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sábado, 16 de janeiro de 2021

O BALANDRAU

O BALANDRAU

O balandrau tem uma história ligada às organizações de ofício --- que nós chamamos de Maçonaria Operativa --- pois já era usado pelos collegiati, membros dos Collegia Fabrorum romanos, quando se deslocavam pela Europa e norte da África, acompanhando as conquistadoras legiões romanas, para reconstruir o que fosse sendo destruído pela atividade bélica. Também os membros dos Ofícios Francos, dos séculos XIV e XV, costumavam usar um balandrau negro, em seus deslocamentos pela Europa ocidental. Não é, portanto, estranhável a sua presença nos trabalhos maçônicos.

Ocorre que, no Brasil, com a sua majoritária formação católica, ainda de um passado recente, não se desligou, ainda, do "traje de missa". E as instituições maçônicas, dentro dessa mentalidade, ainda preconizam --- algumas exigem --- até em sessões econômicas, ou administrativas,, o traje formal completo e, ainda por cima, negro, onde branca é só a camisa, transformando certas reuniões em verdadeiras convenções de agentes funerários.

Geralmente, e de acordo com os estatutos de várias Obediências, o balandrau é "tolerado" em sessões econômicas. Já é um grande avanço, quando se sabe que, em outras partes do mundo, principalmente em regiões quentes, os maçons vão às sessões até em mangas de camisa, mas portando, evidentemente, o avental, que é o traje maçônico. E trabalham muito bem, pois a consciência do homem não está no seu traje. Como diz a velha sabedoria popular, "o hábito não faz o monge"; não é, portanto, um traje formado por parelho (de "par", já que "terno" é palavra referente ao traje de três peças: calça, colete e paletó), ou fato negro, com gravata, meias e sapatos pretos, e com a camisa branca --- estereotipado, não? --- que vai fazer o maçom.

Quanto à roupa que está por baixo do balandrau, como este é talar --- vai até aos talões, ou calcanhares --- e deve ser fechado totalmente, em cima, até ao pescoço, ela praticamente não aparece, a não ser, provavelmente, o calçado. Não há, portanto, por que se insurgir contra a roupa que o obreiro está usando por baixo do balandrau, mesmo porque muitos magistrados, em sessões dos tribunais, em que a toga é exigida, usam-na até sem camisa, quando vai alta a temperatura. E nem por isso deixam de ser juízes e de cumprir a sua função.

E, também, não se pode esquecer dos muitos maçons que usam trajes profissionais --- caso de militares e médicos, por exemplo --- e que, muitas vezes, saem diretamente do seu local de trabalho para a Loja, sem tempo para a troca de roupas (e o militar nem poderia fazer isso). Nesses casos, o balandrau --- talar mesmo, é claro --- é a maneira lógica de atender às formalidades impostas por estatutos muitas vezes divorciados da realidade. E quem iria criar caso porque uma pontinha do sapato branco do médico está aparecendo? Se for para ser radical, neste caso, o único profissional que poderia ir diretamente à Loja, com a sua roupa de trabalho, seria o mordomo....e inglês, evidentemente!

Quanto ao uso do balandrau "em grau de Mestre Maçom", talvez não me tenha feito entender, na obra citada, pois o que ocorre é que, tradicionalmente, em Câmara do Meio, o Respeitabilíssimo Mestre usa um manto negro, enquanto todos os demais Mestres portam um balandrau negro; e todos com a cabeça coberta, com chapéu negro desabado, ou com o kipá (solidéu). Isso não significa, como dá a entender a questão, que é referente ao REAA, que, em sessões de outros graus, só os Mestres possam portar o traje.

Do livro Consultório Maçônico vol. VII - Ed. A Trolha - 2000

Fonte: JBNews - informativo nº 0087

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