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terça-feira, 27 de agosto de 2024

POSIÇÃO DOS PÉS EM ESQ∴ NO REAA

Em 18/11/2023 um Respeitável Irmão de uma Loja do REAA, GOB-SP, Oriente de São Paulo, Capital, apresentou a dúvida seguinte.


POSIÇÃO – PÉS EM ESQ∴

Por gentileza, peço um esclarecimento sobre a alteração no sinal de ordem do Aprendiz, quanto ao posicionamento dos pés, bem como na marcha.

Na minha Loja se está discutindo muito isso, e querem saber de onde e quando tem essa orientação que os pés devem seguir a posição oblíqua do pavimento mosaico, pois todo o conhecimento que se temos desde sempre, e em todos os lugares do mundo em que irmãos da Loja já visitaram, a posição dos pés é apontado para a frente e o outro em esquadria para a lateral.

Peço ao Irmão essas informações para entendermos e sanarmos as dúvidas dos irmãos.

Em tempo, sito que muitos irmãos bem antigos de Ordem e estudiosos, estão relutantes a essa modificação, e não encontram justificativa para isso.

Se o Irmão puder esclarecer, agradecemos imensamente.

CONSIDERAÇÕES:

Os pés em esquadria, dispostos naturalmente sobre o pavimento - e não andando de lado – tem como referência a disposição do Pav∴ Mos∴, de aparência oblíqua no REAA. Deste modo, segue-se as orientações previstas no SOR – Sistema de Orientação Ritualística oficial do GOB.

No tocante às discussões sobre o tema, entende-se como natural a relutância de alguns Irmãos, já que a grande maioria, inclusive este que vos escreve, aprendeu errado em rituais anacrônicos, principalmente no Brasil, que tem a característica de misturar várias vezes em um rito, práticas e procedimentos de outros ritos. Infelizmente estes desacertos acabam se consagrando pela insistência da sua aplicação, ao ponto de enfrentar levantes de satisfeitos que não admitem “correções”.

Apontar o pé esquerdo para frente não é prática original do REAA, pois tal como os “Antigos” de 1751 (vide a história dos Modernos e Antigos), o ritual de 1804 (o primeiro para o simbolismo do REAA) trazia, no trato dos passos sobre o Pav∴, a simples orientação de que eles eram oito passos normais para frente – observe-se que naquela época não havia ainda a marcha separada por grau.

No que diz respeito à disposição natural dos ppas∴ e dos pp∴ em esq∴, aberta para a frente, é porque se seguem os costumes revelados na exposure “The Three Distinct Knocks”, uma revelação datada de 1760 atinente à Grande Loja dos Antigos de 1751 na Inglaterra. É oportuno salientar que esta revelação (exposure) foi uma das referências para a construção do primeiro ritual do simbolismo do REAA na França em 1804. Neste pormenor, sugere-se o estudo da história das revelações (traições), denominadas genericamente mais tarde pelos pesquisadores como “obras espúrias” – vide, como exemplo, Masonry Dissected, Samuel Pritchard, 1730 e A Ordem dos Franco-maçons Traída, Abade Perau, França, século XVIII, duas das principais “revelações” de época, na Inglaterra e na França.

Ainda em relação aos ppas∴ e a posição dos pp∴, de acordo com os costumes dos autodenominados “Antigos”, o p∴ e∴, ou d∴, não fica apontado para a frente. Esta característica pode ser aferida em se observando como se faz o Pas∴ Reg∴ da Maçonaria inglesa, que por circunstâncias históricas acabou também influenciando a vertente escocesista da Maçonaria francesa.

Já a outra vertente francesa, aquela implantada pelos Modernos ingleses e que deu base à construção do Rito Moderno, e por extensão ao Rito Adonhiramita, também, se diferenciou dos “Antigos” neste particular por dar os ppas∴ do grau com os pp∴ apontados para a frente. Sobre esta história, sugere-se o estudo dos Modernos e Antigos da Maçonaria inglesa, a implantação da Maçonaria na França no século XVIII pelos ingleses e as duas vertentes francesas, a dos stuartistas e a dos modernos.

No tocante à evolução dos rituais do REAA, pós Lojas Capitulares, dentre outros, o rito também adotou um Pav∴ Mos∴ como um dos ornamentos da Loja. Todavia, diferente do Pav∴ construído com um tabuleiro de xadrez e era normalmente representado por um tapete quadriculado ao centro da Loja, o do REAA ocupava todo o Ocidente, e tinha seus quadrados brancos e pretos dispostos de moto oblíquo.

Foi desta forma que o Pav∴ Mos∴ se consagrou na decoração da Loja no escocesismo simbólico, mantendo-o até os dias atuais A sua disposição oblíqua justifica-se porque cada um dos quadrados, branco ou preto, fixados em diagonal, orientam, sobre o eixo do Templo, os passos nas Marchas de Aprendiz e de Companheiro. Neste caso o Pav∴ Mos∴ serve como referência para a colocação dos pp∴ uunid∴ pelos ccalc∴ formando uma esq∴ aberta para a frente (a mesma posição do Esq∴ sobre o L∴ da L∴).

NOTA: Autores autênticos e respeitados como Theobaldo Varolli Filho no seu Curso de Maçonaria Simbólica, Tomo I – Editora Gazeta Maçônica, São Paulo, 1971; Renè Joseph Crarlier em seu “Pequeno Ensaio de Maçonaria Simbólica” – Editora Traço, São Paulo, 1961, Joules Boucher, em “La Symbolique Maçonnique”, Dervy-Livres, Paris, 1979, demonstram claramente a posição dos pp∴ em esq∴ aberta para a frente, como deve ser no REAA.

Dito isto, infelizmente aqui no Brasil, por circunstâncias adversas, foram criados muitos rituais do REAA com passagens ritualísticas enxertadas e misturadas com práticas de outros ritos, principalmente dos ritos Moderno e do Adonhiramita e, em alguns casos, também do York (inglês e norte-americano).

Não obstante a isto, em 1927 houve, também, a primeira grande cisão na Maçonaria brasileira, resultando com isto a criação das Grandes Lojas Estaduais brasileiras. Dado a essa ocorrência é que aparece em 1928 outro ritual para o REAA, o qual ficaria conhecido como o “REAA de Béhring”, graças às diferenças ritualísticas oriundas de inserções e acomodações indevidas encontradas nesse ritual. Dentre outros, nele aparece um Pav∴ Mos∴ quadriculado com aparência de um tabuleiro de xadrez, colocado no centro do Ocidente. Deste modo, esta disposição do pavimento fez com que durante a marcha o p∴ e∴ se ajustasse ao tabuleiro de xadrez, ficando, desta forma, o p∴ apontado para a frente, tal como fazem os maçons do rito Moderno e do Adonhiramita.

Desta maneira, tudo ao melhor gosto do "achismo", mais uma vez o REAA foi contemplado com práticas alheias à sua originalidade. Como uma “colcha de retalhos”, lhe dão suporte determinados rituais anacrônicos, os mesmos que geralmente os “estudiosos” os têm como corretos verdadeiros.

Assim, à vista de tudo o que foi até aqui comentado, o GOB não está "mudando" nada, porém está tentando voltar à autenticidade de Rituais que se banham em água limpa.

Quanto aos Irmãos que viajaram até a Europa e lá viram o “pé apontado para a frente”, me atrevo a garantir que isso não é original no REAA, a despeito de que por lá também existem muitos erros, principalmente nos redutos maçônicos latinos.

Ao contrário de que no "mundo inteiro se faz assim”, não me parece que esta seja uma afirmativa sustentável ao crivo de uma pesquisa desapaixonada.

Enfim, é bom alertar que existem pelo Mundo muitos rituais anacrônicos que foram construídos sobre vícios e invenções ritualísticas. Seus conteúdos são nocivos e agridem, muitas vezes, razão e a ordem doutrinária.

Os rituais primitivos do REAA para o seu simbolismo foram construídos na França a partir de 1804 e aperfeiçoados ao longo do século XIX até meados do XX. Ainda no século XIX o REAA passou no Grande Oriente da França pelas vicissitudes capitulares, em um outro importante período da sua história. Inegavelmente, isso também serviu como interferência no desenvolvimento da sua liturgia, portanto, também é preciso se levar em conta este acontecimento – Lojas Capitulares e o Grande Oriente da França no século XIX.

O REAA é um rito deísta de origem francesa, mas que possui forte influência da Maçonaria anglo-saxônica (teísta), tudo graças ao suporte que lhe foi dado pela exposure "As Três Pancadas Distintas" quando da construção do seu primeiro ritual para o simbolismo. Assim, sugere-se também o estudo dos três documentos básicos que serviram de suporte para a construção do primeiro ritual para o seu simbolismo: As Três Pancadas Distintas (1760), o Regulador do Maçom do Grande Oriente da França (1801) e a Loja Geral Escocesa de Paris, criada em 1804 para gerenciar a construção do 1º Ritual (extinta em 1816).

Mediante a isto e por uma meticulosa observação, é possível se descobrir as inserções temerárias que desfiguraram a autenticidade do ritual, do REAA, notadamente por conta das Lojas Capitulares que foram impostas pelo Grande Oriente da França em 1816. Nesta conjuntura, vale também arrecadar subsídios estudando a história do II Supremo Conselho do REAA, o de Paris.

Por fim, é bom lembrar que originalmente o REAA, conhecido na Europa como Rito Antigo e Aceito, não possuía na arquitetura do seu templo o Oriente elevado e separado. Influenciado pelos Antigos de York, o REAA primitivamente possuía uma sala da Loja muito parecida com a do Craft. Não é à toa que o REAA, rito de origem francesa, até hoje tem o seu 2º Vigilante posicionado, à moda inglesa, no meridiano do Meio-dia.

T.F.A.
PEDRO JUK - SGOR/GOB
jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

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