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terça-feira, 8 de abril de 2025

INTERCÂMBIO MAÇÔNICO

Adriano Ferreira Gazzo 

Um bom costume?

Este breve e despretensioso artigo chega aqui, no imperfeito e impreciso mundo linguístico humano, com o franco propósito de preparar e ousar semear uma ideia no jardim do pátio do vosso Templo Interior. Alguns irmãos, agora mesmo, lendo este texto já poderão – instintivamente – até interromper seu entendimento, algo não benéfico para iniciados e livres pensadores, por precipitadamente avaliarem que se deva exaltar mais a importância da construção do nosso próprio Templo Interior do que empenharmos algum tempo na reflexão do tema aqui proposto. Peço, de qualquer forma, a fraterna confiança de todos vós para perseverarem, a despeito da cada vez mais comum escassez temporal, imposta pelo mundo profano, até a conclusão da exposição desta estrutura de ideia germinativa e frutífera, uma, quiçá, semente de Luz que em mim ocorreu e deseja chegar até os olhos de vossa benemérita e maçônica compreensão.

Após nascermos aprendizes e recebermos a Verdadeira Luz, de forma semelhante a um bebê humano recém-nascido, tudo nos é estranho: pessoas, palavras, frases, encenações, rituais, cenários, iluminação, paramentos. Serve-nos tal analogia para termos a devida paciência e o devido zelo para com todo neófito, a começar por nós mesmos, enquanto cruzando por essa condição. Quando “tirar de casa e levar o recém-nascido para passear?”

Não nos parece ser sensato, ainda que o contexto possa justificar que, um irmão com poucas sessões em sua Loja, mal começando a digerir os novos e inicialmente complexos conhecimentos ritualísticos de seu Rito, seja já levado por um Mestre Maçom para visitar uma Loja que seja praticante de um Rito diverso do seu. Não se trata de não confiar na capacidade do Neófito, mas, sim, de preservá-lo de uma frustração, uma confusão, por não assimilar todas as informações as quais ele for exposto. Imagine um passeio ao exterior com um ser tão recente?

Cabe aqui uma pequena e adicional reflexão: O quanto os Mestres que apadrinham os candidatos profanos realmente estão preparados, ou renovados em espírito, para abraçar toda a responsabilidade que é garantir e dar a devida atenção ao seu afilhado até que cruze os portais do 1º e do 2º graus simbólicos? Além disso, os Mestres de cada Loja buscam debaterem e instruírem-se sobre a conduta maçônica desejada ao Mestre Padrinho Maçom, dirimindo as dúvidas ou usos e costumes equivocados quanto a isso? Qual o impacto de um Aprendiz ou Companheiro que convida um profano pedindo a um Mestre que seja o padrinho mesmo sem ter analisado profundamente o candidato? Esse mesmo Mestre entende que poderia declinar o convite ou, no caso de aceitar, deveria honrá-lo como se fosse uma decisão própria até esse candidato atingir o mestrado?

Quanto a Lojas que apresentem dilemas, oxalá temporários, tais como um quadro reduzido ou uma baixa frequência dos obreiros, que por vezes inviabilize a execução do Ritual, podem vir a precisar espaçar suas reuniões de semanais para quinzenais, ou até mensais. Talvez um relacionamento distanciado entre as lojas do mesmo Rito ou a falta de abertura e/ou interesse em ouvir e falar sobre a realidade de cada Loja. Não se deve ter qualquer julgamento sobre esses casos específicos, pois é preferível manter os neófitos na presença do Sagrado o máximo possível, para tanto, a visitação oferta uma possibilidade. O que aqui nos propomos refletir, adicionalmente, é se cada Mestre responsável em acompanhar seus Companheiros e seus Aprendizes seguiu algum planejamento para atingir tal objetivo, sem descuidar das necessidades dos Irmãos sob sua tutela:

  • Foi pesquisado, a tempo, qual Loja Simbólica Regular exista, do mesmo Rito, que poderia recebê-los?
  • Caso só haja uma Loja de outro Rito para ser visitada, algum Mestre está apto, ou seja, tem cultura maçônica enriquecida o suficiente para preparar os visitantes basicamente acerca da essência do Rito no Grau proposto?
  • Foi procurado, em um contato prévio, saber da Loja a ser visitada qual será a Ordem do dia/ temática/ instrução a ser abordada, para os Irmãos visitantes entenderem e aproveitarem ainda mais sua noite?
  • Existe o costume, quando haja visitação do irmão menos experiente saber/ ser instruído/ reforçado sobre o básico quanto ao vestuário, paramentos e postura em Templo?

Feita a necessária reflexão, convido o excelso Irmão leitor, que manteve aberto seu entendimento até aqui, para repensarmos quais os benefícios possíveis, para os Irmãos dos diversos Ritos Maçônicos regulares, de cultivarmos o bom costume de entender também, ainda que minimamente, o universo maçônico decifrado por outros ritos, tão belo e tão rico quanto o que percebemos individualmente. Qual palavra teríamos sobre isso para promover o bem do nosso quadro e da Maçonaria em Geral? Seria essa prática algum portal para que seja tão melhor que os Irmãos vivam em uma união mais palpável, mais próxima, mais real?

Uma Maçonaria Universal, mais unida e fortalecida de verdade, poderia elevar a qualidade da sua egrégora ao ter, em cada simbólico jardim templário um espaço, um quinhão de terra fértil para considerarmos o plantio desta semente de nos conhecermos melhor, dando um exemplo energético sutil do que seria o caminho da felicidade social, a qual sairia da teoria filosófica e que começaria na prática entre nós. Tal semente poderia gerar, dentre outras, as plantas e árvores, frondosas e frutíferas, do Amor Fraternal, tão bem simbolizado na “Romã” e “tríplices abraços” do Rito Escocês, no “Cordial Aperto de Mão” do Rito Schröeder, no “Saúde, Força e União” do Ritual de Emulação etc. Imagine se os irmãos que viessem nos visitar se deparassem, antes do ingresso em loja e da abertura da sessão ritualística, com tão belo Jardim, ornado e agradável, com sorrisos sinceros e fluência acolhedora do conhecimento nosso sobre a história e modo de obrar maçonicamente deles? 

Fica o convite ao respeito às diferenças Rituais que existam, bem como ao ato de buscarmos conhecermos “a nós mesmos” enquanto Fraternidade que somos, além do isolado Ser, posto que não se pode amar ao que não se conhece e não se esquecerá daquilo que se ame. Amemo-nos, reconheçamo-nos como Maçons, de fato e que assim possamos viabilizar ainda mais esse Amor Fraternal, do qual tanto se fala. 

Por fim, que nesse Jardim metafórico, ainda que ele, simbolicamente, esteja externo à edificação onde ocorram os trabalhos Ritualísticos de cada Loja, possa ser cultivada a ideia aqui proposta, a qual florescendo frutificará e ornamentará a composição, tanto da nossa Loja e Obreiros, quanto do Templo Interior do próprio Maçom – em eterno aprendizado, atraindo frutos de apoio universal, disponibilidade mútua e visão livre, pensada sobre um todo.

Autor: Adriano Ferreira Gazzo

*Adriano é Conmpanheiro Maçom na B∴A∴R∴L∴S∴ Cidade de Esteio nº 16, n0 Oriente de Esteio-RS, jurisdicionada à M∴R∴G∴L∴M∴E∴R∴G∴S∴

Fonte: opontodentrodocirculo.com.br

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