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sábado, 24 de agosto de 2024

CADEIA DE UNIÃO

Ir∴ Luiz Clóvis da Silva Grassi

Em diversos Ritos, forma-se a Cadeia de União, geralmente, ao final dos trabalhos, em loja; no Rito Escocês Antigo e Aceito em todos os 33 Graus essa formação assume aspectos muito sutis que merecem ser estudados. 


A formação da Cadeia de União constitui-se num coroamento de uma proveitosa sessão em loja, pois, o Círculo que se forma, dando-se as mãos os irmãos, com os braços cruzados, direito sobre o esquerdo. Seus pés em esquadria tocam pelas pontas os dos irmãos aos lados, enquanto os seus calcanhares se mantém unidos. Conforma-se assim, vivamente, a corda de 81 nós (braços) e a orla dentada (pés). È um ato litúrgico dos mais belos. 


Como tudo, o seu êxito no sentido estético e esotérico, está na dependência do comando; o Venerável Mestre é que lhe poderá imprimir maior ou menor misticismo. 


Quando a Cadeia de União se forma, simplesmente, como um ato rotineiro para a transmissão da Palavra Semestral", evidentemente, não passará de um alongamento da sessão. 


A MEDITAÇÃO    


Quando reduzimos um pensamento a um estado muito sutil, ele fica consideravelmente mais poderoso do que quando antes no plano grosseiro da mente. Quando o pensamento está preste a desaparecer no seu estado mais sutil, a "força-pensamento" criada chega a um máximo. 


Assim, quando um pensamento é "reduzido" durante a meditação, o efeito aumenta. O valor da meditação está em "reduzir" o pensamento até que ele seja reduzido ao nada. Passamos a perceber o nosso interior, sendo que, para ver o mundo externo, valemo-nos dos olhos normais, de um dos cinco sentidos do corpo; para "ver" o mundo sutil, valemo-nos da "terceira visão", dos sentidos da percepção interna. 


A percepção para o exterior depende energias a em direção para o interior, acumula energias. A percepção para dentro ou para o interior resulta da diminuição das atividades de nosso sistema nervoso, gradativamente, até a sua paralisação completa, até encontrar um estado maravilhoso de silêncio.


A atividade mental é reduzida ao descanso total, ao "ponto de agulha". Ponto que se situa na fonte do pensamento que é cósmica e pura, chegando ao "centro da vida", que é a Divindade em nós. 


É evidente que a "meditação" instantânea e mesmo fugaz, tem seu fim e nós voltamos à realidade, trazendo conosco os resultados do mergulho dado, da viagem percorrida. A mente humana quando retorna, vem banhada de Luz porque esteve em contato com Deus. Sim, um Deus dentro de nós. 


Quando acontece à volta para a realidade, o mundo já se faz notar como "ser", e nós passamos a amar o mundo, a respeitar a Natureza, a admirar a obra da Criação e desejamos um mundo melhor para os nossos semelhantes. O mundo será melhor porque nós estamos melhorando. 


Sentiremos uma inclinação mais acentuada para as coisas do Espírito, buscaremos meditar em outras oportunidades e retornarmos àquele "contato" que nos deu tanta felicidade. 


A PERMUTA DENTRO DA CADEIA DE UNIÃO 


O corpo humano através de seu sistema nervoso registra as excitações que lhe vêm do mundo exterior; os seus órgãos e os seus músculos dão a estas a resposta apropriada. 


É tanto com a sua consciência como com o seu corpo que o homem luta pela existência. 


Este seria o homem "receptivo", ao seu lado existirá um corpo "doador". 


Não haveria "receptividade" sem "doação". 


A união dessas duas forças completam o ciclo da Natureza e nada mais adequado e importante, que ser feita a "troca" dentro da Cadeia de União. 


O corpo humano, unido em Cadeia de União submete-se a uma constante troca através das excitações dos toques, os quais são produzidos pelas mãos e pelos pés. Contudo dada à aproximação dos corpos, surgem outros toques, como as ondas sonoras (que materializam) que atingem os pavilhões auriculares e tantas células nervosas que tem a faculdade de "capturar" a curta ou longa distância, essas "doações", ou emissões. 


"Recepções" e "doações" não passam de "permutas" havendo, após determinado lapso de tempo, e uniformidade de respiração, um perfeito equilíbrio. Ninguém terá mais a "dar" nem a "receber", haverá uma só identidade. É a "vida em união" Do Salmista, ou a compreensão exata das palavras do Divino Mestre: "Eu e o Pai, somos UM". 


São os "vasos comunicantes", sendo os condutores, as mãos que se firmam num estreitamento fraterno. 


As "permutas" não são meramente psicológicas; elas têm conteúdo físico, pois a energia que se desprende das mãos, chega a produzir calor.


As mãos unidas permitem que a energia vital circule por todos como "baterias" ligadas em série. As mais carregadas cedem parte de sua energia excedente que se acumulará nas mais carentes. Estabelece-se assim um equilíbrio energético entre os obreiros, num exercício de caridade interna. Por se comportar como um circuito transferidor de energias vitais é que a Cadeia de União é desfeita bruscamente, de forma que se evite romper o equilíbrio estabelecido. A Cadeia de União é, pois, antes de tudo um gesto de fraternidade, comunhão e caridade.

Na Cadeia de União o efeito desejado será a "paz interior", maior "criatividade", maior "sabedoria", maior "polidez da vida" e a integração de valores, em todos os campos da existência. 


Este efeito de aumentar a paz interior e ter sucesso externo com toda a harmonia é adquirido pelo efeito de um som especial próprio para o momento em que irmãos se unem, para como se fossem "UM SÓ" e receberem o "som" que um "Poder Superior" fornece. Esse "poder Superior", no sentido hierárquico. 


O SOM


O Som é um elemento que conduz por caminho natural e suave, à meditação. O "som" enquanto se forma a Cadeia de União, adquire importância relevante e total. 


Por isto faz-se necessário muito cuidado na programação do fundo musical. 


Música jovem, clássica, de câmara, popular, folclórica ou qualquer outra, primitiva ou requintada, tudo será válido, uma vez que produza efeitos necessários para a "comunhão" que há de realizar, no cruzamento dos braços e na união das mentes. 


A LUMINOSIDADE 


Para que possa existir um ambiente propício a meditação e à realização da "Cadeia de União", torna-se recomendável à luminosidade do recinto, no caso, do próprio Templo. Muitas Lojas usam tão somente a luz dos três candelabros de vela; outras adotam a luz de uma pira que arde, alimentada a álcool; lâmpada votiva alimentada a azeite; luz elétrica; nada é estabelecido por regras rígidas. 


O PERFUME 


O terceiro elemento é o "perfume". Poderá parecer tarefa singela, especialmente, seguindo o uso já consagrado de ser "acendido" um defumador. 


Posto o incenso não seja propriamente de uso básico em Maçonaria, a sua queima obedece à tradição esotérica milenar. Todos os povos em suas cerimônias religiosas usaram e continuam a usar substâncias aromáticas, a guiza de perfume em seus cultos. 


A Maçonaria por sua vez, não poderia apresentar-se como exceção; sempre o usou e continua a fazê-lo. 


A melhor das fontes escritas e a mais antiga que temos e que com extrema facilidade todos podem consultá-la, é sem dúvida a História Sagrada, ou Bíblia. 


Esse "passado" está a nos comprovar que tanto no culto missal da Igreja Católica como na Liturgia Maçônica, o "incenso", atua como "inebriante" condutor à meditação. 


A verdade é que, para a formação da Cadeia de União, a queima do incenso é recomendável pelos "efeitos" que causa. 


A POSTURA 


A formação da Cadeia de União exige a postura dos seus "elos", obediente às forças físicas que desprende. 


Os pés formando esquadria, com os calcanhares unidos e as pontas tocando as do irmão que lhe está ao lado. 


Os braços cruzados, passando o direito sobre o esquerdo de modo que a mão direita de um, aperte a esquerda de outro. 


As mentes unidas através de um só pensamento são os três pontos de comunicação "". 


A respiração uniforme, e a magia do "som", fará com que a cadeia se transforme em um "só corpo", e por instantes, "circulará" a vida de cada um na vida do irmão que está ao seu lado; será a verdadeira e mística união. 


Os benefícios da Cadeia de União são notados pelo progresso da Loja, pela harmonia de conduta e pela satisfação advinda. 


A Maçonaria, além da parte mística que oferece, é a união de Irmãos predispostos a valorizar a criatura humana, para que ela possa se sentir feliz, dentro de um Mundo cada vez mais complexo. 


Formar a Cadeia de União, apenas, semestralmente, com a finalidade de transmitir a "Palavra Semestral" seria proporcionar ao Membro de uma Loja, escassa atividade espiritual, restringir ao máximo o direito que todos adquirem de usufruir da "força" que representa a "União em Cadeia", do benefício da meditação e do fortalecimento íntimo através da Paz. 


CONCLUSÃO


Adaptado do texto do Ir∴ Rizzardo da Camino 


Na Cadeia de União não existe um elo maior que outro, porque na Instituição Fraternal não cabem hierarquias nem proeminências; todos são iguais no direito, todos estão obrigados ao cumprimento de idênticos deveres. Não existe diferença em sua configuração, porque todos os seres humanos são igualmente frágeis e imperfeitos, nem pode ser de metais variados, porque estão todos do mesmo modo sujeitos a dor, a desgraça, a fraqueza, e fatalmente condenados à obra destruidora dos anos e da inevitável decomposição da matéria no seio da morte. 


A Cadeia de União simboliza a igualdade mais estrita e a fraternidade mais pura, se estende do Oriente ao Ocidente e do Norte ao Sul do Templo, da mesma forma como o princípio da civilização se estende por todo o Mundo. 


Ela recorda que são verdadeiros Irmãos todos os Maçons que povoam a Terra. Ela adverte que a Instituição, maior que as religiões, mais justa que os idiomas, abraça todo o Mundo conhecido, unindo com ramos de flores, raças, povos, nações e continentes. 


A Cadeia de União é universal e eterna, como eternos e universais são o amor, a bondade, o progresso e a justiça; que todos os seres humanos, agora e sempre, se unam e se abracem constituindo uma só Cadeia de União interminável, envolvendo toda a esfera do mundo habitado!

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