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sábado, 4 de julho de 2020

DO NÍVEL À PERPENDICULAR

DO NÍVEL À PERPENDICULAR - OS INSTRUTORES DOS APRENDIZES E COMPANHEIROS - REAA

Em 20.02.2019 o Respeitável Irmão Francisco Kennedy C. de Souza, Loja Estrela da Fronteira, 2.024, REAA, GOB-MS, Oriente de Mundo Novo, Estado do Mato Grosso do Sul, apresente a seguinte questão.

DO NÍVEL À PERPENDICULAR

Estimado Ir Pedro Juk, novamente recorro aos teus conhecimentos para esclarecer uma dúvida. No início pág. 93 do ritual do REAA, grau de Comp∴ lê-se que o Aprendiz ao ser elevado, vai do Nível à Perpendicular (prumo), assim sendo não consigo compreender essa parte, pois se o 2º Vigilante porta a joia do prumo (perpendicular) e o Companheiro passou a esse instrumento, não seria o 2ºVig∴ que deveria ser o responsável pelas suas instruções?

Por favor, me diga se o equívoco está no texto, naquele que é o indicado para ser o responsável pelo Comp∴ ou se é minha interpretação?

CONSIDERAÇÕES:

Uma coisa nada tem a ver com a outra. Já expliquei bastante isso. Na questão dos Instrutores dos Aprendizes e dos Companheiros no REAA leva-se em conta a hierarquia das Luzes e o seu contexto histórico.

Segue assim um breve resumo sobre esse fato: como somos herdeiros espirituais dos canteiros (cortadores da pedra calcária) medievais, época em que somente existia a Maçonaria Operativa, ou de Ofício, era o 2º Warden (diretor, zelador) o responsável por receber um Aprendiz do Ofício e instruí-lo nas regras do trabalho. Nos canteiros de obras medievais os Vigilantes ocupavam pequenas vivendas (abrigos). O 1º se colocava no Ocidente e o 2º ao Meio-Dia, ou Sul da imensa oficina de trabalho que era, nada mais do que o canteiro de obras de uma grande edificação (catedral, igreja, abadia, etc.).

Cabe então entender que no período operativo da Maçonaria não existiam Lojas especulativas, porém guildas de construtores protegidos pela Igreja-Estado, cujas corporações de artesãos (pedreiros) atuavam na profissão dentro do canteiro. Destaque-se que as atuais Lojas especulativas são simbolicamente modelos estilizados de um canteiro de obras onde operavam aquelas corporações de ofício. É daí que atualmente também se conhecem as nossas Lojas Simbólicas como Oficinas.

Com a queda do Ofício e a chegada da Maçonaria dos aceitos, ou especulativos, os ritos então criados, principalmente a partir do século XVIII, respeitando muitas tradições extraídas das old charges e dos puros landmarks, construíram as suas liturgias. 

Uma dessas práticas foi a de posicionar a classe dos Aprendizes ao Norte e a dos Companheiros ao Sul – isso para os ritos natos no hemisfério Norte.

Alguns ritos, como é o caso do REAA, especulativamente instituíram o caminho iniciático (escalada) pelo topo das Colunas do Norte e do Sul (paredes norte e sul do Templo onde se colocam as Colunas Zodiacais). Com isso os Aprendizes passaram a ocupar a banda setentrional (boreal) da Coluna do Norte e os Companheiros a meridional (austral) da Coluna do Sul. 

Buscando preservar a herança cultural adquirida dos maçons operativos, mesmo estando os Aprendizes posicionados ao Norte, quem os instrui é o 2º Vigilante. Desse mesmo modo, mas de maneira inversa, isso acontece também com os Companheiros que, posicionados ao Sul, são instruídos pelo 1º Vigilante. Entenda-se então que instrução nada tem a ver com o lugar onde sentam os Aprendizes, os Companheiros e os Vigilantes, e nem mesmo com o lugar em que se localizam as pedras, Bruta e Cúbica. A questão aqui é apenas de hierarquia. O instrutor não carece ser nativo da mesma Coluna que os instruídos.

Na verdade, pelas entrelinhas o ritual segue essas tradições, lembrando ainda que os Vigilantes, que eram os antigos Wardens, são auxiliares do Mestre da Obra (atual Venerável Mestre) e não os "donos" das Colunas. Eles, os Vigilantes, as dirigem em auxílio ao Venerável, porém seguem as regras que o Rito dita através do seu ritual.

Cabe ainda salientar que na Moderna Maçonaria, além dos Vigilantes, outros Mestres, independente do lugar que ocupem em Loja, também podem agregar mais ensinamentos ministrando instruções. Obviamente, desde que devidamente autorizados ou mesmo escalados para essa missão. Em linhas gerais, instruções em Loja não são exclusividade dos Vigilantes

Uma prova que não é uma questão de lugar na Loja, veja, por exemplo, as práticas dos trabalhos ingleses do Craft, por aqui muito conhecidas como Rito de York. Nele a Pedra Bruta fica com o Segundo Vigilante ao Sul enquanto que os Aprendizes ficam ao Norte (mais propriamente à nordeste). Assim, nota-se que nesse caso não é preciso existir coincidência de lados, regiões, bandas e lugares na sala da Loja.

Cabe mencionar que não há nenhuma regra obrigando que o Vigilante, como instrutor, ocupe a mesma Coluna (ou região da Loja) do instruído. Isso é ideia ultrapassada e não condiz com a pureza das tradições, usos e costumes.

No que diz respeito à questão de o Companheiro passar "para" a perpendicular ao Nível é de viés iniciático, pois o Aprendiz, agora elevado, terá a missão de simbolicamente erguer as paredes à Prumo. 

Quanto às respectivas joias dos Vigilantes, essas também se relacionam com as antigas características operativas, pois eram eles que, como principais homens de confiança do Mestre da Obra, nivelavam (1º Vigilante) e aprumavam (2º Vigilante) os "cantos" da construção para que os trabalhos se realizassem "justos e perfeitos". Da mesma maneira, ao final da jornada de trabalho, quando do encerramento, conferissem a aprumada e o nivelamento daquilo que fora executado. Se "justos e perfeitos" os operários eram então pagos e despedidos contentes e satisfeitos. Observe que o andamento ritualístico de abertura e de encerramento previsto no ritual seguem essas regras. Na Moderna Maçonaria as velhas aprumadas e nivelamentos especulativamente foram substituídas por um a palavra que, para estar "justa e perfeita", deve antes ser transmitida de acordo com as exigências do ofício.

Concluído, concernente à sua questão, nesse caso não há nenhum equívoco no ritual. O mote é o de compreender aquilo que é preservado por tradição e aquilo que possui significado iniciático. Ambas se fundem como produto da Arte Real.

P. S. – O Ritual de Aprendiz do REAA e o Sistema de Orientação Ritualística do GOB RITUALÍSTICA também trazem mais colocações sobre quem são os instrutores oficiais dos Aprendizes e dos Companheiros do REAA.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br

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