Páginas

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

A ORIGEM DOS MISTÉRIOS

A ORIGEM DOS MISTÉRIOS

Perde-se, na noite dos tempos, a existência da Doutrina Esotérica. Conheciam-na todos os grandes povos da antiguidade, tanto na Ásia como na África, Europa, América e Oceania, segundo demonstra a universalidade de seus símbolos, gravados em caracteres indeléveis, nos respectivos templos. E quem houver penetrado nas profundezas dessa Ciência, lerá sempre as mesmas verdades, tanto nos muros de Palenque, como nos de Luxor; nos pagodes lavrados na entranha das rochas, na Índia, como nos restos ciclópicos de toda a região mediterrânea, e nos colossos da existência de raças e continentes submersos.

Os brâmanes da Índia, do mesmo modo que os Ioguis do mesmo País; os hierofantes do Egito, os rofetas de Israel, os essênios cabalistas, os gnósticos, os druidas, os cristãos, como ainda, todos os filósofos e pensadores, possuíram Doutrinas Esotéricas, ou melhor, a mesma Sabedoria Infinita das Idades.

O Livro dos Mortos do antigo Egito contém a Doutrina Esotérica do Egito; a Filosofia Yoga, o Esoterismo da Índia; a Cabala, a dos hebreus. E assim por diante. Pela tradição, tem Ela vindo até os nossos dias, embora com certas lacunas e erros, devido a falsas interpretações, pois, como já dizia o Mestre Jesus, "por baixo da letra que mata, deve ser descoberto o Espírito, que vivifica".

Os ensinamentos da Doutrina Arcaica, por sua vez, dizia Blavatsky, têm uma origem divina, que se perde na noite dos tempos. E "origem divina" não quer dizer uma revelação, feita por um Deus antropomorfo, em cima de uma montanha, cercado de raios e trovões, mas, segundo o compreendemos, uma linguagem e sistema de ciência, comunicado à humanidade primitiva por outra tão adiantada, que parecia divina aos olhos daquela.

Diz-se que, no começo, não havia necessidade de Mistérios Iniciáticos. O conhecimento (Vidya) era propriedade de todos e predominou universalmente durante a Idade de Ouro ou Satya-Yuga. Segundo o comentário, "os homens não haviam, ainda, praticado o mal, naqueles dias de felicidade e pureza, por serem justamente de natureza mais divina do que terrena. Porém, ao se multiplicarem rapidamente, múltiplas foram, também, as idiossincrasias do corpo e da mente. E o espírito encarnado manifestou-se em debilidade. Nas mentes menos cultivadas e sãs, enraizaramse certos exageros contrários à natureza e conseqüentes superstições. Dos desejos e paixões, até então desconhecidos, nasceu o egoísmo, pelo qual abusaram os homens de seu poder e sabedoria, até que, finalmente, foi preciso limitar o número dos conhecedores". Assim, teve lugar a Iniciação e seus Mistérios.

Cada povo adotou um sistema religioso de acordo com a sua capacidade intelectual e necessidades espirituais.

Porém, como os sábios prescindissem do culto e das simples formas, restringiram a bem poucos o verdadeiro conhecimento ("Muitos serão chamados e poucos os escolhidos"). A necessidade de encobrir a Verdade (donde o termo "Ísis velada"), para resguardá-la de possíveis profanações, fez-se sentir, cada vez mais, em cada geração, e, assim, converteu-se em Mistério.

Foi Ele, então, adotado entre todos os povos e países, procurando-se, ao mesmo tempo, evitar discussão a respeito, permitindo, entretanto, que, nas massas profanas (os "impúberes-psíquicos"), fossem introduzidas crenças religiosas esotéricas inofensivas, adaptadas, no começo, às inteligências vulgares - como "róseos contos infantis" – sem receio de que a fé popular prejudicasse as filosóficas e transcendentais verdades, ensinadas nos Santuários Iniciáticos, mesmo porque não devem cair, no domínio público ("Margaritas ante porcos" ou "Não atireis pérolas aos porcos"), as observações lógicas e científicas dos fenômenos naturais (tidos como milagres pelos ignorantes), condutoras do homem ao conhecimento das Eternas Verdades, destinadas a aproximá-lo dos umbrais da observação, livre de prejuízos, mais capaz, por isso mesmo, de melhor distinguir as coisas, não com os olhos físicos, mas, sim, com os espirituais.

O grande místico hindu Sri Aurobindo teve ocasião de dizer, em seu maravilhoso livro “Aperçu et Pensées”, o seguinte: "Cada religião ajudou a Humanidade. O paganismo aumentou, no homem, a luz da beleza, a largura e a altura da vida, a tendência para uma perfeição multiforme. O Cristianismo deu-lhe uma visão de Caridade e Amor Divinos.

O Budismo mostrou-lhe um nobre meio de ser mais Sábio, mais doce, mais puro. O Judaísmo e o Islamismo, como ser religiosamente fiel em ação, e zeloso na sua devoção por Deus.

O Hinduísmo abriu-lhe as mais vastas e as mais profundas possibilidades espirituais. Seria uma grande coisa se todas essas visões de Deus se pudessem abraçar (a Frente Única Espiritualista, pela qual vem batalhando a Sociedade Brasileira de Eubiose desde o seu início) e se fundir uma na outra; porém, o dogma intelectual e o egoísmo cultural barram o caminho.

Sim, todas as religiões salvaram um grande número de almas, mas nenhuma foi, ainda, capaz de espiritualizar a Humanidade. Para isso, não é o culto e a crença o necessário, englobando tudo que seja de desenvolvimento espiritual próprio". Blavatsky, por sua vez, corroborou as nossas palavras: "O Teósofo não crê em milagres divinos ou diabólicos, nem em bruxos, nem em profetas, nem em augúrios, mas, tão somente, em Adeptos (Iniciados), capazes de realizar fatos de caráter fenomênico a quem julgar "por palavras ou atos" (isto é, aos que se fizerem dignos de tamanha honra...).

E é a razão porque, para os não-iniciados nos referidos Mistérios, tais fenômenos não são mais do que "extravagâncias e fantasias". Mas, em verdade, "fatos estranhos" para os que, com eles, jamais se preocuparam. Não se deve, pois, negar, seja o que for, sem conhecimento de causa... Ou melhor, sem investigação própria.

São, ainda, de Blavatsky, as seguintes palavras: "O estudante de Ocultismo (ou Teosofia) não deve professar religião alguma, embora deva respeitar qualquer opinião ou crença para chegar a ser um Adepto".

Seu único dogma, como "livre pensador" é o da Fraternidade Universal da Humanidade, sem distinção de crença, sexo, casta, cor, etc. Seu único e Supremo Mestre, o Eu-Interno ou Divino, o Espírito, cuja voz é da Consciência emancipada. Quanto à Ciência oficial, tudo quanto julga como seu - do mesmo modo que as religiões, filosofias, línguas, seja o que for - já pertenceu à Teosofia (ou Ocultismo). Mas, infelizmente - como foi dito em outros lugares - acha-se completamente adulterado. Desse modo, a Teosofia começa onde a Ciência oficial termina.

E é assim que a Astronomia de hoje é a Astrologia de outrora; a Química, a Alquimia; a Medicina, a Magia Teúrgica, etc., etc.

Em resumo: se, no grego, tal Sabedoria tem o nome de Teosofia, no sânscrito, possui ela outros muitos; chama-se Sanatama-Dhârma, Gupta-Vidya, Brahmâ-Vidya, respectivamente, Sabedoria da Lei, Ciência Secreta, Sabedoria Divina, ou ainda, Iluminação, Conhecimento, etc. O mesmo termo Gnose não quer dizer outra coisa senão Iluminação, Conhecimento Perfeito, donde, Gnósticos, Iluminados, Sábios, etc. Teósofos ou Neoplatônicos, ecléticos ou harmonistas, eram chamados os filósofos alexandrinos, que, com Amônio Sacas, quiseram deduzir, da Gnose, o estudo comparado das religiões, normas científicas de conduta.

O mesmo Amônio Sacas não conseguiu religião alguma concreta, e seus sucessores, embora de campos opostos, como Porfírio (o Mosaísmo), Jâmblico (a Teurgia Egípcia), Proclo (o Ocidentalismo), Plotino (Gnose Cristã), etc., foram chamados "Filaléteos" ou "amantes da Verdade", sem véu religioso. "Ecléticos ou Sincretistas", por seu espírito de crítica; "Harmonistas", por buscarem a Suprema Síntese Filosófica; "Analogistas", por aplicarem a chave hermética de que "o que está em baixo é como o que está em cima"; e Teósofos, enfim, por buscarem para o homem vulgar a Suprema Ciência da “Superação”, que há de fazer dele um rebelde, um Titã, um Prometeu, um Herói, um superhomem, enfim, como diria o vulgo, mas, em verdade, um Iluminado.

Os termos Buda e Cristo não pertencem a nenhum indivíduo, mas representam categorias a que podem chegar os homens, porquanto Buda provém do Bodi sânscrito, que quer dizer Sábio, Iluminado, etc. Do mesmo modo que o Bod tibetano, com o mesmíssimo significado; como prova, o Tibete, chamado Bod-Yul, ou "País do Conhecimento, da Sabedoria Perfeita", etc. Quanto ao termo Cristo, provém do Krestus grego, que quer dizer Ungido, Iluminado.

Só o desconhecimento dessa mesma Sabedoria Eterna pode levar os prosélitos das várias religiões existentes a se digladiarem mútua e estupidamente, como se todas elas não fossem "pálidos raios seus". Ou como disse o grande Teósofo espanhol, Mario Roso de Luna, "embaciados espelhos onde a mesma (Sabedoria Eterna) se reflete".

Amônio Sacas foi um grande e eminente filósofo, que viveu em Alexandria, entre o segundo e terceiro séculos de nossa era. Foi o fundador da "Escola Neoplatônica" dos Filaléteos ou "Amantes da Verdade", como foi dito anteriormente. Nasceu de pais cristãos e era pobre. Possuía, entretanto, uma bondade tão grande, que o cognominaram, desde logo, "Theodidactus" ou "ensinado (guiado) por Deus", etc. Venerou a tudo quanto de bom existia no Cristianismo, porém rompeu com o mesmo e com suas Igrejas, ainda jovem, por não ter encontrado, em seu seio, coisa alguma superior às antigas religiões, mas, apenas, cópias e adulterações suas. Seus Mestres foram Pitágoras e Platão.

Ensinou ele que "a religião das multidões correu sempre “paripassu” com a filosofia e, com esta, foi corrompendo-se gradualmente, por vícios de conceitos, mentiras e superstições puramente humanos. Era necessário, portanto, restituí-la à sua original pureza, por isso mesmo, expurgando-a da escória e interpretando-a filosoficamente, pois o propósito de Jesus foi restabelecer, à sua prístina integridade, a Sabedoria da Antiguidade; reduzir o domínio da superstição que prevalecia no mundo, corrigir os erros introduzidos nas diversas religiões e tudo quanto pudesse servir de obstáculo à rápida evolução do homem, na sua marcha para o divino". Pelo que se vê, era um verdadeiro Teósofo, sem deixar, por isso, de ser um cristão, budista, etc.

Blavatsky, por sua vez, ensinou "que o Teósofo não deve sujeitar-se às opiniões alheias, formando ele as suas próprias convicções, de acordo com as regras de evidência, que lhe proporciona a ciência a que se dedica, sem atender a encômios de fanáticos sonhadores e a dogmatismos teológicos.

Jesus pregou uma doutrina secreta, e ”secretos“ (tanto naquele tempo como hoje) quer dizer “Mistérios da Iniciação".

Voltaire caracterizou, em poucas palavras, os benefícios dos Mistérios, ao dizer que, "entre o caos das
superstições populares, existia uma Instituição que evitou, sempre, a queda do homem na mais degradante animalidade: a dos ”Mistérios“.

E, justamente, por ser "Mistério", não pode chegar ao domínio de todos, mas de uma elite (ou de "eleitos", na razão, repetimos, de "muitos serão chamados, e poucos os escolhidos") capaz de conduzir a maioria pelo Caminho do Dever, da Honra, do Amor e da Justiça, até que não seja mais necessária a referida seleção, isto é, quando a Humanidade inteira (utopia para os pessimistas de todas as épocas) estiver equilibrada por tão elevados princípios, que, a bem dizer, representam os "eubióticos princípios", com que a mesma Humanidade, queira ou não, terá que se regular, sob pena de continuar por muitos séculos, ainda, sacudida pelos terríveis vendavais, que, há tanto tempo, servem de obstáculo à sua marcha evolucional para o Divino. Tais "vendavais" estão muito bem simbolizados nos Quatro Cavaleiros do Apocalipse: Domínio, Guerra, Fome e Peste. ?

Fonte: JBNews - Informativo nº 0066 - 05/11/2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário