DÚVIDAS SOBRE A LITURGIA DO REAA
(republicação)
Em 21/03/2017 o Respeitável Irmão
Tristão Antônio Borborema de Carvalho, Loja Obreiros de Abatiá, REAA, Grande
Oriente do Paraná (COMAB), Oriente de Abatiá, Estado do Paraná, solicita os
seguintes esclarecimentos:
Dileto autor, tenho algumas
dúvidas sobre ritualística a sanar acerca do REAA, na nossa liturgia, que
fomentam debates entre nossos obreiros. São cinco indagações, conquanto imagino
que a resposta seja de cunho bem objetivo.
Primeira dúvida. Tema: sinal
gutural e seu momento. No início da sessão, quando os obreiros ficam em pé
defronte seus assentos e o Mestre de Cerimônias, após anunciar a composição da
Loja e seu grau, também tomando seu assento, o Venerável Mestre assim
pronuncia: "em loja, meus irmãos (faz uma pausa), sentemo-nos". No
momento em que diz "em loja", já seria o momento adequado para fazer
o sinal gutural? Ou deve ser feito em outro momento e a partir de quando será
lícito fazê-lo?
Segunda dúvida: TEMA: toque e
transmissão da palavra sagrada. No REEA, quando o primeiro Diácono recebe a
palavra sagrada do Venerável Mestre, antes de levar ao Primeiro Vigilante, ele
(Diácono) também dá o toque do grau ao Venerável ou somente recebe dele, antes
dessa transmissão (da palavra sagrada)? Do mesmo modo, o Primeiro Diácono ao
transmitir a palavra sagrada ao irmão Primeiro Vigilante, somente dá o toque do
grau a ele ou também recebe? Em suma, o toque, no momento da transmissão entre
as Luzes e os Diáconos é bilateral (recebe e retorna) ou unilateral (somente é
dado por quem tem a palavra sagrada, sucessivamente, Venerável em relação ao
Primeiro Diácono; Primeiro Diácono em relação ao Primeiro Vigilante; Primeiro
Vigilante em relação ao Segundo Diácono e, finalmente, Segundo Diácono em
relação ao Segundo Vigilante).
Terceira dúvida: TEMA: forma de
transmissão da palavra sagrada no Grau de Aprendiz. Entre os Diáconos e as
Luzes, em sessão do primeiro grau, a palavra sagrada é passada com soletração,
ou seja, letra por letra? Neste caso, com medeios de cabeça (alternância entre
os ouvidos) ou somente no ouvido (direito ou esquerdo) do interlocutor?
Quarta dúvida. Tema - formação do
pálio. Na formação do pálio, que no nosso ritual se dá duas vezes, na abertura
e fechamento do Livro da Lei, o Mestre de Cerimônias, que se posta atrás do
Mestre Instalado encarregado da abertura/fechamento, deve colocar o bastão
sempre sob os bastões cruzados dos Diáconos, na abertura do Livro da Lei e sobre
tais bastões, no fechamento do Livro da Lei ou, é totalmente indiferente à
posição do bastão do Mestre de Cerimônias na formação do pálio?
Quinta dúvida. Tema -
desfazimento do sinal de ordem. Qual o momento em que o sinal de ordem não mais
será executado em loja? No final do nosso ritual, o Venerável diz, "a mim,
pelo sinal, pela bateria, pela aclamação (Huzzé)". Depois disso, ele
declara a loja fechada. A questão é, após a aclamação (terceira menção à
expressão, "Huzzé"), ainda perdura o sinal, só desfeito quando o
Venerável declara a Loja fechada ou após sua execução (terceira aclamação), já
se desfaz o Sinal
CONSIDERAÇÕES:
Muitas explicações dependem de
muitas observações para que elas façam sentido. Existe a questão do que é real
e do que é aparente. Explico: no que diz respeito às minhas ponderações,
observo por primeiro respeitar a pureza do Rito e, em segundo, aquilo que está
escrito no ritual da Obediência – sabemos que, mesmo de um mesmo Rito, eles se
diferem entre as Potências brasileiras.
Assim, devo salientar que quando
me expresso em relação à tradição de um sistema ritualístico, não estou levando
em consideração apenas esse ou aquele ritual, pois simplesmente dizer que isso
ou aquilo está correto ou errado, geralmente não traz solução para a dúvida.
Desse modo vou procurar ser o mais objetivo possível, porém sem agredir a
lógica dos fatos e o exercício da prudência. Vamos então a eles:
1 – Sinais são feitos apenas em
Loja aberta, o que significa que só depois dela ser declarada aberta pelo
Venerável é que todos “deveriam” compor o Sinal. Entretanto, só existe um
momento no qual os Obreiros se manifestam pelo Sinal antes da Loja ser
declarada aberta. Isso acontece na ocasião em que o Primeiro Vigilante em Loja
de Aprendiz, atendendo a ordem do Venerável Mestre, verifica simbolicamente se
todos os presentes são maçons. Isso acontece apenas para conservar a tradição simbólica
que indica que todos os presentes estão prontos, à disposição, à ordem para o
trabalho. Obviamente que nos Graus 02 e 03 esses procedimentos se diferem um
pouco, embora a sua essência seja a mesma.
Assim, afora essa possibilidade
prescrita pela dialética da ritualística de abertura, Sinais somente são
compostos a partir do momento em que a Loja esteja devidamente pela liturgia
maçônica aberta (exposição das Três Grandes Luzes Emblemáticas).
Sabe-se, entretanto que a
realidade não é bem essa, pois muitos rituais desafortunadamente equivocados,
ainda preveem o contrário daquilo que é a tradição, todavia estando eles
legalmente em vigência, inquestionavelmente cumpre-se o seu inteiro teor.
No que diz respeito à menção “em
Loja, meus Irmãos” nada tem a ver com a composição de Sinal de Ordem, senão ser
um alerta do Venerável para que dali em diante se siga os procedimentos
litúrgicos balizados pelo ritual. É o mesmo que o conhecido: “meus Irmãos,
ajudai-me a abrir a Loja”.
2 – Seguindo o que prevê a razão,
o Toque somente é dado por aquele que pede a Palavra (significa que ele está
pedindo a Palavra). Assim, o outro protagonista não responde com outro Toque,
porém revela a Palavra na forma de costume.
É oportuno mencionar que a
transmissão da Palavra que ocorre por ocasião da abertura e do encerramento da
Loja, se dá entre Mestres Maçons (somente Mestres podem ocupar cargos), assim
quem transmite é aquele que é inquirido pelo Toque. Por não ser um ato de
telhamento (verificação de qualidade), quem transmite, transmite a Palavra por
inteiro (soletrada ou silabada conforme a ocasião).
No que diz respeito à sua
questão, o Toque para a transmissão da Palavra é unilateral. Do mesmo modo a
transmissão também é unilateral.
3 – Boa parte dessa questão já
foi respondida no item número dois. A regra de soletrar ou silabar conforme o
Grau permanece no ato, porém por apenas um dos interlocutores nesse caso.
Tradicionalmente a transmissão é
feita apenas em um dos ouvidos dos interlocutores (ou só no direito, ou só no
esquerdo). É equivocada no REAA a prática exarada por alguns rituais alternando
a audição entre os ouvidos (menear com a cabeça) – isso mais parece uma atitude
de galo de briga do que prática maçônica.
A propósito, a história e a razão
da liturgia da transmissão da Palavra são únicas e deveria ser conhecido o
porquê da sua existência.
4 – Embora no REAA a formação de
pálio seja enxerto advindo de outro rito (ele não existe no escocesismo
original), se algum ritual, mesmo equivocado, prever essa prática, penso que o
mais viável então seria que o Mestre de Cerimônias posicionasse o seu bastão
por sobre os outros dois bastões cruzados pelos Diáconos.
5 – O correto é que quem fecha a
Loja é o Primeiro Vigilante por ordem do Venerável Mestre (Irm.'. 1º Vig.'., podeis
fechar a Loja) – existe uma razão histórica para esse acontecimento. Assim que
o Vigilante declarar Loja fechada, fecha-se o Livro da Lei e todos desfazem o
Sinal. Desse momento em diante não se faz mais Sinal.
Levando-se em conta que
genuinamente no REAA a aclamação ao final dos trabalhos só é feita após esta a
Loja fechada pelo Primeiro Vigilante, a Aclamação é então pronunciada sem que
haja composição do Sinal.
Agora, no caso do ritual em
vigência na sua Obediência, onde, segundo a sua observação, é o Venerável
Mestre quem declara a Loja fechada e que isso se dá somente após o Sinal, a
Bateria e a Aclamação (pelo menos foi o que eu entendi), sem discutir o mérito
desse procedimento, eu penso que, num caso desses, todos ainda devem permanecer
com o Sinal após a Aclamação.
O que pode é estar havendo um
erro de interpretação no que diz respeito aos termos “encerramento dos
trabalhos” e “fechamento da Loja”. Nesse caso, o ideal é sempre tomar por base
para “Loja fechada” o fechamento do Livro da Lei, momento em que todos deveriam
em seguida desfazer o Sinal. Partindo dessa premissa, ao final da sessão
somente existe a Bateria e a Aclamação, não existindo, portanto nessa
oportunidade, o ato do “pelo Sinal”.
Outro aspecto para ser observado
é o de não se confundir o ato litúrgico de fechar a Loja (trabalhos do
canteiro) pelo Primeiro Vigilante que é imediatamente seguido pelo fechamento
do Livro da Lei, com o convite do Venerável para que todos se retirem (do
recinto) por já estarem liturgicamente encerrados os trabalhos e a Loja
fechada.
É fato que muitos ritualistas não
se apercebem desses detalhes e deixam os nossos rituais confusos e sujeitos às
dúbias interpretações. É devido a isso que não se consegue ser objetivo nas
respostas que envolvem a liturgia e a ritualística maçônica. São essas
contradições que tem nos levado às intermináveis discussões sem que sejam
colhidos bons frutos. Um bom exemplo disso são os temas aqui hoje abordados e
que estão muito longe de serem satisfatoriamente explicados na sua origem e razão
da sua existência, obviamente pela sua complexidade e pela exiguidade de espaço
oferecido.
Concluindo, peço desculpas se
abusei da prolixidade, mas eu não entendo meu ofício como um ato de
simplesmente dizer “sim ou não” como resposta objetiva. A escola maçônica me
ensinou através dos tempos a ser prudente. Portanto sem me atrever a ser
laudatório, eu jamais me permitiria a emitir considerações sem expor primeiro
as minhas convicções para que o leitor possa a posteriori tirar as suas
conclusões.
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br