“Na casa de meu Pai há muitas moradas.”(João, 14:2) |
Os judeus entendiam que o Templo de Jerusalém era a casa de Deus (1 Crónicas 29:7; 2 Crónicas 7:6; Esdras 1:4; etc.). Mas o mestre Yeshua Hamashia não se estava a referir ao Templo terreno, ao contrário, Ele estava a falar da verdadeira casa do Pai. Essa casa não é terrena, mas celestial, espiritual, extradimensional, é o lugar da habitação Divina que está nos céus (cf. Salmos 33:13,14; Isaías 63:15)
É imprescindível para se ser Maçom regular, para além da condição de homem livre e de bons costumes e do efectivo propósito de aperfeiçoamento, a crença no Criador e na vida depois da morte. O Grande Arquitecto do Universo, por definição e à escala humana, é Eterno. A LUZ que dele provém naturalmente que compartilha dessa característica.
O Oriente Eterno é, assim, para os maçons o simbólico lugar de onde provém a LUZ, onde está o Grande Arquitecto do Universo, onde o que resta de nós depois de tudo o que de nós é físico se extinguir tem lugar, se reintegra.
A “casa” do Pai é um outro universo extradimensional. As diferentes moradas são os universos infinitos que circulam o nosso limitado entendimento…
Há muitas moradas no oriente eterno.
A maioria é barrada na entrada desse palácio que reside dentro do coração, porque deseja receber a iniciação espiritual portando velhos dramas e ainda carregando antigas mágoas.
Eles chegam aos portões do coração espiritual e querem arrombar a porta com a sua arrogância. Entretanto, existem “guardiões do Umbral” [1] que não permitem a entrada de “brutos homens de chumbo” que carregam no seu seio o orgulho, a ganância, inveja, paixões, egoísmo e o ódio. Homens “mortos” automatizados, hipnotizados, inconscientes e adormecidos pelas ilusões mundanas, presos na armadilha da dualidade e dos instintos, com as suas mentes temporais, lineares e cartesianas.
Estes guardiões, postados na entrada dos salões de iniciação, conseguem observar na “aura” [2] os valores necessários e só deixam passar aqueles com real intenção de crescimento e progresso, que querem servir ao grande plano de regeneração e evolução da humanidade.
A maioria das pessoas que aporta a este palácio e a estas salas espera ganhar alguma coisa na iniciação, quando, na verdade, elas precisam mesmo é perder.
Iniciar-se é perder! É perder a arrogância e o próprio ego…
A perda completa da noção subjectiva de identidade. Na psicologia analítica, é também chamada morte psíquica. O que chamamos de “eu” é uma estrutura mental que criamos para convivermos em sociedade, e na verdadeira iniciação essa construção deve ruir.
Ninguém ganha nada ao se iniciar num caminho espiritual, só perde.
Perde os condicionamentos e programas implantados por toda a sua vida. Perde as tolices, perde o eu. E, ao perder a imaturidade, a própria pessoa nota um vasto potencial dentro de si mesma.
As luzes do Bem começam a surgir e ela, então, nota um tesouro espiritual resplandecente brilhando em todas as partes: dentro de si mesma e em todos os seres.
Então, esta pessoa, iniciada pelos hierofantes [3] do silêncio, só deseja servir, não deseja mais o poder. Ela já não se prende a nenhuma linha em particular. E nela surge o brilho daquelas jóias da paz dentro do seu coração. Ser aceito como pontífice destes “Mestres Iniciados” [4] é o início de um progressivo e trabalhoso auto-aprimoramento, abandono dos interesses mundanos e por fim um renascimento num nível superior de consciência.
Aos salões da espiritualidade, só têm acesso aqueles de alma aberta e que trabalham generosamente a favor do progresso de todos os seres, indistintamente, o progresso real de todos.
Ser iniciado é ser um serviçal do “Amor Maior Que Governa a Existência”, e que dá vida a todos.
Não significa erguer a cabeça com arrogância, mas, simplesmente, erguer os olhos em direcção às muitas moradas do GRANDE ARQUITECTO DO UNIVERSO, além da Terra e além desta realidade dimensional.
Significa agradecer as possibilidades de crescimento e de trabalho digno – e a oportunidade de prosseguir.
Ser iniciado significa manifestar, cada vez mais, intenso brilho no olhar (que vence toda treva, sem agredi-la).
Ser iniciado é mergulhar nos porões e masmorras de si e conhecer o “lado sombrio” da nossa personalidade, o verdadeiro V∴I∴T∴R∴I∴O∴L∴.
O submundo conturbado da nossa psique que contém os nossos sentimentos mais primitivos, os egoísmos mais afiados, os instintos mais reprimidos e aquele “eu escondido” que a mente consciente rejeita e que nos mergulha nos abismos mais profundos do nosso ser.
O iniciado perde muito, pois no caminho da iniciação real ele deixa as quimeras, as ilusões e desprende-se da ganância.
O iniciado não é mais a mesma pessoa, pois morreu o homem velho de “chumbo“, sequioso do poder; renasceu um ser de “ouro” que se alegra ao participar de alguma actividade produtiva e generosa a favor da humanidade.
Que todos aqueles que trilham os caminhos da Espiritualidade busquem sinceramente as salas espirituais do palácio que existe dentro do próprio coração. E que cheguem até essas salas portando a humildade real e o imenso desejo de servir ao grande plano de evolução e progresso.
Não há diploma nas salas espirituais, não há cargos, paramentos e medalhas, não há grau simbólico ou filosófico, não há nepotismo, afilhadismo, favoritismo, profanos de avental, promessa ou ritual.
O que existe é o Amor aplicado, o silêncio e a inspiração profunda, em que o aspirante à iniciação percebe, sem que ninguém lhe diga, aquela Luz Magnânima, que a tudo compreende.
Nas salas da iniciação não há palavras, somente puros sentimentos de amor, Inspiração e Silêncio.
Os Franco-Maçons actuais discernem do que se trata? Eles depositam em geral os seus metais sem ver nisso malícia, depois, retomam-nos com a mesma candura, após terem visto materialmente uma luz que não os esclarece “em espírito e em verdade”. Tudo, em Iniciação, depende, todavia, daquilo que nós chegamos a ver interiormente. As provas não têm outro objectivo senão que o de nos colocar em estado de ver a Luz: elas são muito sérias, a despeito do divertimento ao qual dão lugar, muito frequentemente, as iniciações cerimoniais. Não são trotes, a não ser para iniciadores ignorantes que profanam as coisas santas; em Iniciação real, os ritos prescrevem operações nas quais o adepto é, ao mesmo tempo, o sujeito e o objecto, o agente e o paciente, porque, – Maçom chamado a talhar a Pedra, – ele trabalha sobre si mesmo, sendo a Pedra viva que se talha ela própria. Mas o que opera em nós é Espírito, ou seja, Luz, e é a Luz operante que somos chamados a descobrir em nós; para aí chegar, é-nos necessário depositar os nossos metais, morrer para as ilusões profanas e completar a nossa purificação mental. É exigir muito de um candidato a Franco-Maçom, homem de boa vontade, sincero no seu desejo do bem, mas incapaz de se iniciar nos mistérios efectivos da Arte Real. Não se deve, pois, reprovar à Franco Maçonaria colocar-se ao alcance do grande número. Ao se iniciar nos seus símbolos, ela mantém as suas obrigações em relação aos iniciáveis que irão procurar, pedir e bater, de forma a encontrar quem lhes responda e quem se lhes abra, finalmente, a porta do santuário da Verdade. Outros não aprenderão a ritmar os três golpes misteriosos senão para obter o acesso a uma Loja regular, na sua qualidade de Maçons reconhecidos regulares… convencionalmente! Iniciados apenas nas exterioridades, no lado sensível da Franco Maçonaria, esses aderentes superficiais, — que são legião, — não vão além da infância da Arte: eles divertem-se com imagens cujo sentido não percebem, mas estas imagens pregam-lhes uma sabedoria à qual eles se mostram dóceis. Habituam-se a se manter bem em Loja e a desenvolver os seus bons sentimentos. Sem se elevar até o ideal muito heróico da Iniciação, tornam-se melhores em modestas proporções. Se a Franco-Maçonaria moderna melhora os seus adeptos, tornando-os mais fraternos uns em relação aos outros, a sua obra é louvável, mesmo que, sobre cinco milhões de membros activos, ela não conte senão com uma ínfima corte de Iniciados que realmente viram a Luz.
(Oswald Wirth – Os Mistérios da Arte Real – Ritual do Adepto. Pág. 92)
Aos Buscadores, onde quer que estejam sobre a face da terra.
Geovanne Pereira – Professor de Filosofia, Psicanalista, Psiconauta, Yogue, Facilitador de estados holotrópicos de consciência no Instituto de Desenvolvimento Humano Céu na Terra e Mestre Maçom da ARLS Jacques DeMolay, n°22 – GLMMG.
Notas
[1] Guardiões do Umbral – Termo iniciático, bem conhecido nos mistérios do esoterismo, que representa um espírito que guarda ou protege a passagem de um nível para outro. Trata-se de um personagem espiritual, uma entidade de hierarquia, que protege o acesso a uma esfera ou a um estado superior de consciência. O termo foi popularizado por Bulwer Lytton no romance Zanoni de 1844.
Segundo ocultistas como Dion Fortune, o guardião do umbral, ou habitante do limiar é uma projecção de todas as nossas imperfeições, que se apresentam a nós impedindo a passagem. Neste caso, o discípulo só poderá cruzar o umbral (a passagem a outro plano ou esfera) caso consiga resolver todas as pendências kármicas que aquele nível superior exige.
[2] Aura – do latim, aura – sopro de ar – halo luminoso de distintas cores que envolve o corpo físico e que reflecte, energeticamente, o que o indivíduo pensa, sente e vivencia no seu mundo íntimo; psicosfera; campo energético.
[3] Hierofante – dentro do contexto das iniciações esotéricas da antiguidade, era o mestre que testava os neófitos (calouros) nas provas iniciáticas.
[4] Os Mestres Iniciados – grupo extrafísico de espíritos orientais que opera nos planos invisíveis do Ocidente, passando as informações espirituais oriundas da sabedoria antiga, adaptadas aos tempos modernos e direccionadas aos estudantes espirituais do presente.
Composto por amparadores hindus, chineses, egípcios, tibetanos, japoneses e alguns gregos, eles têm o compromisso de ventilar os antigos valores espirituais do Oriente nos modernos caminhos do Ocidente, fazendo disso uma síntese universalista. Estão ligados aos espíritos da Fraternidade da Cruz e do Triângulo. Segundo eles, são “iniciados” em fazer o bem, sem olhar a quem.
Fonte: https://www.freemason.pt
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