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terça-feira, 4 de agosto de 2020

QUESTÕES SOBRE O RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO

QUESTÕES SOBRE O RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO
(republicação)

Em 08/11/2015 o Respeitável Irmão Rodrigo Alcântara Tessarini, Loja “Deus, Pátria e Família”, 142, REAA, GLMESP, Oriente de Panorama, Estado de São Paulo, solicita esclarecimentos para o que segue: rodrigopanorama@yahoo.com.br

Nestes últimos tempos, estive estudando as origens e particularidades do Rito Escocês Antigo e Aceito. Várias dúvidas me surgiram! Dentre elas:

1 - A cor do REAA é vermelha, isto todos os livros e trabalhos que li afirmam isto categoricamente. Porém onde o AZUL predomina em vários templos e aventais de Mestres Maçons. Por que isto ocorre?

2 - Existe ou não a formação do Pálio na abertura do Livro da Lei, pelo irmão que abre e lê o trecho da sagrada escritura?

3 - Os Diáconos portam bastão ou não? O Irmão Mestre de Cerimônia deve portar espada (já que nosso Rito é de origem francesa), ou o bastão?

4 - Qual a posição dos irmãos Mestre de Cerimônias e Hospitaleiro? Já que existe uma inversão nas Grandes Lojas em relação ao GOB, ou vice e versa?

5 - A leitura do Livro da Lei no Grau de Aprendiz é feita no Salmo 133 ou no Evangelho de São João, capítulo 1, versículos 1 ao 5?

6 - Existe pé (direito ou esquerdo) para entrar no Templo no início dos trabalhos?

7 - O triplo Tau que existe no avental dos mestres instalados, estão na “posição correta”? A parte horizontal deveria ser para cima, e não para baixo? Isto existe no REAA ou é um enxerto de outro Rito?

Certo que o Irmão me ajudará em minhas dúvidas, desde já agradeço sua atenção. Pude ler seu livro “Exegese Simbólico para o Aprendiz Maçom”, confesso que fiquei surpreso com seu conhecimento em Maçonaria. Também assisti a uma palestra sua no Oriente de Dracena, no mês de Novembro de 2012, onde pude apreciar seu vasto conhecimento na nossa Sublime Ordem.

CONSIDERAÇÕES:

1 – Infelizmente no Brasil ainda vivemos essa contradição, particularmente no Grande Oriente do Brasil e nas Sereníssimas Grandes Lojas Estaduais. Como bem dito, a verdadeira história acadêmica já derrubou essas contradições, conquanto por mera teimosia e em nome de uma falsa tradição o REAA por aqui anda todo azulado.

Embora alguns críticos e articulistas que se acham doutos teimem ainda em explicar essa anomalia (geralmente baseados em rituais enxertados e viciados no erro como se fossem documentos primários) a verdadeira origem dessa contradição em solo tupiniquim foi adquirida principalmente por ocasião da cisão de 1.927 que deu origem às Grandes Lojas Estaduais.

Naquela oportunidade, Mário Marinho Béhring, personagem principal desse episódio, em busca de reconhecimento internacional para a Obediência recém-criada, acabaria anexando muitos costumes do Craft Norte Americano no Rito Escocês.

Dentre esses caráteres, à moda das Lojas Azuis (simbolismo) do Rito de York americano (que é filho espiritual inglês), os aventais escoceses no Brasil ganhariam esse matiz azulado. Assim, ao longo dos tempos muitos Irmãos egressos das Grandes Lojas Estaduais influenciariam paulatinamente a adoção desse costume também no Grande Oriente do Brasil ao ponto de na contramão da história termos hoje nessas duas Obediências aventais e paredes do Templo Escocês completamente azulado.

Provas e argumentos acadêmicos que mostram esse equívoco já foram apresentados à exaustão. Agora se os que “acham bonito” assim não entendem e detém o poder para manter esse erro crasso em evidência, o que fazer então? O mais contraditório de tudo isso é que vivemos numa Instituição que investiga a Verdade.

2 – No REAA genuinamente não existe formação de pálio algum, muito menos os Diáconos portam bastões. Genericamente esse enxerto foi adquirido aqui no Brasil por miscelâneas de rituais e ritos. Formação de pálio é autêntica no Rito Adonhiramita e com espadas. Daí pela profusão de rituais (cada um querendo deixar a sua marca) os que “acham bonito” inseriram essa prática no REAA que, infelizmente ainda perduram em muitos rituais brasileiros. Nesse sentido o GOB já extirpou dos rituais escoceses essa prática, muito embora e de quando em quando apareçam ainda os defensores desse costume inadequado no escocesismo.

No que se aplica essa prática (do pálio) nos rituais das Sereníssimas Grandes Lojas, além da influência acima mencionada, também aparece o modismo equivocado de copiar procedimentos do Craft Americano através do Rito de York. Não do pálio em si, entretanto do cruzamento das varas (bastões) que os Diáconos portam nas cerimônias das Lojas Azuis Norte Americanos em determinadas ocasiões (veja o Ducan’s ritual). A soma de tudo isso acabou sendo objeto desse enxerto no escocesismo aqui no Brasil quando, equivocadamente, adotaram-se bastões para os Diáconos do Rito Escocês e, para se formar com eles o tal pálio, juntaram à prática alienígena o Mestre de Cerimônias com seu respectivo bastão. Como o hábito do uso do cachimbo faz entortar a boca inventaram um pálio para o escocesismo, agora, entretanto formado com bastões.

3 – Em parte essa questão já se encontra respondida no item número 02 acima. O Mestre de Cerimônias originalmente é o único Oficial que porta bastão como objeto de trabalho no simbolismo do REAA.

Sem dúvida a origem do Rito é francesa, mas nesse caso o Mestre de Cerimônias que, dentre outros, tem como ofício conduzir Irmãos em Loja faz uso nessa oportunidade do bastão.

Espadas no Rito em questão são comuns aos Cobridores e aos Expertos, além da Flamejante que é comum em algumas situações ao Venerável ou a um Ex-Venerável.

No que concerne ao uso da Espada e às Comissões de Recepção para formação da Abóbada de Aço e da Guarda de Honra ao Pavilhão Nacional esse costume não pode ser tratado como autenticidade do Rito já que esses protocolos de recepção são genéricos às Obediências e não podem ser considerados como particularidade, criação ou parte integrante da doutrina e do modus operandi de um Rito específico.

Ainda; no que concerne o uso litúrgico da Espada, esta não pode ser avaliada de modo laudatório como um objeto que identifica ou mesmo que seja peculiar à origem de um Rito específico.

4 – O Mestre de Cerimônias como parte integrante da Beleza da Loja tem assento na Coluna do Sul próximo a grade do Oriente. Quanto ao Hospitaleiro esse toma assento na mesma posição do Mestre de Cerimônias, porém na Coluna do Norte. Esse posicionamento pode ser observado na evolução dos rituais escoceses na França a partir de 1.804 (primeiro Ritual para o simbolismo escocês) ao longo do Século XIX e início do Século XX.

No tocante aos lugares desses Oficiais em Loja ainda existem as relações com o misticismo integrante na doutrina do Rito e a decoração da Abóbada, bem como das Colunas Zodiacais. Destarte que se leve sempre em conta essa relação e a localização dos Astros sob o ponto de vista do hemisfério Norte – berço de onde é oriunda a Maçonaria. Daí inversões desnecessárias se contradizem a realidade topográfica e astronômica da Loja, cuja alegoria representa um segmento disposto sobre o equador imaginário da Terra e orientado pelos pontos cardeais.

5 – Esse é outro equívoco que provavelmente foi oriundo do Craft Norte Americano aqui inserido no REAA por ocasião do reconhecimento pretendido por Béhring conforme aspectos já comentados no item 01 dessa lauda considerava.

A despeito de outras origens do uso do Salmo 133 na Maçonaria desde a Inglaterra já no período dos “Aceitos” que seria posteriormente abandonado, a Maçonaria Norte-Americana (Lojas Azuis - Rito de York), filha da Maçonaria Inglesa, adotaria a leitura desse Salmo durante uma passagem iniciática na cerimônia de Iniciação de um Aprendiz Admitido.

Todavia essa prática acabaria sendo levada para o Rito Escocês no Brasil e inserida na abertura do Livro da Lei no Primeiro Grau, indo completamente contra a tradição do REAA que tem como original a leitura do Evangelho de São João, Cap. 1, 1 a 5.

Essa prática acabou quase que se generalizando por aqui ao ponto de se enraizar em muitos rituais das Obediências brasileiras até hoje.

A questão é quase como a cor do avental – a teimosia persiste. Pior ainda é que os pseudos ritualistas com isso dão prova de que não conhecem nada, mas absolutamente nada da doutrina do simbolismo escocês, sobretudo da alegoria que envolve o teatro da Natureza. Talvez um dia as coisas possam ser colocadas nos seus devidos lugares.

6 – Nunca. Isso é pura invenção. O que existe é o rompimento da Marcha do Grau de Aprendiz que no Rito Escocês é executado com o pé esquerdo. Agora simplesmente ingressar ou sair do recinto, bem como do Oriente, tanto faz qual pé será usado. O resto é mera especulação – pura bobagem de alguns que acham que o Templo é repositório de credos pessoais e ilações duvidosas.

7 – A despeito de que cerimônia de Instalação e Mestre Instalado é outro enxerto em se tratando de REAA, o procedimento por aqui acabou como prática consuetudinária. O ato de Instalação do Mestre da Loja é originário da Maçonaria Inglesa e, por extensão, da Norte Americana. Esse costume também pegou carona na cisão de 1.927 por razões óbvias ao ponto de estar hoje estratificado na base da nossa Maçonaria.

No REAA, Rito de origem francesa, instalação significa simplesmente a posse de um Mestre que foi eleito para dirigir uma Loja. É o Venerável Mestre no exercício do seu cargo. Concluído o tempo como Venerável, na França ele será simplesmente um Ex-Venerável, já que o título honorífico de Mestre Instalado é costumeiramente conhecido e usado no Craft Inglês e Norte Americano.

Infelizmente ainda uma boa parcela desses Mestres Instalados brasileiros ainda “acha” que esse título honorífico é qualificado como um Grau – mera especulação, pois a Maçonaria universalmente aceita é composta por três Graus – Aprendiz, Companheiro e Mestre.

Dito isso, os símbolos mencionados na questão e que vão inseridos no avental de um Mestre Instalado (Venerável e Ex-Venerável) não são intitulados “Taus”, muito menos eles mencionados como invertidos. Isso é pura invenção. O símbolo nada mais é do que uma representação pictográfica do Nível (Primeiro Vigilante) e do Prumo (Segundo Vigilante).

Sua origem especulativa ou mística - se assim se pode dizer - está na descrição, em alguns casos, da verdadeira lenda criada para a instalação inglesa. Em linhas gerais é o Sinal com que H∴ acalmou e organizou os construtores do Templo, cuja atitude deixou B∴, a Rainha, maravilhada diante do Rei Salomão. Ratifico: isso é apenas uma exposição lendária e não é unânime em toda a Moderna Maçonaria, mesmo a da Grã Bretanha.

Assim esse símbolo pictográfico deu origem a um Sinal que envolve o Nível e o Prumo que em muitos casos ele é ensinado de modo contraditório, já que o Prumo, seguindo a lei da física é sempre representado de cima para baixo como perpendicular ao Nível, nunca ao contrário (o Mano sabe do que eu estou falando, já que não posso aqui detalhar essa ação e movimento desse Sinal sem ser antes execrado pelos puristas de plantão).

Trocando em miúdos, o símbolo não é um “Tau” e sim uma composição do elemento horizontal com o vertical, cuja origem literal está sim num instrumento operativo amplamente usado pelos construtores medievais (Maçonaria de Ofício ou Operativa) durante o erguimento das construções. Esse instrumento era geralmente de madeira ou ferro e composto por um segmento de base horizontal que tinha preso a ele ligado na sua porção mediana um segmento vertical que tinha nele preso um fio de prumo com seu respectivo pêndulo. Esse conjunto tinha aparência de uma letra “T”, porém invertida o que lhe custaria essa alcunha de “tau invertido”.

Esse instrumento denominado de Nível/Prumo era aplicado principalmente nos cantos da construção, cuja base horizontal dele, desde que o pêndulo coincidisse com o seu centro, determinava o nivelamento da base da construção enquanto que essa mesma coincidência definia também pelo segmento vertical a aprumada do canto. À época não existia o nível de bolha tal qual hoje conhecemos. Inclusive sob o aspecto alegórico é que não se recomenda na decoração da Loja o uso do nível de bolha, senão aquele já mencionado que representa o instrumento do passado.

Dadas essas considerações é que esse tal de “Tau invertido” aparece em alguns aventais maçônicos. Entretanto ele nada mais é do que o instrumento Nível/Prumo, tanto sob o aspecto lendário e especulativo já aqui mencionado bem como sob o aspecto prático haurido da época operativa dos Construtores Medievais, ancestrais da Moderna Maçonaria. Daí ele, o símbolo, é sempre representado com uma base horizontal (nível) para baixo tendo sobre o meio dele fixado um segmento perpendicular que indica a verticalidade (prumo). Igualmente a questão não é a de inverter o símbolo como o Irmão menciona na questão, porém executar o Sinal a ele inerente de modo coerente com a Lei Natural – pelo efeito da gravidade, no planeta Terra, seguindo a ordem natural das coisas, um Prumo sempre apontará o seu pêndulo na direção do o solo, cuja verificação da verticalidade é de cima para baixo.

Finalizando, devo salientar que os meus apontamentos até aqui não visam sob qualquer hipótese desrespeitar e criticar rituais dessa ou daquela Obediência. As questões comentadas apenas buscam a coerência e a razão dos fatos, mesmo que eles sejam simbólicos e alguns hauridos do pensamento humano.

T.F.A.
PEDRO JUK – jukirm@hotmail.com
Fonte: JB News – Informativo nr. 2.104 – Maceió (AL) quarta-feira, 6 de julho de 2016

Um comentário:

  1. boa noite meu caro irmao Pedro. Tenho estudado a fundo algumas coisas abordadas aqui nesta sua prancha... a principio defendendo a tese que o palio é necessario devido a proteção ao orador que fará a leiturado livro da lei tendo 3 testemunhas do ato (cerimonia, 1 e 2 diac) onde tambem palio siginifica (proteção e cobertura) gostaria de saber se tem materiais fontes seguras sobre o texto acima para que eu possa continuar meu estudo e pegar a sua linha de raciocinio.

    Desde ja o saudo por 3x3 um TFA.'.

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