Páginas

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

MAÇONARIA E POLÍTICA

J. Filardo M⸫ M⸫

Primeiro é preciso dizer que a Maçonaria pretende ser um ponto de reunião de pessoas (homens, no caso da maçonaria conservadora ou homens e mulheres no caso da Maçonaria Liberal) que comungam de uma série de princípios e que se consideram iguais.

A Maçonaria Conservadora (a mais antiga e tradicional) exige como condição absoluta a crença em um princípio criador, uma esfera sobrenatural além da mera humanidade. Alguns maçons não conseguem imaginar essa esfera e terminam por identificá-la com a divindade mais usual, o Deus dos católicos, por exemplo. Mas, não é isso que preconiza a Maçonaria. O GADU é um princípio sobrenatural, não uma entidade divina.

A proposta é que dentro da maçonaria a pessoa consiga chegar à religião em que todos concordam: não fazer aos outros o que não se quer que lhes façam.

A Maçonaria nasceu política no Século XVII. Ela era composta de pessoas interessadas em assuntos esotéricos (alquimia, hermetismo, cabala) que suportavam o pretendente ao trono inglês, James VI, católico e seus descendentes.

Quando um rei protestante usurpou o trono inglês, as lojas escocesas se colocaram no campo do pretendente católico ao trono. Como reação a esse suporte, os maçons que apoiavam o usurpador criaram outra maçonaria protestante, por meio da fundação da Grande Loja de Londres de 1717 e estabeleceram uma regra de proibição de discussão sobre política e religião nas suas lojas, vez que esses dois assuntos eram o grande problema daquele momento. E falsificaram a história para que essa fundação de apoio à usurpação fosse considerada a fundação da Maçonaria, como se ela não existisse antes dela.

Mas, por comodismo ou pelo potencial divisivo desses assuntos em loja, a maioria das instituições maçônicas consagrou esse procedimento proibitório. Nas lojas conservadoras não se discute política e religião, ao passo que nas lojas progressistas discute-se tudo, sem limitação.

Também, jamais existiu uma diretiva ou mesmo uma recomendação de discriminação de candidatos de esquerda ou direita. O que acaba acontecendo é que maçons de direita atraem candidatos de direita, e a loja acaba tendendo para a direita e vice-versa. Mas a Maçonaria não existe para defender este ou aquele deus ou combater esta ou aquela ideologia.

Também a tolerância não é um dos valores caros da Maçonaria. Essa é outra confusão que maçons ignorantes fazem. Recomenda-se o RESPEITO. Tolerância é um valor muito negativo, pois enfraquece o tecido social, ao passo que respeito coloca as pessoas em igualdade de condição.

É preciso, entretanto, que se localize a Maçonaria na história e na civilização ocidental. Ela é uma instituição burguesa, sem dúvida. Herdou o dístico da revolução francesa “Liberdade Igualdade, ou Morte”, que se transformou em Liberdade Igualdade e Fraternidade. Tudo isso em um sentido liberal. Sua tendência é de adotar valores burgueses, e os burgueses temem aquelas ideologias que os ameaçam. Consequentemente, os maçons que não entenderam bem os princípios da Ordem acabam confundindo alhos com bugalhos e começam a falar bobagens como “Maçom tem que acreditar em Deus.” “Maçom não pode ser de esquerda.” “Maçonaria e política não se misturam.”

Assim, no Brasil onde a Maçonaria envolveu-se em política desde o primeiro instante de sua existência e acabou afastando-se (mais ou menos) da política devido à dificuldade que a ação política apresenta, ou seja, por comodismo, medo ou simplesmente má fé. E provocou uma condição interessante: a sociedade enxerga a Maçonaria como intervencionista, influente na política, que consegue transformar a sociedade.

Mas, os regulamentos da Maçonaria pretendem que ela seja apenas uma escola de cidadania, sem se imiscuir na política da sociedade, e muitas lojas, por comodismo, seguem essa orientação e o candidato que foi atraído pela imagem de instituição poderosa e influente e ativa, quando é aceito e constata a inação e incompetência da Maçonaria em liderar as mudanças urgentes necessárias, ele se decepciona e quase sempre abandona as fileiras.

A Maçonaria não é uma instituição política. Seus membros podem ou não ser políticos, mas um homem não politizado não é realmente um cidadão, e a maçonaria quer cidadãos conscientes, trabalhando em conjunto, pelo bem do povo (não só do 3%), com uma visão humanista.

O maçom tem que se posicionar diante da injustiça, combatendo-a. Não tem que tolerar nada, deve respeitar a opinião alheia e combater o erro dentro de suas possibilidades. Os princípios que ela inculca em seus membros são incompatíveis com o fascismo, com o imperialismo e a opressão venha de onde vir.

A instituição, representada por Grandes lojas ou Grandes orientes não pode assumir, como tal, uma posição, pois ela tem em seu interior pessoas livres de diferentes tendências e opiniões, MAS ela não impede que seus membros atuem na sociedade segundo os melhores princípios de civilização e humanidade.

Ao contrário, é isso que ela espera de cada maçom.

Nenhum comentário:

Postar um comentário