Em 16.06.2022 o Respeitável Irmão Robin João Marczynski, Loja Amor e Caridade, 0582, REAA, GOB-PR, Oriente de Ponta Grossa, Estado do Paraná, apresenta a seguinte questão.
CAMINHO INICIÁTICO
Estou interessado em conhecer mais sobre as Colunas Zodiacais e o Caminho Iniciático.
Achei muito interessante o ensinamento e o seu significado, em que o primeiro assento do Aprendiz após sua Iniciação e à Noroeste, próximo ao 1º Vig., tendo em vista que ele recém saiu das trevas em direção à Luz.
Ficarei grato se compartilhar comigo mais detalhes sobre essa caminhada do Aprendiz.
Estou incentivando meus obreiros a estudar e se inteirar do contido no SOR/GOB, para que desde já possamos colocar em prática na nossa Ritualística.
CONSIDERAÇÕES:
Na verdade, a liturgia dos ritos maçônicos é construída de acordo com a sua base iniciática, alguns possuem caráter teísta, outros de caráter deísta, outros ainda de viés teísta e deísta ao mesmo tempo ainda outros mais que se sustentam em conceitos do agnosticismo.
A despeito de todas essas particularidades, absolutamente, todos os ritos da Moderna Maçonaria convergem para um só objetivo, que é o de aprimorar o homem para torna-lo útil à sociedade.
O REAA, que por circunstancias históricas teve o seu primeiro ritual para o simbolismo organizado em 1804 na França (vide sua história), possui feição teísta/deísta. Teísta por influências da maçonaria anglo-saxônica e deísta por influência da Maçonaria francesa.
Nesse caso, é oportuno mencionar que o REAA é um rito nascido na França sob a égide da vertente stuartista, esta nascida no Norte da França porque à viúva de Carlos I, rei da Inglaterra que fora decapitado na revolução puritana de Cromwell de 1649, aceitou exílio do rei Luís XIV em Saint-Germain-em-Laye.
Carlos I era natural da Escócia e foi um dos reis católicos que pertenceu à família dos Stuarts. É daí que surgem os adjetivos “escocesismo” e “stuartismo” na Maçonaria Francesa.
Dito isto, e para que se possa abordar o simbolismo das Colunas Zodiacais no REAA, é preciso antes voltar às origens do seu primeiro ritual que fora então preparado, e logo desfigurado, no ano de 1804, já que antes disso o REAA não possuía simbolismo pois, criado com 33 graus a 31 de maio de 181 nos EE. UU. da América do Norte, ele de fato não possuía os três primeiros graus originais (Aprendiz, Companheiro e Mestre), sendo que inicialmente os tais eram emprestados das Lojas Azuis Norte-americanas, comumente conhecidos atualmente com Rito de York Americano, ou Rito Americano.
Assim, para a criação desse primeiro ritual, surgiu no seio do II Supremo Conselho na França uma Loja Geral Escocesa (Loja Mãe) com o objetivo de gerenciar a elaboração desse ritual.
Os principais documentos básicos para a construção desse ritual foram: 1) a revelação (exposure) de 1751 relacionada à vertente dos Antigos (irlandeses) denominada As Três Pancadas Distintas na Porta da Antiga Maçonaria (vertente anglo-saxônica de Maçonaria); 2) o Regulador do Maçom de 1801, então elaborado pelo Grande Oriente da França para o Rito Francês ou Moderno; 3) por fim, a própria Loja Geral Escocesa (Loja Mãe) de 1804 que contribuiu legando a disposição das Colunas B e J na forma antiga; a aclamação H∴, H∴, H∴; a consolidação da cor vermelha (encarnada) como cor litúrgica principal do Rito e, finalmente, com a decoração da abóbada, nesta em especial a que trazia representada na sua base, junto à frisa, os 12 signos do Zodíaco, seis na banda Norte e seis na banda Sul.
Desse modo, foram esses os principais elementos que estruturaram a ritualística inicial do simbolismo no REAA na França a partir de 1804.
Como no simbolismo o REAA se estruturou desde então como um rito solar, uma das suas características ritualísticas principais é a de conduzir os seus iniciados por um caminho balizado pela marcha anual do Sol até que eles alcancem a Grande Iniciação. O referencial para todo esse misticismo foi, sem dúvida, retirado dos cultos solares da Antiguidade evidenciando a morte e o renascimento da Natureza. É inclusive o suporte para a Lenda do 3º Grau.
Nesse contexto, além das Colunas Zodiacais - que serão oportunamente abordadas – é válido também fazer uma abordagem, ainda que superficial, sobre as Colunas Solsticiais B∴ e J∴, estas geralmente localizadas no átrio do templo. Como tal elas também são conhecidas como Colunas Vestibulares, de vestíbulo (ladeando a porta de entrada do templo).
Essas duas Colunas inegavelmente também possuem conexão com a alegoria solar porque são referências solsticiais e sinalizam no templo maçônico a passagem dos trópicos de Câncer (Norte) e Capricórnio (Sul). Marcam, portanto, os solstícios de verão e inverno que ocorrem na banda norte da Terra.
Os solstícios, período em que ocorre a maior declinação aparente do Sol, tanto para o Norte como para o Sul, tem sido também datas referenciais para comemorações solares. No misticismo religioso, por exemplo, João, o Batista (o que anunciou a Luz) e João, o Evangelista (o que pregou a Luz) também aparecem como personagens patronais da Moderna Maçonaria ligados aos solstícios de verão e inverno respectivamente.
Antes de tudo é bom lembrar que no REAA o templo corresponde simbolicamente a um segmento plano retangular situado sobre o equador terrestre orientado de Leste para o Oeste e de Norte para o Sul.
O Zodíaco e as Estações do Ano - No contexto iniciático, longe de horóscopo e adivinhações, as constelações que formam o Zodíaco marcam (sinalizam) o caminho por onde o Sol aparentemente passa, produzindo a cada alinhamento com cada uma das constelações, as estações do ano contadas a partir da primavera até se fechar o ciclo no inverno.
Obviamente que isso ocorre devido a inclinação de aproximadamente 23º do eixo da Terra em relação ao seu plano de órbita. Essa inclinação faz com que cada hemisfério terrestre receba mais, ou menos luz numa determinada época do ano.
Graças à essa particularidade astronômica é que as estações do ano ocorrem de forma oposta conforme o hemisfério. No caso do REAA, levando-se em conta que ele nasceu no hemisfério Norte, toda a sua relação mística e solar tem como referência a região setentrional da Terra. Tratando-se do simbolismo e seus conceitos iniciáticos essa referência será sempre do Norte.
A analogia iniciática e o caminho do Sol - comparada com a alegoria do nascimento, vida e morte da Natureza, no REAA, ao par de uma conotação deísta, a vida do Iniciado é simbolicamente associada aos ciclos da Natureza, ou seja, com cada uma das estações do ano a partir da primavera ao Norte. Em linhas gerais, cada uma das etapas naturais corresponde consecutivamente a um dos ciclos da vida, ou seja, infância, adolescência, juventude e maturidade.
As Colunas Zodiacais nesse contexto – nos seus primórdios, o REAA, ainda com uma estrutura ritualística rudimentar, apenas trazia na decoração dos seus templos as representações pictográficas dos 12 signos do Zodíaco, então dispostos (fixados, pintados ou desenhados) na base da abóbada celeste.
Desde então, no REAA, a função desses 12 símbolos é a de simular a jornada iniciática do maçom comparando-a com o percurso aparente do Sol quando passa consecutivamente todo ano diante de cada uma das constelações do Zodíaco. A título de ilustração, seria mais ou menos como um viajante observando pela janela as paisagens na medida em que avança no seu percurso. Obviamente esse é apenas um movimento aparente do ponto de vista da Terra, já que na mecânica celeste, não é o Sol que se movimenta, porém é a Terra que se desloca pelo tempo de um ano ao seu redor. Esse movimento é conhecido como translação.
Na questão da representação do Zodíaco ainda na base da abobada, com o passar dos tempos e o aperfeiçoamento dos rituais, esse caminho simbólico passou a ser paulatinamente transportado da abóbada para topos das Colunas do Norte e do Sul.
No tocante ao substantivo “topo” é bom que se diga que o “topo” das Colunas do Norte e do Sul corresponde às paredes Norte e Sul aquém da balaustrada que limita o Oriente da Loja. Topo, nesse caso, é a referência mais distante do eixo do templo, tanto para o setentrião, como para o meridião.
Também é bom lembrar que as Colunas do Norte e do Sul não se reportam nesse caso a uma coluna na forma de um pilar redondo com base, fuste e capitel, todavia é o nome figurado representativo dado ao espaço dentro do templo correspondente aos seus hemisférios setentrional e meridional.
Assim, nessa conjuntura, a base de cada uma das fictícias Colunas do Norte e do Sul fica no eixo do templo, enquanto que os seus respectivos topos (partes mais distantes) correspondem às paredes Norte e Sul. Em analogia seria como os polos Norte e Sul da Terra que são as regiões mais distantes do Equador.
Conhecido agora onde se localiza cada um dos topos das Colunas do Norte e do Sul, é possível uma demonstração melhor sobre o caminho que o iniciado percorre até alcançar a sua plenitude maçônica (Grau de Mestre).
Como foi visto, as Colunas Zodiacais, originárias dos signos zodiacais que primitivamente apareciam na base da abóbada (muitos templos ainda assim os representam), a partir dos meados do século XX começaram a figurar aparentando uma secção longitudinal de meias-colunas encravadas, como que brotando das paredes Norte e Sul.
Sem nenhuma ordem de arquitetura obrigatória para elas, cada uma dessas colunas traz aparente nos seus capitéis o símbolo zodiacal a ela correspondente.
Essa nova forma decorativa dos signos zodiacais acabou se consagrando nos rituais, embora ainda existam muitas Lojas pelo mundo que mantém originalmente fixados na base abóbada os signos do Zodíaco, o que no meu entender é perfeitamente admissível. Aliás, mais trasicional.
Desse modo, o topo (parede) da Coluna do Norte passou a receber sequencialmente e equidistantes as primeiras seis Colunas Zodiacais correspondentes a Áries, Touro, Gêmeos (primavera) e Câncer, Leão e Virgem (verão). No lado oposto, isto é, no topo (parede) da Coluna do Sul, do mesmo modo, as outras seis Colunas Zodiacais correspondentes a Libra, Sagitário e Escorpião (outono) e Capricórnio, Aquário e Peixes (inverno).
As seis primeiras colunas, divididas em grupos de três, correspondem à primavera e o verão que ocorre no hemisfério Norte. No misticismo iniciático essas estações se comparam ao Aprendiz - da sua infância até a sua adolescência.
Sob essa óptica, no REAA os Aprendizes ocupam todo o topo da Coluna do Norte, destacando que Áries (a primeira coluna a noroeste) sinaliza o início da jornada no 1º Grau. É graças a isso que o Aprendiz recém-iniciado, ao ocupar pela primeira vez o seu lugar na Loja, deve ser conduzido o mais próximo possível da Coluna Zodiacal correspondente a Áries (21 de março, equinócio de primavera no Norte), próximo ao 1º Vigilante.
Vale registrar que infelizmente ainda em muitos dos nossos rituais encontramos o anacronismo de colocar o Aprendiz recém-iniciado do REAA próximo a balaustrada, ou seja, contraditoriamente em um lugar que simboliza um Aprendiz prestes a encerrar a sua jornada e ingressar como Companheiro no lado oposto, em Libra, ao Sul.
É possível que alguns compiladores, mais acostumados a copiar equívocos do que de fato entender do processo iniciático do Rito, não aprenderam ainda o significado das Colunas Zodiacais no templo, muito menos ainda se aperceberam que há uma ordem a ser seguida na alegoria da jornada, onde o neófito (principiante, ou aquele que começou recentemente) representa no ideário da Iniciação o mais novo iniciado.
É oportuno citar que a etimologia da palavra neófito vem da junção dos termos gregos neo, que significa novo, e phytos, que é planta.
Em Maçonaria, nesse encadeamento esotérico de ideias, o substantivo neófito menciona uma nova planta, cuja semente semeada pelo Mestre fecundou no interior da Terra. Em busca de Luz essa nova planta desabrochou na primavera – em síntese essa alegoria simboliza o candidato saindo da Câmara de Reflexão (interior da Terra) para receber a Luz. Aí está o porquê de o Iniciado romper a sua jornada em Áries, na primavera.
E assim prossegue a marcha do Iniciado que, cumprida a sua passagem como Aprendiz pelas seis primeiras colunas no topo do Norte, se encontra agora pronto para prosseguir sua jornada pelas as outras seis Colunas Zodiacais dispostas equidistantes em dois grupos de três no topo do Sul, ou seja, seguir por Libra, Escorpião e Sagitário correspondentes ao outono, e Capricórnio, Aquário e Peixes correspondentes ao Inverno.
A partir de Libra, cuja coluna desta feita se encontra na parede Sul junto a balaustrada, os ciclos naturais sequencialmente simbolizam o Companheiro e o Mestre Maçom. O Companheiro representando a juventude e o amadurecimento, características do outono, e finalmente o Mestre representando a experiência e a senilidade.
Em síntese o inverno com dias curtos e noites longas corresponde o fim do ciclo, ou esotericamente a morte do iniciado, que agora passará, sobre o eixo do templo, por uma cerimônia emblemática que o levará renascer na Luz (Oriente).
Tal qual o Sol que no inverno deixa a Terra viúva, agora o Iniciado, como a Fênix revivida, renasce na primavera para como Mestre representar a Luz, ou ser uma fonte de Luz.
Por fim, esse é um resumo da proposta iniciática do REAA. Em torno desse teatro de transformação filosófica, ética e moral, é que se encontram os meandros da sua liturgia e da sua ritualística. Não obstante os conceitos construídos sobre essa alegoria solar, é patente que esse desenvolvimento ocorreu amparado em elementos dos cultos solares da Antiguidade. Assim, cabe ao iniciado perscrutar, compreender e viver a sua Grande Iniciação. O caminho, mesmo que sinuoso e cheio de obstáculos se encontra visível e à disposição daqueles que verdadeiramente se propuserem com perseverança compreender a Arte.
T.F.A.
PEDRO JUK – SGOR/GOB
jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br