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domingo, 31 de julho de 2016

OS ESTRANHOS CONCEITOS DE REGULARIDADE E IRREGULARIDADE

OS ESTRANHOS CONCEITOS DE REGULARIDADE E IRREGULARIDADE
José Castellani

Tem-se a impressão de que existe, em Maçonaria, hoje em dia, uma verdadeira obsessão, por um lado, pela “regularidade” maçônica, e uma verdadeira preocupação, por outro lado, com a “irregularidade”. Na realidade, o que é regular e quem é regular? Jean Baylot, em “Dossier Français de la Franc-Maçonnerie Régulière”, Editions Vitiano, Paris – 1965, como membro da Grande Loja Nacional Francesa, aborda a regularidade apenas do ponto de vista metafísico, ou melhor, da obrigatoriedade da crença em Deus, tendo em vista a maçonaria “irregular” francesa, representada pelo Grande Oriente da França, que, em 1877, através de uma grande reforma dogmática, suprimiu a
 obrigatoriedade da crença em Deus --- mas não a crença --- julgando que os padrões religiosos do ser humano são de foro íntimo e não podem ser impostos, em respeito à mais absoluta liberdade de consciência. Por essa atitude, o Grande Oriente foi anatematizado pela Grande Loja Unida da Inglaterra --- a “Mater” maçônica --- que, depois, criaria a Grande Loja Nacional Francesa, dando, a esta, o seu reconhecimento de regularidade e “condenando” o Grande Oriente da França à irregularidade, embora ele seja a maior Obediência maçônica francesa.

Ora, mas se o conceito de regularidade é a obrigatoriedade da crença em Deus --- de acordo com o deturpação feita, em 1815, no texto original das Constituições de Anderson, de 1723 --- por que a Grande Loja Unida da Inglaterra não reconhece e não dá o cunho de regularidade a dezenas de Obediências que adotam a regra e rezam pelo catecismo inglês? No caso específico do Brasil, por que a “Maier” inglesa não dá o cunho de regularidade aos Grandes Orientes Independentes e por que não o deu, até há muito pouco tempo, a todas as Grandes Lojas Estaduais? Por que, se estas Obediências cumprem os demais requisitos expostos nos “Oito Princípios de Regularidade”, emanados da Grande Loja inglesa, embora alguns deles sejam rançosos e caducos?

Mas, em questão de regularidade, a maçonaria inglesa tem uma rival de peso, que também impõe a sua vontade: a maçonaria norte-americana. Assim, existem Obediências e Lojas que são consideradas regulares por uma, mas não pela outra, e vice-versa. E qual é o motivo? Não se sabe, já que o dogmático, comprovadamente, é furado. Nos Estados Unidos é editada, a cada ano, a “Lesta of Lodge”, contendo todas as Lojas regulares --- na visão norte-americana --- do mundo. E, quando algum obreiro, de qualquer parte do mundo, chega, representando uma Loja, se ela não estiver na “lenta of lodge”, ele poderá ir passear, porque não entrará em Loja nenhuma do local. Quem deu tal poder à maçonaria norte-americana, de julgar quem é “regular”, ou não? E quem o deu à Inglaterra, a não ser o fato dela ter criado a moderna maçonaria e ter aberto “franchising”, exigindo, dos flanqueados, absoluta vassalagem ?

Por aí se pode ver como são estranhos os conceitos de regularidade e de irregularidade, que só servem para dividir, ainda mais, uma maçonaria, que, por definição, deveria ser unida.  

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