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terça-feira, 17 de agosto de 2021

LOJAS CAPITULARES DO REAA - UMA PRÁTICA DO PASSADO

Em 12/12/2020 o Respeitável Irmão Sérgio Roberto Melo Souto, atual Venerável Mestre da Loja Perfeita Amizade Alagoana, 181, REAA, GOB-AL, Oriente de Maceió, Estado de Alagoas, faz a seguinte pergunta:

LOJAS CAPITULARES

Prezado irmão. Me esclareça por gentileza: até que ano ou data existiram as Lojas Capitulares?

Temos ainda em nossa Loja Perfeita Amizade Alagoana 181 ao Oriente de Maceió, AL, um estandarte deste período (Sem uso há muitos anos).

CONSIDERAÇÕES:

As Lojas Capitulares REAA foram criadas no primeiro quartel do século XIX na França por pressão do Grande Oriente da França sobre o Segundo Supremo Conselho do Rito.

Na verdade, o GOdF buscou seguir o que já era prática comum no seu seio em relação aos graus capitulares, pois o Rito Moderno, na época conhecido como o Rito do Sete Graus, era acolhido pelo Grande Oriente desde os seus três graus do franco-maçônico básico (Aprendiz, Companheiro e Mestre), mais os quatro demais graus superiores que se encerravam com o grau Rosa-Cruz (7º Grau).

Com o advento da criação do primeiro ritual para o simbolismo do REAA em 1804 na França (vide essa história), o REAA ficava também sob a tutela do GOdF que, por sua vez, tal qual como ocorria com o Rito Moderno, ou Francês, se sentiu no direito de ter sob sua égide os graus simbólicos até o grau capitular.

Desse modo por volta de 1816, era então extinta a Loja Geral Escocesa de Paris, enquanto o REAA, até o seu 18º (Rosa-Cruz), passava a ficar sob a égide do GOdF. O Segundo Supremo Conselho ficava com os graus acima do 19º.

Assim, esse formato irregular onde o Athersata era também o Venerável Mestre ficaria conhecido como sistema das Lojas Capitulares. Esse aparelho irregular de graus, contudo, não perduraria, sendo mais tarde extinto, ficando o simbolismo naturalmente sob a tutela do GOdF enquanto os demais graus a partir no 4º, com o Supremo Conselho da França.

Vale mencionar que foi graças a esse sistema de Lojas Capitulares que o REAA teve o seu Oriente elevado e divido, isso para atender o santuário Rosa-Cruz onde nele adentravam apenas aqueles que já tivessem alcançado 18º Grau.

Quando as Lojas Capitulares foram extintas, contudo, o Oriente infelizmente permaneceu elevado e divido, isto é, desrespeitando o ritual original que fora criado em 1804 e publicado no Guia dos Maçons Escoceses, em cujo qual não havia separação e elevação.

Destaque-se que no escocesismo original de 1804 o piso da Loja era inteiro no mesmo nível, sem separação e elevação do quadrante oriental.

Isto assim se dava porque o primeiro ritual para o simbolismo do REAA não seguia os costumes dos Modernos Ingleses da primeira Grande Loja de 1717 como fazia o Rito Moderno ou Francês, mas por razões históricas, o ritual do escocesismo foi baseado na Grande Loja dos Antigos da Inglaterra de 1751. Por essa conotação, o ritual de 1804 seguia, em linhas gerais, o mesmo modelo adotado pelo Craft que hoje conhecemos como Rito de York – sem Oriente elevado e separado e com o 2º Vigilante sobre o meridiano do Meio-Dia.

No Brasil do século XIX o GOB, após a sua reinstalação em 1831, ao assinar tratado de intenções com o Grande Oriente da França, adotava esse modelo capitular que ainda estava em franco desenvolvimento na França.

Com isso, em linhas gerais o GOB passava a trabalhar no REAA, chegado por aqui oficialmente em 1832, com o mesmo sistema capitular. Tudo isso seria ainda reforçado a partir de 1854 quando o Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho passava também ser o Grão-Mestre da Maçonaria Brasileira.

A título de ilustração, o tratamento de Soberano que é dado ainda hoje ao Grão-Mestre Geral do GOB se originou desses acontecimentos. Assim, esse sistema misto – de simbolismo e altos graus juntos – perduraria até 1951 quando seria então definitivamente separado o Supremo Conselho do REAA do simbolismo, passando o GOB a ser corretamente apenas uma Obediência simbólica.

No tocante a esses acontecimentos e as Lojas Capitulares aqui no Brasil, elas durariam oficialmente até 1927 quando se deu a cisão no GOB e, por conseguinte eram criadas por Mário Marinho Béhring as Grandes Lojas Estaduais Brasileiras. Béhring, após ter de fato obtido reconhecimento para o seu Supremo Conselho (Jacarepaguá), que ele trouxera na ruptura com o GOB, denunciava a irregularidade da prática capitular.

Basicamente partir daí a Maçonaria Brasileira passava a contar com duas Obediências, oportunidade em que o GOB precisou rever os seus rituais simbólicos do REAA. Em 1928 as Grandes Lojas também preparavam um ritual exclusivamente para o simbolismo do REAA – começava a saga desmedida de edições de rituais na Maçonaria Brasileira.

É a partir dessa data que as Lojas Capitulares, então já extintas na França, eram também excluídas da Maçonaria Brasileira. É bom que se diga que algumas Lojas ainda assim iriam persistir com esse costume, contudo essa persistência, completamente irregular, logo iria desaparecer por completo – simbolismo com a Obediência simbólica e Altos Graus (do 4º em diante) com o Supremo Conselho.

A bem da verdade a Maçonaria Brasileira também não iria fugir à regra de manter o santuário Rosa-Cruz nos templos do simbolismo, isto é, o Oriente, elevado e dividido, permanecia para abrigar autoridades e Mestres Instalados, tudo indevidamente herdado do Capitulo.

Essa forma de Oriente elevado e dividido acabou se firmando de maneira consuetudinária a tal ponto de se tornar uma característica topográfica das Lojas Simbólicas do REAA.

Vale ainda mencionar que o REAA originalmente não possui instalação na forma como aqui conhecemos. Na França, de onde o rito é filho espiritual, Instalação significa simplesmente posse.

Instalação por aqui foi em princípio enxertada no REAA a partir da criação das Grande Lojas Estaduais em 1927, cujas quais adotariam essa prática. Mais tarde, por volta de 1968 o GOB, por influências externas e de Irmãos oriundos das Grandes Lojas Estaduais, também adoraria a Instalação esotérica do Venerável Mestre.

Desse modo, o título distintivo de Mestre Instalado acabaria indevidamente se tornando também consuetudinário na Maçonaria tupiniquim, inclusive não raras vezes equivocadamente comparado a um grau. Isto é, o costume se enraizou por aqui que hoje faz parte dos nossos costumes.

É o oportuno lembrar que Instalação é prática original da Maçonaria Inglesa, mas que não deixou de agradar os costumes latinos, sempre ávidos por novidades. É bom que se diga que nos meados do século passado a Grande Loja Nacional da França (uma das três Obediências francesas), provavelmente para receber reconhecimento da Grande Loja Unida da Inglaterra, também adequou procedimentos para instalação à moda anglo-saxônica.

Em síntese esses são alguns fatos que se relacionam entre si com a história da Maçonaria Francesa e a sua filha espiritual, a Maçonaria Brasileira.

Episódios como o das Lojas Capitulares, a cisão de 1927, a adoção de Instalação, dentre outros, constroem o mosaico por onde caminha a história do REAA. Infelizmente pela sua característica de nascimento, que pelas circunstâncias já teve o seu primeiro ritual alterado, acaba sendo praticado não raras vezes com diferenças consideráveis.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@htmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

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