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segunda-feira, 21 de novembro de 2022

A FILOSOFIA MAÇÔNICA

Ir∴ Ambrósio Peters

Introdução 

Filosofia Maçônica, Princípios Maçônicos, Maçonaria Esotérica e Maçonaria Mística são expressões com as quais nos deparamos com certa freqüência em artigos e livros maçônicos. As duas primeiras sempre se referem ao Grande Ideário da Maçonaria e as outras duas a diferentes formas de interpretação desse ideário, diríamos melhor, de diferentes formas práticas de vivenciar a Maçonaria.

Embora essas expressões ocorram com mais freqüência em artigos publicados em revistas e livros maçônicos, também as vemos na literatura não maçônica, principalmente nas revistas de orientação cristã, que as usam e interpretam a seu talante, num infrutífero afã de encontrar argumentos para detrair a Ordem. De forma repetitiva afirmam, entre outras veleidades, que se há uma Filosofia Maçônica proclamada neutra em relação às religiões ela deve ser contrária a todas elas, por não poder haver neutralidade no campo da fé. Citam em defesa de sua posição um ditado bíblico que diz “quem não está comigo está contra mim”. Essa é uma conclusão errônea, porque neutralidade não significa oposição.

Esta oposição à Maçonaria se enraizou profundamente em muitas tradições religiosas ocidentais cristãs possivelmente como resultado de a própria Maçonaria não divulgar junto ao público, de forma transparente e compreensível, uma definição clara da Filosofia Maçônica e dos Princípios Maçônicos dominantes entre os maçons.

Como se definiriam essa filosofia e esses princípios? Dificilmente se encontrará uma resposta plenamente satisfatória, o que não é de estranhar porque também não se encontram definições adequadas para grandes ideários, como o do Cristianismo, por exemplo. Não se confunda Cristianismo, que é um ideário, com Catolicismo e Luteranismo, por exemplo, que são religiões que, na prática, interpretam e aplicam o mesmo Ideário Cristão de formas diferentes.

Essa falta de definições práticas não significa certamente que os maçons, ou os cristãos, não saibam o que é Maçonaria, ou o que é Cristianismo, ou não demonstrem interesse por seus ideários. Ela é, isto sim, uma conseqüência do fato de os ideários sempre se comporem de princípios genéricos, difusos em tradições seculares difíceis de condensar em palavras e conceitos.

O Grande Ideário Maçônico não poderia fugir a essa regra, pois nele se mesclam e vinculam tradições de guildas operativas, tradições cristãs, influências da cultura inglesa dos séculos XVI e XVII e tradições outras que o enriqueceram a partir do século XVIII.

O relacionamento Cristianismo/Maçonaria é dificultado por essa circunstância porque, tanto quanto é difícil a um cristão explicar a um não crente o que é Cristianismo, também o é a um maçom fazer um cristão compreender o que é Maçonaria.

Para compreender o Cristianismo é necessário ser cristão, e para compreender a Maçonaria é necessário ser maçom.

Antes de continuar não podemos deixar de entrar em rápidos comentários sobre misticismo e esoterismo, que não raro se vêem ligados à Ordem nas expressões Maçonaria Mística e Maçonaria Esotérica. Os ideários são universais e não podem ser particularizados. O Cristianismo, por exemplo, não poderá ser católico nem luterano.

Assim sendo, a Maçonaria, um ideário, não podem o esoterismo e o misticismo ter relação direta com ela se tomarmos esses termos no seu sentido filosófico padrão. Misticismo é uma comunicação direta com Deus, ou com seres do mundo sobrenatural, através da intuição ou da percepção imediata, e esoterismo é a prática de doutrinas secretas e cabalísticas somente acessíveis a um restrito número de iniciados dotados de poderes de percepção extra sensoriais. São, portanto posições conceituais definidas e restritas a poucos homens privilegiados, porque o verdadeiro misticismo e o verdadeiro esoterismo só são alcançadas por poucos homens privilegiados.

Não se admitem discussões religioso-filosóficas partidárias em nossas lojas. Assim evidentemente também não as podemos ter a respeito de misticismo ou esoterismo, que são sistemas de pensamento ou concepções doutrinárias individualizadas de ideários, ainda que não se tratem de religiões organizadas. Sendo por definição, tanto um com outro, acessíveis a poucos homens escolhidos, contrariam também o princípio maçônico de que todos os homens livres e de bons costumes têm acesso à Ordem. Não se pode deixar de frisar, contudo, que os místicos e os esotéricos são os que melhor compreendem o Grande Ideário Maçônico.

A Maçonaria tem um caráter universalista e, portanto a filosofia e os princípios de seu Ideário devem poder ser aceitos indistintamente por todos os que a procuram, quaisquer que sejam as suas crenças e posições filosóficas, o grau de cultura ou o quociente intelectual, desde que não queiram usar as lojas como ocasião para fazer proselitismo ou promover debates em torno de seus princípios doutrinários.

A Maçonaria tem, portanto as portas abertas aos esotéricos e aos místicos, tanto quanto aos adeptos de qualquer religião ou filosofia que aceitem estas condições, isto é, que não pretendam introduzir seus princípios doutrinários ou filosóficos no seio de nossas lojas.

Um cristão, por exemplo, pode tranqüilamente ser maçom, mas não pode conviver em sua fé com o esoterismo, pois ambos se excluem. Um cristão, por outra parte, poderá ser um místico, pois sua religião admite a comunicação pessoal direta com Deus de uma forma ampla. O esoterismo, por sua vez, é meramente acessível a um pequeno número de pessoas privilegiadas, o que contraria o Cristianismo, que afirma que o direito à graça da fé é um direito de todos, indistintamente, independente do seu grau de cultura ou de seu nível de inteligência.

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