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quarta-feira, 23 de agosto de 2023

QUESTÕES RELATIVAS ÀS ORIGENS DO ESCOCESISMO

Em 13.04.2023 o Respeitável Irmão João Artur Gusmão Rodrigues, Loja União Mística, 2440, REAA, GOB-SC, Oriente de Videira, Estado de Santa Catarina, apresenta as dúvidas seguintes:

ORIGENS DO REAA

Primeiro gostaria de agradecer a sua disposição de responder prontamente as perguntas formuladas anteriormente sobre a alegoria das Provas, Viagens e Purificações. Se o Irmão se interessar, posso enviar mais tarde o trabalho que fiz sobre esse tema.

Mas o que me faz contatar o Irmão novamente é que agora estou iniciando uma pesquisa para outro trabalho, desta vez, sobre a origem do REAA. Assim pergunto ao Irmão:

1. Porque Escocês, Antigo e Aceito?

2. O Irmão em um “post”, afirmou que o REAA foi constituído de cima para baixo, ou seja, iniciou pelos altos graus. Qual seria esse rito? O Rito de Heredon? (que é o mesmo Rito de Perfeição?)

3. Qual o papel de Etienne Morin na criação do REAA?

4. Qual o papel, se é que teve influência, do discurso de Ransay para a criação dos altos graus?

CONSIDERAÇÕES:

Resposta para a pergunta nº 01 – No REAA esse nome se deve à família dos Stuarts que por diversas vezes ocuparam o trono da Inglaterra. Os Stuarts eram naturais da Escócia e estiveram envolvidos em acontecimentos que, direta e indiretamente, iriam influenciar nas origens do REAA em solo francês.

Na verdade, com a decapitação de Carlos I, rei católico da família stuartista, a sua viúva, a rainha Henriqueta de França recebe exílio político de Luiz XIV, rei da França.

Com isso a rainha viúva e seu séquito acabariam se instalando no Norte da França em Saint-Germain-em-Laye e, sob a capa de Lojas Maçônicas conhecidas como Guardas Irlandeses, ou Regimento Walch, tramaram em solo francês a retomada do trono inglês para reconduzir Carlos II à coroa inglesa. É oportuno lembrar que em 1649 Carlos I havia sido decapitado por conta da Revolução Puritana de Cromwell.

À vista disso, a presença de parte da família dos Stuarts no Norte de França acabou sendo um elemento importante que influenciou diretamente o sistema da vertente maçônica “escocesista” na França. Nesse contexto, a documentação básica do escocesismo ficaria composta na seguinte ordem: pelo discurso de André M. de Ramsay, pelo Capítulo de Clermont, pelo Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente (Pirlet) e finalmente pelo Rito de Perfeição, ou de Heredom.

Assim, todo esse movimento maçônico escocesista, stuartista e jacobita teve sua semente plantada a partir da presença política dos Stuarts no Norte da França a partir de 1649.

Graças a isso é que o título “escocês” passou a ser conhecido como um dos elementos de identificação dessa vertente maçônica constituída em solo francês.

Resposta para a pergunta nº 02 – Na verdade, o Rito intitulado Escocês Antigo e Aceito inicialmente estava ligado apenas aos Altos Graus. Vários fatores fizeram com que o Rito de Heredom, ou de Perfeição, com seus 25 graus originais saísse da França em direção a América Central e, posteriormente, aos EE. UU. da América do Norte.

Em linhas gerais, esse rito ao chegar na América pela carta conhecida como a Patente de Étienne Morim acabou se transformando em um rito de 33 graus, resultando na fundação e so Supremo Conselho do REAA.

Em face à guerra dos mulatos que ocorria ao final do século XVIII e início do século XIX em São Domingos, o rito foi levado da América Central à America do Norte. Dessa maneira, mais precisamente em Charleston na Carolina do Sul, a 31 de maio de 1801, sobre o paralelo 33 da Terra, era então fundado o 1º Supremo Conselho Mãe do Mundo para o REAA.

Desse modo, o Rito de Heredom, com seus originais 25 graus, acabaria se transformando no REAA com os 33 graus.

Nessa conjuntura, a patente de Morin possuía o desiderato de fundar, ao redor do mundo, outros Supremos Conselhos.

Essa condição de formar outros Supremos Conselhos com altos graus, inicialmente não se preocupava com o franco-maçônico básico universal composto pelos graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre.

Foi dessa forma que REAA, então recém fundado, na verdade não possuía simbolismo, ou seja, dos seus 33 graus o rito realmente possuía 30 graus, cujos quais se iniciavam no 4º grau e iam até o 33º.

No REAA, a lacuna deixada pela falta dos três primeiros graus elementares e universais da Maçonaria foi resolvida em solo norte-americano em se emprestando esses graus do sistema das Lojas Azuis norte-americanas.

Por esse motivo, o REAA, filho espiritual da França (latino por excelência), nascia nos EE. UU. da América do Norte e no princípio trabalhava emprestando os três primeiros graus do sistema norte-americano (anglo-saxônico) que trabalhava conforme os “antigos” da Grande Loja rival dos “modernos” de 1717.

Com os três primeiros graus emprestados das Lojas Azuis o REAA então passava a contar com 33 graus, ou seja, três emprestados e outros 30 originais. Em solo norte-americano a questão parecia resolvida, todavia, o mesmo não se daria quando do retorno do REAA à França, quando este teve necessariamente que construir os seus primeiros rituais para o simbolismo, o que ocorreria em 1804, já que na Europa, distante da América do Norte, o sistema das Blue Lodges era completamente desconhecido.

Nessa época a Maçonaria francesa também vivia através de uma das suas vertentes, a influência da Primeira Grande Loja de Londres que havia sido fundada em 1717 e era conhecida pejorativamente como a Grande Loja dos Modernos (vide a história das duas Grandes Lojas rivais na Inglaterra).

Resposta para a pergunta nº 03 – Como já comentado anteriormente Étienne Morin trazia consigo uma patente para a fundação de novos Supremos Conselhos ao redor do mundo. Essa patente, por razões desconhecidas, acabaria nas mãos de Grasse Tily, Frederick Dalcho, dentre outros, todos fundadores do Primeiro Supremo Conselho.

A bem da verdade, alguns autores atribuem a Grasse Tilly a fundação, antes do de Charleston, de um Supremo Conselho em 1801 nas Índias Ocidentais, também conhecidas como São Domingos.

Relata-se ainda que que esse Supremo Conselho - que supostamente apareceu antes do de Charleston - seria desconhecido, ou “abafado” pelos norte-americanos.

De tudo, o fato é que foi sob essa patente conhecida como a Carta Patente de Morin que houve o engodo de que Frederico, o Grande, Rei da Prússia havia presidido uma reunião para a elaboração das Grandes Constituições de 1786. Dizem alguns que Frederico, nessa ocasião recomendava o aumento de 25 para 33 graus.

Na verdade, isso mais parece ter sido alguma estratégia de Tilly junto com os demais seus companheiros do que algo que mereça crédito, já que primeiramente o Rei Frederico normalmente dizia detestar qualquer grau acima do 3º - chamava de “ocos e vazios”. Em segundo lugar, seria impossível que Frederico o Grande, presidisse a reunião para a construção das Grandes Constituições, então escritas em maio de 1786, pois desde fevereiro daquele ano o Rei se achava entrevado em uma cama que lhe serviria em breve como leito de morte.

Por essas razões, experts desmentem a participação de Frederico o Grande na elaboração das Constituições de 1786. Desafortunadamente, mesmo assim ainda muitas autoridades do REAA preferem o fazer de conta e voltam os olhos para o lado contrário de onde se encontra a verdade.

Étienne Morin em si não teve nada a ver diretamente com isso, salvo ter possuído a patente que inexplicavelmente acabou um dia em mãos de Grasse Tilly, Delahogue, Dalcho, John Mitchel, Isaac Himann Long, etc.

Resposta para a pergunta nº 04 – Na conjuntura da Maçonaria, e particularmente para o escocesismo, André Michael de Ramsay, nascido na Escócia, filho de pai protestante, tentou proferir seu famoso discurso que, sob a sua óptica, afirmava que a Maçonaria não era herdeira dos construtores da Idade Média, mas tinha sim origens na Ordem da Milícia da Ordem do Templo, comumente conhecida como Templários. Evidentemente esse foi um ufanismo de Ramsay, pois na verdade ele propunha mesmo era uma aristocratização da Maçonaria, elegendo títulos pomposos para os altos graus que mais satisfaziam mesmo, em alguns casos, a vaidade de alguns. Ramsay teve o seu discurso proibido na França pelo cardeal Fleury, embora posteriormente ele tivesse sido impresso e divulgado.

De certo modo, os devaneios de Ramsay não foram levados muito a sério, em que pese a característica de altos graus acabasse se coadunando de maneira organizada na Maçonaria intitulada escocesista. À vista disso, o discurso de André Miguel de Ramsay acabou se constituindo em um dos elementos básicos para a construção do escocesismo na França.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

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