Páginas

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

QUESTÕES - LIVES MAÇÕNICAS

QUESTÕES APRESENTADAS POR OCASIÃO DA PALESTRA ON-LINE PARA O GRUPO LIVES MAÇÔNICAS

Em 17.05.2021 recebi do Respeitável Irmão Gustavo Patuto algumas questões relativas à palestra on-line que proferi no dia 16 do corrente sobre os Ritos e Rituais Maçônicos praticados do Brasil, para o Grupo Lives Maçônicas.

QUESTÕES:

Perguntas e comentários:

O Irmão citou “rito regular”, o que de fato e de direito é um rito regular?

Pedro Juk – No meu entender é um rito adotado regularmente por uma Obediência Maçônica devidamente reconhecida. Em síntese, é um rito praticado por uma Obediência devidamente reconhecida por outra Obediência regular.

Enéias A. R. Ferreira – Pergunta: Caro Irmão Pedro. Como sempre, excelente palestra. Agradeço o conhecimento divulgado. Aproveito e gostaria de saber, se possível, porque as falas do Venerável Mestre são repetidas pelos Vigilantes no REAA e não no York? Seria para que todo canteiro de obras fosse notificado?

Pedro Juk – Tem sido a forma consagrada com que alguns ritos perpetuam a dialética utilizada na liturgia maçônica. Obviamente que no contexto ritualístico há um elevado significado simbólico de conformidade com o arcabouço doutrinário do rito. De certa forma essa dialética de perguntas e respostas possui um caráter de universalidade, sobretudo pelo que isso significa no espaço especulativo de trabalho haurido dos antigos canteiros de obra da Idade Média onde atuavam os maçons operativos.

Sob o aspecto esotérico a dialética alude a amplitude do alcance dos trabalhos maçônicos pelos quatro cantos do Orbe. Em síntese essa dialética simula a universalidade da Maçonaria. A sua liturgia segue as tradições dos Ritos. Isso faz com que algumas formas acentuem momentos e práticas às vezes diferenciadas.

Edinildo Souza Dos Santos - Pergunta: Em um artigo da MasonicRoundtable, fala que o incenso sempre esteve presente na maçonaria antiga, pois a maçonaria parte de sua construção a forma do parlamento inglês e sua estrutura ritualística veio do cristianismo (católico e anglicano) mais foi retirado em 1813. Em sua pesquisa você encontrou algo parecido? P. S: Senti falta do Rito de São João!

Pedro Juk - Não há como generalizar as formas de trabalhos maçônicas haurida dos ritos. Na Maçonaria primitiva não existiam ritos e nem templos. De fato, o que existiam eram oficinas de trabalho. A alegoria do Templo de Jerusalém tem por objetivo construir o elemento doutrinário da Ordem e não propriamente como um modelo palpável de templo maçônico.

Com todo o respeito ao artigo mencionado, incensar os recintos de trabalho não é nada original na Moderna Maçonaria, sobretudo porque nos trabalhos maçônicos tomam parte Irmãos de diversas religiões. Para se evitar qualquer conceito antagônico, as crenças e os credos devem ficar do lado de fora dos nossos umbrais. É certo que na transição operativa para especulativa a Maçonaria se utilizava das tabernas, estalagens e cervejarias, principalmente na Inglaterra. Também é certo que nesse período muitas ideias foram trazidas pelos elementos “aceitos”. Apesar disso, não existe nenhuma constatação de que nesses espaços eram usadas práticas de incensação do recinto. O primeiro templo é de 1766 na Inglaterra e teve por base a orientação construtiva das igrejas (nada a estranhar pelas nossas origens e a proteção eclesiástica) e do parlamento britânico (modo especulativo). Nada disso, contudo, sugere práticas de crenças e credos religiosos como condição de doutrina maçônica.

A respeito do Rito de São João, só posso deixar uma grande interrogação a respeito. Embora as minhas andanças pelas prateleiras e arquivos empoeirados da Maçonaria desde há muito, não conheço a história desse rito. Os Joões, solstícios e os cultos solares da Antiguidade são meus velhos companheiros de pesquisa, entretanto não como rito de São João, se não como as Lojas de São João.

Destaco que não estou contestando a existência do Rito de São João, mas estou afirmando que para mim é um ilustre desconhecido.

Luiz V. Cichoski - parabéns ao Ir. Pedro Juk, luminar no conhecimento maçônico em geral; obrigado aos irmãos pelo convite; Perguntaria ao irmão Pedro seu entendimento sobre o movimento que se percebe em muitas Potências na busca pela originalidade dos graus praticados no Brasil, como o REAA, Moderno entre outros.

Pedro Juk – Acho extremamente saudável. Como maçons, somos investigadores da Verdade. Já está mais do que na hora de extirparmos as invencionices e achismos que proliferam a nossa Maçonaria. Autenticidade elimina fantasias. Buscar a originalidade de cada rito é no mínimo contribuir para uma formação maçônica salutar e longe das fantasias.

Rubens Caldeira:

a) Os ingleses atualmente não aceitam mais dizermos que o Arco Real é uma certa continuação do grau de Mestre, embora eu acho que faça sentido. O GOB também entende que é uma “extensão do Mestrado”, como a “completar” o grau de Mestre, ou um grau 3?

Pedro Juk – Essa é uma longa história e conservou-se desde a União de 1813 por conta dos Irlandeses. A bem da verdade essa foi quase que uma condição dos Antigos para a constituição da Grande Loja Unida. Como pesquisador e historiador da banda autêntica da Ordem, tenho a dizer que originalmente o Grau de Mestre da Moderna Maçonaria somente apareceu em 1725 na Inglaterra. O primeiro Grão-Mestre da Moderna Maçonaria era um Companheiro Maçom, destacando que a Maçonaria primitiva possuía apenas e tão somente duas classes de operários – Aprendizes Admitidos e Companheiros do Ofício. A Lenda do Terceiro Grau apenas aparece na exposure de 1730 de Prichard no seu Masonry Dissected.

Assim entendo que o Franco-Maçônico básico da Moderna Maçonaria é composto por três graus, Aprendiz, Companheiro e Mestre. Qualquer grau acima desse é particularidade de Rito ou Trabalho. Em síntese, o simbolismo possuí três graus. Acima disso são graus de aperfeiçoamento e nada tem a ver com o simbolismo. A plenitude maçônica é alcançada quando o maçom atinge o grau de Mestre Maçom, só isso. Cada rito maçônico explica a Lenda do Terceiro Grau conforme o seu método doutrinário, portanto, qualquer extensão do mestrado é aperfeiçoamento e não uma regra para se atingir plenitude.

O GOB é uma Obediência Simbólica que atende a plenitude maçônica quando o maçom alcança o Grau de Mestre Maçom. Não existe nenhuma condição para se completar o 3º Grau. Nesse sentido, o Arco Real é um grau lateral, ou de aperfeiçoamento que não condiciona a plenitude do Mestrado. O GOB admite Arco Real e até incentiva a sua prática para dar mais conhecimento aos seus obreiros, mas o simbolismo continua com os três primeiros graus básicos.

b) Você disse que as Lojas Capitulares deixaram de existir em 1927 com a saída de Behring, porém existem circulares do GOB tratando delas até 1960 e vestígios até 1977. Até quando foi mantida essa característica mista (graus simbólicos e altos graus) no GOB?

Pedro Juk – Existir vestígio não confirma regularidade. Não há registros oficiais. Circulares que mencionam Lojas Capitulares na época estão mais ligadas ao título distintivo da Loja do que a sua existência capitular. O GOB desde 1951 deixou de ser Obediência Mista (simbolismo e altos graus) e adotou apenas os três graus simbólicos. Bem antes desse período o sistema Capitular tinha deixando de existir (inclusive na França). Vestígios desse sistema nas datas mencionadas não condizem com afirmativa história. Reitero, há muita diferença entre títulos distintivos de documentos, cabeçalhos e nome capitular de lojas da prática administrativa e iniciática onde o Athersata, no santuário Rosa-Cruz (Oriente elevado e dividido) era o Venerável da Loja. É certo sim que muitas dessas irregularidades resistiram pontualmente, mas merecem uma análise mais acurada antes de darmos com vestígio de Loja Capitular.

A partir de 1927, com o advento das Grandes Lojas Estaduais Brasileiras, outros rituais do REAA para o simbolismo apareceriam, tanto para as Grandes Lojas quanto para o GOB. Nenhum desses rituais doravante mencionam formato capitular de trabalho único ao simbolismo. Insisto que ainda encontramos muitas Lojas que conservam no seu título distintivo o nome capitular, porém elas não trabalham mais no sistema capitular de outrora. Isto é, a Loja conserva o nome, mas nada tem a ver com o 18º Grau Capitular.

c) Pelo que entendi da sua apresentação você fala que o Rito de York do sistema inglês tem influência dos antigos de York… Porém entendo que isso foi somente uma imposição da União de 1813. Os antigos seguiam as práticas irlandesas e de York, principalmente se mantendo no ritual de Bristol, e sendo congelada nos EUA com a independência.

Pedro Juk – Há um equívoco no seu entendimento sobre o que eu disse. Comentei sim que os Irlandeses, através de Laurence Dermott, usavam a reunião lendária de York datada de 1926 para assegurar e dar uma sustentação “antiga”. Obviamente que depois das escaramuças entre os Antigos e os Modernos e a união de 1813, o ideário dos “Antigos” prevaleceu em muito nas demonstrações de uma nova forma de trabalho. A cerimônia de Instalação, a adoção dos Diáconos, por exemplo, é obra dos Irlandeses que permaneceu integrada à Maçonaria Inglesa depois do Ato de União de novembro de 1813 – entenda que essa é uma análise muito superficial, pois cabe ainda, nesse contexto, considerações sobre a Maçonaria na Escócia.

No tocante ao princípio da Maçonaria Norte-Americana, esta se serviu da forma antiga, principalmente e depois da organização de Thomas Smith Webb – vide Ducan’s Ritual. Os Norte-Americanos, visando a sua independência por certo não iriam aderir a formas maçônicas de trabalho que estivessem ligadas à Grande Loja dos Modernos, principalmente porque esses últimos se colocavam próximos à Coroa Britânica.

d) Essa mescla esotérica enfatizada no Adonhiramita você entende que foi por influência da Teosofia?

Pedro Juk – É possível existir essa probabilidade se levarmos em conta que o conteúdo religioso e filosófico Adonhiramita está ligado, ou simulado a uma visão mística do Criador e das Leis do Universo. Destaco, contudo, que é preciso antes perscrutar o primeira Compilação Preciosa do Maçonaria Adonhiramita, a original impressa no século XIX na Filadélfia que é considerada como uma espécie de bíblia da Maçonaria Adonhiramita. Isso antes dessa compilação ter sofrido inúmeras deturpações para não fugir à regra latina de intervir na originalidade.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário