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terça-feira, 29 de agosto de 2023

RITOS DE PASSAGEM

C∴M Charles Pires Neves

RITOS DE PASSAGEM: DE PROFANO A COMPANHEIRO MAÇOM OU DAS TREVAS PARA A INTUIÇÃO E ANÁLISE.

A partir do seu nascimento o ser humano, independente do seu gênero, começa a passar por diversas situações na sua vida. Dentre elas algumas marcam uma mudança profunda e esperada, pois ele cresce e se torna adulto, casa, se reproduz, envelhece e morre. Dentro dessa sequência podemos afirmar que algumas dessas mudanças são marcantes, pois ao ocorrerem surge então uma “nova” situação. E essas passagens mais marcantes, em diversas sociedades normalmente são precedidas de algum rito da família, do meio social em que ele vive ou até mesmo religioso ou a ver com os astros, sejam solar ou lunar. Esses ritos normalmente são ligados a nascimentos; final da infância/início da fase adulta; celebrando casamentos; formaturas; ou até mesmo em respeito a morte e encontrados em culturas e religiões completamente diferentes, sejam indígenas, umbandistas, indianos, brasileiros, católicos, judeus ou em quaisquer outras etnias e religiões.

Os ritos de passagem podemos dizer que existiam desde que o homem iniciou a viver em tribos, com a chamada divisão de tarefas. Nesse tempo os jovens, ao se mostrarem aptos para a caça, normalmente ao saírem sem a presença dos caçadores da tribo e trouxessem alguma caça ou uma determinada caça, passavam a ser considerados como prontos a integrar o grupo de caçadores, ou seja, passava do que seria a fase de “criança” para a de adulto-caçador;

Porém, a partir da Grécia antiga, por ser considerada como o berço da civilização ocidental e por nos trazer uma série de ensinamentos e de práticas adotadas que continuam a servir como aprendizado, dentre essas práticas podemos citar a que diz respeito ao Rito de Passagem para a fase adulta, existente na sociedade grega.

Entre alguns ritos de passagem existentes na Grécia Antiga para a fase adulta, cito a efebia de Atenas, em que os jovens ou efebo passam a cumprir o serviço militar, normalmente por dois anos, em que recebem educação física e militar no primeiro ano e esse aprendizado é utilizado em funções práticas em postos em fronteiras, manobras em campanhas durante o segundo ano. Assim, ao término, os jovens passavam a ter a cidadania plena. Sobre o funcionamento da efebia, Aristóteles (filósofo grego do século IV a.C.), no capítulo 42 da Constituição de Atenas (...):

“ Participam da cidadania os nascidos de pai e mãe cidadãos, sendo inscritos entre os démotas aos 18 anos (...). Após o exame por que passam os efebos, seus pais se reúnem por tribos e, sob juramento, elegem, dentre os membros da tribo com mais de 40 anos., os três que eles achem serem os melhores e os mais indicados para se encarregarem dos efebos. (...) Também são eleitos por mãos levantadas dois treinadores mais os instrutores que os ensinam a lutar como hoplitas, a atirar com o arco, a lançar o dardo e a disparar a catapulta. (...) Prestam serviço (militar) durante dois anos, vestindo clâmide, e transcorrido esse período, reúnem-se aos demais cidadãos. (Florenzano. p. 29-32).

Assim, com o decorrer dos tempos e das modificações sociais, normalmente decorrentes do que podemos chamar de evolução humana, as sociedades modificam ou criam algum evento para seus membros que podemos afirmar que seja um rito de passagem, ou seja, uma nova etapa na vida do ser humano que foi submetido à regra social pré-estabelecida. Dessa maneira nascimentos, mudança da fase de criança para jovens e dessa para adultos, casamentos, e até mesmo a morte pode vir a ser considerado um rito de passagem na vida de um ser humano, normatizado e aceito

pelas regras sociais então vigentes em cada meio social onde as pessoas vivem.

Dentro do contexto evolutivo do ser humano e da sociedade como um todo, a Maçonaria também se faz presente nessa evolução, pois, apesar de não haver consenso sobre a sua criação, o que não se discute é o seu aperfeiçoamento ao longo dos tempos, até chegarmos à contemporaneidade, com seus diversos ritos, em especial aos de passagem então existentes. Nesse sentido evolutivo, reproduzo a seguir, palavras do Irmão Antônio Freitas da A.:R.:L.:M.: Fraternidade Sergipense, na 11, sobre como é vista a instituição Maçônica no Século XXI:

“...a Maçonaria hoje é um somatório das lições e experiências obtidas com seus trabalhadores na edificação da grande obra de aperfeiçoamento da humanidade, tornando-a feliz, próspera e harmônica. A Maçonaria, acompanhando as transformações pelas quais passa a sociedade, vive um momento novo, principalmente a partir da fundação/instalação da Grande Loja Unida da Inglaterra, em 1717, pelo reverendo anglicano James Anderson, e tida como a Grande Loja Mãe, criada nos moldes de uma instituição da sociedade civil organizada, em que tudo é transparente, devidamente registrado em cartórios e publicado para conhecimento do cidadão (...) . Ela trabalha em favor, não apenas dos seus associados, mas da sociedade como um todo, visando ao progresso e bem-estar das pessoas e dos povos, pois entende que somos todos uma grande e única família, em que todos somos irmãos”. (Revista Teor, no 4).

DE PROFANO A APRENDIZ MAÇOM - A.P.:

Com essa evolução constante de uma nova fase na vida do ser humano, podemos afirmar que na Maçonaria tem diversos ritos de passagem, sendo o primeiro quando o neófito tem a sua iniciação numa loja maçônica e consegue superar as três viagens ou provas purificadoras para que o mesmo “nasça de novo” ao sair das trevas para o caminho da luz Nessas viagens simbólicas (representadas pelo AR, ÁGUA e FOGO) o neófito está privado de luz por uma venda, e incapaz da dar seus primeiros passos na direção desejada, porém é necessário a superação de obstáculos para que o mesmo seja enveredado para o caminho da luz.

Na primeira viagem, o profano tem que superar os obstáculos através dos seus esforços; o AR que é o símbolo da vitalidade, emblema da vida. Durante essa viagem ouve-se muitos ruídos e tem se obstáculos e com o ainda neófito “vendado como vos achais, representais a ignorância, incapaz de dirigir vossos esforços sem um guia esclarecido”. O símbolo representado nessa viagem, segundo o R.:E.:A.:A.:

“É o símbolo da família, onde a criança, incapaz de se dirigir , necessita de amparo e guia de seus pais; é o símbolo da Sociedade, onde a inteligência de um pequeno grupo conduz as massas ignorantes, que não se podem governar. É o símbolo da Humanidade, onde os povos mais inteligentes conduzem os mais atrasados”.

“A expressão simbólica de vossa cegueira , e da necessidade que tende de quem vos conduza, representa o domínio que vosso espírito, esclarecidos pelos nossos ensinamentos, deve exercer sobre a cegueira de vossas paixões, transformando a materialidade dos sentimentos profanos, que acaso existam em vós, em puros sentimentos maçônicos, criando em vós mesmo um outro ser, pela espiritualização e elevação vossos sentimentos”

Com o término da primeira viagem deve ficar o ensinamento que antes da Maçonaria o neófito está no mundo privado de luz e a Maçonaria lhe retirará essa “venda” e ele passará a ver a luz. Sobre esse venda, o R.: E.: A.: A.: esclarece:

“ Tereis então retirada a venda material que escurece a vossa alma e não mais precisareis de guia em vosso caminho, que, no entanto, permanecerá sempre ao vosso dispor para aqueles momentos difíceis e dolorosos que poderão surgir ao longo de vossa Senda Iniciática. Foi para isso que aqui bateste, pedindo para “ver a luz”.

Já na segunda viagem, existe a purificação do profano através da ÁGUA, que é o símbolo da pureza da vida Maçônica. Nela, ouvem-se sons comparados a espadas em pleno combate que em um determinado momento cessará, quando o ainda profano tem de parar em frente ao Alt.: do Ir.: 1o Vig.:. Essa viagem representa os perigos que encontrará para aperfeiçoar os costumes e vencer as paixões do mundo profano.

Na terceira viagem o candidato é submetido ao batismo da purificação, através do FOGO.

Após as três provas purificadoras, somadas à primeira prova, a da TERRA, o iniciado se submete ao Batismo de Sangue, que, apesar de não ter a literalidade das palavras, vai significar um “... compromisso de sacrificar-se, se necessário, pela Pátria, pela Humanidade e pela Ordem.”.

Ainda dentro do Rito de Passagem de neófito para Aprendiz Maçom, existem dois ensinamentos de grande valor: Um é que o aprendiz está desprovido de tudo que é metal ou que representa alguma expressão de valor, bem como do luxo e das vaidades da sociedade profana; outro, é fazer o profano ter a angústia de sentir a impossibilidade de socorrer alguém desafortunado. Após essas viagens e ensinamentos o juramento termina esse rito de passagem que é o do mundo profano para o mundo maçônico.

Dentre todos os ensinamentos que o Aprendiz Maçom teve em suas cinco instruções, começando sobre o Painel da Loja de Aprendiz e concluindo com a Simbologia dos Números 1, 2, 3,4. Não se distingue a mais ou a menos importante, afinal, em todas tem ensinamentos essenciais, porém alguns obtidos nas instruções são fundamentais na Maçonaria. Em especial que a instituição Maçoniça é universal; A Loja se apoia é sustentada por três colunas: a da Sabedoria ou Jônica; a da Força que é a Dórica; e a da Beleza ou Coríntia, pois cada uma tem função específica, uma cria, outra sustenta; a última adorna.

Após o conhecimento aprendido e com as cinco lições e as três viagens e, considerando que o aprendiz já teve o seu tempo de aprendizado, houve uma evolução pois houve conhecimento de outras ferramentas e, o mais importante, adquiriu experiência para o bom uso das ferramentas e com isso está apto a polir com perfeição. Sé o aprendiz utilizando o Maço e o Cinzel aprendeu a usá-la na Pedra Bruta e, agora, com o conhecimento do Compasso e da Régua, tem todo o conhecimento para traçar linhas sobre a pedra bruta já desbastada. Dessa maneira podemos dizer que o Aprendiz Maçon está pronto para sua Elevação, ou para o que podemos dizer um novo Rito de Passagem, agora sua nova etapa que será a passagem do Nív.: ao Prum.:, a depender da concordância dos demais Iir.: da Loja., em resposta à consulta do Ven.: M.: .

APRENDIZ MAÇOM A COMPANHEIRO MAÇOM - A.P.: COMP.: M.:

O Rito de Passagem do Aprendiz Maçom para Companheiro Maçom requer que o mesmo faça cinco viagens simbólicas. Porém, antes de iniciarem-se as viagens, o V.: M.: alerta ao ainda

Aprendiz:

“...Está, ainda. Em vossas mãos e Régua de 24 polegadas. Que jamais vos esqueçais de sua significação simbólica. A desordem é a lei da insânia. A Régua é o símbolo da Lei, da Ordem e da Inteligência, a determinar a direção e a regular a aplicação de vossos estudos . As viagens vos recordarão que o movimento é a vida e que, na terra e no espaço, tudo se move, tudo trabalha, tudo caminha.”

“Os pratos de uma balança perfeita devem oscilar porque a imobilidade é a estagnação. É a morte.” (Ritual de Companheiro pg. 37/38).

Assim, ao iniciar a primeira viagem no rito de passagem a que aspira para ser Companheiro Maçom, o ainda Aprendiz passa a conduzir, em substituição à Régua, o Maço e o Cinzel. Estes lembram o primeiro ano de estudo no qual o Aprendiz teria a prática de desbastar e polir a Pedra Bruta, o que para isso, são necessárias essas duas ferramentas, que se completam no trabalho.

Na segunda viagem, que vai representar o segundo ano de estudos e, até mesmo pelos equipamentos a serem utilizados, nesse caso o Compasso e a Régua que são o “símbolo do aperfeiçoamento adquirido nas ciências, nas artes e nas profissões liberais”. Assim, estes dois instrumentos para serem utilizados necessitam não da força bruta, pois se tratam de instrumentos mais precisos onde o conhecimento é a chave mestra em superação a força bruta.

A terceira viagem corresponde a mais um ano de conhecimento adquirido pelo Aprendiz. Nela, uma Alavanca substitui o Compasso. Esse novo instrumento de trabalho não é somente para deslocar fardos maiores, mas para representar a moral, o intelectual, a firmeza, a coragem, o respeito e a confiança em si mesmo, que são incorporados ao Aprendiz em seu terceiro ano de trabalho.

Quanto a Moral, a terceira viagem representa a “ ... firmeza de alma, a coragem inquebrantável do homem independente, bem como o poder invencível que desenvolve o amor da liberdade nos homens inteligentes”; No intelectual a “ a Alavanca exprime a força do raciocínio, a segurança da lógica; é a imagem Filosofia cujos princípios invariáveis não permitem fantasia nem superstição”. (Ritual de Companheiro, pg 42).

A firmeza, a coragem o respeito e a confiança em si mesmo são os atributos morais que o Maçom tem que adotar em seu caráter.

A Régua e o Esquadro que foram recebidos em substituição à Alavanca, são as ferramentas para a quarta viagem. Nela, o Esquadro então recebido representa a conduta que os homens devem ter no seu meio social, pois esse Esquadro serve para dar uma forma regular à toda espécie de material, ou seja, na vida os fins não podem justificar os meios pelos quais possamos obter algo. Tem de ter harmonia entre o que deve ser feito e finalidade do que se propõe. Não devemos pensar somente no “eu”, nossas ideias, convicções e ações devem estar pautadas no melhor para a sociedade caminhar para o que chamamos de justa e perfeita.

A quinta viagem é feita sem que o Maçom conduza qualquer ferramenta, e significa que foi concluída a aprendizagem material e que a mesma foi simbolizada nas quatro viagens anteriores e que o Comp.:M.: quer aprender algo mais que o normal, quer conhecer a Verdade, foi uma transição em que se passa do plano físico para o espiritual.

Após as viagens o então Comp.: M.: faz o seu juramento e, posteriormente, o V.: M.: estende a Espada Flamejante sobre a cabeça do iniciado, dizendo: “À Glória do G.: A.: D.: U.: , e de São João nosso Padroeiro, em nome e sob os auspícios da M.: Resp.: Grande Loja Maçônica do

Estado de Sergipe, e em virtude dos poderes de que me acho investido, eu vos recebo e vos constituo Comp.: M.: do Rit.: Esc.: Ant.: e Ac.:” abaixando a abeta do avental como símbolo que representa um Comp.: M.:.

Pela representação da passagem do Aprendiz Maçom para Companheiro Maçom, são bem esclarecedoras as palavras proferidas pelo Orador no que se refere ao simbolismo das viagens:

“Pelo Simbolismo das cinco viagens misteriosas, ela colocou diante dos vossos olhos tudo o que é necessário para empreender a grande jornada que encetaste aos raios da V.: L.:, ela regulou a ordem dos trabalhos e vos mostrou a imensa distância em que nos achamos da perfeição, a fim de que possais chegar, pela Ciência e pela Moral, até o grau da sabedoria onde o gênio do M.:começa a distender suas asas para o vôo às regiões do Sublime.” (Ritual de Companheiro pg. 51/52).

De Profano a Companheiro vimos que existem critérios que são rigorosamente seguidos. Podemos dizer que eles se iniciam com o principal, que é a crença do então candidato a Aprendiz Maçom no G.: A.: D.: U.:, pois, sem essa crença não há de que falar em sua aceitação.

Já como candidato a A.: M.: não se pode deixar de lembrar que o mesmo expressa os seus deveres para com Deus, a Humanidade, a Pátria, a Família, o Próximo e consigo mesmo, em mensagem que posteriormente lida pelo Irm.: Orador para que os demais irmãos tenham uma noção do repertório moral e filosófico do iniciado.

A passagem de Aprendiz Maçom para Companheiro Maçom é para tirar a venda pois já existe um certo conhecimento, porém o mesmo vai se aprimorar, pois a Pedra Bruta já foi desbastada e agora é a momento de iniciar o trabalho intelectual da Pedra Cúbica, buscando sempre o aprimoramento moral e intelectual.

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REFERÊNCIAS

FLORENZANO, Maria Beatriz Borda. Nascer, viver e morrer na Grécia Antiga. São Paulo: Atual, 1996. p. 29-32.

Ritual de Aprendiz – R.: E.: A.: A.: – GLMSE – Fev/2012.
Ritual de Companheiro – R.: E.: A.: A.: – GLMSE – Set/2012.
Revista Teor, no 4, agosto 2019. Aracaju – Sergipe. Editora Infographics.

Novae sed Antiquae; Tradição e Modernidade na Maçonaria Brasileira; RAMALHO, José Rodorval., Editora Ex libris, novembro 2008.

Fonte: https://fraternidadesergipense.mvu.com.br

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