Em 16.06.2022 o Respeitável Irmão Paulo A. Valduga, Loja Luz Invisível, REAA, GORGS (COMAB), Oriente de São Borja, Estado do Rio Grande do Sul, faz a seguinte pergunta
AVENTAL PELO AVESSO
É lícito virar o avental (para o avesso) durante a sessão de Iniciação no momento em que é demonstrado ao candidato a pena que lhe será imposta se for perjuro ou traidor da Ordem?
Procurei em meu super desorganizado alfarrábio e não encontrei a resposta, mas tenho certeza que o Irmão já abordou esse assunto.
Com um grande e fraterno abraço.
CONSIDERAÇÕES:
Há muito tempo eu venho alertando que usar avental pelo avesso no 3º Grau sob alegação de se estar de luto não passa de uma falácia.
O avental maçônico, símbolo do trabalho, é a verdadeira veste do maçom. Assim, em nome da razão, no simbolismo, em qualquer situação o maçom veste o seu avental normalmente, isto é, coloca-o de tal maneira que os emblemas contidos na sua face fiquem naturalmente visíveis. Afinal ninguém, na ordem natural das coisas, vestiria a sua roupa pelo lado avesso.
Ora, o “luto” alegado pelos imaginosos inventores como justificativa para vestir o avental pelo lado contrário não está nele, porém está no ambiente de consternação e dor apresentado na decoração da Câmara do Meio.
Penso que já passou da hora de se dar um basta nesses anacronismos que ainda imperam em determinados rituais. Para o bem de uma liturgia maçônica saudável, essas crendices de fato merecem ser jogadas na lata do lixo.
Já alertava o Irmão Francisco de Assis Carvalho Irmão, o Xico Trolha de saudosa memória - e eu concordo com ele – que essa “estória” de vestir aventais pelo avesso é uma farsa imposta por tratadistas adeptos do achismo.
Nessas circunstâncias vale lembrar que no Capítulo, Grau 18 do REAA, utiliza-se um avental que possui dois lados utilizáveis, frente e verso, ou seja, é usado pelos dois lados conforme a liturgia capitular necessitar no cumprimento de determinada passagem ritualística. Contudo isso não ocorre no simbolismo, mas no Grau 18.
Ainda neste contexto, basta lembrar que na sua originalidade a cor litúrgica predominante do REAA tem sido, por razões históricas, de gradação encarnada concomitante às vestes sacerdotais do Cardeal no catolicismo.
Enfim, todo esse imbróglio provavelmente foi adquirido ainda nos tempos das extintas Lojas Capitulares, lembrando que nesse passado remoto o Athersata (Governador), dirigente do Capítulo, era também o Venerável Mestre da Loja Simbólica. Naquela época o Oriente separado e elevado era o santuário Rosa Cruz e ali somente ingressavam Irmãos portadores do grau capitular (vide história das Lojas Capitulares – séculos XIX e XX).
No tocante à cor encarnada no REAA, que está longe de ser símbolo de luto, vale lembrar que no simbolismo esse matiz foi herdado por primeiro da Loja Geral Escocesa, Loja mãe então criada em 1804 na França para organizar o primeiro ritual do simbolismo. Sequencialmente, no decorrer da história essa cor veio se agregar ainda mais no rito graças a influência capitular, que inegavelmente possui decoração vermelha.
Dito isso tudo, querer entortar a boca pelo hábito do cachimbo comparando a cor do forro do avental com luto me parece uma atitude nada recomendável. Como exemplo dessas sandices que ocorriam, basta lembrar do tempo em que temerariamente existiam aventais de Mestre que, de modo equivocado, traziam pintados de branco em forro negro uma divisa composta por um cr∴ com duas ttíb∴ ccruz∴, o que fazia com que o Avental Maçônico, um dos mais significativos emblemas da Maçonaria, se parecesse com uma bandeira de piratas.
No que diz respeito à extinção dessas ervas daninhas dos rituais, posso citar como exemplo o GOB que, através do seu Sistema de Orientação Ritualística – SOR, vem orientando que não mais seja utilizada a prática de virar o avental pelo avesso num determinado período da cerimônia de Exaltação. Em síntese, no GOB não se utiliza mais essa prática anacrônica.
Agora, cá entre nós, essa tal cena do perjuro no REAA mencionada na sua questão tem sido, em alguns rituais, outro desses lamentáveis enxertos costurados na colcha de retalhos que em alguns casos acabou virando o simbolismo do REAA. Não obstante a isso, agrega-se o avental vestido pelo lado avesso! Agora durma-se com um barulho desses!
Concluindo, peço escusas por ter me desviado um pouco do teor da sua questão para oportunamente poder explicar melhor o que ocorre com essa esdrúxula prática que tem sido exercida, às vezes durante a cerimônia de Exaltação onde a partir de um determinado momento todos viram o avental pelo avesso para demonstrar luto (???), assim como nessa tal prova de perjuro, indevidamente inserida na cerimônia de Iniciação do REAA e ainda nela, não se sabe o porquê, todos vestem o avental pelo contrário. Aproveitei também a oportunidade para abordar a cor encarnada que originalmente predomina no REAA. No final os fatos abordados acabam se interligando.
T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br
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