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quarta-feira, 10 de março de 2021

O MAIS ANTIGO RITUAL MAÇÔNICO CONHECIDO

O MAIS ANTIGO RITUAL MAÇÔNICO CONHECIDO
Luciano R. Rodrigues
Introdução

Trata-se de um manuscrito descoberto em 1930 pelo irmão Charles T. McInnes na Old Register House em Edimburgo, capital da Escócia. Foi publicado pela primeira vez nas Transações anuais da loja Ars Quatuor Coronatorum, em AQC, vol. XLIII, 1932.

O documento é datado de 1696, conhecido como o Manuscrito Edinburgh Register House, porém o título de fato deste documento é: “Algumas perguntas que os maçons costumam fazer para aqueles que professam ter a Palavra de Maçom antes que eles os reconheçam”.

Sua principal característica, comparada às Old charges e outros documentos, é fornecer, além de um interessante catecismo maçônico com perguntas e respostas, um genuíno ritual de admissão.

As cerimônias realizadas pelos maçons daquela época não eram para ser escritas, tendo em vista que a maioria dos maçons eram analfabetos. Como podemos observar nos estatutos de William Schaw, ele requeria que fosse memorizado. A medida que as lojas iam se desenvolvendo e recebendo maçons não operativos (aceitos), temos o surgimento de registros daqueles que tomaram notas para uso pessoal.

O documento – Não está diretamente relacionado à Lenda de Hiram, porém ele orienta a Loja Maçônica em imitação ao Templo de Salomão e fornece dois elementos simbólicos importantes do grau de Mestre Maçom por vir: os cinco pontos do Companheirismo e a Palavra do Maçom que, quando integradas ao ritual do grau, serão os cinco pontos do Companheirismo do Mestre e da própria Palavra do Mestre, usados ​​para fazer de uma Lenda, um verdadeiro mito esotérico.

O contexto – Na época em que o manuscrito foi escrito em Edimburgo, a Escócia era o lar de várias lojas, incluindo as dos maçons operativos de Edimburgo, já conhecidas pelo nome de Mary’s Chapel e a Loja de Kilwinning, que ainda hoje estão ativas, competindo pelo título de “Mais Antiga Loja Escocesa”.

O Reino da Escócia estava vivendo seus últimos anos de independência; dez anos depois, eles se uniriam à Inglaterra para fazer da Grã-Bretanha um único Estado.

Nota do editor (Luciano Rodrigues) – Como o Manuscrito de Edimburgo já foi amplamente divulgado, é de domínio público e está totalmente disponível de forma aberta na Internet e, levando em consideração que não é um ritual maçônico atual nem oficial e, portanto, não contém nenhum segredo maçônico, decidimos não fazer adaptações no texto e manter o mais próximo do original. Assim, apenas o traduzimos para o português, afim de facilitar a pesquisa.

O texto original

Algumas perguntas que os maçons costumam fazer para aqueles que professam ter a Palavra de Maçom antes que eles os reconheçam.

Pergunta – Você é um maçom (1)?

Resposta – Sim.

Pergunta – Como saberei disso?

Resposta – Você saberá em tempo e local convenientes.

Observação – A resposta deve ser dada apenas quando houver alguém presente que não seja maçom. Mas se não houver, você deve responder por sinais, toques e outros pontos da recepção.

Pergunta – Qual é o primeiro ponto?

Resposta – Diga-me o primeiro ponto que lhe darei o segundo, O primeiro é escutar e calar. O segundo, sob pena não menor do que ter a gar****** cortada. Você deve fazer esse sinal [executa o sinal], quando diz isso.

Pergunta – Onde você foi recebido?

Resposta – Em uma honrada loja.

Pergunta – O que faz de uma loja justa e perfeita?

Resposta – Sete mestres, cinco aprendizes admitidos, a jornada de um dia de uma cidade fortificada, sem latir de cachorro ou canto de galo (2).

Pergunta – Menos não fazem uma loja Justa e Perfeita?

Resposta – Sim, cinco maçons e três aprendizes admitidos.

Pergunta – Não menos?

Resposta – Quanto mais, mais alegre, quanto menos numerosos, melhor a refeição.

Pergunta – Qual é o nome da sua loja?

Resposta – Kilwinning (3).

Pergunta – Como se orienta a sua loja?

Resposta – De Leste a Oeste como o templo de Jerusalém.

Pergunta – Onde foi a primeira loja?

Resposta – No pórtico do templo de Salomão.

Pergunta – Existem luzes em sua loja?

Resposta – Sim, três: no Nordeste, no Sudeste e na passagem do Leste. Uma denota o Mestre Maçom (4); a outra, o Vigilante; a terceira o Companheiro de Ofício.

Pergunta – Há jóias em sua loja?

Resposta – Sim, três: Uma pedra perpendicular, um pavimento mosaico e um oval amplo(5).

Pergunta – Onde encontro a chave da sua loja?

Resposta – A três passos e meio da porta da loja, embaixo de uma pedra perpendicular e de um gramado verde. Mas também, debaixo do colo do meu fígado, onde estão todos os segredos do meu coração.

Pergunta – Qual é a chave da sua loja?

Resposta – Uma língua bem segura (calada).

Pergunta – Onde está a chave da sua loja?

Resposta – Na caixa de ossos.

Depois que os Maçons o examinarem por todas ou algumas dessas perguntas e você tiver respondido exatamente e feito os sinais, eles o reconhecerão, mas não como um mestre maçom ou companheiro do ofício, mas apenas como um aprendiz. Eles dirão “vejo que você esteve na cozinha, mas não sei se você esteve no salão”. Respondendo: “Eu estive no salão, tão bem quanto na cozinha (6)”.

Pergunta – Você é um Companheiro de Ofício?

Resposta – Sim.

Pergunta – Quantos pontos de companheirismo (7) existem?

Resposta – Cinco: pé a pé, joelho a joelho, coração a coração, mão a mão, orelha a orelha. Em seguida, faça o sinal de companheirismo e cumprimente-o. Você será reconhecido como um verdadeiro maçom. As palavras estão em 1 Reis 7:21 e em 2 Reis 3, últimos versículos (8).

A FORMA DE DAR A PALAVRA DO MAÇOM

Em primeiro lugar, você deve colocar de joelhos, a pessoa a tomar a palavra e, após uma grande cerimônia para amedrontá-lo, você o faz pegar a bíblia e colocar a mão direita nela, para jurar e ocultar, sob ameaça de que, se ele quebrar seu juramento, o sol no firmamento será uma testemunha contra ele e todos ali presentes serão a sua condenação e que da mesma forma, os maçons o matarão. Depois que ele prometer manter segredo, eles fazem o juramento a seguir:

“Pelo próprio Deus, e você responderá diante de Deus, quando estiver nu diante dele, no grande dia, você não revelará nada do que ouvir ou ver neste momento, com palavras nem por escrito, nem colocará escrito a qualquer momento, nem traçará com a ponta de uma espada, ou qualquer outro instrumento sobre a neve ou a areia, nem você deve falar a respeito disso, senão com um maçom admitido, então Deus te ajude”.

Depois que ele fizer esse juramento, ele é retirado da loja, com o maçom mais jovem, onde, depois de estar suficientemente assustado com 1.000 carrancas e posturas ridículas, ele deve aprender como o maçom deve fazer sua devida guarda (due guard), qual é o sinal, comportamento e palavras de sua entrada que são as seguintes:

Primeiro, quando entra novamente na loja, ele deve fazer uma reverência ridícula; depois, o sinal e dizer “Deus abençoe essa honrada corporação”. Depois, tirando o chapéu de uma maneira muito tola, o que deve ser demonstrado somente neste momento, assim como os outros sinais, ele diz as palavras de sua recepção, que são as seguintes:

“Aqui estou eu, o aprendiz mais jovem e o último a entrar. Como eu juro por Deus e São João, pelo esquadro e pelo compasso, e pelo juízo comum (perfeito juízo), para estar a serviço dos mestres da honrosa loja, da manhã de segunda-feira até sábado à noite e manter as chaves disso, sob pena não menor do que ter a língua cortada por baixo do queixo e de ser enterrado, dentro do limite das ondas, onde nenhum homem deve saber”

Ele faz o sinal novamente, indicando como será cortado, caso ele quebre sua palavra. Então, todo os maçons presentes, sussurram entre si a palavra que começa no mais novo até chegar ao mestre maçom que dá a palavra ao aprendiz admitido. Agora, deve-se observar que todos os sinais e palavras mencionados são apenas pertencentes ao aprendiz admitido.

Mas, para ser um mestre maçom ou companheiro de ofício, ainda há muito a ser feito, a seguir:

Primeiro, todos os aprendizes devem ser removidos da loja e ninguém poderá permanecer, além de mestres.

Então, quem deve ser admitido como membro do companheirismo é novamente ajoelhado e prestará novo juramento. Ele deve sair da loja com o maçom mais novo, para aprender as posturas e sinais do companheirismo. Então, entrando novamente, Ele faz o sinal dos mestres e diz as mesmas palavras de quando foi admitido deixando apenas de fora o juízo comum, então os maçons sussurram a palavra entre si, começando no mais jovem como anteriormente, o maçom mais novo deve avançar e colocar-se na postura de receber a palavra e dizer ao maçom mais antigo, sussurrando:

“Os respeitáveis mestres e esta honrada corporação, o saúdam, o saúdam, o saúdam. ”

Então o mestre dá a palavra e o toque na forma dos maçons, o que é tudo o que deve ser feito para fazer um maçom perfeito.

NOTAS

1 – Encontrado alternativamente no texto do Manuscrito Edinburgh Register House: Mestre, Maçom e Mestre Maçom, usado para Companheiro; o Mestre Maçom também pode ser o Mestre da Loja. A pergunta inicial do manuscrito, “você é maçom? ”, foi incluída em todas as instruções maçônicas estabelecidas mais adiante e ainda hoje são propostas para a reflexão de novos aprendizes (Sois maçom?).

2 – Se a Loja Maçônica é obrigada a encontrar-se longe de cães latindo e galos cantando, é porque requer silêncio e discrição. Os estatutos da Loja Escocesa de Aberdeen, estabelecida em 1760, ainda prescrevem hoje que suas reuniões sejam realizadas “nos campos”.

3 – Com essa resposta, indica que o manuscrito se originou da Loja de Kilwinning, ou pelo menos uma Loja sob sua jurisdição. A Loja Mãe Kilwinning, que atualmente possui o número “0” da Grande Loja da Escócia, alega ser a Loja mais antiga do mundo, com sua criação no ano de 1120.

4 – Aqui o “Mestre maçom” é uma referência ao presidente da loja ou mestre da loja.

5 – Acredita-se, baseado em outros manuscritos, que o “oval largo” é uma referência a um bastão ou maço largo, utilizado no corte de pedras.

6 – A cozinha pode ser comparada a uma sala de preparação, enquanto o salão pode se referir à sala de reuniões da loja. Pode se originar de uma tradição operativa de que os companheiros pudessem se encontrar no saguão de um edifício, enquanto os aprendizes eram obrigados a ficar na cozinha com empregados e outros servos.

7 – A mesma pergunta é levantada, nos mesmos termos, em outro documento pertencente aos primeiros catecismos: o manuscrito de Chetwode Crawley, datado de 1700 por estudiosos maçônicos, causando a mesma resposta, palavra por palavra. Nos dois manuscritos, os cinco pontos do Companheirismo são os seguintes:
Pé a pé – joelho a joelho – coração a coração – mão a mão – orelha a orelha.

Esses pontos se modificaram no Maçonaria Dissecada de Samuel Prichard:
Mão a mão – pé a pé – face a face – joelho a joelho – e mão nas costas.

8 – Recordando 1 Reis (7.21): “E ele [Hiram] ergueu as colunas no pórtico do templo; e levantando a coluna direita, a chamou de Jachin; e levantando a coluna esquerda, e chamou de Boaz … ”. Jachin e Boaz são dados como “a palavra de um maçom ”.

BIBLIOGRAFIA

COOPER, Robert – Cracking the Freemason’s Code: The Truth About Solomon’s Key and the Brotherhood. 2006

PRITCHARD, Samuel. Masonry Dissected. 1730

CHASSAGNARD, Guy. Les Anciens Devoirs. Saint-Malo: Pascal Galodé Éditeurs, 2016. Disponível em: <http://www.anciensdevoirs.com>

Fonte: oprumodehiram.com.br/o-autor/


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