivocada das mencionadas colunetas como elementos simbólicos e litúrgicos no escocesismo à moda inglesa. O Rito Adonhiramita não tem nada a ver com isso.

d) Esse é outro assunto. Como dito no começo dessas considerações as Luzes da Loja alegoricamente representam a tríade da Sabedoria, Força e Beleza e as Ordens de Arquitetura em qualquer situação, porém isso não significa indistintamente a colocação física de Colunas para representarem essa alegoria no que diz respeito ao REAA.

Assim sob a óptica doutrinária elas são mencionadas apenas de modo abstrato, até porque muito mais interessante do que se colocar colunetas é o estudante conhecer sua relação histórica e filosófica da Antiga Grécia (vide as Guerras do Peloponeso) que fez com que a alegoria fosse aproveitada também pela Moderna Maçonaria.

A origem dessas instruções, muito distante do escocesismo, está nas Preleções de Sir Willian Preston (primeiro professor de Maçonaria) nas Lições Prestonianas e a Tábua de Delinear inglesa do Primeiro Grau, onde nela aparecem distintas as três Colunas com as letras “W”, “S” e “B” na sua base. W – Wisdon (sabedoria), Strong (Força) e Beauty (Beleza) alistadas ao Venerável, Primeiro e Segundo Vigilantes. Daí, por exemplo, nos Trabalhos de Emulação (aqui comumente conhecido como Rito de York) a representação das Colunas além da Tábua de Delinear (Painel) elas aparecem também sobre os pedestais do Venerável e dos Vigilantes, inclusive essas fazendo parte de procedimentos litúrgicos entre o Primeiro e o Segundo Vigilante (coluneta em pé e deitada).

Desse modo é que esse costume, dentre outros, via reconhecimento das Grandes Lojas Estaduais Brasileiras pela Maçonaria Norte-Americana, que é filha espiritual da Inglaterra, viria aportar em alguns rituais do Rito Escocês no Brasil, a exemplo, além das Colunas, também da própria Tábua de Delinear Inglesa equivocadamente inserida no escocesismo tupiniquim, por acomodação, como Painel Alegórico, isso além do próprio e verdadeiro Painel francês tradicional no Rito.

Por essas e por outras, é que a própria instrução baseada nas preleções inglesas acabou por aportar nas instruções do simbolismo escocês de modo às vezes generalizado como é o caso da Segunda Instrução mencionada da questão.

Desse modo, como instrução no escocesismo ela é suportável, até pela relação das Luzes com as Ordens de Arquitetura independente de Ritos e Trabalhos, porém nunca, no Rito Escocês, de modo literal que leve a prática de se colocar colunetas junto às Luzes da Loja e outros costumes porventura a elas relacionados.

e) Penso que aquilo que não faz parte da simbologia, da doutrina e da decoração do Rito no respectivo seu Grau não deveria aparecer. É o caso das ampulhetas, crâneos, colunetas, etc. que não raras vezes se vê em algumas Lojas quando não previstos.

No caso do GOB e os seus rituais em vigência nada disso está prognosticado, portanto eles não fazem parte da liturgia, daí não deveriam aparecer.

No que concerne às Colunas Zodiacais, elas são elementos indispensáveis na doutrina do simbolismo do REAA e fazem parte da decoração da Loja desde a evolução dos rituais na França a partir do Século XIX. Essas Colunas, ou as seções delas (como fossem meias-colunas brotando das paredes), ao contrário do que muitos pensam, não têm nenhuma conotação como elemento que suporta alguma coisa (abóbada, constelações, etc.). Elas são elementos que marcam as posições das constelações do Zodíaco simbolicamente na base da abóbada. Inclusive, muitos rituais não as preveem literalmente, bastando apenas que na base da abóbada estejam representadas as constelações.

Aqui no Brasil as Colunas Zodiacais se tornaram elementos obrigatórios na decoração escocesa, embora não raras vezes as vemos colocadas em lugar errado; por exemplo, situadas no Oriente da Loja, já que corretamente elas, em número de doze, ocupam seis na parede Norte e seis na Sul no Ocidente.

Tal é a sua importância no arcabouço doutrinário do Rito que elas marcam a senda iniciática alusiva ao Francomaçônico básico – Aprendiz, Companheiro e Mestre.

Finalizando, essas são as minhas considerações, porém sem o mote de querer criticar esse ou aquele ritual aprovado pelas Obediências brasileiras. Meus apontamentos estão apenas e tão somente norteados para o que é tradicional e verdadeiro, ou pelo menos, o que deveria ser.

T.F.A.
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 2.081 – Melbourne (Vic.) segunda-feira, 13 de junho de 2016

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