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terça-feira, 25 de julho de 2023

III CONGRESSO DO RITO MODERNO NO BRASIL

Pedro Juk

RITO MODERNO – ELEMENTOS GENÉRICOS PARA A SUA HISTÓRIA.
TEÍSMO E DEÍSMO – O DOGMATISMO E ADOGMATISMO

1. Inicialmente segue uma breve abordagem envolvendo os principais ritos por aqui conhecidos e os seus conceitos de teísmo, deísmo e agnosticismo.

Dos muitos ritos praticados pela MAÇONARIA, muitos deles já desapareceram completamente. Já escrevia Ragon em 1853 no seu livro Ortodoxia Maçônica que “o número de Maçonarias ultrapassa sessenta”. Ragon já expunha a diversidade de ritos encontrados na Maçonaria daquela época.

De certa forma, todos os ritos maçônicos apresentam uma adequada unidade no simbolismo, diferindo, entretanto, na liturgia e na abordagem filosófica, principalmente quando se trata de concepções metafísicas.

Entre os ritos mais conhecidos na Maçonaria brasileira, e que aqui serão abordados, destacamos quatro ritos: o Craft (York) vertente inglesa, o REAA, o Rito Moderno, e o Adoniramita - esses três últimos da vertente latina de Maçonaria.

Embora esses quatro ritos possam trazer diferenciais na prática particular da sua liturgia e ritualística, entendemos que as diferenças doutrinárias fundamentais são aquelas que envolvem concepções metafísicas.

NOTA - Metafísica é uma das bases da Filosofia e é também o ramo responsável pelo estudo da existência do ser. Por meio da metafísica procura-se dar uma interpretação do mundo, da Natureza e da constituição das estruturas básicas da realidade.

No aristotelismo, é o estudo do ser enquanto ser e especulação em torno dos primeiros princípios e das causas.

Nessas circunstâncias, muitos autores, a exemplo de Paul Naudon, classificam esses quatro ritos como teístas, deístas e racional. Outros, no entanto, como José Castellani, os classificam apenas como dogmáticos e adogmáticos.

Ritos teístas.

NOTA – Genericamente, Teísmo é a crença absoluta na existência de Deus, um Deus pessoal, causa do mundo, e que interage com a sua criação.

No tocante a ritos teístas, o Rito (working) de York, amparado pelo anglicanismo britânico, é tipicamente um deles. Com um caráter religioso muito particular, esse rito anglo-saxônico preconiza a crença em Deus com sentimentos antropomórficos. Nesse contexto, a vertente anglo-saxônica de Maçonaria tem o Rito de York como um instrumento para externar a crença em Deus, ao mesmo tempo em que auxilia o maçom a pautar a sua vida conforme a sua crença religiosa, que deve ser monoteísta, com caráter sublime e elevado da divindade (transcendental).

Ritos deístas

NOTA – Deísmo é o sistema que, rejeitando qualquer revelação divina, aceita a existência de Deus, porém, um Deus destituído de atributos morais e intelectuais, não se admitindo interferência divina nas coisas do mundo.

Nesse cenário, o REAA, nascido em berço francês e com costume deísta, acabou, por razões históricas, se misturando com o teísmo anglo-saxônico. Já o Rito Adoniramita, que chegou no seu inicio a conservar feição deísta por não ter sofrido diretamente influências anglo-saxônicas, no andamento da sua história acabou sofrendo influências que lhe deram aparências diferenciadas, ou seja, um misto de deísmo e teísmo. Desse modo, tanto o REAA, um rito solar por excelência, assim como o Adoniramita não possuem característica deísta pura.

À vista disso, dos ritos elencados, fora das concepções deístas e teístas temos o Rito Moderno.

NOTA – Cabe observar que as abordagens aqui apresentadas se prendem exclusivamente ao franco-maçônico básico, também conhecido como simbolismo.

Diferente dos ritos anteriores aqui mencionados, originalmente o Rito Moderno é classificado por muitos autores como um rito racional, onde as concepções de crença dos seus membros são consideradas de foro íntimo, portanto, com respeito absoluto à liberdade de pensamento.

Nessa conjuntura, o Rito Moderno também é tido como um rito agnóstico. Isso pela razão de o mesmo se colocar como incapaz de compreender a realidade das coisas incognoscíveis – essa característica não deve ser compreendida como ateísmo.

À vista de que no percurso da história muitos ritos deístas acabariam também absorvendo características do teísmo, é que apareceu, por parte de alguns autores, outra classificação, talvez a mais apropriada nessa conjuntura: a que os classifica como ritos dogmáticos e adogmáticos.

Com isso, o que se quer dizer é que por circunstâncias próprias alguns ritos se basearam integralmente emdogmas absorvidos da Igreja Medieval, ou do Anglicanismo, fazendo aos seus membros imposições metafísicas. Esses ritos são consideramos ritos dogmáticos. Deles, acentuadamente, o York pelo berço de nascimento, e os ritos Escocês Antigo e Aceito, e Adoniramita por influências adquiridas durante a construção das suas histórias. Já o Moderno, por se distinguir pelo respeito à liberdade de crença e de pensamento, é considerado um rito racional e adogmático.

2. O teísmo a partir da Maçonaria de Ofício. Como se deu a influência teísta nos ritos maçônicos? Qual a sua origem?

A conhecida Maçonaria dos Aceitos (depois Moderna Maçonaria), formada exclusivamente por maçons especulativos, sucedeu à Maçonaria de Ofício (Operativa), que era um conjunto de organizações de pedreiros da Idade Média.

Destas corporações medievais, destacam-se, no ordenamento da história da Maçonaria, as seguintes organizações:

a) Os Collegia Romanos ou Collegia Fabrorum. Eram organizações que já existiam desde o século VI a. C. e possuíam um forte apelo religioso. Davam ao trabalho um caráter sagrado haurido de cultos à determinadas divindades pagãs. Inicialmente politeístas, se tornariam mais tarde, monoteístas.

b) As Associações Monásticas. Surgidas aproximadamente no século VII, tinham como objetivo principal construir igrejas, mosteiros, abadias, conventos e catedrais. Por serem formadas exclusivamente por clérigos, elas se caracterizavam por uma acentuada religiosidade.

NOTA – As Associações Monásticas eram originárias principalmente do reino dos godos.

c) As Confrarias Leigas. Criadas no século XI para atender ao “ofício” durante a expansão dos domínios da Igreja, eram organizações formadas por leigos que aprenderam arquitetura e arte de construir com os clérigos construtores. Assim, nada a estranhar que essas organizações acabassem também herdando o acentuado cunho religioso que era dado ao trabalho.

d) As Guildas de Construtores. Com características germânicas e anglo-saxônicas, inicialmente eram apenas entidades religiosas, passando, a partir do século XII, a formar corpos de profissionais, entre eles os dos canteiros construtores. Assim, as guildas permaneceriam como associações expressivamente religiosas.

e) Os Ofícios Francos, ou a Franco-maçonaria. Eram grupos privilegiados de artesãos construtores que apareceram após o século XII. Esses corpos profissionais, acompanhados de forte religiosidade, eram livres dos feudos, das obrigações e do poder monárquico. Com isso, protegidos pela igreja-estado, tinham liberdade de locomoção. Nesse cenário, a palavra franco designava aquele que era livre, não só em oposição ao que era servil, mas livre das obrigações e tutelas senhoriais. Os Ofícios Francos conservavam características religiosas hauridas da Igreja “protetora”.

Nota-se, dessa forma, que todas as corporações que formaram a Maçonaria Operativa, ou de Ofício, estavam impregnadas pelo espírito religioso e dogmático daquela época. Entre os seus membros existia a obrigatoriedade de respeitar a Igreja e a religião.

Isso pode ser perfeitamente constatado em se perscrutando os Estatutos das Corporações (manuscritos), conhecidos como Old Charges, onde nelas eram previstos juramentos sobre os santos evangelhos. Na verdade, era o teísmo a dominar as profissões, coisa própria de um tempo em que o clero comandava governantes e governados.

Nesse cenário da história, além do misticismo religioso, normalmente peculiar às corporações, cada uma das antigas Lojas também tinha o seu santo protetor - algo natural para organizações que se estabeleciam nos adros das igrejas, mosteiros e catedrais.

As organizações de ofícios francos (Franco-maçonaria), por exemplo, em face às comemorações solsticiais - costume herdado das guildas – tinham como patronos, João, o Batista e João, o Evangelista. Esses personagens religiosos são encontrados ainda hoje em ritos dogmáticos, a exemplo do REAA.

As iniciações (admissões) na época do ofício não eram apenas os ensinamentos básicos da profissão de pedreiro, eram também um meio de aproximar o admitido da religião – vide as orações que eram feitas em favor do candidato no dia da sua admissão. Nessas condições, o ofício não era apenas um elemento econômico de subsistência, era também uma maneira de servir a Deus e à Igreja Católica Romana.

Essa aparência católica imposta à Maçonaria Operativa (de ofício) pela “proteção do clero”, mais tarde, já no período da aceitação, iria assumir na Inglaterra uma configuração teísta protestante, onde a Primeira Grande Loja de Londres e Westminster impunha nas suas Lojas as convicções do anglicanismo.

3. O deísmo na Moderna Maçonaria - Especulativa por excelência.

NOTA – Maçonaria Especulativa (Aceitos) e Moderna Maçonaria. O registro documental da iniciação em uma Loja do primeiro aceito é datada do ano de 1600 na Escócia, sendo, portanto, esse o marco inicial da Maçonaria Especulativa. Já a Moderna Maçonaria, especulativa por excelência, tem como referência primitiva de existência a fundação da Primeira Grande Loja em Londres em 1717 (sistema obediencial).

A transformação da Maçonaria Operativa em Especulativa que ocorrera com a iniciação de John Boswell, na Loja Capela de Maria, em Edimburgo na Escócia, possivelmente aconteceu graças à maior liberdade que imperava na Inglaterra em contraposição às perseguições sofridas Maçonaria no século XVI, na França e na Alemanha.

No século XVI apareceriam no continente europeu as “Academias”. Existentes na França e na Itália, principalmente, elas reuniam um grande número de personagens ligados ao mundo científico e artístico daquela época na Europa.

A partir do século XV, após o advento da Renascença, iniciava-se o espírito da crítica científica em oposição aos dogmas impostos pela Igreja Católica. Com isso, acirravam-se as lutas entre os defensores intransigentes do “papado” e os que atacavam os dogmas e as interferências da Igreja no Estado, mas não eram ateus.

É bom que se diga que os contrários ao papado não combatiam propriamente a religião e a crença em Deus, mas de maneira geral lutavam contra um sistema obscuro de crença que existia amparado em dogmas impostos pela classe clerical.

Essa combatividade, no entanto, não nos autoriza a afirmar que essa foi uma ação em favor do ateísmo. Grande parte dos que faziam oposição ao clero acreditavam na possibilidade de existir um Princípio Criador, contudo, eram contrários ao dogmatismo proposto pela Igreja Católica.

Muitos deles, grandes pensadores e filósofos, externavam pareceres de que a rudeza da mente humana era incapaz de perscrutar os mistérios da Criação, rejeitando, com isso, qualquer revelação divina que pudesse interferir nas coisas do mundo. Esse conceito era o do deísmo e acabaria sendo integrado à Maçonaria Francesa por pensadores, filósofos e artistas que, principalmente a partir do século XVIII, iriam fazer parte dos quadros das Lojas maçônicas na França.

Na Itália, Leonardo Da Vinci, Américo Vespúcio e Paulo Toscanelli formavam a Academia de Milão com o propósito de criar um centro de cultura científica e artística isento de ideias dogmáticas. Muitos dos membros dessa Academia, capitaneados por Da Vinci, iriam se transferir para Paris onde se filiariam ao “Colégio Francês”, então criado em 1517 e que mais tarde se tornaria em um centro de maçons especulativos, movidos pelo espírito, científico e racional, contrários aos dogmas que impunham grilhões ao conhecimento e à verdade.

Notoriamente isso não agradou à Igreja, fazendo crescer cada vez mais o ódio clerical que mais tarde se transformaria nas grandes perseguições à Maçonaria. Graças a isso, o polo de atuação maçônica da França se mudaria para a Inglaterra, onde aparentemente havia maior tolerância por parte da Igreja Anglicana.

Isso fez com que a na Inglaterra do anglicanismo, a Maçonaria evoluísse bastante, sobretudo por encontrar um ambiente propício para expor os seus ideais.

Com a presença de muitas Lojas livres espalhadas pelas Ilhas Britânicas, os ingleses, ao contrário de persegui-las como ocorria no continente, logo resolveram aproveitá-las em prol do anglicanismo e em favor da nobreza, não obstante tenham para isso sido amputados muitas ideais deístas, liberais e de espírito crítico que acompanhavam a Maçonaria na França.

Foi com esse espírito que em 1717 nasceu a Primeira Grande Loja em Londres, e logo teve, em 1723, a sua primeira constituição que ficaria conhecida como As Constituições de Anderson. Essa Constituição, embora regulamentasse uma Maçonaria de cunho teísta em prol do anglicanismo, surpreendentemente trazia no seu Artigo 1º um texto com tendências deístas e com certa liberalidade.

4. Uma característica Deísta que apareceu nas Constituições de Anderson de 1723.

Em 1721 a Primeira Grande Loja solicitou a James Anderson, pastor presbiteriano nascido em Aberdeen na Escócia, que fizesse uma compilação dos antigos regulamentos e preceitos da Francomaçonaria. Anderson, que teve como colaboradores George Payne e Jean Théophile Desaguliers, segundo e terceiro Grão-Mestres da 1ª Grande Loja, submeteu a compilação à aprovação de uma comissão composta por 14 maçons, e assim, em 1723 era aprovada e publicada a Constituição dos Franco-maçons que ficaria conhecida como As Constituições de Anderson.

No que diz respeito à essa Constituição e as concepções metafísicas, é possível nela observar no seu artigo inicial, um discreto deísmo acompanhado de uma ampla tolerância vestida com atributos de liberalidade.

Possivelmente essas qualidades se deve à influência de Jean Théophile Desaguliers, um importante personagem ligado à Primeira Grande Loja.

Oriundo de uma família de huguenotes franceses, Desaguliers nascera em um subúrbio de La Rochelle na França. Homem pragmático e preocupado em resolver os problemas do seu tempo, possuía uma sólida formação científica. Era um homem de escol e ainda hoje é considerado como um dos pais da Moderna Maçonaria.

Nessa condição, vale registrar o que menciona o Art. 1º da Constituição de Anderson de 1723:

“O maçom está obrigado, por vocação, a praticar a moral e, se compreender seus deveres, nunca se converterá em um estúpido ateu e nem em religioso libertino. Apesar de, nos tempos antigos, os maçons estarem obrigados a religião que se observava, nos países que habitavam, hoje, crê-se mais conveniente não lhe impor outra religião, senão aquelas que todos os homens aceitam e dar-lhes completa liberdade com referência às suas opiniões particulares. Essa religião consiste em ser homens bons e leais, quer dizer, homens honrados e justos, seja qual for a diferença de nome, ou de convicções. Deste modo a Maçonaria se converterá em um centro de união e um meio de estabelecer relações amistosas entre pessoas que, fora dela, teriam permanecido separadas.”

Note-se que originalmente no artigo inicial da Constituição não existe nenhuma imposição de um padrão religioso e dogmático, senão um deísmo intrínseco nas suas entrelinhas.

No entanto, essa primitiva característica encontrada na Constituição de 1723 seria posteriormente modificada, primeiramente já em 1738 e finalmente em 1815 por imposição política anglicana e também por forte imposição dos ditos “Antigos de York” que, juntamente com a Primeira Grande Loja, dita dos “Modernos”, após a reconciliação (Antigos e Modernos) iria formar, em novembro de 1813, a Grande Loja Unida da Inglaterra.

Além da maioria das práticas ritualísticas serem conservadas no formato antigo, o teísmo dos Antigos de York também acabaria prevalecendo após a união de 1813. Assim, o Livro das Constituições passaria novamente por adequações em 1815, não obstante ela já tivesse sofrido suas primeiras alterações em 1738.

Esse teísmo pode ser constatado no Artigo 1º das Constituições de 1815 da Grande Loja Unida, bem diferente do de 1723. Segue descrito o Artigo 1º reformado pelas convicções teístas:

“Um maçom é obrigado, por seu título, a obedecer a lei moral, e se compreender bem a Arte, nunca será ateu estúpido nem libertino irreligioso. De todos os homens deve ser o que melhor compreende que Deus enxerga de maneira diferente do homem, pois o homem vê a aparência externa, ao passo que Deus vê o coração. Seja qual for a religião de um homem, ou a sua forma de adorar, ele não será excluído da Ordem, se acreditar no Glorioso Arquiteto do Céu e da Terra e praticar os sagrados deveres da moral...”

É impossível não se notar nesse texto que ao liberalismo e tolerância originais da primitiva Constituição de 1723, sobrepuseram-se o teísmo pessoal, o dogmatismo e a imposição, algo que nos parece incompatível com a liberdade de consciência e de pensamento.

No entanto, cabe observar que mais tarde, na França, sob a égide do Grande Oriente da França, o Rito Moderno seguiria o liberalismo e a tolerância exposta na Constituição inglesa de 1723.

Expostas essas colocações, seguem outros comentários.

5. A Maçonaria Francesa, Grande Oriente da França e o Rito Moderno.

MAÇONARIA FRANCESA E O GOF - À vista dos argumentos até aqui apresentados, foi a Grande Loja de Londres e Westminster quem diretamente influenciou a Moderna Maçonaria na França.

Por iniciativa de Charles Radclyffe (Conde de Derwentwater), em 1725 a Moderna Maçonaria era instalada em uma Loja em Paris. Sem ainda existir uma Obediência genuinamente francesa, em 1728 o Duque de Wharton, um dos ex-Grãos-Mestre da Primeira Grande Loja londrina (1722 e 1723), foi reconhecido como o primeiro Grão-Mestre dos maçons franceses, sendo sucedido por dois outros Grão-Mestres ingleses, como James H. MacLean e Charles Radclyffe.

Por pressão das lojas francesas, em assembleia geral ocorrida no ano de 1738, era instalado como Grão-Mestre Geral e Perpétuo dos Maçons da França, Louis de Pardaillan Gondrin, o Duque de Antin. Enfim um Grão-Mestre francês para a Maçonaria Francesa.

Com o falecimento de Antin e 1743, assume Louis Bourbon de Condé, o Conde de Clermont que, por sua vez, seria sucedido em 1771, por decorrência da sua morte, por Louis Philippe Joseph D’Orléans, o Duque de Chartres. Sem muita afinidade para com o cargo, Chartres, por ser primo do Rei, mais empresta o seu nome do que dirige a Maçonaria, ficando a Grande Loja de fato sob a administração do Duque de Luxemburgo. Ainda em 1771 inicia-se uma grande reforma administrativa culminando com a extinção da Grande Loja da França, aparecendo no ano seguinte a Grande Loja Nacional da França que adotaria, anda no ano de 1772, o título de Grande Oriente da França.

Inicialmente, a grande inovação promovida pelo GOF foi a chamada “democracia maçônica” – o Grão-Mestre e os deputados das Lojas.

Já em 1877, em nome da liberdade de consciência e do livre arbítrio, o Grande Oriente da França passa a rejeitar qualquer afirmação dogmática, não existindo mais a obrigatoriedade das suas Lojas trabalharem à G∴ D∴ G∴ A∴ D∴ U∴

RITO MODERNO – Em linhas gerais, avalia-se que nome Moderno, dado ao Rito Moderno, está intimamente ligado à prática da moderna Maçonaria exercitada na Grande Loja de 1717 e inserida em solo francês pelos ingleses desde 1725.

Por questões de ordem, e no intuito de combater o caos causado pela enorme proliferação de altos graus pela França daquela época, o GOF, no intuito de organizar a situação, nomeou uma comissão de estudos para fazer uma depuração no sistema de altos graus vigente. Inicialmente esse grupo de estudos, após trabalhar por três anos e levar em conta vários aspectos, recomendou a utilização dos três primeiros graus apenas. Temendo com isso um cisma no Grande Oriente, a comissão renunciou, mas mesmo assim o GOF, em 1777, declarou por circular às suas Lojas que só reconheceria os três graus básicos da Maçonaria.

No entanto, a resolução de não reconhecer os altos graus acabou causando muitos ressentimentos por parte dos que se utilizavam daqueles “vistosos” paramentos. Graças a isso, em 1782 era então criada uma Câmara de Graus sob a liderança de Alexandre Roëttiers de Montaleau, com a proposta de formatar o Rito dando-lhe apenas o essencial dos Altos Graus. Em 1784, sete Lojas Capitulares Rosa Cruz formam o Grande Capítulo Geral da França. Depois de mais de 4 anos de estudos era apresentado, em 1786, um projeto contendo, além do franco-maçônico básico, mais 4 graus superiores, resultando assim em um total de 7 graus, cujo último era o Grau Rosa Cruz. Aprovado pela assembleia, o rito foi posto em prática e ficou conhecido como o Rito dos Sete Graus.

Somente em 1801, com a publicação do Le Régulateur du Maçon na França, é que o Rito Moderno, ou dos 7 Graus, passa a ter os seus rituais. No itinerário da sua história, entre os séculos XIX e XX, o seu simbolismo acabaria passando por várias revisões a exemplo da de Murat, em 1858; Amiable, em 1887; Blatin, em 1907; Gérard em 1922; Groussier, em 1946.

Vamos à conclusão desse trabalho.

6. Finalização.

Assim, o Grande Oriente da França serviu de suporte para muitos ritos maçônicos, dogmáticos como o REAA que é filho espiritual da França, mas com influências anglo-saxônicas (deísta/teísta) no seu simbolismo; como o Rito Adoniramita, inicialmente deísta, mas depois contaminado pelo teísmo; e o Rito Moderno que atravessaria reformas importantes que o levariam a ser em um rito adogmático, racional e agnóstico, não obstante alguns paradoxos, naturais pela sua adoção em algumas Obediências Maçônicas.

Desse modo, no cenário desse despretensioso arrazoado, vale destacar que tanto os ritos teístas, assim como os deístas, os racionais ou mesmo deístas teístas, enfim, dogmáticos ou adogmáticos, nenhum deles, pelas suas características, possui mais qualidade do que o outro. Em sua grande maioria nascidos no século XVIII, sempre tiveram o desiderato de superar os resquícios do nebuloso período coercitivo que havia paralisado por séculos a evolução racional da humanidade durante a Idade Média.

Eram esses os elementos genéricos que procurei trazer no intuito de contribuir com o estudo sobre a história da Maçonaria em geral, do Grande Oriente da França e do Rito Moderno em particular.

ROTEIRO BIBLIOGRÁFICO
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BAYLOT, J. – Dossier Français de la Franc-Maçonnerie Régulier, Paris, 1965
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Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

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