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sábado, 11 de fevereiro de 2023

DONOS DE LOJA?

Walter Roque Teixeira

Ao longo do meu caminho de aprendizado prazeroso nesta incrível Instituição, tenho lido e ouvido algumas afirmações que interpreto como sui generis.

Uma delas bastante comum, quando, especialmente em oportunidades de autoapologia, um Irmão afirma ter adoptado esta ou aquela atitude, incluindo a de se tornar “adormecido” – termo que precisaria ser mais bem explorado – porque a Loja “tem dono” (ou “tem donos”).

Muitos “adormecem” ou mudam de Loja e até, de Loja e de potência, buscando algo que nem sabem bem o quê; talvez algum caminho e local para se tornarem “donos”?

E mesmo mudando, muitos terminam “adormecendo” no novo ambiente sob o embalo do “canto da sereia” que encanta esta busca quimérica e que como tal, para onde quer que se dirijam, nunca se depararão com respostas que as suas angústias e insatisfações.

Atribui-se a Ghandi a frase: “Se quer mudar o mundo, comece por você mesmo” – mudanças fazem bem, mas apenas aquelas que acontecem internamente.

Olavo Bilac no seu apaixonante poema “Língua Portuguesa” (1919), dá a dica quando nos diz ser ela “… inculta e bela” e “… a um tempo esplendor e sepultura”; com a mente ligada no nosso principal parnasiano, devemos ter muito cuidado ao usarmos qualquer termo na nossa língua, pois sempre terão vários significados e nem sempre, uma mesma direcção. Elogio e ofensa tem o mesmo número de letras.

O termo “dono” vem do latim “dominium” que já diz quase tudo; é usado, pois, para indicar posse material de algo, mas sói referir-se também à atitude arrogante e controladora sobre ambientes e situações; enfim, é o famoso “dono da verdade”!

A Loja é uma entidade material; o grupo de irmãos é que traz o vigor, a motivação e lhe dá vida. E aí, aparentemente, é que reside o maior problema; é onde sempre tudo começa e termina: o relacionamento entre irmãos!

Se a frequentarmos com assiduidade, até poderemos conhecer um pouco do mosaico comportamental que nela reside e entendermos a imperiosidade do exercício da tolerância; mas somente se frequentarmos o grupo com assiduidade!

Muitos portadores de insatisfações angustiantes, não buscam esta análise, comprando de pronto, estereótipos comportamentais vendidos nos bastidores a preços módicos e que parecem justificar os seus anseios.

Nas demais lojas, somos ilustres visitantes – sempre muito bem recebidos – ou, no máximo, em alguma situação particular, conhecemos um número maior de irmãos; mas isto não nos autoriza a fazer suposições ou conjecturas, muito menos afirmações.

As notícias que correm pelas bocas e ouvidos nos encontros informais e ocasionais, como ensinam as peneiras da sabedoria, deveriam parar já na primeira.

Busquei recordar uma publicação do Irmão Hércule Spoladore intitulada – Antigo Venerável “Dono da Loja” (2018) – que sempre me impressionou bastante. Felizmente, ao reler, aliviado lembrei que várias vezes no texto, o brilhante Irmão Spoladore, ressalta a ocasionalidade de personalidades como aquela que descreve.

Cada um que assume o comando, acaba convencendo-se de que agora é a minha vez; que farei como penso; torna-se, então, o novo “dono”!

Não pensa que as concepções dos outros não são nem parecidas com as suas e que, se apenas ouvisse um pouco além, pouparia muita discussão.

Entre algo que, como defende no texto e concordo, beira a patologia ocasional e a maioria que se torna “sustentáculo da Ordem”, prefiro convencer-me de que dentro do que conheço, não encontro um só irmão ao qual poderia atribuir tal denominação, que sempre adquire um carácter desdenhoso, depreciativo ou mesmo, animoso.

Conheço e sou agradecido sim, aos irmãos persistentes, valentes, sustentáculos da Ordem, que lutaram e trabalharam por e para mim quando ainda não estava presente; que, aliás, continuam lutando e trabalhando, agora ao meu lado, para os que virão.

Conheço e sou agradecido sim, aos irmãos altruístas e que colocaram, muito antes de tornar-me membro da loja, parte do seu tempo, da sua profissão, até recursos financeiros, por vezes, abdicando do convívio da sua família e que, agora ao meu lado, continuam nesta marcha, buscando através do exemplo de luta, a permanência da grandeza da entidade que ajudaram a construir, que amam e da qual querem continuar a se orgulhar.

Conheço e sou agradecido sim, aos irmãos que, apesar do tempo de instituição e mesmo, muitos deles, do tempo registrado na certidão de nascimento, continuam lutando para que os “adormecidos em actividade” não influenciem os que estão iniciando com “ideias insossas, inodoras e insípidas”, portanto, sem qualquer futuro.

É verdade que quando se luta por uma causa justa, nem sempre se é tão gentil; é preciso muitas vezes, uma certa rudeza nas exigências e o líder ou aquele que ajudou a fazer a história tem sim, o direito de exigir que o ouçam, que poderem as suas ponderações; os exageros deverão ser combatidos em grupo com compreensão, carinho e respeito; por vezes, com tarefas!

O que vejo e muito, é falta de resiliência; seja emocional, académica ou social.

É mister pensar que experiência é hierarquia e todos nós maçons, devemos respeito às histórias construídas, às experiências sedimentadas, às hierarquias conquistadas, aos trabalhos feitos, às decepções e frustrações vividas, assim como, às conquistas para as quais nem sempre contribuímos.

O que falta é planeamento; a cada venerabilidade uma cabeça e muitas cabeçadas; uma sentença e muitos equívocos; existindo um planeamento para um período além do somente “ir resolvendo o que aparece”, seguramente muita angústia será poupada e todos terão o seu papel na continuidade do processo e na construção da história.

Conheço e agradeço, pois, aos irmãos que estão sempre em pé e à ordem para ajudar os essseus irmãos, a Instituição ou a loja; sim, como se fosse sua!

Conheço e agradeço aos irmãos empreendedores, que não temem desafios e adversidades e, por isto, incomodam os acomodados e afugentam os amedrontados.

Não conheço qualquer irmão que tenha impedido qualquer outro de apresentar ideias e projectos para a discussão do grupo.

Conheço sim, irmãos que não conseguem conviver com recusas, com sugestões de aperfeiçoamento das suas boas ideias e abandonam facilmente a luta; e se algum dos irmãos mais antigos foi quem questionou algum aspecto da proposta, passa a ser o “dono da loja” que não o deixou fazer como queria.

A vaidade impede a percepção de que o crescimento se faz na medida do aperfeiçoamento individual e grupal.

Os “donos”, se existem, continuam “donos” porque não desistem da luta, da Loja e da Instituição; não desistem dos questionamentos, não desistem de buscar o melhor, não desistem de falar, de fazer, de opor-se ao que não concordam, de criar alternativas; ou seja: são lutadores natos! Ainda bem que existem! E sou muito agradecido pelo convívio!

Simplesmente não desistem! São perseverantes! Daí encontrarem resistência entre os momentâneos.

Conheço e agradeço sim, aos irmãos que são chamados de “donos” só porque são e exigem, enfaticamente, fidelidade aos irmãos, à Loja e à Instituição.

Conflitos? Apenas demonstram diferenças! E diferenças quando bem administradas é onde mais se encontra caminhos para o progresso individual e institucional.

Sempre disse que gostaria de ter muitos “donos” na Loja que frequento; infelizmente, ainda não cheguei lá; mas ficarei orgulhoso se um dia assim for identificado, pois significará que continuarei me importando, lutando e trabalhando pelo grupo e pelo futuro!

Fonte: brasilmacom.com.br

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