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PERGUNTAS & RESPOSTAS

O “Perguntas & Respostas” que durante anos foi publicado no JB News e aqui reproduzido, está agora no “Blog do Pedro Juk” . Para visita-lo ou tirar suas dúvidas clique http://pedro-juk.webnode.com/ ou http://pedro-juk.blogspot.com.br

domingo, 30 de novembro de 2025

FRASES ILUSTRADAS

ESCADA DE JACÓ - O TAL PAINEL ALEGÓRICO

Em 26.05.2025 o Respeitável Irmão Marcos Antonio Tessarolo, Loja Mestre Hiram, 11, GLMEES (CMSB), REAA, Oriente de São Mateus, Estado do Espírito Santo, apresenta a seguinte questão.

ESCADA DE JACÓ 

Gostaria de mencionar que seus arquivos são uma fonte de pesquisa nos meus estudos sobre a maçonaria. Muito obrigado pela sua dedicação.

Tenho uma dúvida e gostaria da sua orientação. A nossa Loja pratica o REAA. A Escada de Jacó foi retirada da ornamentação da loja há muitos anos atrás, mas agora existe um movimento para retornar com a escada porque é mencionada na 2ª instrução de Aprendiz, a loja fica mais simbólica e bonita.

Pergunto: A utilização da escada de Jacó é uma prerrogativa da loja ou não deverá ser utilizada? A pergunta é válida para as GL e GOB.

CONSIDERAÇÕES:

Na verdade, a Escada de Jacó não é um símbolo utilizado no REAA. As Lojas que praticam esse Rito não deveriam usar essa alegoria. 

Infelizmente, esse equívoco ingressou no escocesismo por conta de uma instrução oriunda do CRAFT que acabou sendo enxertada em alguns rituais do REAA no Brasil.

Nesse contexto, vale observar que no verdadeiro Painel Simbólico de Aprendiz do REAA (rito de origem francesa) não aparece a figura de nenhuma escada que possa gerar instrução relacionada ao patriarca bíblico “Jacó". 

Então pergunta-se: onde de fato aparece a figura de uma escada com vários degraus subindo ao céu, tendo no seu topo, junto ao firmamento, uma estrela com sete pontas? A resposta é: na Tábua de Delinear inglesa do 1º Grau do CRAFT (Rito de York inglês). 

Outra pergunta: então como veio aparecer esta alegoria indevida no REAA? Resposta: Isso ocorreu porque muitas Grandes Lojas Estaduais Brasileiras acrescentaram nos seus rituais escoceses do simbolismo, além do Painel do Grau original, mais um painel, o qual lhe deram o nome da Painel Alegórico, elemento esse inexistente no verdadeiro REAA.

Na verdade, o tal Painel Alegórico nada mais é do que uma cópia, enxertada da Tábua de Delinear inglesa do 1º Grau (vertente anglo-saxônica da Maçonaria). O relicário simbólico e alegórico desta Tábua (Tracing Board) é inerente ao Rito de York, e não ao do REAA. Nessa conjuntura, vale destacar que ambos os ritos possuem estruturas doutrinárias diferenciadas, pois uma é teísta e o outro deísta. 

Enfim, o resultado deste enxerto foi uma desastrosa miscelânea de símbolos anglo-saxônicos (teístas) com símbolos latinos (deístas). É nesse contexto que aparece a alegoria da Escada de Jacó, própria do Rito de York, no REAA.

Como a boca se entorta conforme o uso do cachimbo, não tardou para que muitos maçons do escocesismo começassem difundir inapropriadamente a ideia de que os trinta e três graus do REAA compreendiam os trinta e três degraus da Escada de Jacó! Acabaram até descobrindo o que nem a Bíblia menciona, o número de degraus da Escada de Jacó!

Não obstante a todo este imbróglio, ainda apareceu em alguns rituais do REAA a representação desta escada sobre o Alt dos JJur, de onde se sobe ao firmamento (abóbada). Certamente, tudo isso está baseado nos “trinta e três graus” da Escada de Jacó. 

Felizmente muitas Grandes Lojas já retiraram do Alt dos JJur esse indevido elemento alegórico.

Todavia, é lamentável quando se fica sabendo que por conta de um painel e de uma instrução indevida - que nem é original no REAA - alguns Irmãos ainda estejam se movimentando para pleitear o retorno de algo que tradicionalmente não existe – é a história do dinossauro: não é tão difícil de mata-lo, porém o difícil é consumir os seus restos.

Ao em vez de se buscar o retorno ao anacronismo e ao contraditório, o mais coerente seria retirar os elementos que produzem as contradições e os anacronismos.

T.F.A.
PEDRO JUK
jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

BREVIÁRIO MAÇÔNICO

A CHAMADA RITUAL

É assim denominado o ato de bater à porta do templo; cada grau possui distintos para identificação. Aqui chamamos a atenção de que apenas o Mestre de Cerimônia tem essa prerrogativa de bater á porta do tempo. No caso de um retardatário ( que a rigor não há), ele dará as batidas convencionais, mas a porta não lhe será aberta; é necessário que o Mestre de Cerimônias, devidamente autorizado, saia do templo, para depois retornar às batidas, pois ninguém pode adentrar um vez iniciados os trabalhos, para que a harmonia dos mesmos não venha a ser quebrada.

Essa prática vem do Cristianismo, pois o Mestre dos mestres dissera: "batei e abrir-se-vos-á", porém no sentido de que só ele, o Cristo, poderá fazê-lo. Como disse mais tarde o apóstolo São Paulo: "Cristo é quem bate em mim", ou seja, é o espírito santo em cada um que poderá bater às portas do reino dos céus.

Essa prática é profundamente esotérica, e a Maçonaria prima na observância desses preceitos.

Para que o maçom possa "bater" à porta de seu templo interno, deve invocar a presença crística, pois só cristo o poderá fazer.

O assunto é profundo, mas sempre aceito para a meditação de quão amplo é o sentido cristão em cada ser.

Breviário Maçônico / Rizzardo da Camino, - 6. Ed. – São Paulo. Madras, 2014, p. 92.

A INCONFIDÊNCIA MINEIRA, A MAÇONARIA E A ARCÁDIA ULTRAMARINA - PARTE I

Leitura da sentença de Tiradentes,
por Leopoldino Faria

Márcio dos Santos Gomes (*)

Com que figura ou legenda?
Coisas da Maçonaria,
do Paganismo ou da Igreja?
A Santíssima Trindade?
Um gênio a quebrar algemas?
Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
entre sigilo e espionagem,
acontece a Inconfidência.

O arcadismo, escola literária conhecida também como setecentismo ou neoclassicismo, surgiu no Século XVIII na Europa, tendo como objeto a exaltação da natureza, onde poetas adotavam com frequência pseudônimos de pastores gregos ou latinos. A denominação é uma referência a uma região grega pastoril do Peloponeso, conhecida como Arcádia, considerada como de inspiração poética.

A escola árcade experimentava forma literária simplificada, produzindo poesias de motivos pastorais, com características ingênuas e idílicas, com enfoque em temas mais ligados ao dia-a-dia, expressando uma visão mais sensualista da existência, como o amor e o abandono pela pessoa amada, a morte, a tristeza, o casamento, a solidão, celebrando a poesia, a música e a vida natural, sempre em contraposição aos exageros e rebuscamento do Barroco, recorrendo a uma literatura liricamente menos sofisticada, em contraste com a realidade e a razão. Os autores árcades valorizavam a vida no campo, o “locus amoenus”, como contraponto à vida nos centros urbanos.

A “Arcádia Lusitana”, que tinha por lema a frase latina “Inutilia truncat” (“acabe-se com as inutilidades”), reunia artistas e intelectuais portugueses para discutir a Arte e teve seu desenrolar entre os anos de 1756 e 1825, quando a fase então se encerrou com a publicação do poema Camões, de Garrett, dando início ao Romantismo. Dentre os nomes inseridos na escola árcade, em Portugal, destacam-se Bocage, António Diniz Cruz e Silva, Pedro António Correia Garção, Francisco José Feire e Marquesa de Alorna.

O Brasil, ao tempo do início do movimento árcade, era Província da Monarquia Portuguesa (Estado do Brasil) e Vila Rica reconhecida como centro econômico de grande importância, em decorrência da mineração e do ciclo do ouro. A Capitania de Minas Gerais, no período de 1720 a 1815, era dividida em quatro Comarcas: Vila Rica, Rio das Mortes, Rio das Velhas e Serro Frio.

Naquele período minerador, em meados do século XVIII, surgiu a primeira escola literária brasileira – o Arcadismo.

Nessa época, portugueses e jesuítas deixaram de monopolizar a cultura. Liam-se também, principalmente em Minas Gerais, autores franceses e ingleses que eram críticos do absolutismo, do mercantilismo e da intolerância religiosa, louvadores da natureza, do progresso e da liberdade” (Cáceres, 1995).

Por isso, algumas produções literárias tiveram como forte inspiração cidades históricas mineiras, episódios da história do país nas poesias heroicas, o índio como tema literário e a sátira política como crítica à exploração portuguesa e à corrupção sempre contemporânea e já devastadora desde então. Daí a expertise do Brasil que passou a exportar exemplos desta técnica desonesta de desvios de recursos públicos, com maestria, para toda a América Latina, África e a antiga metrópole.

Efetivamente, o movimento árcade se desenvolveu no Brasil com a fundação, em Vila Rica, no ano de 1768, da “Arcádia Ultramarina”, tendo como referência a publicação, por Cláudio Manuel da Costa, de suas “Obras Poéticas”, constituindo o embrião de uma geração literária brasileira. Cláudio Manuel foi um poeta de transição, pois como ele próprio afirma no prólogo das “Obras” sofreu influência do Barroco, mas abraçou a causa árcade. Publicou ainda, “Culto Métrico”, “Munúsculo Métrico”,“Epicédio”, “O Parnaso Obsequioso e Obras Poéticas”, “Vila Rica” e “Poesias Manuscritas”.

Além de Claudio Manuel, vários escritores se destacaram no Arcadismo brasileiro, como Tomás Antônio Gonzaga (autor de “Cartas Chilenas” e “Marília de Dirceu”), Frei José de Santa Rita Durão (autor do poema “Caramuru”), Inácio de Alvarenga Peixoto (autor de “A poesia dos inconfidentes: poesia completa”), José Basílio da Gama (autor de “O Uruguai”), Manuel Inácio da Silva Alvarenga (autor de “O Desertor das Letras”, “Glaura – Poemas Eróticos”).

Naquela quadra da história, constituía-se tradição as famílias com mais recursos enviarem seus filhos para estudar em Portugal (Coimbra), França (Montpellier e Bordeaux) e Reino Unido (Londres e Edimburgo), onde as ideias revolucionárias eram fermentadas pelo iluminismo, propiciando grande vivência cultural, que inevitavelmente era trazida para a Província e tinha relevo nas reuniões e saraus musicais e literários então promovidos, as famosas academias. Sem dúvida, naqueles eventos discutiam-se poesias, literatura, e, claro, filosofia e política. Entre os anos de 1768 e 1788, vinte anos portanto, 157 estudantes das diversas capitanias luso-brasileiras foram diplomados na Universidade de Coimbra (Ferreira, 1972).

Tomás Antônio Gonzaga era

um homem que se encantava com ideias”. Estudou em Coimbra e “meteu-se nos grupos de estudantes que se reuniam secretamente para ler e discutir Locke, Hobbes, Montesquieu e Voltaire, os ícones iluministas”. “Na universidade, um de seus melhores amigos era brasileiro e se tornaria companhia para a vida: Alvarenga Peixoto” (Dória, 2014).

Cláudio Manuel graduou-se na Universidade de Coimbra e especula-se que teria ligações com os Illuminati, sociedade secreta de cunho iluminista criada na Baviera e que influenciou inúmeras revoluções, fraternidades, arcádias literárias e associações com os mais diversos propósitos.

Naquele período, o Brasil não possuía universidades, imprensa e bibliotecas eram proibidas, a circulação de livros estava submetida a três instâncias de censura, de modo que os mecanismos de exploração e opressão não fossem fragilizados. A política oficial permitia o funcionamento das escolas religiosas, dominadas pelos jesuítas até sua expulsão em 1759, depois assumidas por outros padres e mestres laicos. O ambiente sociocultural se apoiava nas realizações de caráter artístico, expressos através da religiosidade popular, da escultura, da música e da arquitetura. Em 1768, o Marquês de Pombal instalou a Real Mesa Censória, centralizando e organizando o trabalho da seleção do que podia ou não ser lido (Dória, 2014). O direito de reunião era vigiado. De cada cem brasileiros, menos de dez sabiam ler e escrever.

As academias literárias foram incentivadas na gestão do Marquês de Pombal em Portugal, durante o reinado de D. José I, entre 1750 e 1777. Pretendia-se ampliar o público leitor, que, no Brasil, se resumia a poucos escritores e literatos e ao reduzido número de pessoas da elite aos quais eles estavam ligados por laços familiares, econômicos, funcionais ou de amizade (Cáceres, 1995). Por isso, as academias se revestiram de alguma importância cultural e mesmo política. Nesse meio, os livros passavam de mãos em mãos. Seus rituais acadêmicos eram uma maneira de passar o tempo de forma mais agradável nas cidades provincianas como Salvador, Vila Rica e Rio de Janeiro.

Do grupo de intelectuais que se revelaram na literatura, três poetas tiveram participação decisiva no movimento da Inconfidência Mineira – Cláudio, Gonzaga e Alvarenga Peixoto, ao lado de juristas formados em Coimbra, além de padres, comerciantes e militares, alimentando um fervedouro cultural e social orientado pelo sonho de independência do Brasil do domínio português, principalmente após a repercussão da independência dos EUA em 1776, com a ajuda de liberais franceses, quando

exemplares da Constituição Americana, em traduções francesas, tendo como preâmbulo a Declaração de Direitos, andavam às escondidas, como livros heréticos, sendo lidos e comentados, em segredo, pelos grupos de iluministas disfarçados e alojados em toda a parte, nos navios, na tropa, nas repartições públicas, nos conventos e seminários” (Lima Júnior, 2010).

Repercutia-se a notícia de que, dos 56 homens que assinaram a Declaração de Independência dos Estados Unidos em 4 de julho de 1776, muitos eram maçons, incluindo Benjamin Franklin e o próprio George Washington.

As ideias iluministas, fruto do movimento cultural da elite intelectual europeia do século XVIII, visavam reformar a sociedade, opondo-se ao conhecimento herdado da cultura medieval, buscando propagar a ciência, o saber e o progresso, com base na crença de que o bem-estar coletivo somente poderia advir da razão. O pensamento iluminista de caráter burguês e anticlerical pregava conceitos considerados subversivos pela Corte Portuguesa, por envolverem “abomináveis ideias francesas” ligadas ao separatismo e república. Tinham como meio de difusão as Academias, a Enciclopédia, a Maçonaria, os Clubes, Cafés e Salões e as Universidades.

A Maçonaria era uma sociedade eminentemente secreta porque não podia lutar abertamente contra o absolutismo. Seus trabalhos eram rigorosamente proibidos. E daí o seu caráter misterioso (Ferreira, 1972).

Segundo Pedro Doria (2014),

“a perspectiva de ser iniciado neste mundo e conhecer algo desconhecido por quase todos era, desde o início, boa propaganda”.

Para Andrew Prescott, diretor do Centro de Estudos da Maçonaria da Universidade de Sheffield, na Inglaterra,

“ser maçom nos séculos 18 e 19 era um pouco como ser de esquerda no começo do século 20. Em geral, eram pessoas liberais, receptivas a novas ideologias e preocupadas em reorganizar a sociedade”.

Como consequência óbvia dessa atuação a ordem frequentou os primeiros lugares da lista de maiores inimigos das monarquias absolutistas (Revista Superinteressante 2005).

Publicações chegavam ao Brasil de forma clandestina. Os membros da elite na Província liam Rousseau, Voltaire, Montesquieu, enciclopedistas como Diderot e D’Alembert e outros. Novas palavras e conceitos como colônia, decadência, classe, história, levante, plebe, revolução e república passaram a ser utilizadas com frequência cada vez maior pelos maçons iniciados na Europa e que divulgavam a ideologia revolucionário-burguesa (Alencar, 1985). O periódico “A Gazeta de Lisboa”, que circulou entre 1715 e 1820, chegava a Minas com as últimas notícias do reino e do mundo. Com isso, aqueles homens tomaram conhecimento da independência americana,

sobre a opulência da Corte Portuguesa, e era inevitável que contrastassem todos os acontecimentos com o que viam em sua terra” (Dória, 2014).

No que se refere à maçonaria no contexto do Brasil de então, é recorrente o argumento de que a mesma não teria atuado na Inconfidência Mineira pela inexistência de Lojas regulares à época, já que a instalação da primeira Loja Simbólica reconhecida teria ocorrido apenas em 1801, com o nome de “Reunião”, no Rio de Janeiro, filiada a uma Obediência francesa. Conforme registro acima, é por demais sabido que a maçonaria naquele tempo era uma sociedade secreta e clandestina, não admitida em território brasileiro, assim como na Metrópole, onde seus membros eram perseguidos e presos.

Qualquer tentativa de regularização de uma “Loja” local junto a uma das Obediências Inglesa ou Francesa naquele período poderia ser considerado um ato suicida. Segundo vários registros, bastava ter livros escritos em francês ou possuir a constituição dos Estados Unidos para que um cidadão fosse perseguido, preso e processado por alta traição.

Em Portugal, “Lojas” funcionaram sigilosamente durante o governo de D. José I (1750-1777). Com o Marquês de Pombal abriram-se em todas as cidades do Reino filiais da loja de Lisboa e a Maçonaria tivera seu prestígio na década de 1760-70. Com a morte do rei, em fevereiro de 1777, sucedeu-lhe no trono D. Maria I, que depôs Pombal, e as perseguições contra os maçons foram deflagradas pelo Intendente-Geral da Polícia Diogo Inácio de Pina Manique, que acumulava vários cargos, tornando-se o grande senhor do governo de D. Maria I.

Durante sua gestão, Pina Manique

reprime com ferocidade tudo quanto possa lembrar a Revolução Francesa e perigar o regime absoluto; persegue, constantemente, afrancesados, jacobinos e pedreiros-livres, proíbe a circulação de livros, prende, tortura e castiga qualquer sombra de pensamento independente, compele ao exílio numerosos escritores, sábios, poetas e artistas” (Mirador, 1981).

Nos 25 anos que esteve à frente da Intendência da Polícia, desenvolveu perseguição sistemática contra as lojas maçônicas, que passaram a atuar na clandestinidade. Assim, o clima na Província não poderia ser diferente.

Entretanto, os ideais maçônicos já estavam arraigados, e isso acontecia pelos reflexos da independência dos Estados Unidos da América e pelos antecedentes da Revolução Francesa, onde a maçonaria funcionou como extraordinário veículo político das ideias liberais (Castellani, 1989). A Revolução Francesa, tendo como marco a queda da Bastilha, não influenciou os conjurados mineiros, pois, quando o fato ocorreu, eles já estavam presos, mas dois anos antes, com uma reação dos notáveis franceses – clérigos e nobres – contra o absolutismo, inspirados em ideias iluministas, o movimento já vinha sendo construído e gerando seus frutos.

Na França, onde o Grande Oriente fora fundado em 1773, a maçonaria ajudou a promover a aproximação social e até política da nobreza dominante e da burguesia ascendente, pois os elementos mais brilhantes e mais ativos da aristocracia faziam parte dela. Apesar da sua influência decisiva na Revolução, esta também orientou fortemente os rumos da maçonaria.

Influenciados por esses movimentos, estudantes mineiros que frequentavam cursos de universidades europeias, foram iniciados na maçonaria francesa por volta de 1776 e passaram a arquitetar a libertação da sua terra natal, com destaque para José Álvares Maciel, José Joaquim da Maia, Domingos Vital Barbosa, José Pereira Ribeiro, José Mariano Leal….

“todos de vinte e poucos anos, que iam e vinham portadores de ideias contagiosas, que pegavam nos outros” (Oliveira, 1985). Para Castellani (1992) “consta que Maia, Maciel e Vital Barbosa, entre outros, foram maçons, o que é plausível, pois a Maçonaria europeia já era bastante pujante, principalmente na França e na Inglaterra”. Complementa, afirmando que “em 1776, na França, já existiam 547 Lojas, dez das quais estavam localizadas em Montpellier, que, por sua grande atividade universitária, tinha, também, grande atividade maçônica, pois a Maçonaria da época reunia o topo da intelectualidade europeia”.

Documentos comprovam que chegou a ser discutido um possível apoio dos Estados Unidos, que tomaram conhecimento da conspiração a partir de um contato entre Thomas Jefferson, seu embaixador na França, e o estudante José Joaquim da Maia. Referido encontro ocorreu em Nímes, “longe dos estudantes portugueses a serviço do Intendente Geral de Polícia Pina Manique” (Castellani, 1992). Na carta enviada por Maia a Jefferson, em 1787, surge pela primeira vez a palavra “brasileiro”, como designativo de natural do Brasil (Ferreira, 1972). Até então o termo era associado apenas ao comerciante de pau-brasil.

Álvares Maciel frequentou em Londres os meios políticos maçônicos liderados por Francisco Miranda, interessados na independência dos países latino-americanos e que viriam a formar a Grande Reunião Americana. No seu retorno ao Brasil, juntamente com seus companheiros, trouxe a ideia do movimento emancipador, encontrando campo fértil na Capitania de Minas Gerais (Castellani, 1989). José Álvares Maciel é considerado por todos os estudiosos o intelectual da Inconfidência Mineira. Após sua condenação declarou-se maçom em confissão ao frade franciscano Raimundo da Anunciação Penaforte (Nota 17 – Apêndice 5 – Castellani, 1992).

Na sua obra “Gonzaga e a Inconfidência Mineira”, Almir de Oliveira (1985) comenta que

“na Vila Rica daqueles tempos havia um grupo de literatos, que formava a Arcádia Ultramarina. Eram intelectuais, que se reuniam em sessões, onde se debatiam coisas do espírito. Poetas e juristas. E clérigos. É natural que, num ambiente de inteligências polidas, afeitas ao trato de problemas humanos, surgisse a ideia de fazer-se de Minas, quiçá do Brasil, um Estado livre, nos moldes da República americana do norte”. Pedro Calmon (História do Brasil, 4º Vol. p. 1.248), citado em nota por Roberto Lettière (2001), registra que “o ‘clima’ do fim do século era nefasto aos congressos intelectuais. Nem estes eram apenas intelectuais. A Maçonaria repontara, instalava-se, estendia-se. Não seria de admirar que as esdrúxulas Academias….fossem… conventículos de pedreiros-livres…”.

Foram atraídos por essas ideias vários intelectuais, militares e sacerdotes, aí considerados os poetas árcades Cláudio Manuel, Alvarenga Peixoto e Tomás Gonzaga, além do cônego Luiz Vieira, padre Rolim, padre Carlos Toledo, tenente-coronel Freire de Andrade, sargento-mór Luiz Piza e o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, e tantos outros. Em outra Nota, de número 4 (Apêndice 5 – Castellani, 1992 – p. 276), registra Penaforte que “quase todos cabeças ou eram poetas que tinham assento no parnaso português, ou aprendizes”.

O integralista e escritor Gustavo Barroso, em “A História Secreta do Brasil” (1990), conta que

em Vila Rica, sede do governo da capitania, havia uma roda de homens cultos, participantes duma Arcádia Literária, a qual facilmente se tornaria o centro diretor de qualquer movimento de ideias a se objetivar em ação”.

Citando o monarquista convicto e depreciador de Tiradentes, Joaquim Norberto de Souza e Silva, em “História da Conjuração Mineira”, ressalta que “tornou-se, com efeito, e envolto em tanto mistério que mal sabiam os conjurados do que nele se tratava, nem ao certo as pessoas de que se compunha”. Mencionando ainda Joaquim Felício, em “Memórias do distrito diamantino”, destaca que “a inconfidência de Minas tinha sido dirigida pela maçonaria”, afirmação esta combatida por Castellani em seu livro “A Conjuração Mineira e a Maçonaria que não Houve” (1992), dando munição aos detratores, mas recepcionada em outra obra de sua autoria (1989), conforme abaixo.

Ainda segundo Barroso (1990), notório antissemita e anti-maçom, esses movimentos

criaram um meio social propício à guerra do que está em baixo contra o que está em cima…” (p. 26). Assevera que o Marquês de Pombal principiou “no reino lusitano a era dos maçons, que não passavam de cristãos novos, tanto que as duas palavras eram sinônimos e, no campo, pedreiro-livre era sinônimo de judeus” (p. 151).

Segundo Castellani, no seu livro “A Maçonaria e o Movimento Republicano Brasileiro” (1989), contrariamente ao que afirma em “A Conjuração Mineira e a Maçonaria que não Houve” (1992), e naquela obra resumindo a Inconfidência Mineira, comenta que

a participação maçônica no movimento deve ser ressaltada, já que as ideias iniciais e o espírito de libertação chegaram a Minas na palavra de homens iniciados na maçonaria europeia”. Acrescenta, entretanto, que “nem todos os conjurados eram maçons, como querem fazer crer alguns historiógrafos maçônicos mal informados, que desejam, talvez por entusiasmo pela sua Ordem, fazer, de cada grande homem, um maçom perante a história”.

Aqui cabe um parêntesis para destacar a forma bastante deselegante com a qual o escritor Castellani (1992) se refere ao seu irmão Tenório D’Albuquerque, não poupando argumentos para depreciar sua obra “A Maçonaria e a Inconfidência Mineira” (1960), referindo-se a ele, dentre outras qualificações, como “um compilador altamente tendencioso” (p. 147, 148, 168, 175, 183, 185, 201, 202).

Sobre Tiradentes, comenta Castellani a respeito da inexistência de documentos que comprovem sua condição de maçom e das conclusões precipitadas tiradas por muitos autores, aproveitando-se do fato de terem sido destruídos pelos conjurados os escritos relativos à insurreição, e que alegam que ele “deve ter sido iniciado numa das lojas que devem ter existido em Minas e na Bahia...”. Muitos apologistas da maçonaria afirmam que o Alferes teria funcionado como intermediário entre os maçons de Vila Rica e os do Rio de Janeiro.

Continua…

(Extraído do livro “Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meireles: Romance XXIV ou da Bandeira da Inconfidência)

Fonte: opontodentrodocirculo@gmail.com

sábado, 29 de novembro de 2025

FRASES ILUSTRADAS

MANO OU IRMÃO?

Em 25.05.2025 o Respeitável Irmão Vanderley Schaly, Loja Estrela Rioverdense, 1139, REAA, GOB-GO, Oriente de Rio Verde, Estado de Goiás, apresenta a seguinte questão:

MANO OU IRMÃO

Solicito ao nobre Ir∴, um parecer referente ao tratamento de "mano" entre os IIr∴, observei que mesmo em sessão, é usado.

Vejo que é usado por muitos pela questão de afinidade, mas também por outros, por ter vergonha de se referir a Ir∴, por falta de proximidade. Inclusive IIr∴ que já tem muitos anos de Maçonaria, com altos graus filosóficos, seguem usando esse tratamento. Em algumas respostas do seu blog, o Ir∴ já usou.

CONSIDERAÇÕES:

Evidentemente que na formalidade maçônica o tratamento mais conveniente é o de “Irmão”, entretanto, nada impede que de modo coloquial um Irmão, ao se dirigir a outro, o chame carinhosamente de "mano".

Vale ressaltar que o termo “mano”, como substantivo masculino, significa irmão, amigo, camarada; como adjetivo menciona o que é muito amigo, íntimo, unido, inseparável.

Assim, o uso do tratamento mano (forma hipocorística de irmão) não implica em nada que destoe da fraternidade maçônica. Nada há de ofensivo ou pejorativo no uso deste tratamento.

TFA.
PEDRO JUK - SGOR/GO
jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

MARQUÊS DE CONDORCET

SÍMBÓLICOS E FILOSÓFICOS: ENTRE O TEMPLO E A TORRE

Amados Irmãos 

Entre os degraus simbólicos e os filosóficos, há um caminho que nem sempre é percorrido com sabedoria. Muitas vezes, o erro não está nos graus, mas no coração de quem os carrega. Porque um título pode elevar na hierarquia, mas é a conduta que exalta o espírito.

Os graus simbólicos, são a fundação da Ordem. Sem eles, nada se sustenta. São o chão da obra, o esquadro e o compasso em ação. Neles aprendemos a desbastar a pedra bruta, a levantar colunas com retidão, e a medir nossas ações diante da balança da consciência.

Muitos Irmãos, e aqui vale honrá-los, optaram por permanecer no Simbólico não por limitação, mas por sabedoria. Tornaram-se eruditos do essencial, mestres do silêncio e da palavra certa, guardiões do templo interior. Estes, mesmo sem vestes filosóficas, dominam conhecimentos profundos que alguns apenas ouviram nos graus superiores.

Esses obreiros não precisam subir degraus externos, pois mergulharam nos abismos internos. Seu saber é discreto, mas resplandece. Não ostentam títulos, mas sustentam colunas. Não brilham por insígnias, mas pela luz que carregam.

Por outro lado, os graus filosóficos, quando bem compreendidos, são fontes de grande elevação, ampliam perspectivas, conectam a Ordem ao mundo das ideias universais. São preciosos, sim, e devem ser trilhados com reverência. Mas jamais com arrogância. Porque quem esquece os três primeiros degraus, tropeça mesmo no topo.

Que fique claro: não há divisão entre os Irmãos. Somos todos operários da mesma Obra. O que muda é a ferramenta que cada um segura nas mãos.

Não é o grau que santifica o homem. É o homem que dignifica o grau.

O verdadeiro maçom, seja no Simbólico ou no Filosófico, sabe que a única elevação que importa é aquela que aproxima o coração do Grande Arquiteto do Universo.

Que possamos, cada um de nós, ser templos vivos de humildade, sabedoria e serviço. E que nossos passos, simbólicos ou filosóficos, sempre nos levem para dentro, onde está a verdadeira iniciação.

Avante, Irmãos.
E que cada um seja Luz no degrau onde Deus o colocou. 
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Não permita que a vaidade os dominem.

Ass.: Andros 

Fonte: Facebook_Átrio do Saber

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

FRASES ILUSTRADAS

LIVRO DE PRESENÇAS - CANCELAMENTO DE ASSINATURA

Em 25.05.2025 o Respeitável Irmão Rubens Sousa Jr., Loja Fraternidade Acadêmica de Guarulhos, 3253, REAA, GOB-SP, Oriente de Guarulhos, Estado de São Paulo, apresenta a dúvida seguinte.

LIVRO DE PRESENÇAS

Peço a orientação do irmão na seguinte situação:

Como proceder quando o Visitante ou mesmo o Obreiro registra sua assinatura e preenchimento no Livro da Loja, mas por qualquer motivo nem chega a participar da sessão? (Vai embora antes da abertura dos trabalhos).

Pode ser feita a rasura do livro? Deve ser registrada em Ata fala do Chanceler para pontuar/justificar o ocorrido? Na experiência do irmão qual seria o caminho?

CONSIDERAÇÕES:

 
Caso isso venha a acontecer, é preciso desconsiderar essa presença. Assim, na contagem total dos presentes este registro não deverá ser considerado.

Penso que o nome e assinatura do Ir∴ que se retirou antes da abertura dos trabalhos devem ser riscados (inutilizados) do livro.

Nesse sentido, após a assinatura do Venerável Mestre, que é quem encerra o livro de presenças da Loja, o Chanceler fará um registro, na mesma folha do livro, relatando o ocorrido para justificar a inutilização. É recomendável que o Orador e o Venerável, mediante rubrica, abonem este registro.

Ao mesmo tempo, nada impede que o titular da chancelaria se manifeste em Loja e o Secretário registre o ocorrido na ata da sessão.

De tudo, é imprescindível que haja registro desta ocorrência.

T.F.A.
PEDRO JUK - SGOR/GOB
jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

O ESQUADRO E O COMPASSO

Em um velho ateliê de um mestre construtor, entre pedras brutas e pergaminhos amarelados pelo tempo, viviam duas ferramentas de grande importância: o Esquadro e o Compasso. Eram conhecidos e respeitados por todos, pois, sem eles, nenhuma construção alcançava a perfeição.

O Esquadro, rígido e firme, orgulhava-se de sua precisão. "Sou eu quem dá retidão aos muros e garante a exatidão das linhas. Sem mim, tudo seria torto e imperfeito!", dizia ele com altivez.

Já o Compasso, de traços suaves e movimentos circulares, retrucava com serenidade: "E eu sou aquele que traça a harmonia e a ordem, lembrando a todos que a exatidão sem equilíbrio não constrói nada sólido. Minha função é unir o centro ao infinito."

Certo dia, um jovem aprendiz entrou no ateliê para aprender os segredos da construção. O mestre lhe entregou ambas as ferramentas e disse:

— Para erguer um templo digno dos deuses, deves entender que o Esquadro e o Compasso não são rivais, mas complementares. O Esquadro te ensinará a retidão de caráter e a justiça, enquanto o Compasso te mostrará a medida do infinito e a busca pela perfeição interior.

O jovem tentou trabalhar apenas com o Esquadro, mas seus desenhos eram rígidos e sem fluidez. Em seguida, tentou apenas o Compasso, mas suas figuras não se alinhavam corretamente. Foi só quando uniu as duas ferramentas que conseguiu criar algo belo e harmonioso.

E assim, o aprendiz compreendeu a lição mais valiosa: a retidão da justiça e a busca pela perfeição interior devem caminhar juntas. Desde então, a oficina nunca mais foi a mesma, pois, onde quer que o jovem fosse, levava consigo o ensinamento do Esquadro e do Compasso: ordem e harmonia, justiça e sabedoria.
Moral da Fábula:

A verdadeira construção não está apenas na pedra, mas no equilíbrio entre razão e espiritualidade, retidão e harmonia.

Fonte: Facebook_Átrio do Saber

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

FRASES ILUSTRADAS

CHAPÉU E O CANTO DO HINO NACIONAL

Em 23.05.2025 o Respeitável Irmão Flávio Augusto Batistela, Loja Solidariedade e Firmeza, 3052, REAA, GOB-SP, Oriente de Dracena, Estado de São Paulo, apresenta a seguinte questão:

COBERTURA DA CABEÇA

Mais uma vez recorro ao seu vasto conhecimento para dirimir uma dúvida: Essa semana participei de uma exaltação, já utilizando o novo ritual. No momento da entrada do Pavilhão Nacional, a comissão de recepção está com as espadas e as estrelas nas mãos, e no momento em que o hino nacional é tocado, devemos nos descobrir. Nesse caso da comissão de recepção fica complicado retirar o chapéu com as mãos ocupadas. Qual seria o procedimento, a comissão de recepção retira o chapéu antes?

CONSIDERAÇÕES:

Nessas ocasiões cabe ao M∴ de CCer∴ orientar os integrantes da comissão de recepção que deixem as suas coberturas sobre o assento. Esta orientação também serve aos demais membros do dispositivo, como o Porta-Bandeira e a Guarda de Honra.

Esses são procedimentos que, pela obviedade da situação, não precisam estar escritos no ritual, merecendo apenas o uso do bom senso.

T.F.A.
PEDRO JUK - SGOR/GOB
jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

MUSEU DA MAÇONARIA EM LONDRES


O Museu da Maçonaria em Londres recebeu recentemente uma doação rara e valiosa: um novo manuscrito das Antigas Obrigações, agora batizado de "Manuscrito Barret-Hallam". Datado de 20 de julho de 1718, ele surge exatamente no período em que a Maçonaria deixava de ser operativa e assumia sua forma especulativa moderna.

Escrito por Joseph Hallam, escrivão paroquial de Mansfield, para um certo William Barret, o documento segue o formato clássico das Antigas Obrigações: oração inicial, lenda das sete artes liberais, história mítica da maçonaria e regras para lojas e aprendizes. O mais curioso? Hallam deixou seu nome e uma carta pessoal dentro do pergaminho!

Com quase 3,6 metros de comprimento, o rolo passou por um minucioso processo de restauração financiado pelo National Manuscripts Conservation Trust. O trabalho revelou inclusive o tipo de papel usado — com marca d’água holandesa — e vestígios de intervenções mal feitas ao longo dos séculos.

Agora restaurado, o manuscrito está disponível para consulta na Biblioteca do Museu. Pesquisadores o consideram uma peça-chave para entender o nascimento da Maçonaria moderna e suas ligações com as antigas tradições operativas. Uma nova publicação acadêmica sobre ele já está a caminho.

Créditos: @portalmasonica

Fonte: Facebook_Curiosidades da Maçonaria

SILÊNCIO

Ir∴Ricardo Jorge, MM GOB

Platão disse uma vez aos seus discípulos: “Os homens e os vasos de terracota se conhecem do mesmo modo: os vasos, quando tocados, têm sons diferentes; os homens se distinguem facilmente pelo seu modo de falar”.

Na etimologia da palavra, silêncio vem de silentium, de silens (silere) que significa estar em repouso, tranqüilidade, descanso.

O pensamento do filósofo Iniciado oferece-nos uma excelente oportunidade para uma profunda reflexão. Nem sempre nos damos conta de como nos tornamos prisioneiros das palavras que proferimos. Por serem expressão do nosso pensamento, por traduzirem as idéias e os sentimentos, as palavras se tornam um centro emissor de vibrações, tanto positivas quanto negativas. A palavra é o elemento que identifica o Homem e é a síntese de todas as forças vitais; é o elemento que interliga todos os planos, do mais denso ao mais sutil. A palavra está intimamente ligada ao silêncio, outra sublime expressão da psique humana. No mundo profano a palavra - falada ou escrita - é usada indiscriminada e abusivamente. O Homem Utiliza a palavra por vezes como uma lança.

As palavras ofendem , humilham, magoam e denigrem a honra do próximo. Infelizmente por vezes “abusa-se” do uso das palavras, não só no mundo profano como também no Mundo Maçônico. Tal situação é inconcebível em um Irmão Maçom, pois no estudo dos símbolos ele aprende a refletir sobre o conteúdo oculto das palavras que, em última análise, refletem a essência interior do ser humano. Não é por acaso que a Ordem Maçônica reserva o silêncio aos seus membros, de acordo, aliás, com uma tradição Messiânica e mais recentemente Pitagórica.

A Escola Iniciática de Pitágoras tinha um sistema de três graus: o de Preparação, o de Purificação e o de Perfeição. O neófito no grau de Preparação, equivalente ao grau maçônico de Aprendiz, era proibido de falar; era só ouvinte e cumpria um período de observação de três anos, durante o qual a regra era calar e meditar (pensar) no que ouvia. No grau de Purificação, equivalente ao de Companheiro Maçom, o silêncio prolongava-se por mais dois anos, adquirindo este Irmão o direito de ouvir as palestras do Mestre. Assim, para atingir o grau de Perfeição, equivalente ao de Mestre Maçom, quando então os Irmãos podiam fazer uso da palavra, era necessário praticar o silêncio durante cinco anos. Nas reuniões maçônicas, sem dúvida, constitui uma prova de sabedoria saber ouvir e manter o silêncio. Chílon, um sábio da Grécia Antiga, quando questionado sobre qual a virtude mais difícil de praticar, respondia: “calar”. No mundo maçônico, a dimensão da palavra falada e escrita não é diferente.

Ao entrar em nossa Sublime Instituição encontramos, na ritualística, referências à sacralidade da palavra que, como meio de expressão dos pensamentos e dos sentimentos, deve ser sempre doseada, moderada, e deve espelhar o equilíbrio interno do orador. Em nossa Ordem, a palavra deve ser usada com ponderação e cautela empregada com um sentido de ensinamento e orientada apenas aquele que a consegue escutar. O silêncio, a meditação e o raciocínio, são a única via que leva à libertação das paixões. Além de exercitar a autodisciplina, em seu silêncio o Maçom apreende com muito maior intensidade tudo o que ouve e tudo o que vê. Assim, a voz do Irmão que se mantém em silêncio é a sua voz interior, quando ele dialoga consigo mesmo e, neste diálogo, analisa, critica, tira suas próprias conclusões e aprimora o seu caráter. Em suma, pelo silêncio, a Maçonaria estimula os Irmãos a desenvolver a arte de pensar, a verdadeira e nobre Arte Real...

O silêncio absoluto já não está conectado ao tempo; está para além dele.

A música nasce do silêncio e retorna ao mesmo. Existe um silêncio antes e depois, como o nascimento e a morte. O silêncio inicial é uma promessa ou ameaça. O silêncio terminal designa talvez o nada ao qual a vida retorna. O silêncio é ele mesmo Iniciação .

O silêncio é indispensável e decisivo no processo de lapidação da Pedra Bruta e no aperfeiçoamento do seu Templo Interior. Ao Bater três vezes á porta do Templo , trazendo consigo a liberdade total de expressão, sem as restrições que lhe impõem a moral e a razão, o novo Maçom aprende a controlar os seus impulsos, pela prática Messiânica do silêncio. Assim ele aprimora o seu caráter e prepara-se para ser um líder, numa sociedade na qual prevaleçam a Liberdade responsável, a Igualdade de oportunidades e a Fraternidade solidária.

Para os egípcios o poder do silêncio vai mais longe, personificando este em um Deus – Harpocrates, tornando assim a omissão da “palavra” num acto Poderoso de veneração poder e respeito.

Harpocrates è retratado sendo amamentado por Ísis ou por Hátor. Ambas amamentaram-no e criaram-no justamente para que pudesse vingar-se de seu tio Seth, o rei mau do Alto Egito que matara seu pai Osíris.

Também podia ser identificado com o deus-Sol que renascia a cada manhã, dissipando as trevas, sendo, então, mostrado a emergir de uma flor de lótus que flutua sobre as águas celestiais. Ele simbolizava o incessante renovar da vida, a eterna juventude, tudo aquilo que perpetuamente renasce devido às alternâncias da vida e da morte.

Num período mais tardio (c. 712 a 332 a.C.), essa divindade tornou-se bastante popular e aparecia representada como uma criança nua em pé sobre um crocodilo, tendo nas mãos cobras e escorpiões. Ficou, então, conhecido como um deus com poder de curar as pessoas que tivessem sido mordidas por cobras ou picadas por escorpiões. Ainda podia personificar segundo alguns autores, os germens que começam a brotar, já que seu pai era uma divindade agrária, ou o Sol debilitado do inverno.

Entretanto, Plutarco afirma: "Não se deve imaginar que Harpócrates seja um deus imperfeito em estado de infância, nem grão que germina. Assenta melhor considerá-lo como o que retifica e corrige as opiniões irreflexivas, imperfeitas e truncadas no concernente aos deuses, e tão difundidas entre os homens. Por isso, e como símbolo de discrição e silêncio, esse deus aplica o dedo sobre os lábios."

Se usares da palavra, faz com o coração, em silêncio...

Desaprendemos o valor do silêncio e fazemos de tudo para preenchê-lo – nem que seja com discursos vazios. Ter discernimento ao falar e aprender a calar são,mais que uma meta, um caminho para a paz interior. -- Lao Tzu

Fonte: JBNews - Informativo nº 290 - 14.06.2011

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

FRASES ILUSTRADAS

PEDIDO DE QUITTE-PLACET EM SESSÃO MAGNA


Em 22.05.2025 o Respeitável Irmão Jeferson Balzan, Loja Pedro Michael Struthos, 2065, REAA, GOB-RO, Oriente de Guajará-mirim, Estado de Rondônia, apresenta a seguinte questão:

PEDIDO DE QUITTE-PLACET

Bom dia meu irmão Pedro Juk, preciso tirar uma dúvida, já li o RGF a Constituição Maçônica, o Quite placet pode ser solicitado verbalmente pelo irmão em qualquer Sessão Maçônica, seja ela de Elevação ou Exaltação?

Vou apresentar um trabalho sobre o tema Quite Placet e não estou encontrando a informação, este tema já foi debate em loja e ficou a dúvida.

CONSIDERAÇÕES:

Por não ser esta uma questão de liturgia e ritualística, meus comentários a seguir não serão laudatórios, resumindo-se apenas em opinião.

Conforme menciona o Art. 69, § 2º, do RGF, o Quitte-Placet pode ser solicitado por um Irmão regular, por escrito ou verbalmente.

O RGF não menciona o tipo de sessão (ordinária ou magna), todavia é preciso se levar em consideração que nas sessões magnas de Iniciação, Elevação e Exaltação não existe circulação da bolsa de Propostas e Informações, o que significa que por escrito não será possível algum Irmão fazer essa solicitação naquela oportunidade.

Nesse caso, um pedido verbal também não me parece ser possível, pois palavra será concedida apenas para manifestações sobre o ato que acaba de ser realizado, isto é, sobre a cerimônia em que se deu a Iniciação, ou a Elevação, ou ainda a Exaltação, conforme o caso. Não caberia nessa oportunidade alguém pedir o seu Quitte-Placet.

À vista disso, entendo que o Irmão que quiser pedir o seu Quitte-Placet, por escrito ou verbalmente, deverá fazê-lo em uma sessão Ordinária normal.

Além disso, é preciso se usar de bom-senso, pois não seria apropriado, e nem mesmo elegante, alguém querer tratar desse tipo de assunto em uma sessão magna.

T.F.A.
PEDRO JUK - SGOR/GOB
jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

PÍLULAS MAÇÔNICAS

nº 122 - O Delta Sagrado

Por definição, segundo o dicionário Aurélio, “Delta” é a quarta letra do alfabeto grego, correspondente ao nosso D, e que tem a forma de um triangulo isósceles (os três lados iguais). É também, por semelhança, a foz, caracterizada pela presença de ilhas de aluvião, geralmente de configuração triangular, assentadas à embocadura de um rio, e que forma canais até o mar.

Na Maçonaria, no Oriente de uma Loja, por cima do Trono do Venerável Mestre, brilha o Delta Sagrado, normalmente, com o “Olho Divino” no centro. É o símbolo do Poder Supremo e também do primeiro princípio – ONISCIÊNCIA - que é a suprema realidade, em seus três lados, ou qualidades primordiais que o definem. De ambos os lados do Delta, que representa a Verdadeira Luz, a Luz da Realidade Transcendente, aparecem o Sol e a Lua, os dois luminares visíveis e reflexos dessa luz invisível, que ilumina a Terra, e que, simbolicamente, representam as luzes: intelectual e a moral (Nicola Aslan).

O Delta é um dos mais importantes símbolos maçônicos. No Templo Maçônico, como dito acima, ele fica atrás do trono do Venerável Mestre e deverá ficar numa altura tal que sua visão não seja obstruída pelo Venerável quando este estiver de pé.

Ele é tão importante que quando um maçom cruza a Linha do Equador num Templo Maçônico, ele faz uma leve saudação ao Delta (muitos pensam, erradamente, que a saudação é feita ao Venerável Mestre – ver Pílula Maçônica nº 121).

Muitas vezes é colocado, em menor tamanho, na parte frontal externa do Dossel.

Nos Ritos teistas (Adoniramita, Escocês, etc) o Delta representa a presença da Divindade e, normalmente, no seu interior são colocados símbolos representativos, tais como a letra hebraica “iod”, ou mesmo, o tetragrama.

Nos Ritos agnósticos, o Delta representa a sabedoria, o conhecimento. No seu interior, normalmente é colocado o “Olho que Tudo Vê” (vide Pílula Maçônica nº 95).

Por todos os motivos mencionados, é que, a visão do Delta não pode ser obstruída por nada e por ninguém.

M.'.I.'. Alfério Di Giaimo Neto
CIM 196017

Fonte: pilulasmaconicas.blogspot.com

QUANDO O TEMPLO É LÁ FORA

VV MM, Digníssimos Vigilantes, meus amados Irmãos:

Há uma verdade silenciosa que paira sobre cada Aprendiz, Companheiro ou Mestre: a Maçonaria não termina ao apagar das luzes do Templo.

Ela se estende em cada gesto, cada escolha, cada silêncio, e é lá fora, no mundo profano, onde não usamos aventais, que carregamos a responsabilidade de sermos Luz.

É lá fora que o verdadeiro maçom se revela.

Quando esquecemos quem somos?

Quando, no trabalho, usamos a hierarquia como trono e não como encargo.

Quando buscamos regalias e privilégios.

Quando silenciamos diante da injustiça porque "não é conosco".

Quando longe dos olhos que nos amam, fazemos o que envergonharia o nosso próprio nome.

Quantas vezes deixamos de ceder um assento, de oferecer uma palavra boa, de calar a língua que fere?

Quantas vezes nos esquecemos de que a verdadeira nobreza não está nos cargos, mas na capacidade de agir com retidão mesmo no anonimato?

A Inversão dos Valores

Vivemos tempos onde se ostenta prestígio enquanto irmãos padecem em silêncio.

Onde se almeja o alto, mas se esquece que o maior exemplo veio de um mestre, que desceu do alto para ensinar a humildade, que veio para servir, lavou os pés de seus apóstolos e entregou a própria vida pela esperança da humanidade.

E quando usamos o dom da palavra, esse dom tão sagrado, para enganar ou manipular aquele que sabe menos, então não somos obreiros… somos traidores do Compasso.

 E o que devemos fazer?

Lembrar...

Lembrar que fomos chamados a ser construtores, não destruidores.

Que carregamos uma Luz, não para escondê-la, mas para iluminar.

E que onde houver trevas no mundo profano, ali deve brilhar a centelha do nosso exemplo.

Conclusão:

O mundo não precisa apenas de mais maçons com títulos e cargos.

Precisa de homens que vivam a Maçonaria quando não há ninguém olhando.

Homens que se lembrem de Deus no silêncio, que edifiquem mesmo no cansaço, e que, quando o Grande Arquiteto do Universo chamar e ELE já está chamando... possam dizer com humildade:

"Senhor, não fui perfeito… E ainda não sou.

Mas com as ferramentas que me destes, trabalhei minha pedra bruta até aqui e estou pronto, daí-me a missão."
T∴F∴A∴ – Andros 

"A maior Loja que você conhecerá será sempre o mundo à sua volta. É lá que tua conduta será julgada em silêncio."

Fonte: Facebook_Átrio do Saber

terça-feira, 25 de novembro de 2025

FRASES ILUSTRADAS

REPRESENTAÇÃO DAS COLUNAS NO ESTANDARTE

Em 22/05/2025 o Respeitável Irmão Alessandro Mota Bastos, Loja Estrela de Davi, 4360, REAA, GOB-SE, Oriente de Aracaju, Estado de Sergipe, apresenta a pergunta seguinte:

COLUNAS NO ESTANDARTE

Estamos confeccionando um novo estandarte para nossa oficina. Entretanto, surgiu uma dúvida que resolvemos lhe submeter.

No ritual, consta que a Coluna B fica à esquerda de quem entra, e a Coluna J, à direita. Dessa forma, entendi que as colunas representadas na imagem estariam invertidas. No entanto, alguns irmãos entendem que a imagem está correta, considerando a posição do Venerável Mestre em relação ao estandarte durante a sessão — como se estivéssemos visualizando o Venerável entre as colunas, vistos de frente, apenas para ilustrar o exemplo.

Meu Irmão Pedro Juk, gostaria de contar com sua orientação para que nosso estandarte seja confeccionado de forma correta, de acordo com o rito praticado por nossa Loja, o REAA. As colunas da imagem estão corretas ou devem ser invertidas.

CONSIDERAÇÕES:


Vamos lá. Sem o exercício de nenhuma "ginástica mental", o caso é simples. É só não inventar.

Veja, a Loja pratica o REAA, logo, neste Rito, as Colunas ladeiam a porta de entrada pelo lado de fora (átrio), ficando a Coluna B∴ à esquerda de quem entra e a J∴ à direita.

Pelo interior do Templo não é possível enxergar as Colunas, já que ambas estão no átrio. Sendo assim, a primeira visão que se tem é de fora para dentro - B∴ à esquerda e J∴ à direita.

Assim, por uma questão de lógica, segue-se a mesma representação no estandarte, ou seja, quem para ele olhar, verá B∴ à esquerda J∴ à direita.

T.F.A.
PEDRO JUK - SGOR/GOB
jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

ENRICO FERMI

COMO VOCÊ É RECONHECIDO?

VV MM, digníssimos Vigilantes, e valorosos Irmãos:

Há perguntas que nos atravessam não apenas os ouvidos, mas a alma.

E uma delas, aparentemente simples, carrega o peso de uma espada simbólica e o brilho de uma lâmpada interior:

"Como você é reconhecido?"

Nos rituais, somos todos reconhecidos.
Nas formalidades, tratados como irmãos.
Nos títulos, identificados por graus e cargos.
Mas no íntimo das consciências, a resposta verdadeira só ecoa quando o silêncio da conduta fala mais alto que o som das palavras.

O verdadeiro reconhecimento não se mede pela frequência, nem se mede pelas vestes, nem se garante pelos votos.

Ele se conquista, dia após dia, com atitudes coerentes e palavras que espelham o coração.

Ser reconhecido é ser lembrado com respeito, citado com verdade, e invocado com confiança quando a Loja precisa.

Há obreiros que carregam o nome de "irmãos" mas agem como "primos", pois se afastaram da essência e se perderam nos reflexos dourados da vaidade.

Confundem liberdade com irreverência.

Confundem sabedoria com arrogância.

Confundem Maçonaria com palco de vaidades.

Mas tu, obreiro sincero, se inquietas porque ainda tens viva em ti a voz da consciência.

E é ela que, mesmo em dúvida, te diferencia daqueles que não mais questionam sua própria sombra.

Não te preocupes se te reconhecerão por palavras.

Preocupa-te em ser exemplo quando ninguém estiver vendo.

Pois a Luz verdadeira não precisa de microfone — ela se espalha no silêncio da retidão.

Um dia, um Irmão falará de ti, talvez em tua ausência.

Talvez quando fores apenas lembrança, talvez quando fores um marco.

E a pergunta será feita, ainda que velada:

"Esse foi um construtor ou apenas um frequentador?"

Que a resposta venha leve, como um suspiro de saudade:

"Esse, sim, honrou seu avental."
T.F.A. — Andros

Fonte: Facebook_Átrio do Saber