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domingo, 16 de junho de 2024

O PROCESSO INICIÁTICO MAÇÔNICO

Rui Bandeira
Os maçons não discutem Religião em Loja. No entanto, na Maçonaria Regular, apenas são admitidos maçons homens livres e de bons costumes, sendo um desses, obrigatoriamente, a crença num Criador.

Para a Maçonaria e para os maçons, é absolutamente indiferente que nome cada um dá à Divindade em que crê: Deus, Jeovah, Alá (aliás, consabidamente, três nomes para a mesma Entidade), Brahma ou Tao. O que importa é a real existência da crença, porquanto só a partir dela e com ela se pode percorrer o caminho esotérico que leva ao aperfeiçoamento espiritual individual, segundo o método maçónico de confrontação, percepção e estudo dos símbolos e utilização da sua compreensão como bases ou patamares sucessivos para a compreensão de realidades e conceitos sucessivamente mais complexos, na busca da Luz, ou seja, a compreensão do Divino e, assim, do significado da Vida e da Morte física, do nosso papel no Mundo e na Criação, da nossa relação com o Criador.

O processo iniciático maçónico aglutina, assim, a Crença e a Razão, o Conhecimento Empírico e a Experimentação, a Observação e a Especulação, e é um processo sempre individualmente realizado, pelos caminhos e pela forma de cada um, segundo as suas capacidades, necessidades e disponibilidade, mas também sempre com o auxílio, a força, a cumplicidade, a disponibilidade do grupo em que se insere, a Loja.

Trata-se, assim, de um processo simultaneamente baseado na Crença e na Razão, no individual e no coletivo, que conduz ao aperfeiçoamento espiritual e, por via dele, ao aperfeiçoamento moral e social.

Pela sua natureza e pela complexidade dos conceitos a intuir, muitas vezes mais do que compreender, é um processo demorado e, sobretudo, em que não é realmente possível queimar etapas. Cada passo é essencial para pisar terreno que permita o passo seguinte. Pretender saltar ou efetuar acrobacias, ainda que vistosas, só tem como resultado a queda no abismo do Erro, conducente ao vale da Ignorância.

Em Maçonaria nada se diz, nada se ensina, tudo se sugere, tudo se simboliza, assim tudo se aprende, cada um segundo a sua real necessidade e através das suas capacidades. E assim cada um segue o seu caminho, este intuindo isto, aquele algo de diverso, como peregrinos que vão fazendo cada um o seu caminho, embora todos desejando chegar ao mesmo santuário. O grupo, a Loja, fornece a cada um a escolha dos meios de transporte, aponta a direção, ajuda a organizar a jornada, mas é exclusivamente a cada um que cabe escolher o seu caminho – se é que porventura não será o Caminho que se abre a cada um…

Cada um estará no seu estágio de aperfeiçoamento e seguirá no seu ritmo. Simbolicamente (cá está, em Maçonaria o símbolo é – quase – tudo!), cada um se situa em graus de evolução diferentes, uns ainda Aprendizes, outros Companheiros, outros já Mestres. Os Aprendizes ainda dependem, quase totalmente, do apoio e suporte da Loja, pois ainda estão a procurar reconhecer o mapa, a procurar descobrir a direção, a aprender a ler os sinais indicadores e a reconhecer os enganos. Os Companheiros já sabem para onde querem ir, que direção seguir, mas dependem do auxílio dos mais experientes para decidir quais os percursos que mais lhes convêm e como os percorrer. Os Mestres, esses, já conseguem saber, por si, como e quando e por onde devem prosseguir sua caminhada, já conseguirão corrigir erro na determinação da via e têm capacidade para retomar sua orientação. Mas sempre verão com satisfação o auxílio de seus Irmãos na busca que realizam, ao mesmo tempo que cumprem seu dever de auxiliar e orientar todos os seus Irmãos, qualquer que seja o seu Grau ou Qualidade.

Não nos enganemos, porém: o grau “administrativo” que cada Loja atribui a cada um de seus Obreiros é apenas simbólico, ilustrativo. 

Por se ser Mestre de uma Loja, não se quer dizer que se seja realmente Mestre no Caminho Iniciático Maçônico. E alguns Aprendizes ou Companheiros de Loja sinto que percorrem bem mais seguramente seu caminho do que alguns Mestres como tal definidos na Loja…

Grande erro seria confundir o Grau que ao maçom é “administrativamente” atribuído em Loja (afinal dependendo do decurso do tempo, temperado com alguma assiduidade e a execução de alguns trabalhos não demasiadamente exigentes…) com o grau de evolução que realmente esse maçom apresenta: afinal seria cometer o erro mais básico que o mais jovem Aprendiz pode cometer (e que, naturalmente, é normal e expectável que cometa), o de confundir o Símbolo com a Realidade que esse símbolo simultaneamente oculta e revela!

Resumindo: ser maçom não é só reunir em Loja, usar avental e luvas brancas, ter preocupações sociais e tratar os demais como e por Irmãos; é, claro, também tudo isso, mas é muito mais do que isso, é percorrer o tal caminho, buscar, pelo seu modo e a seu jeito, a sua Luz, assim, a pouco e pouco, se reconciliando com a Vida e, sobretudo, com a inevitabilidade da Morte física. Não será exatamente, como escreveu Camões, se ir “das leis da Morte libertando”, mas talvez esse percurso permita, em paz conosco e com tudo o que nos rodeia, libertarmo-nos do medo da dita.

A cada um que foi iniciado maçom foi reconhecido por uma Loja maçónica a capacidade, a virtualidade, a potencialidade, para seguir esta via iniciática, através do método maçónico.

Se o fará ou não, é com cada um. Se o quiser fazer, quando o fará, ainda é com cada qual. Uma Loja maçónica é, antes do mais, um espaço de liberdade (“um Maçom livre, numa Loja livre” é um inalienável princípio básico na Maçonaria) e apenas disponibiliza o seu auxílio, nada impõe, a ninguém critica.

Mas, pelo menos, vai sempre lembrando, para que cada um possa ouvir quando quiser ouvir, entender quando puder entender, aceitar quando lhe apetecer aceitar, que (sempre!) o Caminho faz-se caminhando.

Fonte: https://opontodentrocirculo.com

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