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sexta-feira, 2 de outubro de 2020

INEXISTÊNCIA DE DEGRAUS NA LOJA DO RITO SCHRÖDER

Em 27/04/2020 o Respeitável Irmão David Lorenzo Sotolepe, Loja Unidade, Justiça e Trabalho, 274, GLMRGS, Rito Schröder, sem mencionar o Oriente, Estado do Rio Grande do Sul, solicita esclarecimentos para o que segue:

DEGRAUS NA LOJA

Lendo seu blog, referente aos degraus, pergunto: Por que o Rito Schröder não tem degraus no Templo?

CONSIDERAÇÕES:

Não há degraus porque essa é uma característica desse Rito. 

Amparado pela simplicidade, não por isso, o Rito Schröder traz profundas lições de humanismo na sua estrutura doutrinária.

Numa síntese da sua história, os seus rituais são oriundos de uma Assembleia que se deu no ano de 1801, constituída por Lojas que compunham a Grande Loja Provincial de Hamburgo. Não obstante a sua ligação com a Primeira Grande Loja de Londres (Modernos de 1717), seus rituais ganharam espaço na Europa, principalmente nas Lojas de língua germânica.

Assim, esses rituais, dos três graus básicos universais (Aprendiz, Companheiro e Mestre), incluindo também a Loja de Mesa e a de Funeral, foram organizados por uma Comissão, cuja direção coube ao Irmão Friedrich Ludwig Schröder, ex-Venerável Mestre da Loja Emanuel Zur Maienblume (Emanuel à Flor de Maio) e Ex-Grão-Mestre Adjunto da Grande Loja de Hamburgo. 

Sendo um maçom de grande prestígio e reconhecidamente um grande conhecedor da história que envolvia antigos rituais da Maçonaria, Schröder estudou a exposure relativa aos autodenominados Antigos de Lawrence Dermott, editada em 1760 com o título de “As Três Pancadas Distintas”. Do mesmo modo assim o fez com A Maçonaria Dissecada, exposure publicada em 1730 escrita por Samuel Prichard. Também perscrutou um Ritual de autoria do maçom Von Grafe. Essas duas últimas referências eram relativas aos costumes do Modernos de 1717 que pertenciam à Primeira Grande Loja em Londres. É provável também que Schröder tenha investigado a revelação (exposure) concernente aos Modernos da Primeira Grande Loja denominada Jakin & Boaz.

Nos seus estudos ele examinou também os graus conhecidos como “graus superiores” que se proliferaram pela Europa, esses provenientes dos Altos Graus do escocesismo instalados na França, principalmente.

Ainda, como nos ensina o saudoso Irmão Rui Jung Neto, Schröder, que emprestaria seu nome ao Rito, por conta das suas pesquisas, concluiu por abolir dos seus rituais todos os “altos graus”. 

Do mesmo modo, erradicou as práticas que se relacionavam com ocultismo e também aquelas revestidas de acentuado misticismo, aspectos que infelizmente povoavam a Maçonaria alemã da época – vide, como exemplos, o Rito da Estrita Observância e a história de Cagliostro (cognome de José Bálsamo), famoso ocultista, charlatão e romântico agitador que deslumbrava a Europa na segunda metade do século XVIII (citação de José Castellani in Liturgia e Ritualística de Aprendiz – em todos os Ritos, página 20)

Com isso, Schröder fez uso - em grande parte - do ritual pertinente à Primeira Grande Loja em Londres (Modernos Ingleses de 1717), fazendo nele adaptações para o idioma germânico, incluindo também aspectos da alta cultura, particularidade bastante acentuada na sua época.

Com isso Friedrich Ludwig Schröder apresentou uma Maçonaria imbuída de união de virtudes e não propriamente uma ordem de aparência esotérica. Destacou o espírito humanista e preservou, sobretudo, os símbolos dentro de uma razão e lógica de que a verdadeira Maçonaria é aquela pertinente aos três primeiros graus simbólicos e praticados nas Lojas de São João. Há que se destacar também que o Rito Schröder é fruto do Século das Luzes, o que lhe dá sobremaneira uma visão humanística e um viés de racionalidade.

Como dito, sua estrutura simbólica fora montada apenas sobre os elementos primordiais para o alcance do objetivo almejado. É especialmente por isso que o Rito Schröder condensa todos os seus elementos simbólicos num tapete que traz sua estrutura iniciática completa. Esse tapete é estendido ao centro do espaço quando a Loja estiver aberta.

Assim, com sua base ritualística estruturada no ritual dos Modernos londrinos de 1717, o Ritual Schröder traz aspectos reformistas sem perder, contudo, as tradições, usos e costumes pertinentes à Sublime Ordem.

Em linhas gerais, atualmente no Brasil as Lojas do Rito Schröder se baseiam nos rituais que foram traduzidos dos originais e revisados pela Loja Absalom Das Três Urtigas, nº 01, em 1960. Essa Loja, Absalom das Três Urtigas, segundo historiadores, teve a sua certidão de nascimento no ano de 1737, portanto, sob essa óptica, é uma das mais antigas em atividade, estando jurisdicionada à Grande Loja dos Maçons Antigos, Livre e Aceitos da Alemanha.

No tocante a sua questão propriamente dita, a inexistência de degraus na topografia da Loja se dá exatamente em cumprimento a uma das características dos trabalhos da Maçonaria anglo-saxônica, cujos quais não adotam separação do Oriente (por degraus e balaustrada) e nem elevam os espaços destinados às Luzes da Loja (Venerável e Vigilantes). Há que se compreender que os Rituais Schröder foram estruturados, como já aqui mencionado, em grande parte nos trabalhos dos Modernos de 1717 que é de vertente anglo-saxônica.

Comentários à parte, vale a pena mencionar também que primitivamente o próprio REAA (rito de origem francesa), no seu primeiro ritual, datado de 1804 e publicado em 1821 no Guia dos Maçons Escoceses na França, também não adotava nenhum degrau no seu espaço de trabalho. Destaque-se que isso só veio acontecer no REAA pelo advento das hoje já extintas Lojas Capitulares (vide essa história – França século XIX). Abolidas essas Lojas, inexplicavelmente o oriente elevado e a balaustrada acabaram permanecendo no simbolismo do Rito. Outros conceitos doutrinários a partir de então passariam a compor a sua liturgia, fazendo com que o escocesismo adotasse o número de sete degraus nos seus templos como segue: um degrau para o Oriente, três para o sólio, dois para o lugar do 1º Vigilante e um para o 2º Vigilante, totalizando assim sete degraus. O número 7 no escocesismo assumiu alto significado se reportando à Criação e o seu dia, o “shabat”(influência hebraica). Além desse significado, o nº 7 tem relação com a idade simbólica de um grau e com as Sete Ciências e Artes Liberais da Antiguidade. 

Entenda-se, contudo, que essas aplicações não se coadunam com o arcabouço doutrinário do Rito Schröder, portanto, nele os degraus não fazem nenhum sentido e é por isso que eles não existem. 

Nunca é demais lembrar que o objetivo da Moderna Maçonaria é um só, o do aprimoramento humano, transformando bons homens em homens melhores ainda, entretanto, os ritos que a compõem trazem particularidades culturais, filosóficas e doutrinárias, daí existir entre eles, às vezes, sensíveis diferenças.

T.F.A.
PEDRO JUK - http://pedro-juk.blogspot.com.br
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br

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