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segunda-feira, 16 de outubro de 2023

PÁLIO NO REAA E LEITURA DO SALMO 133

Em 11/05/2023 o Respeitável Irmão que se identifica apenas como Wagner, Loja Ciência e Trabalho, 20, REAA, Grande Oriente do Paraná (COMAB), Oriente de Rolândia, Estado do Paraná, apresenta a dúvida seguinte:

PÁLIO NO REAA

Minha dúvida é relacionada ao famigerado Pálio, haja visto que atualmente em nossa Obediência, o mesmo é formado pelos Diáconos com o Mestre de Cerimônias completando, após a condução de um Mestre Instalado, o mais recente, para abertura do Livro da Lei. Entretanto, é de conhecimento geral que tal prática é uma invencionice dos criadores de rituais, uma vez que o Pálio é um enxerto, provavelmente Adonhiramita, e os Diáconos nem bastão deveriam usar, pois seu ofício está relacionado a transmissão da palavra, e por zelar para que os Irmãos se conservem nas colunas o devido respeito e rigor.

Inclusive, em minhas pesquisas em rituais dos primórdios da Sublime Ordem em nosso País, nada consta quanto esta etapa da ritualística, nem mesmo a leitura do Salmo 133, usando o exemplo de uma Loja de Aprendiz.

Desta forma, gostaria que o Irmão Pedro Juk nos trouxesse um pouco de luz sobre o assunto, e mais, se está de fato radicado no rito esta prática, pelo menos em Lojas filiadas à COMAB ou a CMSB, porque ela é tão diferente de sua suposta fonte, o Rito Adonhiramita? Uma vez que lá o Pálio é formado por espadas e por Mestres Maçons das Colunas.

CONSIDERAÇÕES:

A formação de pálio, seja ele com espadas ou bastões não é original no REAA, portanto não existe. Em termos de Maçonaria Brasileira, o pálio foi indevidamente inserido em se copiando uma prática do Rito Adonhiramita onde de fato ele existe e é formado com espadas.

Dos ritos de origem francesa mais conhecidos entre nós, tais como o Adonhiramita, o Moderno e o REEA, o único rito que possui o cargo de Diácono é o REAA. Isso ocorre porque mesmo sendo o escocesismo um rito de origem francesa, historicamente ele possui raízes anglo-saxônicas hauridas de elementos que construíram o seu primeiro ritual para o simbolismo em 1804.

À vista disso, vale mencionar que o cargo de Diácono é natural da Maçonaria Anglo-Saxônica e faz parte do ritual inglês graças à imposição dos maçons irlandeses (Antigos). Destaque-se que na Maçonaria britânica os Diáconos não portam bastão, porem varas ou canas, e não existe a formação de nenhum pálio, exceto o ato de se cruzar ao alto as varas em determinados momentos previstos na liturgia, a exemplo do que ocorre na admissão de um novo membro.

Aqui no Brasil, no REAA o pálio é um elemento copiado do Rito Adonhiramita e foi circunstancialmente inserido em alguns rituais do REAA.

O ofício dos Diáconos no REAA é exclusivo para a liturgia da transmissão da Palavra e eles não portam bastão ou outro qualquer instrumento de trabalho.

A origem dos Diáconos nos ritos que os adotam está na Maçonaria Operativa, época em que eles eram mensageiros, oficiais de chão, que transmitiam ordens entre os Wardens (mais tarde os Vigilantes) e o Mestre da Loja nos imensos canteiros de obra das construções medievais. Naqueles tempos, os Diáconos, além de mensageiros, pelo seu corriqueiro trânsito pelo canteiro, também ajudavam na organização e disciplina dos trabalhos.

Vale destacar que na Maçonaria Operativa os cantos das obras eram aprumados e nivelados pelos Vigilantes, sendo o resultado dessa aferição enviado através dos Diáconos ao Mestre da Obra para que ele então ordenasse o início e o encerramento dos trabalhos.

O REAA, rememorando as práticas dos nossos ancestrais, utiliza-se especulativamente da transmissão de uma Palavra que, estando ela correta, ou seja, justa e perfeita (transmitida nos conformes), significa que os cantos estão nivelados e aprumados como ocorria no antigo ofício.

Graças a esse contexto é que os Diáconos existem no REAA. Assim, a dialética entre os Diáconos e as Luzes prevista no ritual tem apenas o desiderato de lembrar essa atividade do passado e não propriamente uma atividade litúrgica. Basta lembrar que o ofício de conduzir recados, mensagens e outros afins do gênero no REAA é do Mestre de Cerimônias, nunca os Diáconos. O Mestre de Cerimônias é de fato o imediato do Venerável Mestre.

Desse modo, reitera-se que no REAA os Diáconos atuam apenas e tão somente na transmissão da palavra que ocorre na abertura e encerramento dos trabalhos. Não são condutores de recados e muito menos formam pálio, até porque esse não existe no REAA.

Ainda no sentido da originalidade, outro procedimento inadequado é a leitura do Salmo 133. Historicamente esse nada tem a ver com o REAA. Nesse sentido, vale destacar que com a evolução dos rituais escoceses na França no final do Século XIX e meados do XX a leitura correta no grau de Aprendiz é em João, 1-5. A prevalência da Luz sobre as trevas é mote do grau de Aprendiz.

Por fim, ao concluir devo salientar que a despeito da existência de enxertos e invencionices, se estes, mesmo que equivocados constarem em um ritual em vigência, obrigatoriamente segue-se o previsto no ritual. É preciso antes corrigir o ritual e não o desrespeitar.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

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