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terça-feira, 5 de abril de 2022

EDUCAÇÃO NA COMUNICAÇÃO

EDUCAÇÃO NA COMUNICAÇÃO
Ir∴ Ailton Elisiário

Se existe algo na comunicação entre as pessoas que me irrita é a cada vez mais usada expressão de saudação “a todos e a todas”, ao se iniciar discursos ou palestras. Dá-se a esse modismo o nome de “linguagem inclusiva”. Não sei de que cabeça “pensante” saiu esta barbaridade e nem por que. Há quem diga que isto surgiu na classe política, talvez motivada pelo uso da expressão “brasileiros e brasileiras” adotado por José Sarney quando se dirigia ao povo brasileiro em seus discursos. Sei, sim, que é uma agressão à língua portuguesa e à sonoridade dos ouvidos. 

A palavra “todo” significa completo, que não deixa nada de fora. É um substantivo que designa conjunto, massa, totalidade. Na gramática – como assim aprendi – um substantivo coletivo define o conjunto de seres ou coisas de uma mesma espécie. Assim, quando se diz “boiada”, está se referindo ao conjunto de bois e vacas e não somente a bois. De modo idêntico, “gente” significa pessoas, homens e mulheres conjuntamente. Hemeroteca, jornais e revistas. Galeria, quadros e estátuas. 

Saudar “a todos e a todas” é uma redundância, porque “todos” quando diz respeito a uma reunião de pessoas, se refere à gente ali presente, independente que sejam aqueles indivíduos do sexo masculino ou feminino. Posso até entender que pronunciar-se assim seja uma forma 

do orador se mostrar gentil e atencioso com os que ali estão, mas a gentileza fica ofuscada pela ignorância das regras gramaticais. 

Outra coisa que também não me parece sincero, porém tenha ares de elegância, é a substituição de palavras por outras ou por expressões, com o objetivo de demonstrar ser educado aquele que fala. Trata-se do uso de eufemismo, que é a figura de linguagem que busca dar expressão suave a uma ideia ou situação triste ou desagradável. A palavra vem do grego “euphemos” e significa auspicioso, de bom augúrio, que traz bons ares. 

São muitos os eufemismos e não param de ser criados, bastando instalar-se a ocasião. Assim, paralítico é cadeirante, cego é deficiente visual, protestante é evangélico, empregada doméstica é secretária, empregado é colaborador, negro é afro-descendente, careca é capilarmente diferenciado, corno é desprovido de fidelidade conjugal, homossexual é gay, prostituta é acompanhante, carro usado é seminovo, mentir é faltar com a verdade, roubar é enriquecer por meios ilícitos, velhice é terceira idade e mais recentemente melhor idade, entre tantos outros. 

Essa eufemização, a par da evolução da linguagem, pode ter tido influência da onda do “politicamente correto” criada no meio universitário americano para mascarar problemas que o país não conseguia resolver. Penso, no entanto, que não se devem encobrir problemas com nomes agradáveis deixando-os sem solução. É preferível que se diga a palavra mesmo com desagrado, mas que se tenha a questão resolvida. Contudo, não faz mal se enquanto nada é resolvido se dê um tratamento ameno adocicando a triste realidade. Visto assim, isso é caridade. 

Fonte: JBNews - Informativo nº 0167 - 10/02/2011

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