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sexta-feira, 7 de agosto de 2020

A COR PRETA

A COR PRETA
(republicação)

Em 19/11/2015 o Respeitável Irmão Gleiner Costa, atual Segundo Vigilante da Loja Cayru, 762, REAA, GOB-RJ, Cidade e Estado Rio de Janeiro, formula as questões seguintes: 
gleinercosta@uol.com.br

Os meus Aprendizes me fizeram duas perguntas que me deixaram em xeque. Estou recorrendo a você para poder responder às mesmas. 

1 – Por que o dia 27 de dezembro é importante para os maçons ou a Maçonaria? 

2 – Por que do uso do preto na Maçonaria?

CONSIDERAÇÕES:

1 - Por influência da Igreja desde os Canteiros Medievais, a Maçonaria adotou a data solsticial de 27 de dezembro relativa a João Evangelista, o Apóstolo. 

Em termos práticos da doutrina maçônica a data é muito próxima do solstício de inverno no Hemisfério Norte o que em tese implica no misticismo da volta do Sol (do Sul para o Norte) na eclíptica celeste. 

Essa época solsticial sempre foi cara aos construtores da pedra que dividiam o ofício e o desenvolviam conforme os ciclos relativos às estações do ano (clima). 

Daí na Moderna Maçonaria o teatro simbólico da morte e o renascimento da Natureza geralmente tem feito parte do seu arcabouço doutrinário, cuja proposta associa a alegoria natural ao aperfeiçoamento do Homem como matéria filosófica do morrer para renascer (ciclos iniciáticos). 

Nesse sentido é que surge a importância doutrinária associada ao solstício de inverno no Hemisfério Norte quando ocorrem dias curtos e noites longas (ciclo da prevalência das trevas naquelas latitudes terrenas). Assim os períodos solsticiais relacionados à meia-esfera norte da Terra são amplamente destacados no arcabouço doutrinário da Sublime Instituição – o verão em 21 de junho e o inverno em 21 de dezembro também explicam as relações com santos padroeiros de João, o Batista em 24 de junho e João, o Evangelista em 27 de dezembro (as Lojas de São João). 

Sob o aspecto doutrinário da Igreja e do Cristianismo é que essas datas se tornaram importantes, sobretudo na mensagem relativa àquele que previu a Luz para João, o Batista e para o que pregou a Luz para João, o Evangelista.

A Luz, sob a óptica religiosa cristã, associa Jesus Cristo à “Luz do Mundo”, cujo seu nascimento é comemorado liturgicamente em 25 de dezembro, justamente no instante solsticial aproximado em que o Sol, no inverno, está mais distante do Hemisfério Boreal – Natalis Invicti Solis (o nascimento do Sol invicto). 

Em síntese esse fato relaciona a mística religiosa ao retorno aparente do Sol para o Norte. Obviamente que essa “volta aparente” cientificamente se explica pelo movimento de translação e a inclinação do eixo imaginário da Terra em relação ao seu plano de órbita, o que faz com que a luz solar incida em maior ou menor intensidade sobre os hemisférios terrestres resultando com isso nas estações do ano, opostas conforme as meias-esferas do nosso Planeta. 

Desse teatro natural, observado desde as antigas civilizações, que se originaram os Cultos Solares da Antiguidade, cujos modelos serviram de base para a imensa maioria das religiões conhecidas, inclusive para o próprio Cristianismo. Um exemplo de Culto Solar da Antiguidade é o Mitraismo persa que destaca a volta do Sol no dístico Igne Natura Renovatur Íntegra – O Fogo Renova a Natureza Inteira. Em síntese a sigla simula que o Sol após o inverno quando a Natureza está morta, o faz reviver no despontar do novo ciclo que sucede o inverno. 

Assim, no Cristianismo, Jesus, tomado como a Luz do Mundo nasce no inverno para anunciar a “Boa Nova” – novos tempos que virão. Acompanha a alegoria religiosa os personagens de João, o Batista que anunciou a vinda de Jesus e do Evangelista que pregou os ensinamentos da Luz. 

Sob o aspecto da Maçonaria e a clara influência da Igreja sobre os seus ancestrais, os Santos padroeiros passariam também a ser comemorados em consonância com as datas solsticiais e os costumes operativos do trabalho no passado – no rigor do inverno não havia trabalho e os planos da obra eram arquitetados e desenvolvidos sob os parâmetros das datas solsticiais, daí as Lojas de São João, o Batista a 24 de junho (verão no Norte) e o Evangelista a 27 de dezembro (inverno no Norte). 

Finalizando esse tópico, a Moderna Maçonaria, simbólica na acepção da palavra, trata todo o seu arcabouço doutrinário baseado no berço da Instituição – sempre no Hemisfério Norte, não importando as latitudes terrenas onde ela é praticada. Essas são as referências que devem ser seguidas e não seguir certos autores que querem inverter posições da decoração dos Templos. O que importa é a doutrina maçônica relacionada ao Rito praticado e não os credos e assertivas pessoais. 

2 – Quanto à cor negra (o preto), sob o aspecto doutrinário, ela está associada única e exclusivamente ao enredo iniciático da transformação. Daí essa questão está relacionada à liturgia e a ritualística que se acerca da alegoria da morte e o luto simbólico de morrer o homem profano e o renascer do novo homem disposto ao aperfeiçoamento (essência da Iniciação). Essa relação também se apresenta no Terceiro Grau (Exaltação ou Elevação conforme a vertente do Rito), cujos ensinamentos se comparam à morte e o renascimento da Natureza (Hiran, o Sol) – é o caso da decoração, alfaias e adereços da Câmara do Meio. 

Sob o aspecto da cor negra nas vestimentas é muito discutível, já que conforme a cultura e o País onde a Maçonaria é praticada é que pode ou não existir obrigatoriedade do uso de vestuário negro pelos membros do quadro. Em alguns costumes o uso de terno ou parelha na cor preta, também do balandrau, só é exigido em situações magnas, já que para o dia a dia da Loja não existe nenhum uniforme programado. Já em outros existe essa obrigatoriedade, geralmente por determinação regulamentar da Obediência, além de outros casos relativos. 

À bem da verdade o que é obrigatório mesmo é o uso do Avental em Loja, já que esse sim é o verdadeiro traje do Maçom e sem dele estar vestido nenhum maçom pode participar dos trabalhos.

Infelizmente muitos dão mais valor às aparências do que às essências, pregando a obrigatoriedade irrestrita de uso de terno ou parelha preto como se esse fosse o mais importante. Pura besteira. 

Há outros ainda que sugerem ilações como as “influências” da cor negra mencionando verdadeiros exercícios de imaginação para justificar um credo pessoal. Dizem eles: para não quebrar a egrégora (palavra que nem existe no nosso dicionário); por aí vai o FEBEAMA – festival de besteiras que assola a Maçonaria, principalmente a latina. 

No Brasil, geralmente adido aos carimbos e convenções do “onde está escrito”, existem ferrenhos defensores do uso indiscriminado e obrigatório do terno preto, todavia muitos desses causídicos nem mesmo sabem ingressar ritualisticamente em Loja. Do mesmo modo nem mesmo estão aptos a passar por um simples telhamento, todavia o terno preto é o mais importante para eles. 

A despeito de se cumprir o Regulamento em vigor, de resto balela não merece nenhuma outra qualificação. 

A propósito, por incrível que se possa parecer, no Brasil a Maçonaria adotou mesmo foi o traje de missa (terno preto). Para se compreender bem isso basta que se pesquise na História usando verdadeiros métodos e recursos acadêmicos (veja a situação e as condições políticas, sociais e religiosas no Brasil a partir do Século XIX). 

Assim, a cor negra na Maçonaria é uma importante alegoria, porém iniciática e oriunda dos teatros simbólicos da Ordem, nunca simplesmente identificada à cor de um traje como fosse ele o uso obrigatório de um terno preto (três – calça, colete e paletó) ou de numa parelha negra (par – calça e paletó). A questão do matiz preto está em se conhecer satisfatoriamente a liturgia, a ritualística e a doutrina da Maçonaria conforme o Rito praticado. Identifica-lo simplesmente como a cor de um vestuário e ainda torna-lo obrigatório em nome da Ordem é simplesmente dispensável.

T.F.A.
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 2.109– João Pessoa (PB) – segunda-feira, 11 de julho de 2016

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