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terça-feira, 11 de maio de 2021

A FUNDAÇÃO DO GRANDE ORIENTE BRASÍLICO

A FUNDAÇÃO DO GRANDE ORIENTE BRASÍLICO
(Depois , GRANDE ORIENTE DO BRASIL)

"Aos vinte e oito dias do terceiro mez do Anno da Verdadeira Luz 5822 (1), achando-se abertos os trabalhos da nossa Officina em o gráo de Aprendiz e havendo descido do Oriente o Irmão Graccho, Venerável da Loja Commercio e Artes, única até este dia existente e regular no Rio de Janeiro e que nessa ocasião resumia o povo maçônico reunido para a inauguração e criação de um Grande Oriente Braziliano em toda a plenitude de seus poderes, foi por acclamação nomeado o Irmão Graccho, que acabava de Venerável, para presidente da sessão magna e extraordinaria naquella ocasião convocada para a eleição dos officiais da Grande Loja na conformidade do paragrafo-capítulo da parte da Constituição jurada. Tomando assento no meio do quadro em uma mesa para esse fim preparada, na qual estavam o Evangelho, o Compasso, a Esquadria, a Constituição e uma urna, disse o Irmão presidente que era mister nomear um secretario e um escrutinador para a apuração dos votos na presente sessão. E sendo eleito o Irmão Magalhães, que servira de primeiro Vigilante e o Irmão Aníbal, que servira de segundo Vigilante, aquelle para secretario e este para escrutinador, fez o Presidente ler os artigos da Constituição respeitantes a eleição e logo depois que o Presidente disse que se passasse a fazer a nomeação do Grão Mestre da Maçonaria Brasileira, foi nomeado por acclamação o Irmão José Bonifácio de Andrada. Propos logo o Irmão Presidente que se applaudisse tão distincta escolha com a tríplice bateria e se despachasse ao novo eleito uma deputação a participar-lhe este successo e rogasse- lhe o comparecimento para prestar juramento de tão alto emprego. Foram nomeados o Irmão Diderot e o Irmão Demetrio, os quais voltaram dizendo o Irmão Diderot que o Grão Mestre, por motivos de obrigação a que o chamava o seu emprego civil não podia comparecer, que acceitava o cargo com que a Loja o honrava e o agradecia, que protestava a todo o corpo maçonico brazileiro a mais cordial amizade e todos os serviços que lhe fossem possiveis.

Procedeu-se depois à nomeação do Delegado do Grão Mestre e se bem que a Constituição determinasse que fosse ella feita por votos, o mesmo povo dispensou o artigo fazendo a escolha por acclamação e foi, com effeito, acclamado o Irmão Joaquim de Oliveira Alvarez. Applaudiu-se a sua eleição e enviou-se-lhe uma deputação composta do Irmão Turenne e do Irmão Urtubie, a qual de volta participou que se achava na sala dos passos perdidos o Irmão Grande Delegado. Saiu uma nova deputação de cinco membros dirigindo-lhe a palavra o Irmão Diderot. Foi depois introduzido na Loja por baixo da abobada de aço e estrellada, prestando o seguinte juramento do ritual:

'Eu, F∴, de livre accordo e vontade, na presença do Supr∴Arch∴ do Universo, que le no meu coração e

no de todo o Povo Maçon∴ Brasl∴ aqui representado, juro não revelar a profano algum nem Maç∴ deste ou de outro qualquer Or∴ a palavra sagrada da Ord.∴e a de Passe deste Or∴, assim como todos os segredos que são concernentes ao logar de Gr∴ Delegado do Or∴ Brasil∴ , tanto nesta ocasião como em outra qualquer, exceto ao meu futuro successor. Outrossim, prometo preencher todas as obrigações do meu cargo conformando-me com a Constituição deste Or∴ e com os regulamentos da Gr∴ Loja, de uma maneira que possa promover o aumento e gloria deste Or∴ e de todas as Lloj∴ do seu circulo, e de empregar todos os meus esforços sempre que forem necessarios a bem de todos os maçons, e de sustentar a causa do Brazil quando compatível for com as minhas faculdades. E se trair e perjurar qualquer destas obrigações de novo me submeto às penas dos meus ggr∴ e ao desprezo e execração pública. Assim Deus me salve!'

Recebeu applausos, dirigiu a palavra a toda a Grande Assembléia e pediu que o dispensassem de assistir por mais tempo, porque deveres igualmente sagrados de seu emprego o chamavam à casa. Sahindo o Grande Delegado, procedeu-se por cedulas nominaes à eleição dos demais Oficciaes da Grande Loja e sahiram com maioria absoluta, para Primeiro Grande Vigilante o Irmão Diderot, para Segundo Grande Vigilante o Irmão Graccho, para Grande Orador o Irmão Kant, para Grande Secretario o Irmão Bolivar, Promotor o Irmão Turenne, Chanceler o Irmão Adamastor. Foram gradualmente applaudidas as suas nomeações e seguiram-se as nomeações dos Veneraveis das tres Lojas Metropolitanas que se devião igualmente erigir e foram eleitos os Irmãos Brutus, Anibal e Democrito(2). Applaudiu-se a nomeação e em acto successivo prestou o Primeiro Grande Vigilante o juramento nas mãos do Presidente e subindo ao trono, o deferiu a todos os outros Officiaes e Veneraveis. Mandando depois aos Officiaes da Gr∴ Loj∴ tomarem os seus logares, ordenou applausos de agradecimento a todos os Ooff∴ da preterita Loja Commercio e Artes pelos assiduos desvetos na causa da Maçonaria.

Proposto pelo Irmão 1º Gr∴ Vig∴ para a proxima sessão o sorteamento dos membros e a designação dos Dignatarios das Lojas então criadas, o Irmão ex-Orador pedindo a palavra ponderou que podia, pela sorte, ficar algumas das Lojas privada de IIr∴ que, pelo seu grao, pudessem ser Ddign∴ e portanto propunha que se fizesse o sorteio por turmas dos ggr∴ existentes, para que a cada uma coubesse igual numero de IIr.: graduados. Porem o 1o Vigilante tomando a palavra, mostrou que era mais liberal sortear promiscuamente e deixar a cada uma das Lloj∴ a nomeação dos seus DDign∴, para o que poderia ser eleito qualquer Irmão de qualquer gr.∴, dando-se depois o gr∴ de Mestr∴ , assim como na criação da Gr∴ Loj∴, sahindo GGr∴ Ddign∴ IIr.∴ Mmestr∴ , ipso facto hão de receber os altos ggr∴. E suposta a moção suficientemente discutida e posta a votos foi approvada a emenda e se decidiu que se procedesse da maneira indicada pelo Ir∴ Gr∴ Vig∴.

Deste modo se deram por terminados os trabalhos desta sessão magna e extraordinaria ficando assim installada a Gr∴Loj∴ , ordenando porém o Ir∴ Gr∴ Vig∴ que eu, Gr∴ Secr∴ da Gr∴ Loj∴ lavrasse e exarasse a presente acta, para perpetuo documento neste livro que deverá servir para as das Assembléas Geraes e igualmente da Gr∴ Loj∴" (3).

(Seguem-se as assinaturas).

NOTAS
1. Pelo calendário maçônico utilizado na época, o qual principiava o ano no dia 21 de março, acrescentado o número 4.000 ao ano do calendário gregoriano, o 28º dia do 3o mês do ano da Verdadeira Luz 5822, era 17 de junho de 1822;

2. Todos os nomes citados eram nomes simbólicos( ou heróicos) usados, na época. Assim, Graccho era o capitão João Mendes Vianna, Diderot era Joaquim Gonçalves Ledo, Kant era o cônego Januário da Cunha Barboza, Bolívar era o capitão Manoel José Oliveira, Turenne era o coronel Francisco Luiz Pereira da Nóbrega, Adamastor era Francisco das Chagas Ribeiro, Brutus era o major Manoel dos Santos Portugal, Aníbal era o major Albino dos Santos Pereira e Demócrito era o major-ajudante da Brigada de marinha Pedro José da Costa Barros;

3. O termo Grande Loja, na época, referia-se à Alta Administração do Grande Oriente, com suas Dignidades e Oficiais.

Fonte: O Pesquisador Maçônico

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