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quarta-feira, 16 de junho de 2021

UMA PANORÂMICA SOBRE AS RELAÇÕES DA MAÇONARIA E A INTERNET

UMA PANORÂMICA SOBRE AS RELAÇÕES DA MAÇONARIA E A INTERNET
por Mestre Affonso Domingues

Esta prancha surge como resultado da minha vivência pessoal durante o último ano maçónico e da vontade de contribuir para a discussão sobre as relações da nossa Augusta Ordem com a sociedade profana neste final de século. Discussão tão pertinente como polémica, mas mesmo assim incontornável nestes tempos de mudança que vivemos.

Existem basicamente dois tipos de pessoas que são iniciadas na Maçonaria: aquelas que pela sua vida pessoal, pelos seus estudos, hobbies, pelos seus interesses mais variados e pela sua vivência pessoal já conhecem grande parte dos temas que orientam a Maçonaria, e como tal poderão já estar a par da temática maçónica; e aquelas que não conhecendo conscientemente esses temas, possuem um “potencial maçónico”, (uma pedra bruta) que poderá ser desenvolvido, caso lhes sejam facultadas as ferramentas e as a unidades correctas, na altura certa. Tais pessoas acabam por ser contactadas por amigos já iniciados, que reconhecendo nelas esse potencial lhes sugerem o ingresso na Maçonaria. Note-se que não se trata de um “recrutamento” no sentido mais prosaico do termo, mas sim uma sugestão para o ingresso numa ordem onde potencial maçónico pode ser ampliado e desenvolvido, ou seja, onde a pedra bruta poderá começar a ser desbastada e aperfeiçoadas.

Eu pertenço a este último grupo de pessoas. Após a minha iniciação houve um período inicial em que a minha atenção era canalizada para o aspecto visual do ritual. Em que – e não há que ter vergonha de dizê lo – a atenção era mais dirigida para os gestos que os meus irmãos faziam e aquilo que diziam, do que para o significado desses gestos e dessas frases. Contudo após a mecanização do ritual, surge a fase de meditação sobre o seu significado e o da temática maçónica em geral.

É nesta fase que senti a pouca informação que posssuía. Pois embora o meu Vigilante me recomendasse que fizesse a minha interpretação e interiorização do ritual, sentia que me faltavam informações básicas sobre a Maçonaria. Muitas vezes tive a sensação de ter apanhado um “comboio em movimento”, pois para poder compreender e (vaidade das vaidades) acompanhar as conversas a que assistia, necessitava de proceder à pesquisa dessas informações, tendo sempre o cuidado de me lembrar que a informação que recolhesse era sempre a expressão do ponto de vista do autor, e como tal deveria “peneirar” essa informação para retirar as interpretações mais pessoais dos factos mais consensuais. Procurei pois essa informação nos livros, nas pranchas dos meus irmãos que entretanto me iam chegando às mãos… e na Internet…

Porquê a Internet? Por um lado por “deformação profissional” profana. Por outro, pelo conhecimento da Internet como um caldeirão cultural, onde diariamente comunicam milhões de pessoas. Algures, no meio dessa Babel imensa, deveriam estar maçons…

E a surpresa foi agradável. Uma pesquisa minuciosa leva-me a concluir que a nossa Augusta Ordem está convenientemente representada. E embora reconheça com alguma tristeza que a maior parte dessa representação se refere ao conhecimento norte-americano (Estados Unidos e Canadá), a universalidade da Maçonaria permite que se aproveite muito do que lá está.

Antes de continuar convém realçar o perigo de se tornar a nuvem por Juno. A Internet nunca poderá substituir o trabalho em loja. Numa era em que está na moda falar da Internet, importa conhecer tanto as suas potencialidades no campo da troca de experiências e conhecimentos maçónicos como os seus limites, sem “embandeirar em arco” ou perder a noção do que é de facto importante: a vivência maçónica no seu todo, nomeadamente o trabalho como obreiro em loja.

A Internet é basicamente um meio de troca de informação entre os seus utentes em duas vertentes distintas:

A disponibilização de informação

Por um lado temos centros que disponibilizam informação para consulta por parte de qualquer utente. Surgem aqui locais pertencentes a alguns irmãos mais empenhados, Lojas e mesmo Grandes Lojas. A título de exemplo saliento as Grandes lojas do Japão, Espanha, Itália, Finlandia, Austrália Ocidental, de vários estados e províncias dos Estados Unidos e Canadá, uma variedade de lojas do continente americano, a Loja de Pesquisa da Califórnia do Sul ou ainda a Sociedade Philalethes.

É aqui possível obter informações sobre as actividades das Lojas e Grandes Lojas, sobre os seus membros, obter textos sobre a nossa ordem, ou ainda uma compilação das perguntas mais frequentes – um pequeno manual, ideal para maçons recém iniciados – onde se responde a uma série de perguntas que versam a nossa ordem, o seu relacionamento com a sociedade profana, a relação das crenças de cada pessoa com a maçonaria, quais as atitudes a tomar em resposta a provocações anti maçónicas, etc.

Dentro dos documentos disponíveis é de referir ainda uma colecção de de Bulas Papais que afectaram directa ou indirectamente a nossa ordem, vários conjuntos de imagens digitalizadas de temas maçónicos ou ainda o texto do livro “Morals And Dogma” do irmão Albert Pike.

Enfim todo um manancial dinâmico de informação. Dinâmico porque a informação aumenta com o passar do tempo, assim como o n.º de Lojas e Grandes Lojas representadas. Espero ansiosamente pelo dia em que possa ver a Grande Loja Regular de Portugal e porque não, a nossa respeitável Loja, representadas na Internet.

A comunicação entre utilizadores

Uma segunda vertente da Internet prende se com a comunicação entre utilizadores em geral entre maçons em particular. Em tempo real, numa amena conversa electrónica, ou através do envio de mensagens de correio, é possível a troca de impressões entre irmãos separados por milhares de quilómetros. Nesta área salientam se algumas listas de discussão temática versadas na maçonaria. Estas listas funcionam como centros aglutinadores de mensagens, enviadas e distribuídas aos subscritores da referida lista. Como exemplos temos a UKMason list, versada em assuntos relacionados com a maçonaria inglesa, nomeadamente com a UGLE, só admitindo como subscritores maçons pertencentes a lojas reconhecidas pela UGLE; e a mais “popular” freemasonry list”, que não restringe os subscritores, nem o conteúdo: dos assuntos a serem discutidos. Contudo trata-se de uma lista moderada, onde não são tolerados ataques pessoais nem faltas de educação entre os participantes. Como subscritor desta lista desde Outubro do ano passado, devo dizer que tenho pena que o dia não tenha mais horas, para me permitir acompanhar com mais detalhe o que se vai discutindo, dada a quantidade de informação que circula diariamente – entre 10 a 50 mensagens diárias, consoante seja dia de trabalho ou fim de semana. Sendo óbvio que nem todas as mensagens são relevantes em termos de conteúdo, não posso deixar de referir alguns dos temas que têm sido discutidos:

O relato de uma sessão da Grande Loja da Rússia, constituída em 1995 e do andamento dos seus trabalhos.

Relatos sobre experiências de passagem de grau.
Diferenças entre Lojas que trabalham normalmente no 1.º grau e Lojas que trabalham normalmente no 3.º grau.

O significado de alguns símbolos nos templos maçónicos.
Qual o espírito da maçonaria.
Poemas maçónicos.
Compilações de publicações maçónicas e os respectivos contactos.
Críticas a livros maçónicos recentemente publicados.

Actividades de beneficência.
Diferenças entre os vários ritos e diferentes interpretações do ritual em várias Lojas.
etc, etc, etc.

Esta troca de ideias implementa o trabalho em loja, permitindo-nos ter acesso a pontos de vista de irmãos com mais experiência. Sob este ponto de vista poderia ser levado a considerar a internet como um “templo virtual”. Contudo a minha interpretação das relações entre a Maçonaria e a Internet têm os seus limites. A falta de muito do que dá sentido a – um templo e às sessões em Loja, como sejam o aspecto ritual dos trabalhos a envolvência de cada maçom nesse ritual e a não sacralização do templo – sacralização essa só possível pela presença física dos maçons levam-me a considerar que o conceito de “templo virtual” – possível em termos tecnológicos – só faria maçonicamente sentido em termos pedagógicos, como auxiliar para os aprendizes que se iniciam no desbaste da sua pedra…

Convém ainda referir que tem de existir um certo cuidado com o que se diz e principalmente como se diz. A Internet não é um meio fechado nem suficientemente seguro para permitir uma troca de segredos maçónicos (senhas, etc) pela rede. Como a comunicação é feita de forma verbal (isto é, pelo que se escreve e não pelo que se faz), é muito importante conjugarmos o conteúdo das nossas missivas com o estilo literário em que são escritas – a ironia pode ser uma faca de dois gumes – e existem pessoas que se ofendem muito facilmente com o que é escrito. Finalmente é de notar que a informação maçónica que circula na rede, não difere da que está disponível em livros, que podem ser adquiridos por qualquer maçom ou profano…

No meu caso pessoal, decidi reflectir o meu grau de aprendiz na minha utilização maçónica da Internet. Até agora tenho utilizado o meu “previlégio do silêncio”, observando, escutando e aprendendo com a experiência, a postura, a cultura, e porque não dizê-lo, com as asneiras de alguns irmãos (a pedra ainda não é perfeita) que navegam nestas “águas”.

Neste mundo cada vez mais agitado, onde o tempo dedicado às nossas profissões profanas é cada vez maior, e o tempo disponível para actividades maçónicas cada vez menor, onde a velocidade de acesso à informação se torna tão importante como a informação em si, a internet surge como meio priviligiado para encurtar tempo e distâncias, permitindo o contacto e a troca de informações entre irmãos de uma forma rápida e eficiente, desde que se tenha sempre a perspectiva que nada poderá substituir o contacto pessoal entre irmãos, a assistência das sessões em loja e o convívio que daí resulta.

Autor Desconhecido (A:. M:.)

Fonte: rimad.net

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