Hercule Spoladore
Loja de Pesquisas Maçônicas ‘‘Brasil - Londrina - PR’’
Em todas as civilizações antigas, em determinado momento de sua história considerando-se suas crenças, suas lendas e mitos, o seu medo da noite e da morte, o culto solar predominou.
O Sol foi cultuado por todas as religiões antigas e fazia parte de todas, ora como divindade principal, ora como herói.
É claro que a princípio estas civilizações acreditavam no disco solar como o principio criador. Julgavam-no a divindade principal, e não apenas um elemento da divindade, como aceitamos atualmente.
Hoje se tem a consciência de que um grão de areia e o Sol são a mesma coisa perante o Universo, considerando-o como um todo, mas os antigos pela própria natureza humana tinham um pavor imenso das trevas, da noite fria e adoravam o Sol, porque no dia seguinte lhes trazia luz, calor e também a vida. Os sucessivos desaparecimentos e ressurgimentos intermináveis do Sol deu aos seus cultuadores a ideia de ressureição. Assim o Sol passou a ser adorado em todos os seus movimentos e trajetos, sempre ressurgindo quer no sentido religioso, alegórico, simbólico e mítico.
Acreditavam os antigos que o Sol renascia a cada dia, sendo, portanto um novo Sol, que do nascente atingia o esplendor no zênite para depois declinar no poente, sendo vencido pelas trevas, para ressurgir vitorioso, ressuscitado todos os dias. E também não só diariamente, mas também anualmente levando-se em consideração a alegoria a respeito de seu trajeto no Zodíaco. O homem também aprendeu pelas estações do ano, qual a importância do Sol. Assim nasceu o culto solar que nada mais era que uma religião natural que satisfazia o ser humano quando ainda engatinhava intelectualmente.
Os egípcios tinham seus deuses solares Rá ou Rê – Tem, ou Tem-Rá, Amon, Acton e ainda Osires Entretanto Amenófeles IV mais conhecido como Aquenaton rejeitava a concepção de Aton haver criado o disco (Sol) e achava que o disco solar era autocriado, portanto autossuficiente.
Aquenaton foi o primeiro faraó a criar uma religião monoteísta. Adorava a energia radiante do Sol, fazendo, portanto distinção entre a energia criadora e a matéria criada, conceito este que até então não existia no Egito. Os egípcios foram os primeiros a considerar a transcendência. Posteriormente criaram o deus solar Osires que serviu de arquétipo para a Lenda maçônica de Hiran.
Os povos da Mesopotâmia tinham sua religião baseada em divindades cósmicas e em especial o Sol. Eles tinham o rei do céu, Anú, rei da Terra Enlil e o rei do oceano Ea. Estes deuses acabaram criando os deuses astrais como Chamac o deus-sol e Sin a deusa-lua, além de outros deuses referentes aos planetas. Tinham ainda o deus Damuzi, uma espécie de deus agrário que cuidava dos mortos e da ressureição anual do Sól.
Os sumerianos foram um dos primeiros a estudar a astronomia e a astrologia sendo a eles atribuídos os doze signos do Zodíaco.
Os persas tinham como deus máximo Mazda, criador do mundo e logo em seguida Mitra – deus do dia, deus do Sol. A doutrina de Mazda de fundamentava na constante luta entre o bem (Ormuz) e mal (Ahriman) Zaratustra ou Zoroastro posteriormente modificou esta doutrina, dando-lhe um caráter mais monoteísta pautado em um único deus – Mazda. O culto solar mitraico é similar aos outros cultos solares, sendo no hemisfério norte a noite mais comprida do ano de 24 para 25 de dezembro no início do solstício de Inverno. Era celebrada nesta data a festa do natalis invicti solis (nascimento do Sol vitorioso). Este culto solar influenciou a Maçonaria, através do cristianismo, porem com outra roupagem.
Com relação ao povo judeu, inúmeras alegorias fazem parte da sua história indicando pelo menos em alguma ocasião possam ter sidos influenciados pelos astros. Se for lido capítulo 49 de Gênesis e 33 de Deuteronômio se constatará que Jacó teve quatro esposas, doze filhos homens e uma filha mulher. Aí se percebe uma alegoria astronômica em que o Sol seria Jacó as quatro esposas seriam as quatro fases da Lua e seus filhos se identificariam com os signos do Zodíaco. Assim Simão e Levi representariam o signo de Gêmeos, Virgem seria representado por Dinhah, única filha de Jacó. Gad representaria Aries, Issachar a Touro, Benjamin a Câncer, Judá a Leão, Assher a Libra, Dan a Escorpião, José a Sagitário, Naftali a Capricórnio, Rubens a Aquário e Zebulon a Peixes.
O escritor judeu Josephus, refere que os judeus levavam os doze signos do Zodíaco em suas bandeiras, acampando em torno do Tabernáculo, o qual continha o candelabro de sete braços, representando o Sol e os planetas dentro do círculo formado pelos doze signos do Zodíaco.
Os judeus construíram seus templos da mesma maneira dos templos solares de tal forma que a entrada ficasse voltada para o leste, ou seja, frente ao Sol nascente.
Saudavam o Sol com um sacrifício matinal e à tarde quando o Sol se punha no poente se despediam dele com uma oblação vespertina e no seu sabbath faziam um sacrifício adicional, ao Deus da raça “lunar” – Jeovah.
Na Páscoa uma das grandes festas do povo judeu coincide quando o Sol deixa o hemisfério sul onde hibernava e inicia a sua caminhada para o hemisfério norte sendo saudado com alegria pelos homens como o Salvador.
A última e mais importante festa dos Tabernáculos no outono, quando o Sol faz o trajeto inverso, indo do norte para o sul, depois de ter dado ao povo “pão e vida”, com o qual poderá ser sustentado até a próxima volta aos céus do norte.
Os seis signos pelos quais o Sol transita no inverno (Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes) são chamados pelo povo judeu de “Egito” porque é uma lembrança má para este povo. Os signos boreais ou do norte (Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão e Virgem) são chamados de “céus” “terra prometida”, porque destilava “leite e mel”.
É claro que os judeus eram altamente espiritualizados e está se falando de meras alegorias astronômicas que, no entanto, elas existem. Muitos, autores e exegetas não aceitam estas explicações.
Entre os gregos com referência aos seus inúmeros deuses astrais, o Apolo era o Sol, esposo de Géia a Terra. Os romanos tiveram também seu culto solar. Igualmente adotaram entre muitos deuses o Apolo ou Febo já conhecido dos gregos como o Deus-Sol.
Em Roma o cristianismo disputava com o mitraismo (persa) que praticava um culto solar, e ambas as religiões estavam mais ou menos divididas em aceitação pelo povo romano. O Imperador Constantino Magno, ou Constantino I no ano 313 d.C. deu liberdade aos cristãos tendo ele mesmo se convertido. Dai o cristianismo venceu e o mitraismo perdeu forças e acabou por se extinguir, mas deixou sua influência pelo menos simbólica.
Interessante, que os cristãos antes perseguidos passaram a perseguir os chamados pagãos. Substituíram o Sol por Jesus Cristo, como sendo a luz que se espargirá por toda a humanidade e o deus mitraico Janus que era representado nas esculturas como tendo duas frontes que nada mais simbolizava os dois solstícios e adotaram os dois São João, o Batista e o Evangelista, que para alguns teria o mesmo significado que Janus. O cristianismo com uma nova proposta religiosa teve que assimilar a prática dos antigos para que pudesse convertê-los mais facilmente e escolheram uma data próxima do solstício de inverno no hemisfério norte e assim a igreja inventou a data do nascimento de Cristo para 25 de Dezembro.
A Igreja queria apagar da memoria do povo, agora com uma nova religião oficial, o deus Tamuz, o deus Janus e o deus Mitra. No século VI, no ano 525 d.C o Papa João I no ano 753 da fundação de Roma transformou-o no século 01, afim de oficializar o nascimento de Jesus como sendo o século do calendário e assim o povo esquecer o Mitra menino.
O Sol também era adotado pelas civilizações pré-colombianas, destacando-se os incas, astecas e maias como seus principais adoradores.
A alegoria que será citada agora voltada para a Lenda de Hiran é dada por Ragon, o qual nem sempre goza da aceitação da maioria dos autores. Ela é totalmente solar.
A Lenda de Hiran representaria o Sol nos seu solstício de verão. O Templo de Salomão seria o universo solar que para o maçom significa grande fonte de estudos e evolução, uma verdadeira escola de vida.
Hiran Abif seria o Sol que transita através dos doze signos do Zodíaco. No equinócio da primavera, o Sol abandona o signo de Peixe entrando no signo de Aries onde a sua ação será muito importante, porque com seu fogo criador ele fecundará com suas forças vivificantes as sementes as quais germinarão. Durante o verão o Sol (Hiran) passa a dar a palavra sagrada, isto é a vida.
Quando finalmente o Sol entra nos signos austrais no equinócio do outono, isto é, quando ele voltar para o hemisfério sul, o Sol já não poderá dar a palavra, porque perdeu as suas forças que podem dar a vida. Nesta fase encontrará os três assassinos representados pelos signos de Libra, Escorpião e Sagitário. O primeiro signo o golpeia com uma régua de vinte e quatro polegadas, simbolizando as vinte quatro horas que a Terra gira em seu próprio eixo. O símbolo da segunda agressão é dado pelas quatro estações, quando o signo de Escorpião o golpeia com um esquadro de ferro e finalmente o terceiro signo dá-lhe o golpe mortal com um malho redondo, simbolizando que o Sol completou seu ciclo e morre para dar lugar a um novo Sol no próximo ano.
Esta explicação de Ragon é uma das várias formas de explicar a Lenda de Hiran, por sinal bastante relacionada com o Sol, porem esta versão é pouco aceita pela maioria absoluta dos autores. Mas existem Irmãos que aceitam esta versão.
Dos ocultistas através da alquimia sabe-se que o Sol corresponde ao elemento Fogo. Ele á ativo e quase sempre benéfico, podendo às vezes ser maléfico, pois o mesmo Sol que dá a vida aos vermes poderá ocasionalmente destruí-los. O Sol se relaciona com o ouro juntamente com a Lua, com o enxofre e o mercúrio. Uma das metas pretendidas pelos alquimistas era a Arvore- Solar chamada também de Grande Obra do Sol, Magnum Opus.
A Maçonaria encerra em sua doutrina, uma série incalculável de princípios e ensinamentos, os quais são a essência do próprio pensamento humano de todos os tempos. Ela é, portanto uma doutrina filosófica e moral das mais elevadas da humanidade. Ela emprestou para si, a influência de todas as vertentes do conhecimento humano desde os primórdios das civilizações.
Ela sofreu influências das antigas civilizações e está profundamente marcada por elas, bem como da corrente dos esotéricos, ocultistas, rosa-cruzes, alquimistas, cabala, das religiões além da influência mais marcante, a Bíblia.
Tomou tudo emprestado, burilando, dando a própria vida aos seus símbolos, aproveitando tudo o que melhor existia sem alterar o valor moral. Entre os inúmeros símbolos adotados o Sol foi um deles.
O Sol aparece na Maçonaria nos painéis dos vários ritos na decoração do teto das lojas, em trechos ritualísticos de quase todos os ritos, ou então simbolizado por um círculo como é o caso do círculo com as paralelas tangencias, ou então especificamente no grau 28 do REAA como o Cavaleiro do Sol, e no 51o grau do Rito de Misrain também o Cavaleiro do Sol.
O Sol que aparece no teto das lojas lembra o homem primitivo e a sua adoração ao astro-rei, mas também lembra a evolução da humanidade o seu despertar para o conhecimento e para o aprimoramento espiritual pela evolução da ciência e a procura incessante pelo autoconhecimento. Hoje se sabe que o Sol é apenas uma manifestação da grandeza do Grande Arquiteto do Universo. Ele faz parte de um todo e este todo é o Universo que é regido pelas leis da Harmonia, da da Evolução e da Vibração. O Sol deverá estar pintado, esculpido ou desenhado no teto, do Oriente, pois como se sabe a luz vem de lá. A pintura neste local deverá ser mais clara que no Ocidente, pois representa o dia, Já no Ocidente onde estão a Lua e os planetas a cor deverá ser mais escura, pois representa a noite.
Existe no Oriente da loja, um painel situado atrás do Venerável no qual aparece o Sol a Lua e entre os dois, o Delta Luminoso. Neste retábulo ou painel do Oriente as posições do Sol e da Lua devem coincidir com as figuras representativas destes astros inseridas no Painel Simbólico do rito. O Orador da Loja deve estar sentado do mesmo lado do Sol no painel do Oriente porque ele é um representante do Sol porque é dele que deve emanar parte da luz, como guarda da lei maçônica.
Nos painéis simbólicos ou alegóricos dos ritos vê-se o Sol a Lua e as estrelas de interesse maçônico.
Em certos rituais está escrito que os obreiros devem circular em loja como a Terra em torno do Sol.
Em muitos rituais, especialmente os antigos havia uma pergunta que o venerável fazia ao neófito
“Que viste ao receber a luz?” Este respondia: “O Sol, a Lua e o Venerável da Loja”. O Sol para governar o dia, a Lua a noite, e o Venerável para governar a Loja.
Os maçons que fundaram a Grande Loja de Londres em 1717, quando acendiam os três círios (velas) os chamavam de Três Grandes Luzes que representavam as três posições do Sol durante o dia. Também afirmavam que elas simbolizavam o Sol, a Lua e o Venerável da Loja.
A Maçonaria não pratica o culto solar explicitamente, mas mostra em seus rituais o curso e o esplendor do Sol quer no dia quer na noite, e nos solstícios de verão e inverno. Usa esta alegoria como parte de seus trabalhos ritualísticos.
O curso do Sol durante o dia está muito bem lembrado nos rituais de todos os ritos praticados no Brasil porque os trabalhos sempre são abertos simbolicamente ao meio-dia e terminam à meia-noite. Nos ritos em que o Sol é mencionado, ele é representado pelo venerável, como o Sol nascente, ao meio dia, quando está no zênite, pelo segundo vigilante e quando está no poente ou acaso pelo primeiro vigilante. No final no fechamento da loja o segundo vigilante informa que é meia-noite, que é hora de descanso hora em que o Sol está no nadir, portanto hora do primeiro vigilante anunciar que o Sol se esconde no Ocidente devendo, portanto fechar a loja por ordem do venerável.
O caminho do iniciado quando penetra no templo é pelo ocidente, onde o Sol está no poente indo para o nadir, onde só há escuridão, então o candidato caminhará pelo Sul e pelo Norte até chegar no Oriente onde brilha o Sol, de onde emana a luz iniciática. O Altar dos Juramentos na Maçonaria antiga estava acertadamentelocalizadonoOriente. Foitransferido para o Centro da Loja, especialmente no REAA, consideradocomoOcidente,erradamenteporque desta forma quebraram o trajeto do iniciando, o qual deve por tradição e por lógica receber a luz no Oriente e não no Ocidente.
Quanto aos solstícios de verão e inverno eles estão representados na Tábua de Delinear do Trabalho de Emulação, e no chamado Painel Alegórico do REAA, copia do Trabalho de Emulação do primeiro grau onde aparece um pequeno altar quadrado em cuja face anterior está desenhado um círculo que simboliza o Sol ladeado por duas linhas paralelas, que no caso são as próprias linhas limite dos lados de um quadrado. Trata-se do círculo com as paralelas tangenciais. Elas representam o Trópico de Câncer e Capricórnio, além de representar São João Batista e São João Evangelista.
Quanto ao grau 28 do REAA – Os Cavaleiros do Sol – este é totalmente voltado ao Sol como símbolo com menção aos demais planetas conhecidos dos antigos. O Sol é o tema central.
Em determinada passagem do ritual, o presidente da loja deste grau assim se refere: “O Sol é a fonte de toda a atividade na superfície do globo terrestre. Não mais o adoramos, porem aceitamos como manifestação mais alta e o símbolo apropriado da Energia Suprema”.
Como se pode observar apesar do Sol ser o principal símbolo do grau, a Maçonaria o vê apenas como uma tradição, já que dado o seu caráter espiritual é voltado totalmente ao Grande Arquiteto do Universo no qual os maçons têm a sua crença, sendo o Sol apenas mais uma das suas manifestações no Universo como um todo.
Portanto, a influência do Sol na Maçonaria é muito marcante ainda que apenas iniciática, alegórica e simbólica. Toda essa influência, além dos demais símbolos, ajuda o maçom, hoje imbuído de uma concepção altamente espiritual, chegar ao seu auto aprimoramento e a um melhor conhecimento do Universo e da grandeza do Grande Arquiteto do Universo.
REFERÊNCIAS
- CASTELLANI, José - Origens do Misticismo na Maçonaria - Editora Traço - São Paulo, 1982
- CASTELLANI, José - A Ciência Maçônica e as Antigas Civilizações Editora Resenha UniversitáriaSão Paulo, 1977
- CIRLOT, J. Eduardo - Dicionário dos Símbolos - Editora Moraes Ltda. São Paulo, 1984
- FIGUEIREDO, J. Gervásio - Dicionário de Maçonaria - Editora Pensamento - São Paulo, 1984
- JONES, Bernard - Guide and Compendium
- E. MACKENZIE, Jonh, Dicionário Bíblico - Edições Paulinas São Paulo, 1983
- PALOU, Jean - Franco-Maçonaria – Simbólica e Iniciática - Editora Pensamento
- TRONDIAU, Julien - O Ocultismo - Editora Difusão Europeia do Livro São Paulo, 1964
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