Paulo Jorge Costa, C∴M∴
A∴R∴B∴L∴S∴ União e Silêncio nº 1582
I – INTRODUÇÃO
A origem da palavra ética vem do
grego "ethos", que quer dizer “o modo de ser”, ou “o caráter”. Os
romanos traduziram o "ethos" grego, para latim "mos" (ou no
plural "mores"), que significa costume, hábito, ou regra, de onde
então vem a palavra moral. Tanto "ethos" (caráter) como "mos" (costume)
indicam um tipo de comportamento propriamente humano que não é natural, ou
seja, o homem não nasce com ele como se fosse um instinto, mas que é adquirido
ou conquistado pelo hábito. Portanto, ética e moral, pela própria etimologia,
dizem respeito a uma realidade humana que é construída histórica e socialmente
a partir das relações coletivas dos seres humanos na sociedade onde nascem e
vivem.
Ética é a parte da filosofia que
estuda os valores morais e os princípios ideais da conduta humana. É a ciência
que tem por objeto o estudo científico e filosófico sobre os costumes ou as
ações humanas, ou, em resumo, é o estudo do comportamento moral dos homens em
sociedade.
A ética é um campo de estudo que
busca direcionar as relações entre os seres humanos e seu modo de ser, pensar
e, principalmente, de agir dentro de um determinado contexto: comportamento
ético é aquele que é considerado adequado, correto e permitido por uma
organização.
Uma vez estabelecidos os
princípios éticos que regem os comportamentos dos membros de uma determinada
organização (social, política, profissional ou outras), pode-se então, naquele
contexto, saber e distinguir entre o certo e o errado (o que pode ou não pode
ser feito).
Logo, questões do tipo: “O que é
certo? Qual o meu dever? O que devo fazer?” pertencem exclusivamente ao aspecto
causal da busca do padrão ético e devem levar às respostas: se as ações são
boas, com certeza terão bons efeitos.
A vida humana é essencialmente
convívio. É justamente na convivência, na vida social e comunitária, que o ser
humano se descobre e se realiza enquanto um ser moral e ético. É na relação com
o outro que surgem os problemas e as indagações morais: O que devo fazer? Como
agir em determinadas situações? Como
comportar-me perante o outro? Diante da corrupção e das injustiças, o que
fazer?
Portanto, constantemente no nosso
cotidiano encontramos situações que nos colocam problemas morais. São problemas
práticos e concretos da nossa vida em sociedade, ou seja, problemas que dizem
respeito às nossas decisões, ações, escolhas, e comportamentos, os quais exigem
uma avaliação, um julgamento, um juízo de valor entre o que socialmente é
considerado bom ou mau, justo ou injusto, certo ou errado.
II - A ÉTICA NA MAÇONARIA
Mas, como é falar de ética na
Maçonaria ? A Maçonaria é uma Ordem
Universal, formada por homens de todas as raças, credos e nacionalidades,
acolhidos por iniciação e congregados em lojas, nas quais, por métodos ou meios
racionais, auxiliados por símbolos e alegorias, se estuda e se trabalha para
construção da Sociedade Humana.
A Maçonaria proclama que se deve
lutar pelo princípio da equidade, dando a cada um o que for justo, de acordo
com sua capacidade, obras e méritos, além de considerar o trabalho lícito e
digno como dever primordial do homem.
A ética maçônica tem por
fundamento os conceitos de liberdade, igualdade e fraternidade como máxima no
relacionamento humano, a concretização ou realização dos valores do homem
iniciado maçom e observância das regras morais tradicionais ou inscritas nos
rituais e regulamentos maçônicos.
A Maçonaria não dispõe de um
“Código de Ética” que possa constituir um compromisso de honra para os que
aceitam ingressar em nossa Ordem, e todos sabem que, ao ingressar na Maçonaria,
cada indivíduo traz consigo os valores do seu convívio social, suas concepções
morais e éticas já elaboradas, o que pode provocar na convivência maçônica
comportamentos aéticos, a exemplo das omissões, das disputas pelo poder,
perseguições, malversação dos conhecimentos e da doutrina maçônica, excessos no
uso da inteligência e da desinteligência e as mais variadas formas de
indisciplina e inadaptabilidades às regras maçônicas, causando o
enfraquecimento do sentido de unidade do corpo social.
A singularidade da ética maçônica
nos permite dar um passo à frente. Preliminares do simbolismo e dos
instrumentos maçônicos, as atitudes e os gestos ritualísticos estão a
demonstrar o caminho a ser trilhado pelo maçom. A eles aditem-se, ainda, as
Constituições Gerais da Ordem, os Landmarks, as Leis e Regulamentos específicos
das Lojas. Então, aí temos quase que definidos um conjunto de regras de conduta
válidas para todos os tempos e para todos os homens que adentraram pelos
portais iniciáticos das cerimônias e ritualísticas maçônicas. E é a este
conjunto prático-moral que se submete o maçom, sem muitas reflexões sobre ele.
O problema em sua saga ética e
moral reside, basicamente, no que fazer ou em como se comportar frente a cada
situação concreta do indivíduo na sociedade, se não existe um código de ética
maçônico como escopo social que possa tipificar as condutas e registrar as
violações às regras estabelecidas. É comum que em situação de tomada de
decisão, os indivíduos se defrontem com a necessidade de pautar o seu
comportamento por normas que julgam mais apropriadas ou mais dignas de serem
cumpridas e é aí que as regras maçônicas vão para as laterais das regras
sociais vigentes.
A abordagem de um assunto tão
complexo exige algumas premissas, que, embora verdades incontestáveis, podem
ser, muitas vezes, esquecidas, em benefício de interesses pessoais de momento.
A primeira premissa esclarece que
a Maçonaria é uma fraternidade.
O substantivo fraternidade
designa o parentesco de irmãos, o amor ao próximo, a harmonia, a boa amizade, a
união ou convivência como de irmãos. Isso leva à conclusão de que, na
organização designada genericamente como Maçonaria, definida como uma
fraternidade, deve prevalecer a harmonia e reinar a união e convivência como de
irmãos.
A segunda premissa afirma que a
Maçonaria, como uma fraternidade, deve ser uma instituição fundamentalmente
ética.
O substantivo ética designa a
reflexão filosófica sobre a moralidade, ou seja, sobre as regras e códigos
morais que orientam a conduta humana. Refere-se também à parte da filosofia que
tem por objetivo a elaboração de um sistema de valores e o estabelecimento dos
princípios normativos da conduta humana, segundo esse sistema de valores.
Sendo a Maçonaria, até pela sua
definição, uma organização ética, devem ser rígidos os códigos de moral e alto
o sistema de valores que orientam a conduta entre maçons.
Todos os códigos maçônicos
ressaltam a importância dos valores éticos entre maçons. Isso está bem evidente
em disposições inseridas em textos constitucionais, as quais, com pequenas
variações de Obediência para Obediência, afirmam que, entre outros, são deveres
do maçom:
"Reconhecer como Irmão todo
maçom e prestar-lhe a proteção e ajuda de que necessitar, principalmente contra
as injustiças de que for alvo”;
“Haver-se sempre com probidade,
praticando o bem, a tolerância e a fraternidade humana".
E completam, destacando que:
"Não são permitidas
polêmicas de caráter pessoal nem ataques prejudiciais à reputação de Irmãos,
nem se admite o anonimato".
A ética, todavia, não fica
restrita apenas às relações entre maçons, mas também às destes com as
Obediências que os acolhem, principalmente nas referências a estas, ou aos seus
dirigentes, em textos escritos. Isso está bem caracterizado no dispositivo
legal, que admite ser direito do maçom:
"Publicar artigos, livros,
ou periódicos que não violem o sigilo maçônico nem prejudiquem o bom conceito
do Grande Oriente".
A Maçonaria deve ser exemplo de
moral e de ética. Afinal de contas, ela afirma, em todas as suas Cartas Magnas,
que:
"A Maçonaria pugna pelo
aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade, por meio do
cumprimento inflexível do dever, da prática desinteressada da beneficência e da
investigação constante da verdade. (...) Proclama que os homens são livres e
iguais em direitos e que a tolerância constitui o princípio fundamental nas
relações humanas, para que sejam respeitadas as convicções e a dignidade de
cada um".
Nem sempre, porém, isso acontece.
A Instituição maçônica, doutrinariamente, é perfeita, mas os homens são apenas
perfectíveis. Procuram se aperfeiçoar, mas muitos nem sempre conseguem o seu
intento, mesmo depois de muitos e muitos anos de vida templária, persistindo
nas atitudes aéticas e antiéticas, que lhes enfraquecem o espírito e assolam o
ideal de solidariedade, de moral e de respeito à dignidade humana.
Os ensinamentos maçônicos são
fundamentalmente éticos. A Maçonaria fomenta o desenvolvimento do homem através
do aperfeiçoamento moral.
Quando a Maçonaria utiliza a
Bíblia como sendo o seu Livro da Lei, está implícito que os ensinamentos do
Grande Arquiteto do Universo, que são extremamente éticos devem ser acatados e
praticados por todos os maçons.
Nas Constituições, Estatutos e
Regulamentos Maçônicos, também encontramos postulados éticos que norteiam a
Atitude Maçônica.
A Maçonaria defende, por exemplo,
que um maçom só pode favorecer outro maçom numa situação incontestavelmente
ética. Não podemos favorecer um maçom em detrimento de outra pessoa. Ou seja,
se o mérito for do outro, o direito é do outro. Só em igualdade de condições
podemos favorecer um irmão.
O RGF – Regulamento Geral da
Federação do Grande Oriente do Brasil estabelece, como um dos deveres da Loja:
“Empenhar-se no aperfeiçoamento
dos seus Membros nas áreas de Filosofia, Simbologia, História, Legislação
Maçônica, Ética e Moral e promover o congraçamento familiar maçônico”.
Em muitos outros momentos de seus
rituais, nos vários graus dos estudos maçônicos, são focalizados princípios que
fundamentam a Ética Maçônica: juramentos de aceitação, de obediência e de
sigilo; compromissos de fidelidade, de solidariedade e de ajuda mútua; e tantos
outros, todos com o mesmo escopo: a Maçonaria é uma Escola de Aperfeiçoamento
Moral.
A verdade e a virtude são os dois
pólos de uma única busca que caracteriza a via ética de natureza iniciática.
Adicionalmente, também se pode dizer que a busca da verdade já é uma das
virtudes do maçom. O caminho para a prática da virtude se inicia no rito de
iniciação e se desenvolve através dos trabalhos ritualísticos em Templo. Um
caminho que é gradualmente percorrido na busca do aperfeiçoamento individual,
no qual os princípios éticos devem ser praticados, tanto em Loja quanto no
mundo profano.
Depende da vontade de cada um
praticar a virtude. Para a Maçonaria, a virtude é a disposição habitual para o
bem e para o que é justo e, por isso, nela vê a prova da perfeição e o próprio
ideal do maçom.
Por isso, ela nos ensina, em seus
Rituais, que devemos “levantar templos à virtude e cavar masmorras ao vício”.
A Ética maçônica não reduz a
noção do bem só ao maçom como indivíduo ou aos demais membros da Ordem, mas se
amplia e envolve toda a humanidade. Daí podermos dizer que a maçonaria se
volta, de maneira sempre progressiva, ao bem comum, ao bem concreto, atual e
futuro de todos os homens, independente de quais sejam as suas culturas,
países, etnias ou religiões.
A vida do maçom envolve o seu
trabalho em Loja e a sua atuação no mundo profano, no qual a sua postura deve
ser profundamente ética e tolerante.
III – CONCLUSÃO
Um dos maiores desafios para um
maçom é honrar e representar a instituição no desempenho de suas atividades
como homem, profissional, cidadão e chefe de família, pois deve ser exemplo de
postura ética e moral numa sociedade excessivamente individualista e voraz,
onde o TER a todo momento procura absorver o SER numa luta desigual e numa
competição desenfreada, incompreensível e desumana. Uma sociedade em que
valores familiares nem sempre são considerados, onde a honestidade, a honradez
e a correção de conduta muitas vezes são tidas como práticas ultrapassadas.
Os maçons devem dar exemplos de
moral, de ética e de virtudes. Afinal nossa sublime Instituição afirma ser educativa,
filantrópica e filosófica, que tem por objetivo os aperfeiçoamentos moral,
social e intelectual do Homem por meio do culto inflexível do dever, da prática
desinteressada da beneficência e da investigação constante da verdade.
Há bem pouco tempo, os maiores
inimigos da Maçonaria eram agentes externos. Governos ditatoriais e o clero, de
tempos em tempos, desferiam ataques contra nossa
Instituição. E não podemos dizer que tudo isso passou, pois persistem ataques
da ignorância e do preconceito, somados aí extremistas de algumas crenças, ou
mesmo sem crença nenhuma, que trazem discursos inflamados de ódio contra o
“Demônio”, com quem frequentemente nos relacionam. A multidão que os segue
encontra, em seus templos e livrarias, uma infinidade de livros e artigos que
destilam mortal veneno contra a Maçonaria. Livros esses que podem ser
encontrados até mesmo nas livrarias comuns das grandes cidades.
Mas atualmente, infelizmente, os
mais mortais inimigos da Maçonaria são os próprios maçons. Falo dos maçons mal
selecionados, os não convictos e os despreparados, que trazem perigo constante
à nossa instituição. A falta de estudo e instrução maçônica produz maçons que
desconhecem a Ordem, verdadeiros profanos de avental. O desconhecimento da
filosofia produz a ausência de autodisciplina, dificulta ou impede a reforma
interior. Com isso, prevalecem a vaidade, o orgulho, a arrogância, a
indulgência, a presunção, a preguiça. Alguns maçons se dão ao luxo de
descumprir as Leis e os Regimentos Internos, sem falar no desprezo aos Rituais.
Por esta razão, espera-se que o
maçom reitere seu juramento com sua presença nas reuniões maçônicas e se
dedique, de corpo e alma, não somente ao estudo do simbolismo e da filosofia
maçônica, mas também à prática da moral, da igualdade, da solidariedade humana
e da justiça, em toda a sua plenitude.
Acreditamos que padrões éticos
devem ser restabelecidos rapidamente entre os maçons para que sua influência
possa frutificar. Deve-se começar a falar de ética. Deve-se voltar a estudar e
recuperar o verdadeiro sentido das coisas.
Deve-se, enfim, divulgar pelos
meios disponíveis, mas, sobretudo, cobrar de nossos irmãos em cargos de poder
uma conduta ética que se transforme em exemplo para todos, profanos e
iniciados, e trabalharmos sempre com Amor e Tolerância, e visando ao bem da
Fraternidade.
Este deve ser o modo natural de
agir do maçon, que deve ter nos princípios fundamentais da Ordem, os maiores
princípios éticos que embasam sua conduta diária.
A cada reunião, reafirmamos que
aqui estamos para cavar masmorras ao vício e levantar templos á virtude, e é
isso, verdadeiramente, que chamamos de transformar a pedra bruta em pedra
polida. Nesta luta não há lugar para os fracos. Qualquer que seja nossa luta
interna, enfrentemos e seremos verdadeiramente construtores de um novo mundo.
Finalizo este trabalho,
conclamando todos os irmãos a enfrentar com coragem os desafios cotidianos, a
não esmorecer no empenho da justiça social, reconhecendo em cada pessoa a
dignidade divina.
Fonte: JBNews - Informativo nº
055 - 27/10/2010
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