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sábado, 24 de abril de 2021

ESCLARECIMENTOS SOBRE O REAA

Em 24/08/2020 o Respeitável Irmão João Estevam, Loja União e Trabalho IV, REAA, GOB-RN, Oriente de Santa Cruz, Estado do Rio Grande do Norte, apresenta as questões seguintes que foram formuladas por um Irmão Aprendiz Maçom da sua Loja

QUESTÕES RELATIVAS AO REAA APRESENTADAS POR OCASIÃO DA PALESTRA ONLINE REALIZADA EM 21/08/2020

1. O Regimento irlandês Walsh, jacobita, de acordo com bibliografia utilizada por José Castellani, foi a primeira Loja escocesista fundada em território francês em 1689 sob a égide de Jaime II em Saint Germain de Laye. O escocesismo não seria um exercício maçônico relacionado a dinastia Stuart desde os tempos de trono em território anglo-saxônico? Ou seria uma inovação apenas durante o período do exílio?

2. Qual recorte histórico podemos fazer para delimitar um marco natalício para o Rito Escocês antes da adoção do Rito de Heredom ou de se tornar Rito Escocês Antigo e Aceito?

3. Qual a influência de Albert Pike na formatação ritualística e doutrina do Rito Escocês antigo e Aceito e em que ele contribuiu para os usos e costumes do Rito?

4. O Irmão Francisco Carvalho, de alcunha Xico Trolha, utiliza o termo Maçonaria Primitiva para assinalar o período pré-Maçonaria especulativa e obediencial. O uso e costume da Maçonaria Primitiva foi de arcabouço doutrinário cristão. Com a Maçonaria Especulativa e Obediencial, o cristianismo foi substituído em boa medida pelo hermetismo e pelo judaísmo, inclusive com o ressignificado de símbolos tal qual a Estrela Flamígera, antes sinal para os

Reis Magos e agora símbolo pitagórico. A transformação da Maçonaria a partir de uma estrutura Deísta com novos símbolos ou ressignificação de antigos símbolos é considerado uma evolução ou um enxerto na estrutura ritualística maçônica?

5. O Irmão Pedro Juk em sua Exegese Simbólica para o Aprendiz Maçom utiliza os termos “aperfeiçoamento do espírito” e “imortalidade da alma e no aprimoramento do espírito” no contexto da Iniciação em Maçonaria. Gostaríamos de saber se o irmão faz distinção entre alma e espírito e se esta distinção é decorrente do racional teórico e ou da doutrina em simbologia maçônica?

CONSIDERAÇÕES:

Penso que não, em se tratando da questão política inglesa o termo se aplica aos “stuartistas”, terminação esse derivado dos Stuarts, família católica da Escócia que várias vezes teve um seu representante no trono da Inglaterra. Com o exílio, após a decapitação do rei Carlos I durante a revolução puritana de Cromwell em 1649 e o consequente exílio de sua esposa, Henriqueta de França, essa relação stuartista e escocesismo ficou bastante natural. No que diz respeito ao embrião do REAA, sua relação territorial com a Escócia nada tem a ver. Como rito maçônico o escocesismo é puramente francês e, em termos de nomenclatura (escocês) existe uma provável relação com um grau diferenciado que pretendia ser o abrigo da cúpula da Maçonaria na França. Esse pretencioso grau era denominado Mestre Escocês.

Não com o nome de Rito Escocês, mas é bastante viável se admitir que esse movimento começou a partir do momento em que Henriqueta de França, viúva de Carlos I chegou em exílio no castelo de Saint Germain. Segundo José Castellani, com ela vieram muitos membros da nobreza inglesa e escocesa com o fito de preparar uma reação contra Cromwell e a retomada do trono. De acordo com o autêntico Paul Naudon, em 1661, pouco antes de alçar ao trono inglês, Carlos II criou em Saint Germain um regimento que ficaria conhecido como Guardas Irlandeses. Historiadores como Alec Mellor e Gustav Bord defendem que esse regimento possuía uma Loja Maçônica formada por imigrantes escoceses e irlandeses. Assim, é muito provável que esteja nesse contexto a pedra angular desse sistema denominado escocesismo que nasceu na França sob a marca de “stuartista” e caracterizado por “altos graus”.

Eu diria que em se tratando de simbolismo, numa pequena parte apenas, até porque o simbolismo do REAA se firmaria realmente na França e não nos EE. UU. da América do Norte. Isso se justifica porque o primeiro ritual para o simbolismo do Rito em questão somente apareceria em 1804 em solo francês quando então fora criada a Loja Geral Escocesa para tratar desse ritual e se resguardar da influência do Rito Frances. Esse primeiro ritual teve por base a exposure relacionada à Grande Loja inglesa de 1751 constituída por irlandeses que se autodenominavam por “Antigos”. Posteriormente com o advento das Lojas Capitulares instituídas pelo Grande Oriente da França esse primeiro ritual sofre o seu primeiro golpe para se adequar à tutela dos costumes franceses de Maçonaria. Essa e uma história complexa que se passa na França e é base para o desenvolvimento do simbolismo do REAA. Com base nisso, eu particularmente não vejo, em termos de originalidade, que influência profunda teria Albert Pike nesses acontecimentos.

Em se tratando de períodos pertinentes aos aproximados oitocentos anos de história da Ordem, a Maçonaria primitiva (a partir do século XII), é sinônimo da operativa, ou de ofício. O período operativo, ou primitivo, trata de uma época ancestral em que os maçons eram literalmente pedreiros, portanto homens que exerciam o ofício da cantaria e da elevação de edificações tais como igrejas, catedrais, abadias, obras públicas, etc. A história autêntica menciona essas corporações operativas medievais que serviam à Igreja Estado daquela época. Sob esse viés os pedreiros-livres eram então protegidos pelo clero. Não há dúvida que essa relação atingia o ofício e os pedreiros, pois estes se baseavam nas Old Charges, ou Antigas Obrigações, cujas quais eram manuscritos elaborados por clérigos e, por conseguinte, davam um forte cunho religioso cristão ao trabalho. Com o declínio dessas corporações, sobretudo pela perda de prestígio do estilo gótico causado pelo advento do Renascimento, as Lojas, num instinto de sobrevivência, começaram a admitir elementos não profissionais, isto é, estranhos à arte profissional de construir. O marco da aceitação se dá no ano de 1600 quando em outubro desse ano fora aceito na Loja Capela de Maria, em Edimburgo na Escócia, como maçom especulativo, o latifundiário de nome John Boswell, o Lorde de Auschinleck. Geralmente esses maçons admitidos eram homens abastados e influentes e assim poderiam proteger e garantir a sobrevivência das Lojas (corporações). Esse acontecimento acabou marcando uma transição no Ofício, já que maçons não operativos, porém especulativos, ou aceitos, iam aos poucos ocupando o lugar dos profissionais da arte do pedreiro nas Lojas de então. Com os Aceitos ingressando na Sublime Instituição, nada mais natural que formas especulativas de trabalho viessem também aparecer, dando assim suporte ao nascimento do que hoje conhecemos por ritos maçônicos. Com isso ingressavam nas Lojas concepções e características próprias trazidas pelos “aceitos”. Desse modo, as corporações de ofício primitivas passavam a ter outra característica, a de uma construtora social. Na verdade a Maçonaria Especulativa, ou dos Aceitos, acabaria com isso ganhando um rico cabedal de cultura devido aos diferentes costumes que se miscigenavam no seio das Lojas. É bom que se diga que apesar dessa transição, a Maçonaria Especulativa não esqueceu os seus tempos operativos. A prova disso é o seu arcabouço doutrinário que fora montado sobre muitos costumes antigos e também sobre o instrumental operativo das ferramentas que passaram a possuir elevado significado de moral e ética. A Maçonaria Especulativa ainda obteria um sentido organizacional mais aprimorado desde a fundação da Premier Grand Lodge em Londres no ano de 1717 o que inauguraria o sistema obediencial e o aparecimento da figura do Grão-Mestre. Esse marco é conhecido como o início da Moderna Maçonaria. No que diz respeito ao Deísmo e o Teísmo, a partir do século XVIII duas vertentes principais da Moderna Maçonaria se colocariam em evidência como deístas e teístas, o que na verdade incidiria sobre os seus formatos doutrinários, embora baseados quase sembre sobre os mesmos símbolos e emblemas. Destaca-se como teísta a Maçonaria anglo-saxônica (inglesa) e, deísta, a Maçonaria latina (francesa). Ainda dentro dessa concepção existem ritos maçônicos que, independente da sua vertente, podem ser ao mesmo tempo deístas e teístas, como é o caso do REAA e agnósticos, como é o caso do Rito Francês ou Moderno. Desse modo, os símbolos que acabariam por constituir a Maçonaria Simbólica, se comparados com os tempos primitivos, sob nenhuma hipótese podem ser considerados como “enxertos”, mas sim como um relicário cultural que deu suporte aos ritos e trabalhos maçônicos (cada qual com a sua conjuntura doutrinária). Enxertos até acontecem, mas geralmente quando inadvertidamente alguns pseudos ritualistas deturpam os ritos incluindo neles símbolos e alegorias que não pertencem à sua natureza cultural. Isso quer dizer, os que misturam símbolos e alegorias, naturais de um sistema (ritual), em outro alterando o seu ideário iniciático.

Conceitos de alma e espírito trazem, não raras vezes, percepções filosófico religiosas, mas não num sentido amplo de uma doutrina religiosa. O conceito de alma do autor, que por acaso sou eu, é o de início ou o princípio da vida e o do espírito é o desenvolvimento dessa parte imaterial, cujo corpo é o seu habitat. Como essas são as minhas convicções pressuponho que ambos convivam com a matéria corpórea enquanto ela viver. Na transição, ou na “grande viagem”, que então o pó volte a terra era e o espírito retorne Àquele que o deu. Evidentemente que nesse particular cada maçom é livre para ter as suas convicções. Eu pelo menos, não de modo laudatório, tentei colocar meus sentimentos no livro mencionado. Sob hipótese alguma quis eu impor qualquer doutrina religiosa, contudo, me é de direito alertar para as possibilidades relacionadas aos símbolos. Assim, de modo superficial é esse o meu pensamento entre alma e espírito, não decorrente de nenhum racional teórico e muito menos de uma doutrina específica, mas eu diria, da minha vivência com as coisas da nossa veneranda Instituição.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

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