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quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

AS COLUNAS B e J

Paulo Roberto Marinho

Alguns pesquisadores argumentam que as Colunas B e J por serem denominadas “Vestibulares” e, por isto, devem ser instaladas no vestíbulo, ou seja, no Átrio; outros contra-argumentam que não podem ser vestibulares, pois, no Templo de Jerusalém estavam situadas, externamente, à porta do Templo e não no vestíbulo, ou Átrio.

O posicionamento das Colunas “B” e “J” sempre foi motivo de controvérsias, há contradição entre os próprios Rituais das Obediências. Na GLMERJ, no Ritual do Grau de Apr∴Maçom as Colunas estão dispostas no interior do Templo, já nos Rituais dos Grau de Comp∴e de M∴Maçom (novas edições) figuram no Átrio. Podemos notar como trabalham alguns “adequadores” sem espírito de pesquisas – não pesquisam sequer o próprio Ritual que alteram –; não se dão ao trabalho de antes de alterar a figura do Plano do Templo, pondo as Colunas no Átrio, lerem as instruções de Circulação em Loja do mesmo Ritual:

“O Obreiro circulando em Templo nunca deve passar por trás dos Pilares J e B, e sim pela frente dos mesmos...”

Ora, como poderia o Obreiro circular, em Templo, por trás dos Pilares estando estes no Átrio?

As Colunas B e J não têm, nem tiveram nos “tempos bíblica” função de sustentação; são colunas decorativas, por isto, o que importa é sua representação – alegorias contidas nas instruções de cada Grau –, suas referências simbólicas. O Templo Maçônico não é, e nunca foi, como muitos insistem em “arraigar” nas mentes dos Aprendizes, réplica do Templo de Salomão. As reuniões de nossos antigos Irmãos, no período de transição da Maçonaria operativa para a dos Aceitos ou Especulativa, eram realizadas nas Tabernas e nos Átrios das Igrejas. Os primeiros Templos Maçônicos foram construídos na Inglaterra, no século XVIII, como já dissemos antes, por projetos inspirados nas arquiteturas dos prédios públicos da época, principalmente, dos Templos Anglicanos e o do Parlamento Britânico. Destes se originam o Átrio, o Mosaico, as Colunas, etc., Inclusive a Sala dos Passos Perdidos copiada do Parlamento e, até os dias de hoje existe e assim denominada. Os Templos maçônicos atuais, do R:.E:.A:.A:. representam a terra e o universo, e, isso é claramente visível: a Abóbada Celeste, as Colunas Zodiacais, o Norte, o Sul, o Oriente, o Ocidente, o Zênite e o Nadir. (Ver na quinta instrução do Grau 1 da GLMERJ – o primeiro diálogo entre o Ven∴ e o 1o Vig∴)

Nesta concepção as Colunas “B” e “J” representam os pontos solsticiais; alinhadas ao eixo do Templo definem as paralelas que se estendem e alcançam o Sol no Oriente; os trópicos de câncer e de capricórnio (ver sexta instrução do Grau 1); estão inseparavelmente ligadas ao Zodíaco que ornamenta as 12 Colunas ao norte e ao sul do Templo; integram as alegorias que contemplam as instruções de cada Grau, como as Colunas de fogo e nuvens que guiava e protegia o povo hebreu na fuga do Egito e da ira do Faraó. No interior do Templo as Colunas preponderam; estão sempre “vivas” e ativas no simbolismo e analogias. Isoladas do Templo, não aludem quaisquer representações – ligações simbólicas ou alegóricas relacionadas ao Átrio ou ao exterior – estão solitárias não refletem “Estabilidade e Firmeza”, “Força e Apoio”.

Diga-se a bem da verdade que não há nas escrituras sagradas das religiões, ligadas ao simbolismo hebraico, referências a esferas representando o mapa do “Globo Terrestre” e do “Globo Celeste” encimando as Colunas “B” e “J”. Estas esferas existem, no Painel do Grau de Comp∴Maçom, por criatividade alegórica de nossos Irmãos dos tempos em que os Painéis eram desenhados no chão – hábito de desenhar a Loja – e a lenda do Templo ainda não fazia parte dos Ritos que praticavam. O primeiro globo terrestre foi construído em 1492.

“...Na Mina, conheceu Martim Behaim, geógrafo que acompanhara a expedição de Diogo Cão e que em 1492 concluiria um grandioso projeto: a fabricação do primeiro globo terrestre, reformulando as idéias de Ptolomeu”. (Eduardo Bueno - A Viagem do Descobrimento - Editora Objetiva).

Nos Rituais passados, há relatos que segundo as tradições maçônicas as Colunas eram ocas para que ali fossem guardados as ferramentas e os tesouros dos Aprendizes e Companheiros, porém, algumas Obediências acrescentaram- lhes a qualidade de Maçom registram: Aprendizes MAÇONS e Companheiros MAÇONS, tal como Adonhiram, que no Ritual de Instalação recebe, do mesmo modo, o tratamento de Mestre MAÇOM. As Lendas das antigas civilizações, nas quais a Maçonaria espelha sua doutrina, seus Mistérios e sua filosofia, por lendas, não têm nenhum compromisso com verdades históricas. As lendas maçônicas, fundamentadas naquelas, são episódios adaptados pela imaginação para gerar as alegorias de cunho moral e filosófico, engendra o sincretismo didático maçônico.

“... Nada, historicamente, autoriza a hipótese de uma divisão de Obreiros, durante a construção do Templo de Jerusalém, o primeiro, o de Salomão; esta lenda é mais medieval, com base nas corporações de Ofício da Idade Média, as quais, essas sim, possuíam essa divisão”. (Frederico G. Costa e José Castellani - Manual do Rito Moderno - Editora ATrolha). 

As mentes mais ávidas por grandiosidades maçônicas, e até mesmo, por superestimação e Amor a Ordem, costumam, à revelia, dar veracidade as lendas e converter à Maçonaria seus personagens. Denominar os construtores do primeiro Templo de Jerusalém como Maçons leva a crer que naquela época haveria uma instituição com a denominação de Maçonaria. E isso, dá força à imaginação de alguns Maçons que adoram antiquar a Ordem aos tempos de Cristo, Noé e até mesmo Adão, desacreditando a Maçonaria e os Maçons perante a comunidade literária universal à luz da história da humanidade. Na remota antiguidade encontramos associações semelhantes à Maçonaria onde a mesma filosofia era ministrada a seus adeptos. Entretanto, se confundirmos os títulos maçônicos com a filosofia maçônica, e procurarmos a origem desses títulos em sua forma atual, somente as encontraremos após o século X, ou seja, distantes 1900 anos da construção do Templo.

Do Ritual da Grande Loja do Rio de Janeiro, editado na década de 60, transcrevemos sintetizada a seguir, a narrativa sobre a Origem da Maçonaria, história aceita pela maioria dos pesquisadores maçônicos como a mais próxima da verdade:

“... Desde os primeiros dias o povo romano distinguiu-se por seu ativo espírito colonizador, e logo que suas legiões dominaram os povos semi-bárbaros da Espanha, Gália, Alemanha e Bretanha, eles, aí, deram início ao estabelecimento de colônias e edificaram cidades. Cada legião que era enviada à conquista de novas terras, levava uma sociedade do grande corpo de Roma, que marchava e acampava com a tropa e, quando era fundada uma colônia, nela ficava para cultivar as sementes da civilização romana, inculcar os princípios das artes romanas e construir templos às divindades e casas e acomodações para os habitantes... Os descendentes dos antigos colégios romanos estabeleceram escolas de arquitetura e ensinaram a arte dos construtores entre os povos libertos ... Dessa escola saíram os construtores que naquele tempo eram conhecidos como Francomaçons e que do X ao XVI século, percorreram toda a Europa”.

Vi Fonte: Revista Arte Real nº 07

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