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segunda-feira, 1 de agosto de 2022

ALQUIMIA TRANSCENDENTAL OU MENTAL

José Cássio Simões Vieira
Mestre Instalado da ARLS Theobaldo Varoli Filho
São Paulo SP

A alquimia, corriqueiramente, pode ser definida como um estudo, uma doutrina e uma atividade prática, na qual os iniciados do antigo país dos faraós eram mestres insignes.

Revivida no século XIII, floresceu até o século XVII.

Pode ser considerada uma arte, que procurava a pedra filosofal, capaz de transmutar os metais em ouro, e o elixir da longa vida, panacéia ou remédio para todos os males, capaz de curar, fortalecer ou rejuvenescer o corpo humano.

Sua base filosófica residia na crença da causalidade direta, ou seja, a de que todos os seres da natureza, inclusive os inorgânicos, eram dotados de "vontade própria". Assim, a ocorrência de um fenômeno qualquer promanava da vontade do próprio ser em que se dava. Ele era a causa do que acontecia com ele mesmo.

Nessas condições, todos os seres eram dotados de vida e de afeições análogas às do homem. Uma pedra, por exemplo, caia porque assim o desejava. Uma árvore produzia frutos porque assim queria faze-lo. Eram explicações antropomórficas, dotando de corpo e alma até as substâncias inorgânicas.

Uma vez que as propriedades de um corpo ou substância eram determinadas por seu "espírito", havia a crença na transmutação ou transferência do "espírito" de um metal nobre para a matéria de um metal vulgar, ou das "virtudes" especiais de uma substância para o corpo humano, tornando-o invulnerável.

Excusado é dizer que a Igreja abominava o caráter herético de tais práticas, culminando por sua proibição através de uma bula papal em 1317.

O método de filiação histórica

Temos, antes de fazer qualquer crítica às idéias acima, de analisar todos os fatos sociais dentro do contexto da época, unindo-os do presente ao passado e ao futuro, através do fio condutor do método de filiação histórica. Tal não é outro o sentido do Fio de Ariadne, ou seja, a metodologia que nos serve de guia no meio do labirinto ou das dificuldades de compreensão da evolução histórico-cultural do pensamento do homem.

Sob essa concepção, podemos entender ter sido a alquimia a precursora da química moderna, pela sua inegável importância no desenvolvimento das técnicas de laboratório, na descoberta de vários elementos químicos, no processo de extração do mercúrio, na elaboração das fórmulas de se preparar o vidro e o esmalte, a pólvora e o fósforo, bem como no que diz respeito às noções sobre os ácidos e seus derivados.

Os aspectos esotéricos

A Ordem Rosacruz (AMORC) e outros filósofos esotéricos, haja vista em nosso meio, Huberto Rohden, mostra que, por trás desse aspecto "técnico", exotérico (exo= por fora) da alquimia, desdenhado pelo saber oficial, há um aspecto esotérico, uma alquimia transcendental ou mental e espiritual.

Elias Ashmole, rosacruz (1617 – 1692), que se tornou maçom, ocupou-se em sua Obra (Theatrum Chemicum Britannicum) da transmutação dos elementos da natureza inferior do homem nas tendências mais elevadas do Eu interior.

Não cabe aqui discutir tais questões, pois além de serem herméticas, privativas da AMORC, escapam ao nosso saber.

Importa é ressaltar que tudo quanto, em sua multissecular evolução, foi armazenado pela Humanidade – crenças, artes, letras, filosofia, ciências etc. – não passa despercebido à Ordem Maçônica, em seu aspecto especulativo, não obstante os originais fundadores da Instituição, os pedreiros-livres, ou seja, os maçons operativos, fossem homens simples e pouco cultos.

Nossa transformação espiritual

Nos termos em que cada um tenha conquistado sua evolução pessoal, a Maçonaria nos propicia meios para conseguir, desde que o desejemos, essa alquimia espiritual. Não é por outra razão que dizemos ser nossa Sublime Instituição, antes de tudo, uma Escola de aperfeiçoamento individual.

Devemos transformar nossos pensamentos e sentimentos inferiores em uma categoria mais elevada; transformar em ouro de lei o barro vulgar de nossos vis instintos; transformar o "homem-velho", incompleto e profano, no "Homem-Novo", vibrando em uma nova dimensão de consciência. Eliminar os venenos do "ego-material", substituindo-os pelas seivas espirituais colhidas no "Eu-divino".

O grau de Companheiro dedica boa parte de seus estudos à consideração da alquimia, como podemos apreciar na leitura do livro correspondente de Theobaldo Varoli Filho. É claro que não se trata de repetição de doutrinas superadas ou charlatanescas, bem como de qualquer forma de mistificação.

O que se faz é levar em conta seu valor simbólico ou fundamento cultural para a evolução do homem. Visa, assim, a que ele alcance uma harmonia interior, integrando todos os elementos sadios de sua personalidade, qual o alquimista, que busca atingir sua meta graças à combinação adequada dos elementos químicos básicos.

Psicologia e Alquimia

Só para enfatizar que a alquimia foi, antes de uma simples experimentação química rudimentar e fantasiosa, uma forma de filosofar, recordemos a atenção dada a ela por Carl Gustav Jung.

De fato, o grande psiquiatra suíço, fundador da Psicologia Analítica, foi atraído para tal assunto porque captou que o simbolismo da filosofia e da experimentação alquímica revelavam muitos aspectos da dinâmica do psiquismo humano, através do que conceituou como "arquétipos" e "inconsciente coletivo".

Nos sonhos que analisou, observou nítidos paralelos entre os símbolos elaborados pelo paciente, na configuração de seus conflitos e metas, e os símbolos dos alquimistas medievais, no retratar sua teoria e prática instrumental.

Na simbologia alquímica, Jung detectou a possibilidade de abarcar os aspectos da vida subjetiva do homem, na busca de individuação, ao lado de um sentido de igualdade e fraternidade, de que TODOS SOMOS UM, tal como os alquimistas tentavam individuar (transformar) a matéria, para obter uma substância perfeita.

O curioso é que esses pacientes, analisados no século XX, nada sabiam de alquimia.

A Maçonaria enquanto instituição filosófica

No afã de buscar as bases da moral e da ética pura, a Maçonaria estabelece um método de sistematização dos conhecimentos científicos e filosóficos e dos estudos históricos e sociais. Se hoje a idéia da transmutação dos metais ou da panacéia parece ridícula, não desprezamos os ensinamentos morais e toas as implicações esotéricas que possa nos trazer a alquimia.

O que nos interessa é a "evolução do conhecimento" a serviço da verdade.

JBNews - Informativo nº 0178 - 21/02/2011

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