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sábado, 25 de fevereiro de 2023

MARCHA DO APRENDIZ NO REAA E A POSIÇÃO DOS PÉS

Em 01.10.2022 o Respeitável Irmão Arimar Marçal, Loja Santo Graal, 4690, REAA, GOB -RS, Oriente de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, apresenta a seguinte questão:

MARCHA DO APRENDIZ

Para onde aponta (Oriente ou mais ou menos para o Tesoureiro) o pé esquerdo na Marcha de Aprendiz no REAA.

Mais uma vez venho pedir socorro numa questão ritualística que gerou um debate (salutar) em nossa Oficina.

No Tempo de Estudos (previamente agendado) um Irmão levantou a questão da Marcha do Aprendiz e que esta tinha sofrido “uma alteração” no SOR inclusive citando um artigo seu onde confirmava esta “mudança”.

A mudança consistiria no ângulo dos pés que em vez do pé esquerdo apontar para a luz (Oriente) deveria apontar para a Coluna do Norte e o pé direito para a Coluna do Sul, formando um estranho ângulo (parecido com os pés do Charles Chaplin) e que assim o Aprendiz deveria marchar, seguindo a linha do rejunte do piso e não a interseção do mosaico como aprendi.

Entendo que o piso mosaico da Loja é disposto na forma diagonal e que a marcha segue a linha da Luz (Oriente) justamente na Linha imaginaria do Equador que seria a interseção da cerâmica mosaica, mas, sempre seguindo em Linha Reta.

Argumentei que enquanto não viesse uma Determinação Oficial do SOR, continuaríamos seguindo o que consta no Ritual de Grau 1 (2009), até por uma questão de prudência da Oficina.

Conforme determina o próprio Ritual em sua página 12 que proíbe atos, procedimentos ou permissões que ali não constem e também como A QUARTA INSTRUÇÃO DO GRAU 1 (pág. 164) que expressa:

“Deveis estar perfeitamente ereto, formando com os pés uma esquadria, pé esquerdo voltado para a frente. Avançai agora com o pé esquerdo juntando em seguida ao seu calcanhar o calcanhar do pé direito.

Este é o primeiro Passo Real da Maçonaria e é nesta posição que se comunicam os segredos do grau

Como nossa intenção é sempre aprender e ensinar de forma correta os que estão chegando, valho-me de seu conhecimento para dirimir mais esta dúvida.

CONSIDERAÇÕES:

Inicialmente eu gostaria de alertar que o SOR – Sistema de Orientação Ritualística é um mecanismo oficial do GOB e está à disposição dos Irmãos gobianos na página do GOB.

O SOR foi instituído pelo Decreto 1784/2019 do Grão-Mestre Geral e publicado no Boletim sob o nº 31 em outubro de 2019. Seu conteúdo é para ser aplicado sobre os rituais do GOB.

Não obstante essas iniciais colocações, vale ainda mencionar que o guardião dos rituais do GOB é apenas e tão somente o Grão-Mestre Geral, cabendo exclusivamente a ele expedir Atos e Decretos pertinentes a alterações, correções e orientações nos rituais. Isso é ponto pacífico.

Feitos esses comentos iniciais, é preciso que olhemos para questões ritualísticas de maneira ampla, sobretudo naquilo que envolve originalidade e principalmente o seu significado.

É notório que nem tudo o que consta nos rituais oficiais estão de acordo com a aplicação doutrinária correta do Rito. Aqui no Brasil, por conta de circunstâncias históricas, particularmente o REAA sofreu muitas intervenções indevidas, ao ponto de ser comparado a uma colcha de retalhos, tal a quantidade de enxertos de práticas oriundas de outros ritos – sem falar das invencionices.

Graças a isso é que o ideário iniciático do REAA foi assaltado por práticas deturpadas e sem sentido para a sua liturgia iniciática. Somado a isso ainda há a turma do “acha bonito”, comumente conhecida como “os achistas”. O resultado disso muitas vezes tem sido um amontoado de práticas que não fazem sentido para o arcabouço doutrinário do rito. No final as ervas daninhas nascidas do enxerto e do achismo se tornaram verdadeiras carcaças de dinossauro – são difíceis de consumir.

Nessa conjuntura, no que diz respeito à Marcha do Grau, o equívoco está principalmente na posição dos pés e na forma de se deslocar (andar). Nesse caso, a posição dos pés, um apontado para frente e outro para o lado (parece caminhando de lado) foi indevidamente copiada de outros ritos.

No REAA essa posição equivocada do pé apontado para frente se firmaria ainda mais porque por muitos anos determinados rituais traziam o Pavimento Mosaico construído na forma de um tabuleiro de xadrez (juntas do piso a Norte-Sul e Leste-Oeste), o que não é próprio do escocesismo. Nesse contexto, salvo alguns abnegados, desafortunadamente ninguém sequer reparava nesse importante detalhe, ignorando assim por completo que o pavimento serve também para regular os passos.

Outro detalhe no REAA que passava completamente despercebido era o do Pavimento Mosaico, então construído na forma de um tabuleiro de xadrez. Em muitas Lojas, para piorar, ele ocupava apenas um reduzido espaço ao centro do Ocidente, conquanto o correto seria cobrir todo o piso ocidental da Loja.

Tudo isso, mais as práticas enxertadas de outros ritos, faria com que paulatinamente se consolidasse no REAA essa posição indevida dos pés, onde um deles fica apontado para frente (Leste) e outro literalmente para o lado esquerdo (Sul). Não há dúvidas que há ritos que adotam essa disposição, porém nunca no REAA.

Como em 2009 a disposição correta (oblíqua) do Pavimento Mosaico apareceu na Planta do Templo do Ritual de Aprendiz do REAA do GOB, felizmente boa parte desse equívoco começava a ser solucionado, no entanto faltava ainda ajustar a disposição dos pés na formação da esq∴, bem como a forma de se caminhar nas Marchas de Aprendiz e de Companheiro.

Felizmente, com a criação do SOR por Decreto do Soberano Grão-Mestre Geral em 2019, foi então dada a possibilidade de se corrigir a anomalia ritualística de apontar o p∴ esq∴ para a frente durante os pp∴ do grau no REAA.

Acredito que por desconhecimento do Sistema de Orientação Ritualística oficial do GOB, muitos Irmãos entenderam que isso foi uma alteração inaceitável, pois confrontava o previsto no ritual. Na verdade, não houve desrespeito ao ritual, mas amparado pelo SOR, o que houve foi um retorno à forma original, ou seja, dar os passos na forma de costume com o protagonista posicionado de frente para o Oriente, não de lado.

Nesse sentido, a disposição dos pés durante a execução da Marcha tem como referência (nada meticulosamente medido) o piso disposto de modo oblíquo, diferente, por exemplo, do Rito Moderno e do Adonhiramita que adotam o Pavimento organizado na forma de um tabuleiro de xadrez.

Conforme mencionam autores autênticos como Theobaldo Varolli Filho, Jules Boucher, José Castellani, René J. Chalier, dentre outros, cada quadrado que compõe o Pavimento Mosaico serve também para regular cada um dos passos dados normalmente, ou seja, anda-se de maneira natural, sem arrastar os pés. Nessa conjuntura a intersecção das juntas oblíquas do piso correspondem a junção dos pp∴ pelos ccalc∴ em esq∴.

Nessa condição e sem o exagero de comparação com a forma de andar de Charlie Chaplin interpretando Carlitos no cinema, figuradamente na Marcha o pé esquerdo fica apontado para a banda nordeste do templo e o direito para sudeste. O protagonista, sobre o equador do templo anda de forma mais natural possível, apenas ajusta os seus pés em esq∴ de acordo com as juntas do Pavimento quando unir os pés a cada passo. Anda de frente para o Oriente.

No REAA o Pavimento Mosaico representa o solo terrestre. Historicamente o Rito teve o seu primeiro ritual para o simbolismo em 1804 na França, ritual esse que não tardou a sofrer modificações em 1820/1821 por conta do Guia dos Maçons Escoceses e as Lojas Capitulares.

Nos tempos primitivos dos rituais do REAA, não existia Pavimento Mosaico e nem existia marcha por grau da forma como conhecemos e praticamos nos dias de hoje. Os passos não eram divididos por grau. Exigia-se do iniciado simplesmente que ele desse em direção ao Mestre oito passos “normais”.

Posteriormente, após a extinção das Lojas Capitulares e a renovação e aperfeiçoamento dos rituais, os oito passos normais foram divididos e distribuídos pelos três graus, de tal modo que nos dois primeiros graus os passos tem relação direta com o Pavimento Mosaico, enquanto que no terceiro os passos simulam o movimento aparente do Sol com seus solstícios e equinócios.

Espero que essas colocações tenham sido suficientes para explicar algumas das condutas ritualísticas corretas para a execução da Marcha do Aprendiz no REAA.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

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