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sexta-feira, 11 de setembro de 2020

MAÇONARIA, UMA INSTITUIÇÃO UNIVERSAL E COSMOPOLITA

MAÇONARIA, UMA INSTITUIÇÃO UNIVERSAL E COSMOPOLITA

Nos séculos XV e XVI devido à necessidade de se construírem várias construções de cariz religioso ao longo de toda a Europa, e para mais facilmente circular entre reinos e poderem trabalhar, os operários da construção civil da época filiavam-se em agremiações de tipo sindical para que desse modo lhes fosse possível arranjar trabalho e exigirem alguns direitos e melhores salários. O que deu origem aos termos “pedreiros-livres” e “franco-maçons”, uma vez que eles estavam livres dos pagamentos de certos tributos e de portagens nos reinos onde trabalhavam. 
E como o trabalho que os construtores tinham de executar era normalmente demorado, apesar de ser um trabalho nómada, (porque quando finalizavam uma obra seguiam para outras terras, para outros trabalhos), reuniam-se no seio dessas associações ou grémios que eram denominadas por “guildas de construtores” para poderem conseguir manter a sua coesão e união enquanto grupo de operários especializados e também para que lhes fosse possível transmitir e ensinar os segredos da sua arte a coberto dos olhares indiscretos de quem não pertencia a este ofício. Criando desse modo um tipo de fraternidade entre eles.

Mais tarde, nos finais do século XVI, quando as grandes construções religiosas (catedrais e abadias) se encontravam finalizadas e como não existiam nenhumas grandes obras a serem iniciadas a longo prazo, e como o número de membros destas guildas começavam a decair, estes grémios de construtores começaram a aceitar como seus membros, elementos de outras profissões dos locais onde se estabeleciam dada a curiosidade que estes tinham em relação ao que se passava e discutia no interior destas associações. 

O que consequentemente em virtude dos temas que nessas lojas agora se debatiam, que já não eram somente dedicados à construção de edifícios e porventura também da entrada destes novos membros, designados por “maçons aceites”, veio este movimento a dar origem a uma transformação deste tipo de maçonaria, assumidamente operativa, numa maçonaria de cariz especulativo. Um género de maçonaria que já não trataria das construções físicas, mas que em seu lugar, tratariam de um tipo de construção espiritual. Aproveitando os maçons especulativos, o vasto simbolismo que os construtores detinham e que passaram a tomar como seus. Assumindo que em vez de construírem espaços para glorificar o divino, seriam eles o seu próprio templo a cultuar.

E já no decorrer do século XVII, quando os partidários dos Stuart (casa real) vindos de Inglaterra e fugindo ao seu regime vigente, trouxeram consigo para o continente os seus ideiais maçónicos, aproveitaram a liberdade que lhes era concedida na França e abriram lojas (especulativas) onde se pudessem reunir e onde pudessem discutir as formas de resistência necessárias para os levar de novo ao poder em Inglaterra. 

Sendo que no interior dessas lojas para além de conseguirem manter a sua união enquanto grupo de resistentes e debater que posições deveriam ser tomadas neste tipo de luta, também conseguiam assim manter aceso o espírito fraternal que tinham entre eles. 

Mais tarde, pela entrada nestas lojas de outras personalidades que nada tinham a haver com o espírito de resistência para o qual este tipo de lojas tinha sido criado bem como da criação de outras novas lojas maçónicas em terras francesas formadas por franceses e/ou estrangeiros, a expansão em França estava lançada. 

Na restante Europa, a expansão maçónica estava também em marcha, fosse pela transformação das lojas operativas (guildas de construtores) em lojas especulativas, bem como da criação de lojas militares itinerantes ou lojas locais onde a burguesia da época se reuniria para debater as novas ideias que viam a luz do dia nesses tempos.

O que se pode constatar é que independentemente da sua denominação (operativos/especulativos), os maçons sempre se reuniram em alguma espécie de agremiação para debater as suas ideias, deixando de fora gente que não considerassem como “bem-vindos” ou que não lhes trouxessem qualquer mais valia para o debate de ideias. 

E já no século XVIII, os maçons impulsionados pelo ideário maçónico e pelo idealismo das Luzes e com o auxílio indireto da expansão colonialista europeia para as “novas terras das Américas”, contribuíram relevantemente para o estabelecimento da Maçonaria nesses locais.

Fosse nas ilhas caribenhas ou no próprio continente americano, em qualquer porto em que os barcos vindos da “velha Europa” aportassem, traziam consigo maçons que para além das relações comerciais que teriam com os povos nativos, se viriam a estabelecer de forma permanente nestas terras. E estes maçons apoiados pelo facto de nestes lugares existirem também lojas maçónicas formadas por militares – uma das maiores fontes do expansionismo maçónico no mundo deve-se a este tipo de Lojas que costumam estar associadas a um determinado batalhão ou companhia militares – conseguiram em alguns casos, montar uma estrutura local e que não fosse nómada como é o caso da generalidade das lojas militares maçónicas. Desta forma ficaram estabelecidas as raízes para o crescimento e consolidação da Ordem nas colónias americanas. E não obstante o aumento da imigração europeia para as Américas e com a transformação destas povoações em grandes metrópoles posteriormente, também a Maçonaria teve um crescimento proporcionalmente direto e hoje em dia estimam-se que na totalidade do continente americano existam mais de 5 milhões de maçons.

Para além do colonialismo americano, também o colonialismo africano e asiático pelos povos europeus possibilitou a chegada da Maçonaria a estas partes do mundo e se estabelecer de uma forma mais ou menos gradual face à cultura e sistemas políticos vigentes nesses países.

Atualmente, do norte ao sul do globo terrestre, a Maçonaria encontra-se implantada em quase toda a parte. Sobressaindo assim o carácter universal desta Augusta Ordem. E, independentemente do regime político, desde que seja considerado como democrático, a Maçonaria convive de forma natural com as leis do local onde se encontra estabelecida. Seja em países monárquicos (um bom exemplo que temos é o continente europeu, onde a Monarquia, nos países nórdicos, se encontra consolidada) ou países republicanos (exemplificados pelo continente americano, que na sua totalidade é formado por repúblicas democraticamente eleitas), com governos eleitos designados de direita ou de esquerda, a Maçonaria existe. 

Porque apesar da alternância dos poderes políticos, a Maçonaria sempre persistirá. E o fará, porque ela própria não tem doutrina política, a Maçonaria está num patamar acima das discussões partidárias ou de qualquer questão que possa dividir os Homens. 

A Ordem Maçónica é uma instituição agregadora de pessoas por isso nunca poderia fomentar a divisão entre elas.

Todavia, a Ordem não impede que os seus membros exerçam no mundo profano os seus deveres e direitos cívicos conforme os princípios que escolham praticar na suas vidas profanas, sejam eles políticos (ou outros) que considerarem que lhes sejam mais favoráveis ou com os quais melhor se identifiquem. E isso pode ser verificado pela prática política de alguns maçons que participam efetivamente no mundo político sem que tenham qualquer diligência maçónica nesse sentido - Agindo somente com a sua convição e o seu pensamento.-

Nomeadamente se pode dizer o mesmo no que respeita às suas filiações associativas, tenham elas o cariz que tiverem ou à religião que os maçons decidam (ou não, no caso de Maçonarias Liberais) observar. E isto pode acontecer porque o compromisso que se toma com a Maçonaria é um compromisso de ética e de respeito na observância dos valores morais existentes; logo este compromisso estará acima de qualquer tipo de política ou agremiação. Sendo por isso que me é possível afirmar neste contexto que : “O maçom faz, a Ordem apenas observa…”.

O próprio cosmopolitismo que é inerente à Maçonaria permite tais factos. 

A Maçonaria ao deter um carácter universalista e progressista que ultrapassa qualquer fronteira e por se reger por valores de igualdade, fraternidade e de solidariedade entre os seus membros, propiciou que a ação dos seus afiliados no mundo profano seja um reflexo dos seus próprios valores. E como os valores maçónicos são valores que são transversais à sociedade e ao mundo em si, não existe um lugar onde um maçom não possa se encontrar ou que esteja impossibilitado de agir…

Logo, ao ter a Maçonaria criado as bases para o diálogo e para o debate de ideias nas suas lojas e tendo posteriormente transferido estas competências também para o espaço público, sendo as lojas maçónicas consideradas como centros formadores de opinião e o espaço público como sendo o local de aplicação das vontades profanas, fomentou na sociedade a ideia que a tolerância aplicada de forma salutar na discussão de ideias, contribuiria para a obtenção de consensos sem que se tivesse de passar por um qualquer conflito para chegar a tal. 

Apenas discutindo e debatendo com respeito e elevação é que é possível se criarem as condições válidas para se poder chegar a um determinado consenso que possa ser valorizado como sendo o melhor para ser aplicado ou cumprido pelos intervenientes na discussão. Nem sempre a posição dominante prevalece, mas sim a opinião que fará mais sentido para a generalidade. E isso somente é possível se existir algum sentido de tolerância e respeito pelo próximo e de se ter a capacidade de nos sentirmos como integrantes de algo superior a nós próprios. Copiando a sociedade desta forma, uma praxis maçónica há muito existente.

No entanto quando se fala em Sociedade, Civismo ou inclusive em Política, abordamos conceitos que estão para além de nós, e a melhor forma de se conseguir ou atingir o bem comum, para além de um diálogo franco e tolerante, é reconhecer no outro a sua diferença de opinião como algo que pode fazer evoluir e enaltecer o debate público. Por isso no seio da Maçonaria Regular não se aborda política partidária mas poder-se-á em determinado contexto, abordar a Política como sendo mais um conceito necessário a quem vive em sociedade. Sociedade esta, que já não será apenas o local onde nos encontramos ou em que vivemos, mas o mundo na sua plenitude. 

Mas apesar de toda esta evolução civilizacional que nos foi permitido alcançar, a própria Instituição Maçónica dada a sua linguagem simbólica e do seu carácter quase indecifrável aos profanos, conseguiu permanecer quase inalterada desde a sua origem até à atualidade. O que facilita e permite que em qualquer parte do mundo (mediante a respetiva tradução linguística, se necessária) a qualquer iniciado nos mistérios da Maçonaria poder reconhecer facilmente aquilo que observa ou escuta. Tanto que ao nível da ritualística maçónica, para os maçons que visitem outros países e tenham a honra de serem acolhidos nas lojas maçónicas locais, mesmo que não compreendam a língua nativa, conseguem estar sempre integrados no ritual que se pratique nas lojas maçónicas - pois o conhecem -, e mesmo as mais ligeiras adaptações que possam ter ocorrido fruto do tempo ou de traduções feitas aos rituais originais, esse cumprimento do ritual será sempre perceptível para quem o assiste.

E dado que a forma como hoje em dia o Homem se desloca pelo mundo também evoluiu, e que esta “viagem pelo mundo”, seja em trabalho ou em turismo, pode ser feita de uma forma bastante mais lesta que antigamente, também a nossa visão do mundo foi evoluindo. Já não olhamos para nós como pertencentes a um lugar somente mas como pertencentes ao mundo na sua globalidade. Apesar das diferentes identidades nacionais se manterem - e ainda bem!- o resto se vai esbatendo. As relações económicas, judiciárias e culturais entre países atualmente são de tal forma evoluídas na sua interação, que em determinado país poderemos conhecer ou saber o que se passará noutro qualquer, bem como nos é permitido deslocar sem qualquer entrave à circulação. O que é sempre determinante para o modo de vida que atualmente levamos.

E devido ao facto de o maçom ser alguém que se considera livre e que vive e exerce a sua liberdade em qualquer parte, o maçom é um “cidadão do mundo”, isso permitiu-lhe que lutasse também pelos valores em que acredita e que acima de tudo são os valores da Maçonaria. Assim, foi através da sua ação por este mundo fora, que foi possível criar as bases para a implantação e reconhecimento de garantias ao nível dos Direitos Humanos, o direito à escola pública, o direito à saúde pública, a laicização dos estados (no sentido de que nenhuma religião se sobreponha ou seja enaltecida em detrimento das restantes), o ataque ao trabalho infantil e a emancipação da Mulher, entre outras lutas das quais os maçons fizeram e ainda fazem parte pelo mundo fora. 

Assim, em jeito de conclusão, combater as trevas, a tirania e a ignorância, propiciando o progressivo bem-estar da humanidade, são os labores que os maçons assumem para com a sociedade e apenas tal é exequível globalmente porque a Maçonaria é universal e cosmopolita. 

Fonte: http://a-partir-pedra.blogspot.com.br

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