OS ESTRANHOS CONCEITOS DE REGULARIDADE E IRREGULARIDADE
José Castellani
Tem-se a impressão de que existe, em Maçonaria, hoje em dia,
uma verdadeira obsessão, por um lado, pela “regularidade” maçônica, e uma
verdadeira preocupação, por outro lado, com a “irregularidade”. Na realidade, o
que é regular e quem é regular? Jean Baylot, em “Dossier Français de la
Franc-Maçonnerie Régulière”, Editions Vitiano, Paris – 1965, como membro da
Grande Loja Nacional Francesa, aborda a regularidade apenas do ponto de vista
metafísico, ou melhor, da obrigatoriedade da crença em Deus, tendo em vista a
maçonaria “irregular” francesa, representada pelo Grande Oriente da França,
que, em 1877, através de uma grande reforma dogmática, suprimiu a
obrigatoriedade da
crença em Deus --- mas não a crença --- julgando que os padrões religiosos do
ser humano são de foro íntimo e não podem ser impostos, em respeito à mais
absoluta liberdade de consciência. Por essa atitude, o Grande Oriente foi
anatematizado pela Grande Loja Unida da Inglaterra --- a “Mater” maçônica ---
que, depois, criaria a Grande Loja Nacional Francesa, dando, a esta, o seu reconhecimento
de regularidade e “condenando” o Grande Oriente da França à irregularidade,
embora ele seja a maior Obediência maçônica francesa.
Ora, mas se o conceito de regularidade é a obrigatoriedade
da crença em Deus --- de acordo com o deturpação feita, em 1815, no texto
original das Constituições de Anderson, de 1723 --- por que a Grande Loja Unida
da Inglaterra não reconhece e não dá o cunho de regularidade a dezenas de
Obediências que adotam a regra e rezam pelo catecismo inglês? No caso
específico do Brasil, por que a “Maier” inglesa não dá o cunho de regularidade
aos Grandes Orientes Independentes e por que não o deu, até há muito pouco
tempo, a todas as Grandes Lojas Estaduais? Por que, se estas Obediências
cumprem os demais requisitos expostos nos “Oito Princípios de Regularidade”,
emanados da Grande Loja inglesa, embora alguns deles sejam rançosos e caducos?
Mas, em questão de regularidade, a maçonaria inglesa tem uma
rival de peso, que também impõe a sua vontade: a maçonaria norte-americana.
Assim, existem Obediências e Lojas que são consideradas regulares por uma, mas
não pela outra, e vice-versa. E qual é o motivo? Não se sabe, já que o
dogmático, comprovadamente, é furado. Nos Estados Unidos é editada, a cada ano,
a “Lesta of Lodge”, contendo todas as Lojas regulares --- na visão
norte-americana --- do mundo. E, quando algum obreiro, de qualquer parte do
mundo, chega, representando uma Loja, se ela não estiver na “lenta of lodge”,
ele poderá ir passear, porque não entrará em Loja nenhuma do local. Quem deu
tal poder à maçonaria norte-americana, de julgar quem é “regular”, ou não? E
quem o deu à Inglaterra, a não ser o fato dela ter criado a moderna maçonaria e
ter aberto “franchising”, exigindo, dos flanqueados, absoluta vassalagem ?
Por aí se pode ver como são estranhos os conceitos de
regularidade e de irregularidade, que só servem para dividir, ainda mais, uma
maçonaria, que, por definição, deveria ser unida.
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