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terça-feira, 7 de julho de 2020

SUBSTITUIÇÃO DE CARGOS

SUBSTITUIÇÃO DE CARGOS
(republicação)

Em 08/10/2015 o Irmão Ícaro Bandeira Cavalcanti de Andrade, Aprendiz Maçom da Loja Academia de Suassuna Carpinense, 67, REAA, GOIPE-COMAB, Oriente de Carpina, Estado de Pernambuco, assinante da Revista A Trolha, formula as questões seguintes:
icaro_andr@hotmail.com

1. Em determinada reunião em minha Oficina, em razão de o Secretário titular estar exercendo "Ad Hoc" outra função, a secretaria ficou "sob espada", sendo incumbido a mim, Aprendiz Maçom, a digna missão de lavrar o balaústre, ocupando o cargo de Tesoureiro ad hoc naquela Sessão, posto que não poderia subir ao Oriente. Na reunião seguinte, quando o Secretário titular leu a ata elaborada por mim e submetia à aprovação, o Irmão Orador interviu, observando que havia minha assinatura no referido documento, sendo que, segundo aquela Dignidade, só o Secretário titular pode assinar as atas e documentos da Secretaria. Embora concordando em parte com o Irmão, visto que sequer este humilde Aprendiz ocupava a Secretaria na Sessão anterior (Tesoureiro em exercício temporário), gostaria de esclarecimentos no que atine à competência para apor assinaturas como ocupante do cargo Ad Hoc. Também gostaria que o estimado Irmão esclarecesse se naquela Sessão eu poderia ter assumido a Tesouraria e lavrar a ata ao mesmo tempo, considerando que naquela oportunidade só havia cinco Mestres.

2. Na minha Loja mãe, os Irmãos aduzem que só os Mestres ocupam cargos no Oriente, e quiçá, na Oficina inteira, todavia, em seu irretocável Curso de Maçonaria vol. I (para o Grau de aprendiz), o Irmão já falecido, Theoabaldo Varoli Filho, afirma categoricamente que os Companheiros podem assumir a Secretaria e a Oratória, informação que igualmente colide com o que se pratica em outras Oficinas pernambucanas, visto que, na minha região, em Lojas de Potência distinta que frequento esporadicamente, há a concordância quase unânime de que só os Mestres Instalados podem ser o representante do Ministério Público em Oficina (observação razoável, considerando a necessidade de experiência para tal exercício). Quem está com a razão, Theobaldo Varoli e outros baluartes de verve autêntica ou essa prática aparentemente herdada dos místicos?

CONSIDERAÇÕES:

1 – Eu lamento informar que houve uma sucessão de erros, inclusive no uso desse termo estranho “sob espada”.

Qualquer cargo em Loja é privativo de Mestre Maçom. A cátedra do Secretário por ser uma das Dignidades da Loja não poderia jamais ficar vazia em Loja aberta. Na ausência do titular um Mestre “Ad Hoc” preenche o cargo.

Saliente-se que tradicionalmente sem o mínimo de sete Mestres uma Loja não pode ser aberta. Para o caso do REAA, numa situação dessas, a Loja deveria ficar assim composta: Venerável e os Vigilantes mais o Orador e o Secretário somados ao Cobridor Interno e ao Mestre de Cerimônias. Os Diáconos nessa oportunidade seriam preenchidos “momentaneamente” para a transmissão da Palavra pelo Secretário e pelo Mestre de Cerimônias.

Assim, no que diz respeito ao item 1 da questão, em primeira instância o Orador está correto em não permitir assinatura de um Aprendiz (ou mesmo de um Companheiro) no Balaústre, já que independente de qualquer situação Aprendizes e Companheiros não podem assumir nenhum cargo em Loja.

Há, entretanto outra situação não menos importante. Caberia perguntar então: como é que o Orador na oportunidade pode permitir que um Aprendiz assumisse o cargo de Tesoureiro e ainda deixando-o responsável por lavrar o Balaústre da Sessão na Coluna do Norte e no lugar do Secretário? No meu modo de ver, essa Sessão, a mesma que resultou no Balaústre, devido a sua composição não deveria ser realizada já que ela não poderia ser considerada Justa e Perfeita.

Quanto à questão de um Secretário “Ad Hoc”, em sendo ele um Mestre Maçom, o mesmo pode perfeitamente assinar o livro dos Balaústres.

2 – Parece difícil compreender como é que o Mestre Theobaldo Varolli tenha equivocadamente mencionado em algumas das suas obras que Aprendizes e Companheiros poderiam assumir cargos em Loja. Acredito que provavelmente o autor (oriundo da Grande Loja) estivesse se referindo sim aos idos tempos operativos da Maçonaria de Ofício, quando de então não existia ainda o grau especulativo de Mestre Maçom, salvo apenas duas classes de trabalhadores (cortadores e entalhadores da pedra).

Na Maçonaria Operativa (de Ofício) era comum a regra de que uma Oficina seria obrigatoriamente composta por um dirigente e dois auxiliares imediatos (Companheiros designados como Mestre da Obra e como Wardens), mais dois Companheiros do Ofício (Fellows Craft) e dois Aprendizes da Arte, cuja quantidade mínima perfazia sete integrantes. É daí que viria surgir o conhecido princípio - Três governam a Loja; Cinco a compõe e Sete a completam. 

Desse modo, tratava-se então da Maçonaria de Ofício (antecessora da Moderna Maçonaria Especulativa). Assim, naquelas épocas remotas dos construtores da pedra o Mestre da Obra (não confundir com o atual grau de Mestre Maçom) era na verdade um Companheiro do Ofício, já que como mencionado, existiam apenas duas classes de trabalhadores à época – a dos Aprendizes Iniciados (na Arte) e a dos Companheiros do Ofício – geralmente dentre esses últimos é que era escolhido o mais experiente para dirigir o Canteiro de Obras (atual Loja). 

Inclusive, vale a pena mencionar que esse Mestre da Obra foi o ancestral do Venerável Mestre da Moderna Maçonaria Especulativa.

Quanto ao grau especulativo do Mestre Maçom, ele somente apareceria na Moderna Maçonaria por volta de 1.724/25 e oficializado a partir da segunda Constituição de Anderson – a de 1.738.

Entenda-se que para registo histórico e acadêmico a Maçonaria Especulativa, ou dos Aceitos tem como ponto de partida o ano de 1.600 em Edimburgo na Escócia. Já a rotulada como Moderna Maçonaria, que inauguraria dentro da Maçonaria Especulativa o primeiro sistema obediencial (aparece a Obediência e a figura do Grão-Mestre), tem como marco de referência histórica a fundação da “Premier Grand Lodge” em Londres a 24 de junho de 1.717.

Anterior ao ano de 1.600 tem-se apenas registro documental (autêntico) a partir do século XII com as Guildas dos Construtores ou dos Canteiros Medievais a exemplo da Companhia dos Maçons de Londres no período operativo (profissional) – ver as Associações Monásticas, Confrarias Leigas e por fim a Francomaçonaria de Ofício.

Graças a esses acontecimentos da história é que provavelmente, muitos bons articulistas em não raras vezes fizeram referência aos tempos remotos da Ordem (séculos XII e XIII) o que, se bem observado, se diferenciava em muito das práticas da Moderna Maçonaria surgida no seu período Especulativo desde o século XVIII.

Desse modo é que mesmo excelentes autores autênticos, a exemplo de Varolli, acabariam mencionando práticas que estariam em desacordo com a liturgia e ritualística iniciática da atual Maçonaria.

Inclusive, a título de ilustração, ainda existem muitos Regulamentos de Obediências Maçônicas que entram em contradição com as práticas ritualísticas por não observar essa tradição.

Talvez possa essa ser uma explicação plausível para a afirmativa do saudoso Irmão Theobaldo Varolli Filho quando mencionava que Companheiros podiam ocupar cargos em Loja na atual Maçonaria.

Já no que diz respeito aos Mestres Instalados não existe nada de verídico em relação ao mencionado na vossa questão, até porque aos olhos da razão em se tratando do REAA, esse título distintivo é puro enxerto, já que a Instalação, tal como a que comumente conhecemos por aqui, é natural da vertente inglesa de Maçonaria, lembrando que a Maçonaria brasileira e em particular o Rito Escocês, salvo raras exceções, é filha espiritual da França. Assim, na França, Instalação é tida pura e simplesmente como a posse do Venerável Mestre. Terminado o seu ofício no tempo regimental ele é apenas o ex-Venerável.

Infelizmente ainda muitos cultuam equivocadamente o Mestre Instalado como fosse ele um grau maçônico, o que não é verdade, pois ele é apenas um título distintivo dado para aquele que fora um dia eleito para exercer o cargo de dirigente principal da Loja.

Exceto o Venerável Mestre de ofício, nenhum outro cargo na Loja é restrito a um Mestre Instalado, lembrando também que genuinamente o substituto imediato do Venerável em caso precário (ausência temporária por motivo de força maior, não definitiva) é o Primeiro Vigilante e que, numa situação dessas, ele não precisa ser necessariamente um Mestre Instalado.

Concluindo, volto a repetir: a condição sine qua non para que um maçom possa assumir qualquer cargo em Loja na Moderna Maçonaria, além de outras exigências previstas pela Lei das respectivas Obediências, a principal é a que ele seja portador do grau de Mestre Maçom podendo, inclusive, se legalmente eleito, ser Instalado (tomar posse) como Venerável Mestre de ofício da Oficina. Com isso, não existe nada de preconceituoso contra os Aprendizes e os Companheiros no que diz respeito à ocupação de cargos – essa prática é apenas o cumprimento de uma regra iniciática e de plenitude de direitos maçônicos.

T.F.A. 
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 2.067 – Melbourne (Vic.) segunda-feira, 30 de maio de 2016

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