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PERGUNTAS & RESPOSTAS

O “Perguntas & Respostas” que durante anos foi publicado no JB News e aqui reproduzido, está agora no “Blog do Pedro Juk” . Para visita-lo ou tirar suas dúvidas clique http://pedro-juk.webnode.com/ ou http://pedro-juk.blogspot.com.br

domingo, 31 de agosto de 2025

FRASES ILUSTRADAS

GRAUS NA MAÇONARIA OPERATIVA (DE OFÍCIO)?

Em 17/02/2025 o Respeitável Irmão Alessandro Sousa, Loja Segredo e Caridade, 1141, REAA, GOB-PE, Oriente de Bom Conselho, Estado de Pernambuco, apresenta a seguinte questão:

GRAUS DA MAÇONARIA

Querido Irmão Pedro, por esses dias li um artigo que citava dois supostos graus da Maçonaria Operativa, intitulados de Harodim e Menatzchim. Infelizmente as fontes e trabalhos afim são muito vagos.

Temos alguma literatura a respeito desses supostos graus?

CONSIDERAÇÕES:

Com seus aproximados oitocentos anos de história documental, a Maçonaria Operativa, ou de Ofício, era composta apenas por duas classes de profissionais operários. Estas classes ficariam conhecidas como Aprendiz do Ofício e Companheiro da Arte. O dirigente do canteiro de obras era o Mestre da Loja e era um Companheiro experiente.

Na Maçonaria primitiva não existiam templos maçônicos e nem ritualística maçônica tal como hoje conhecemos na Moderna Maçonaria especulativa.

As organizações de ofício de pedreiros da Idade Média, nossos ancestrais, viriam florescer a partir do século X no Norte da Europa. Protegidas pela Igreja Católica, essas corporações se dedicavam principalmente à construção de igrejas, catedrais, mosteiros, abadias, etc. Tiveram com marca registrada da sua profissão o estilo Gótico de arquitetura. Este estilo foi tão importante para as corporações de construtores que o seu declínio resultou diretamente na decadência do oficio a partir do final do século XVI e início do século XVII.

Falar em graus iniciáticos especulativos na Maçonaria Operativa é algo inconciliável, portanto, os graus mencionados na questão acima, podem ser meramente lendas utilizadas para a construção, mais tarde, de graus especulativos, os quais começariam a aparecer em meados do Século XVIII, principalmente. Vale lembrar que lendas não têm nenhum compromisso com a realidade histórica.

A Maçonaria Especulativa, ou dos Aceitos, que documentalmente se iniciou no ano de 1600 na Escócia, primitivamente possuía apenas dois graus, só passando a ter três Graus universais a partir no nascimento do 3º Grau que ocorreria em 1725, sendo oficializado em 1738 por ocasião da segunda Constituição de Anderson para a Grande Loja de Londres e Westminster.

À vista disso, falar em "graus maçônicos” nos tempos da Maçonaria Operativa, além das duas classes profissionais de Aprendiz e Companheiro que já existiam, é algo que não se coaduna nem um pouco com a realidade da história documental. Provavelmente os títulos Harodim e Menatzchim, mencionados na sua questão, sejam frutos remotos de lendas que eram escritas nos manuscritos e contadas entre os membros das corporações de pedreiros medievais, todavia isso não nos dá a garantia de afirmar que fossem autênticos graus maçônicos.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

BREVIÁRIO MAÇÔNICO

O BURIL

Para desbastar a pedra bruta usamos o escopro; para burila-la usamos o buril que é um instrumento mais delicado, e mais preciso.

O maçom nada pode fazer sem o auxílio do escopro; o buril, contudo, é usado ou pelo Venerável Mestre ou pelos Vigilantes ou por nós mesmos.

O Venerável Mestre e os Vigilantes usarão o malhete para bater no buril; pelo formato, o malhete não passa de uma miniatura de um maço; é um instrumento contundente, porém mais suave.

O Venerável da Loja não é o único "supervisor" de nosso comportamento, nem os Vigilantes.

A nossa humildade deve aceitar os "mais autorizados" como conselheiros; jamais refutar conselhos e orientações, uma vez que são expressões dirigidas para o nosso bem.

Não são os defeitos e as grandes ações inconvenientes que mais nos prejudicam, mas aquelas atitudes mínimas que costumeiramente demonstramos, parecendo inocentes, mas que contêm veneno, que nos transformam de pedra polida em pedra bruta.

Usemos o buril para a retirada das pequenas arestas quase imperceptíveis e o malhetem para a pressão, e então estaremos na direção certa do aperfeiçoamento maçônico.

Breviário Maçônico / Rizzardo da Camino, - 6. Ed. – São Paulo. Madras, 2014, p. 77

FERNANDO PESSOA

João Anatalino Rodrigues(*)
Embora não se tenha levantado, até o momento, uma prova conclusiva de que o poeta Fernando Pessoa era Maçom, não há dúvida que ele era iniciado nos segredos da Arte Real. Pelo menos, nos seus escritos, ele demonstra muito mais conhecimento do que a grande maioria dos maçons que já atingiram os últimos degraus da Escada de Jacó.

Por prova conclusiva entendemos documentos escritos, tal como uma acta de seção registrando a sua iniciação. Todavia, vários outros documentos, como por exemplo, as publicações maçónicas, que ele recebia regularmente, mostram que ele, efectivamente, tinha ligações com a Maçonaria.

A Maçonaria de Fernando Pessoa é espiritualista por excelência. E não poderia ser de outra maneira dado o conteúdo dos seus escritos. Ele não via a Maçonaria como uma sociedade secreta, mas sim como uma sociedade iniciática.

Há diferenças fundamentais entre os dois conceitos. Uma sociedade secreta não tem estatutos nem divulga os seus objectivos ou o nome dos seus membros. Vive nas sombras e as suas actividades só é conhecida dos seus adeptos. A sociedade iniciática é, quanto muito, seita, ou uma ordem que pratica uma doutrina. Ela inicia os seus adeptos nessa doutrina, que não pode, por isso mesmo, ser secreta.

Se o fosse, não poderia ser chamada de doutrina. O segredo, na maçonaria, como próprio poeta diz, é circunstancial. Quer dizer, existem certas particularidades que não podem ser divulgadas a quem não pertencer à Ordem, ou mesmo dentro das diversas hierarquias de graus,  a quem não pertencer ao mesmo grau.

Mas isto era simples questão de circunstância e organização hierárquica. Na verdade, aquilo que as pessoas chamam de secreto na maçonaria, que são os seus símbolos, palavras e toques são muito mais uma forma de linguagem do que propriamente uma fórmula discriminatória, ou de exclusão de pessoas estranhas ao meio, como é o caso das sociedades secretas.

Outra indicação da sua condição de Maçom é a estreita amizade que ele manteve com o famoso mago e eminente Maçom Aleister Crowley, o qual visitou Lisboa em 1930 para, segundo ele mesmo informou, estabelecer na capital portuguesa uma “delegação da Ordem, sob a autoridade de Dom Fernando Pessoa.” Que Ordem era essa ele não disse. Aleister Crowley era Maçom e membro da famosa Golden Dawn, uma espécie de Loja Maçónica espiritualista fundada na Inglaterra em fins do século XIX pelo escritor Bullwer Litton, famoso pela narrativa dos Últimos Dias de Pompeia, livro que o notabilizou. Crowley fundou diversas Lojas Maçónicas, de diversos ritos. Foi um das maiores autoridades em maçonaria, em toda a história da Ordem.

Não temos dúvida que Fernando Pessoa era irmão. Tanto era que se envolveu em acirradas lutas em defesa da Maçonaria, quando o Estado Novo, implantado em Portugal em 1926, sob a direcção de Oliveira Salazar, iniciou um sistemático processo de perseguição contra a ordem maçónica em Portugal. Esta perseguição culminou com a lei 1901, de Maio de 1935, que proibia e existência das chamadas “sociedades secretas”. Essa lei, que só foi revogada em 1974, quando o regime foi abolido, tinha um alvo bem claro: A Maçonaria. Fernando Pessoa insurgiu-se contra esse decreto escrevendo vários artigos em revistas da época, defendendo a Maçonaria, expressando a sua opinião e conceitos a respeito da Ordem e da sua doutrina. Em razão disso, a sua vida durante o regime salazarista, não foi muito fácil.

Para Pessoa a Maçonaria não era uma sociedade secreta, embora as suas reuniões fossem fechadas e privativas dos iniciados.

Quem diz que a Maçonaria não é uma religião só está certo numa coisa, dizia Fernando Pessoa: ela não é religião confessional. Ela é uma religião iniciática. Qual a diferença? Ele mesmo explica: a diferença entre as seitas iniciáticas e as religiões institucionais é precisamente a iniciação e a forma de participação. Nas religiões institucionais o adepto participa, mas não aprende. Ele é cooptado, não pela razão, mas pela fé. Na Maçonaria não há uma fé, mas sim uma doutrina de carácter iniciático.

Para Fernando Pessoa havia duas classes de maçons: os esotéricos e os exotéricos. Os esotéricos, na sua opinião, os verdadeiros maçons, eram os espiritualistas, aqueles que viam a Ordem como sociedade de pensamento, onde se podia adquirir uma verdadeira consciência cósmica. Os exotéricos eram aqueles que viam a Maçonaria como um clube de cavalheiros, uma entidade sócio empresarial elitista e pseudo-filantrópica, mais interessada em política e vida comunal do que, propriamente, doutrina.

Na sua opinião, a maioria dos maçons era do último tipo, isso é, exotéricos. Eram do tipo administrativo, pessoas que galgam até os últimos graus da Ordem sem entender absolutamente nada do que aprenderam lá. Issto significa que existe na Maçonaria uma grande quantidade de iniciados profanos, que por falta de uma sensibilidade para com a verdadeira natureza dos ensinamentos maçónicos, ou mesmo pela falta de interesse ou mera preguiça intelectual, jamais serão verdadeiros iniciados, ou maçons no verdadeiro sentido da palavra. São iniciados por fora, apenas formalmente, mas continuam profanos por dentro.

A sua principal crítica era o facto de as Lojas se terem tornado instituições, que faziam seções meramente administrativas. A maioria das Lojas, segundo o poeta, praticavam os rituais de uma forma vazia e puramente formal, sem levar o adepto a entender a riqueza espiritual contida nas lendas, nos ritos e nos símbolos utilizados no ensinamento maçónico. Por isso, dizia ele, cada grau deveria corresponder a um estado de vida, tendente a levar o iniciado a um novo patamar de consciência. Isto tudo se perdeu quando a Maçonaria institucionalizou os seus ritos e se transformou numa organização administrativa.

Salientava ainda, o poeta, que a Maçonaria é uma “Ordem de Vale”, isto é, uma Ordem que precisa da qualidade iniciática para se tornar uma “Ordem de Montanha.” Simbolicamente isso significa que a sua função é dirigir o adepto na busca da elevação espiritual. Foi isso que os hebreus fizeram, por exemplo, quando deixaram o Vale do Nilo e se dirigiram para o Monte Sinai sob o comando de Moisés. Os hebreus deixaram a religião formalista e meramente confessional do Egipto para buscar a iniciação na montanha. Assim, o Êxodo foi, na verdade, uma grande jornada iniciática. Dai ele entender, por exemplo, ser o Rito de Heredon, o mais representativo da Ordem maçónica. Isto porque Heredon é o centro supremo do mundo, o polo místico da iniciação planetária, segundo a tradição Rosa-Cruz. De acordo com a lenda Rosa-Cruz, a montanha de Heredon está situada na Escócia, a 60 milhas de Edimburgo.

Não precisamos dizer que concordamos com Fernando Pessoa. No nosso entender a Maçonaria, enquanto instituição não se deve envolver com questões comunitárias nem se preocupar com a prática da filantropia. Isso deve ser uma preocupação do Maçom como pessoa, mas não da Maçonaria como instituição. Uma Loja voltada mais para esses fins torna-se, como disse o poeta, uma unidade administrativa, fugindo da sua verdadeira finalidade, que no nosso entender, é evitar a desintegração cósmica do homem, desintegração essa provocada pelo individualismo e pela luta pela sobrevivência. Afinal, a busca dessa integração é a meta das doutrinas espiritualistas.

Fernando Pessoa nasceu em Lisboa em 1888 e morreu na mesma cidade em 1935. Deixou para a comunidade maçónica um extraordinário legado doutrinário, muito pouco conhecido e por isso mesmo pouco explorado. Esperamos voltar ao assunto em breve para levar aos irmãos mais um pouco da sabedoria maçónica do grande poeta português.

(*)Do livro “O pensamento maçónico de Fernando Pessoa” – Jorge de Matos, ed. Sete caminhos – Lisboa, 2006

Fonte: fremason.pt

    sábado, 30 de agosto de 2025

    FRASES ILUSTRADAS

    COMUNICAÇÃO DO CHANCELER E OUTRAS QUESTÕES RITUALÍSTICAS

    Em 17/02/2025 o Respeitável Irmão Gilmar Detrich, Loja Perseverança e Vigor, 2638, REAA, GOB-SP, Oriente de Rio Claro, Estado de São Paulo, faz as perguntas que segue

    COMUNICAÇÃO DO CHANCELER

    Para que tenhamos cada vez mais uma ritualística mais acertada possível, temos as seguintes questões.

    1. Em nossas sessões costumeiramente (famoso uso & costume), o Irmão Chanceler, após fazer a comunicação dos aniversariantes etc., solicita ao Venerável Mestre, uma bateria de alegria ao final dos trabalhos em homenagens a esses aniversariantes.

    Também costumeiramente o Venerável Mestre, atende essa solicitação após o encerramento do trabalho.

    A nossa questão sobre o assunto é a seguinte: Essa prática condiz com o Ritual? É permitida?

    2. Após a circulação do saco de propostas e informações, após a conferência, o Venerável Mestre, agradece aos Irmãos Orador e Secretário. Procedimento desnecessário, uma vez que no ritual não há essa fala, correto?

    3. No ritual consta que os ocupantes do Oriente podem falar em pé ou sentado. Com isso agora, alguns criaram um sistema híbrido (palavra da moda), onde começam falando em pé, e no decorrer da fala sentam-se. Acredito que, salvo uma necessidade específica, deve permanecer como começou. Seria isso?

    4. Na página 212 do Ritual de Aprendiz é mencionado que o novo Aprendiz deve ocupar o lugar mais próximo da coluna de Áries, perto do 1° Vigilante.

    Só na iniciação ou em todas as sessões?

    E uma última questão, sei que não é da Ritualística, mas, talvez possa me ajudar ou pelo menos me dar o caminho das pedras.

    Tem um irmão de uma loja do Oriente de S. Bernardo do Campo, que quer indicar um sobrinho em nossa Loja Oriente de Rio Claro. Nenhum irmão da nossa loja conhece esse possível indicado. A nossa questão é: Pode alguém de um outro oriente, sendo membro regular fazer a indicação em outro oriente?

    CONSIDERAÇÕES:

    1. O Chanceler deve se limitar a anunciar os aniversariantes da Loja no período. O ritual não prevê pedidos e nem aplausos nesta ocasião. Antes das suas conclusões para o encerramento, o Orador, em nome da Loja, fará os cumprimentos – sem aplausos.

    No tocante ao que ocorre após o encerramento dos trabalhos não está no contexto ritualístico, portanto não merecem comentários. 

    2. Conforme o ritual, os Irmãos Orador e Secretário se aproximam do Altar, cada um por seu lado e, à Ordem, assistem a verificação, voltando a seguir aos seus lugares. Quanto ao Venerável Mestre agradecer, dizendo apenas "obrigado", me parece nada alterar na conjuntura ritualística.

    3. Os Irmãos do Oriente podem falar sentados, a não ser quando o ritual determinar o contrário. Assim, o Irmão que por deferência (ocorre na maioria das vezes) resolver falar em pé, fala se colocando à Ordem, voltando a se sentar somente após ter concluída a sua fala. Não se fala um pouco em pé e um pouco sentado.

    4. Sim, ele apenas senta próximo à Áries no dia da sua Iniciação. Depois ele pode ocupar outros lugares, desde que junto à parede Norte.

    No dia da sua iniciação o iniciado senta próximo à Áries, onde se inicia a jornada iniciática do Aprendiz pelo topo da Coluna do Norte (equinócio de primavera ao Norte).

    5. Não é uma questão de liturgia e ritualística, portanto não cabem comentários de minha parte.

    T.F.A.
    PEDRO JUK - SGOR/GOB
    jukirm@hotmail.com
    Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

    MAÇONS FAMOSOS


    Edward Thompson Taylor (1793-1871). Durante a Guerra de 1812, Taylor foi capturado pelos britânicos enquanto servia no corsário Curlew e mantido prisioneiro na Ilha Melville. Após sua libertação em Halifax, ele retornou a Boston, onde se envolveu com a Igreja Metodista e foi licenciado como pregador leigo em 1813. Trabalhando inicialmente como vendedor itinerante, ele se estabeleceu em Saugus, Massachusetts, onde começou a liderar cultos e reuniões de oração. Com o apoio de figuras locais, como Solomon Brown e Amos Binney, Taylor foi enviado para a Wesleyan Academy em New Hampshire, mas deixou o curso após seis semanas. Em 1818, ele foi designado para pregar em Marblehead, onde conheceu e se casou com Deborah Millett. Ordenado ministro em 1819, Taylor começou a pregar em várias cidades costeiras de Massachusetts e Rhode Island.
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    Taylor se destacou como um pregador eficaz, especialmente entre marinheiros e trabalhadores marítimos, devido à sua própria experiência no mar. Ele também se tornou conhecido por suas pregações sobre temperança, abordando o problema do álcool no mundo marítimo. Além disso, ele participava ativamente de reuniões de acampamento metodistas e se tornou um orador popular. Em 1828, Taylor já havia construído uma reputação como um ministro habilidoso e eloquente, dedicado a servir comunidades costeiras e industriais, enquanto mantinha uma forte conexão com a Maçonaria, à qual permaneceu leal por toda a vida.
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    CURIOSIDADES DA MAÇONARIA

    TOMMASO CRUDELI: O PRIMEIRO MÁRTIR DA MAÇONARIA

    Luiz Sergio Castro

    No dia 27 de março de 1745, falecia em sua cidade natal, Poppi, na região de Arezzo, o poeta e jurista Tommaso Baldassarre Crudeli. Sua morte, há exatamente 280 anos, marcou o fim da vida do primeiro mártir da Maçonaria — um homem que ousou pensar com liberdade em uma época ainda profundamente mergulhada no obscurantismo e sob o rígido controle da Inquisição.

    Nascido em 21 de dezembro de 1702, Crudeli pertenceu a uma família de juristas e desde cedo revelou grande talento intelectual. Estudou Direito na Universidade de Pisa, onde teve contato com as ideias científicas e filosóficas mais inovadoras de seu tempo. Tornou-se adepto do atomismo e das teorias de pensadores como Galileo Galilei, Leibniz e John Locke. Esse ambiente fomentou nele um espírito crítico aguçado e uma abordagem antidogmática da realidade — características que fariam dele uma figura destacada do nascente Iluminismo.

    Após concluir seus estudos, Crudeli passou por Veneza, onde trabalhou como preceptor e frequentou círculos filosóficos e literários de inspiração iluminista. Ao retornar à Toscana, fixou-se em Florença, onde se aproximou do ambiente cultural inglês e do grupo de amigos liderado por Antonio Cocchi. Em 1733, sua leitura pública de uma ode fúnebre em homenagem a Filippo Buonarroti, na Capela de Pazzi da igreja de Santa Croce, acendeu o sinal de alerta da Igreja, que passou a vê-lo com desconfiança.

    Dois anos depois, em maio de 1735, Crudeli foi iniciado na primeira loja maçônica da Itália, fundada em Florença por intelectuais e diplomatas britânicos, como Charles Fane e Horace Mann. A Maçonaria, recém-nascida na Inglaterra, difundia os ideais de liberdade, igualdade e progresso, confrontando diretamente o poder eclesiástico e as estruturas autoritárias do Antigo Regime. Por isso, tornou-se rapidamente alvo da repressão religiosa. Em 1738, o papa Clemente XII publicou a bula *In Eminenti*, condenando e proibindo a prática maçônica em todos os territórios católicos.

    Em 1739, a perseguição se abateu diretamente sobre Crudeli. Preso pela Inquisição com a acusação de ser maçom, foi encarcerado em Florença, onde sofreu duras torturas físicas e psicológicas. Passou quase dois anos preso em condições desumanas, o que deteriorou gravemente sua saúde. A libertação só ocorreu em abril de 1741, graças à intervenção de amigos influentes e do próprio Grão-Duque Francisco de Lorena. Mesmo assim, ele foi confinado sob prisão domiciliar em Poppi, onde permaneceu até sua morte.

    Apesar da fragilidade física, Crudeli continuou escrevendo e denunciando as injustiças que sofrera. Durante os quatro anos de reclusão, redigiu poemas, textos em prosa e um relato detalhado de sua prisão e julgamento pelo Santo Ofício, publicado anonimamente por Francesco Becattini em 1782. Um manuscrito original com anotações do próprio autor foi redescoberto na Biblioteca Estense de Modena, confirmando sua importância histórica.

    Mesmo após sua morte, a condenação por heresia não foi retirada. Sua obra foi incluída no Index Librorum Prohibitorum e seus irmãos foram obrigados a renegar suas publicações. Contudo, seu martírio não foi em vão: o Granducado da Toscana suspendeu o funcionamento do Tribunal do Santo Ofício em 1743 e, em 1782, decretou sua extinção definitiva, demolindo o prédio da Inquisição localizado no claustro da igreja de Santa Croce, em Florença.

    Tommaso Crudeli tornou-se, assim, um símbolo da resistência à intolerância religiosa e da luta pela liberdade intelectual. Sua vida representa a coragem de enfrentar o dogmatismo em nome da razão, da justiça e do progresso humano. Seu legado permanece vivo, inspirando todos os que, ainda hoje, lutam contra o obscurantismo e pela dignidade do pensamento livre.

    Fonte: Revista O Malhete

    sexta-feira, 29 de agosto de 2025

    FRASES ILUSTRADAS

    USO DO CHAPÉU III - REAA

    Em 16.02.2025 o Respeitável Irmão Décio Fraga Júnior, Loja Nilson Alves Garcia, 2033, REAA, GOB-GO, Oriente de Goiânia, Estado de Goiás, apresenta o que segue:

     USO DO CHAPÉU

    Uma dúvida por aqui.

    O uso do chapéu em sessões ordinárias graus 1 2 e 3 só o Venerável Mestre usa. Sessão magna grau 1 e 2 só o Venerável Mestre usa.

    Sessão magna grau 3 todos os Mestres Maçons usam conforme ritual pag. 35, ritual Grau, 3, 2024.

    CONSIDERAÇÕES:

     Não é bem assim. O Venerável Mestre se apresentará coberto em todas as sessões Ordinárias, Magnas e Especiais, nos graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre.

    Nas sessões de Mestre Maçom, sejam elas Ordinárias, Magnas e Especiais, além do Venerável Mestre, também os demais Mestres se apresentam cobertos.

    Consta no Ritual de Mestre, 2024, página 35, subtítulo 1.4.2.7 - Chapéu de Mestre Maçom REAA:

    "O Chapéu, preto e desabado, faz parte da indumentária do Mestre Maçom no REAA. Em Loja aberta no 3º Grau (Cam do Meio), nas Sessões Ordinárias, Magnas e Especiais (o grifo é meu), além do Respeitab Mestre, obrigatoriamente todos os demais VVen IIr Mestres Maçons se apresentam cobertos com o Chapéu (o grifo é meu). Em Lojas de 1º e 2º Graus, nas Sessões Magnas, Ordinárias e Especiais, apenas o Ven Mestre se cobre.

    Assim, o Venerável Mestre, independente do Grau (1, 2 ou 3) e da sessão (Ordinária, Magna e Especial) que ele estiver dirigindo, sempre se apresentará coberto. Os Mestres Maçons, em Câmara do Meio (Loja de Mestre) nas sessões Ordinária Magna o Especial, também se apresentarão sempre cobertos.

    Os Mestres Maçons não se apresentam cobertos nas sessões Magnas, Ordinárias e Especiais em Graus de Aprendiz e Companheiro.

    T.F.A.
    PEDRO JUK - SGOR/GOB
    jukirm@hotmail.com
    Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

    GENOCÍDIO ARMÊNIO

     
    Luiz Sergio Castro

    Genocídio Armênio: 110 Anos Depois e a Participação da Maçonaria

    Em 2025, o mundo recorda os 110 anos do Genocídio Armênio — um dos episódios mais sombrios da história do século XX, no qual aproximadamente 1,5 milhão de armênios foram mortos pelo Império Otomano durante a Primeira Guerra Mundial, entre 1915 e 1923. Reconhecido por muitos países e estudiosos como o primeiro genocídio moderno, esse crime hediondo permanece, até hoje, envolto em polêmicas, negações oficiais e dores abertas. O que poucos sabem é que, nesse contexto turbulento, a Maçonaria também foi direta e indiretamente afetada — tanto como vítima quanto, paradoxalmente, como objeto de manipulação política.

    O Genocídio Armênio: Contexto e Memória

    O Império Otomano, em franca decadência no início do século XX, enfrentava tensões internas profundas. Diante da ascensão do nacionalismo turco e da ameaça percebida pelos jovens turcos — movimento político reformista que havia tomado o poder —, as minorias cristãs, como os armênios, foram gradualmente demonizadas, vistas como traidoras e aliadas da Rússia czarista.

    Em 24 de abril de 1915, líderes intelectuais armênios foram presos em Constantinopla (atual Istambul), marcando o início oficial do genocídio. O plano envolveu deportações em massa, marchas forçadas pelo deserto, massacres sistemáticos e a destruição da cultura armênia. Mulheres, crianças e idosos foram mortos sem piedade, templos profanados e registros históricos apagados.

    A Maçonaria no Império Otomano

    No início do século XX, a Maçonaria exercia certa influência no Império Otomano, especialmente em círculos intelectuais e reformistas. Algumas lojas maçônicas abrigavam tanto muçulmanos quanto cristãos, incluindo armênios, gregos e judeus, em um espírito cosmopolita e iluminista que contrariava o nacionalismo crescente. Era, portanto, uma instituição transnacional que promovia valores de fraternidade, liberdade de pensamento e igualdade entre os povos — exatamente o oposto do projeto autoritário dos Jovens Turcos.

    É importante destacar que muitos membros do Comitê União e Progresso (CUP), partido político dos Jovens Turcos, tinham vínculos maçônicos. No entanto, após o golpe de 1913, esses laços foram gradualmente rompidos à medida que o CUP mergulhava num nacionalismo radical, traindo os ideais maçônicos originais. De fato, várias lojas que abrigavam armênios e outros cristãos foram fechadas ou perseguidas, e maçons armênios foram assassinados ou deportados com o restante de sua população.

    Maçons Armênios: Vítimas do Silêncio

    Entre as vítimas do genocídio estavam inúmeros armênios maçons, notadamente intelectuais, juristas, médicos e professores que compunham o núcleo cultural da nação armênia. A destruição dessas lideranças foi parte essencial da política de extermínio.

    Por outro lado, a Maçonaria internacional — especialmente na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos — denunciou, já na década de 1920, os horrores cometidos pelos otomanos. Embora não tenha conseguido impedir os crimes, a denúncia maçônica internacional contribuiu para preservar a memória das vítimas e impulsionar ações humanitárias em prol dos refugiados armênios.
    O Silêncio e a Reabilitação Histórica

    Durante o século XX, a questão do genocídio armênio foi amplamente silenciada, especialmente nos países aliados da Turquia. No entanto, com o passar das décadas, o reconhecimento histórico foi crescendo. Em 1987, o Parlamento Europeu reconheceu oficialmente o genocídio. Em 2019, os Estados Unidos fizeram o mesmo. Em 2023, o Papa Francisco reiterou que o genocídio armênio “foi o primeiro do século XX”.

    A Maçonaria, especialmente em países onde o tema é mais discutido, como França e Argentina, promove encontros, publicações e homenagens às vítimas do genocídio. Lojas maçônicas armênias na diáspora mantêm viva a chama da memória, não como um instrumento de rancor, mas como uma defesa da justiça e da dignidade humana.

    Considerações Finais

    Cento e dez anos depois, o Genocídio Armênio continua a clamar por reconhecimento e verdade. A Maçonaria, embora não tenha sido protagonista direta dos acontecimentos, foi envolvida de forma significativa — por seus membros perseguidos, por sua filosofia humanista e por sua resistência ao obscurantismo.

    A lição que permanece é clara: onde a fraternidade é esquecida, a barbárie prospera. A memória dos maçons armênios assassinados, dos templos destruídos e das vidas apagadas permanece como um alerta — e uma convocação. Cabe à Maçonaria de hoje continuar sendo guardiã da verdade, da liberdade e da dignidade humana, lutando contra todos os genocídios e negacionismos, em qualquer época, em qualquer lugar.

    Fonte: https://revistamalheteonline.blogspot.com/

    quinta-feira, 28 de agosto de 2025

    FRASES ILUSTRADAS


    A QUEM SE DIRIGE O COBRIDOR INTERNO

    Em 16.02.2025 o Respeitável Irmão Fábio Lobato de Campos Oliveira, Loja Acácia de Hiran, 3865, REAA, GOB MINAS, Oriente de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, apresenta a dúvida seguinte:

    A QUEM SE DIRIGE

    Venho recorrer ao valoroso Ir∴ para esclarecer uma dúvida: estando a Loja aberta, na chegada de um retardatário, o Cobr∴ Int deve se reportar ao 2° Vig, porém o 2° Vig se reporta diretamente ao Ven Mestre ou ao 1° Vig?

    CONSIDERAÇÕES:

    Estando a Loja já aberta, o Cobridor Interno anuncia que batem na porta do Templo ao 2º Vigilante, o qual, por sua vez comunica ao 1º Vigilante e este comunica ao Venerável Mestre.

    Para a verificação de quem bate, nesse caso o Venerável Mestre, ao seu critério pode dirige-se diretamente ao Cobridor Interno para que ele efetue a verificação ou seguir o caminho inverso da comunicação, se dirigindo ao 1º Vigilante, este ao 2º Vigilante e este, por sua vez comunica ao Cobridor Interno para que se proceda a verificação.

    T.F.A.
    PEDRO JUK - SGOR/GOB
    jukirm@hotmail.com
    Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

    GRANDE ARQUITETO DO METAVERSO


    A evolução da Maçonaria para o metaverso parece inevitável, impulsionada pela tecnologia e pela necessidade de adaptação — especialmente após os bloqueios da COVID-19, que limitaram reuniões presenciais. Enquanto alguns irmãos rejeitam a ideia, alegando que "não é a Maçonaria real", outros enxergam potencial: "É a Maçonaria, mas não como a conhecemos". A discussão reflete a tensão entre tradição e inovação, já vista na história da Ordem com a criação de Grandes Lojas dissidentes quando regras como a exclusividade masculina ou a crença em uma divindade foram questionadas.

    O metaverso — um universo digital gerado por computador — oferece possibilidades fascinantes: museus maçônicos virtuais com peças raras digitalizadas, NFTs para financiar acervos e até interações em salas 3D com avatares. No entanto, a Maçonaria regular enfrenta dilemas. A GLUI (Grande Loja Unida da Inglaterra) já declarou que reuniões e iniciações exigem presença física, citando a privacidade e os "Marcos Antigos da Ordem". Ainda assim, a ausência de proibição explícita no Livro das Constituições deixa espaço para debate.

    Como seria uma loja no metaverso? Avatares substituiriam os irmãos, com criptografia bloqueando gravações não autorizadas e NFTs validando acesso. A tecnologia, porém, ainda é primitiva: headsets de VR e IA precisam evoluir para replicar a profundidade dos rituais. Enquanto museus e palestras podem migrar facilmente, cerimônias de iniciação esbarram em questões de legitimidade. Uma coisa é certa: assim como no século XVIII, quando a Maçonaria se fragmentou para incluir mulheres e ateus, a resistência hoje pode gerar novos caminhos. A pergunta não é se a Maçonaria entrará no metaverso, mas como.

    Uma palavra de cautela. A regra 176 do Livro de Constituições da UGLE não permite que seus membros também sejam membros de organizações maçônicas não regulares. Então, se um maçom regular fosse pego sendo membro de uma organização maçônica não regular, do mundo real ou do metaverso, ele corre o risco de ser expulso da Maçonaria Regular.

    Você se juntaria a uma Loja Virtual? Comente!

    Colaboração: thesquaremagazine.com/

    Fonte: Facebook_Curiosidades da Maçonaria

    O ZERO, O UM E O INFINITO

    Ir∴ Luiz Felipe Brito*

    Nada permanece exceto a mudança. Heráclito de Efeso. Nihil ex nihilo. (Nada vem do nada). Parmenides de Eléia.

    Um papel em branco representa uma matriz de possibilidades.

    Quando falo de matriz de possibilidades não me refiro a um sistema caótico.

    Probabilidades caóticas remetem ao mesmo tempo a um infinito e disperso número de direções. Nada permaneceria, tudo seria mudança.

    Porém quando observamos a existência podemos constatar, que mesmo sob leis aparentes de entropia, a complexidade, ou seja, o agregar com sentido, emerge espontaneamente. Algo surge do nada?

    Se pudermos representar as probabilidades caóticas como vetores, estes encheriam um espaço, mas permaneceriam isolados uns dos outros. Haveria espaços virtuais entre eles que representariam a impossibilidade de sentido ou de concordância.

    Tais espaços virtuais seriam o nada verdadeiro. Do nada, nada provém.

    De fato nem mesmo o espaço para albergar os vetores de probabilidade teria razão de ser.

    Porém percebemos que no cosmo os vetores podem se associar em sinergia, permitindo o surgir do sentido e da complexidade.

    O papel representaria a sinergia potencial entre todos os vetores de probabilidades, formando um espaço vivo de possibilidades. Uma matriz de possibilidades de onde qualquer movimento de relação poderia surgir.

    O que é a mudança se não movimentos de relação?

    Tudo muda, nada permanece enquanto movimento, mas tudo permanece enquanto espaço de possibilidades.

    Dentro desta percepção particular, podemos conjecturar que o nada de fato não existista, pois se fosse realidade não permitiria qualquer sinergia ou sentido.

    O que seria de fato então o nada, ou o número zero, ou se preferir o papel em branco?

    Seria, como já dito e dentro desta linha de pensamento, uma matriz totipotente de possibilidades, decorrente da sinergia possível entre todos os eixos de probabilidade.

    A falta de capacidade de perceber esta miríade infinita e concomitante de possibilidades em sinergia seria a responsável por aferirmos ao papel em branco uma ausência de que ele de fato não é portador.

    Linhas que surjam de movimentos dissecados neste papel são apenas frações do todo. Ou são apenas evidenciações de fragmentos do todo. Mas de forma nenhuma surgiram do nada, pois foram apenas evidenciados.

    Não existe qualquer movimento se não houver espaço de possibilidades para tal.

    Tudo muda dentro da permanência.

    Porém a permanência não seria um espaço fechado? Uma limitação? Um beco sem saída?

    Não se pensarmos na permanência do absoluto.

    O espaço absoluto de possibilidades, uma sinergia plena de um espaço sem fim.

    GADU, o mantenedor ativo do absoluto, poderia ser, de forma superficial, comparado a uma esfera, cujo centro está em todas as partes e cujas bordas não existam.

    Assim o considerando não seria uma unidade, mas Uno.

    Não estaria sujeito às mudanças, mas seria a matriz absoluta das possibilidades.

    Absoluto como se aberto ao sem fim. Estaria em tudo sem se tornar parte.

    Não seria a soma de todas as coisas, mas o espaço que permite todas as somas.

    Todos os números da existência seriam apenas um ponto finito dentro desta matriz plena. Tal matriz plena é representada para nossa compreensão racional como a sinergia total entre toas as infindas possibilidades.

    GADU não venceu o caos, a luz não venceu as trevas.

    O caos é fragmento de percepção, assim como as trevas o são. Em essência nunca possuíram lugar na existência.

    O zero representaria o estado potencial de uma superfície de água, e não a ausência em essência.

    A unidade elementar representa sinergia dentre eixos de possibilidade. Uma onda que percorre o lago.

    Os diversos números são pontos do entrecruzar de muitas linhas, e em si comportam muitas relações, estando interconectados em proporções de equilíbrio com o todo que o cerca.

    O infinito representaria todas as possibilidades de movimentos dentro desta matriz sinérgica sem fim.

    *O Ir∴ Luiz Felipe Brito Tavares escreve aos sábados.
    É AM da Loja Luz do Planalto nr. 76 de São Bento do Sul - SC

    Fonte: JBNews - Informativo nº 280 - 04.06.2011

    quarta-feira, 27 de agosto de 2025

    FRASES ILUSTRADAS


    POLITEÍSMO E A MAÇONARIA

    Em 14.02.2025 o Respeitável Irmão Luiz Gustavo Buzzo, Loja União e Fraternidade, 1284, REAA, GOB-SP, Oriente de Americana, Estado de São Paulo, apresenta a dúvida seguinte:

    POLITEÍSMO

    Escrevo para apresentar uma dúvida que me ocorreu após receber algumas fotos de um Irmão e amigo que visitou a Grande Loja da Pensilvânia nos EUA.

    Dentro do museu maçônico daquela Grande Loja ele bateu a foto de uma placa, que segue anexo, com os seguintes dizeres em tradução livre: “A maçonaria é uma religião? Não. As reuniões maçônicas não são cultos de adoração, e a maçonaria não fornece um caminho para a salvação ou tenta explicar tópicos espirituais. Enquanto os maçons usam a oração nas reuniões de loja, os membros oram ao deus (ou deuses) de seus corações, conforme suas crenças exigem”.

    A frase me chamou a atenção para a questão da tácita aceitação de politeístas na Maçonaria.

    Verifiquei a questão dentro do GOB, sendo que a Constituição e o RGF pregam a “existência de um Princípio Criador” já o formulário de admissão questiona se o candidato “Crê em um Ente Supremo”.

    Ambas as questões afastam o ateu, mas não afastam expressamente uma crença politeísta que possua uma divindade superiora e criadora, cercada de sub-divindades.

    Segundo algumas pesquisas que fiz na internet, o hinduísmo é uma religião politeísta e possui Brahma como uma divindade superiora às demais. Na Índia, de maioria hindu, existem diversas Lojas Maçônicas, inclusive vinculadas à GLUI.

    Pergunto, segundo as regras do GOB, um politeísta que possua a crença em um deus criador ou superior aos demais deuses de sua crença, pode ser Maçom?

    COMENTÁRIOS.

    Em princípio, isto não está no mérito de discussão na Maçonaria, pois entende-se que o maçom deve acreditar em "um" Princípio Criador ou “um” Ente Supremo.

    No caso, o maçom precisa acreditar em Deus, o qual, de modo conciliatório, é conhecido na Maçonaria como Grande Arquiteto do Universo.

    A Maçonaria não discute o "Deus" que cada maçom segue nem qual deles. Para a Ordem Maçônica, basta a crença em Deus.

    Vale salientar que a crença em Deus não remete o maçom a acreditar em vários deuses. Para a Sublime Instituição apenas o que importa é que ele afirme a crença em um "Deus", um Princípio Criador. Apenas isso.

    T.F.A.
    PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
    Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

    PÍLULAS MAÇÔNICAS

    n⁰ 109 - Pedras Bruta, Cúbica e a Prancheta


    As três Jóias Fixas da Loja, de acordo com a Simbologia do Rito Escocês Antigo e Aceito, são a Pedra Bruta, a Pedra Cúbica e a Prancheta (ou Tábua de Delinear). São chamadas de fixas pois ocupam sempre o mesmo lugar na Loja.

    As definições que serão dadas abaixo foram baseadas nas opiniões de diversos escritores/historiadores maçônicos brasileiros e são subjetivas.

    Pedra Bruta é aquela que, simbolicamente, o Aprendiz trabalha, transformando-a numa pedra com o formato cúbico ou de um paralelogramo, para que ela possa ser usada nas construções de alvenaria. É a pedra informe, que terá seu formato pré definido pelo Aprendiz.

    Para isso ele utiliza o Cinzel e o Maço. O Cinzel é uma pequena haste metálica, com uma das extremidades cortante que, batida pelo Maço, desbasta a pedra. O Maço é um bloco de pedra, ou de madeira dura, com formato cilíndrico, ou de um paralelogramo, com um cabo inserido, para uso manual.

    Hoje, na Maçonaria Especulativa, simbolicamente, a Pedra Bruta é o próprio Iniciado. Ele terá seus defeitos pessoais e sociais corrigidos e aperfeiçoados, para serem utilizados na construção moral e ética de um mundo melhor.

    Pedra Cúbica é a obra final do Companheiro Maçom que, simbolicamente, realiza seu trabalho, exaltando todas as suas formas. É a forma geométrica, o cubo ou o paralelogramo perfeito que se encaixa perfeitamente umas nas outras, deixando a construção sem espaços livres. Deve-se deixar claro que estamos falando de pedra cúbica e não, de pedra cúbica polida ou pedra polida. Qualquer pedra pode ser polida, entretanto, acho que não teria aplicação prática no trabalho dos canteiros medievais.

    Hoje, na Maçonaria Especulativa, a Pedra Cúbica, simbolicamente, é a aquisição dos conhecimentos e seu aperfeiçoamento, cada vez mais, para aplicação na Construção Social.

    Prancheta ou Tábua de Delinear é o objeto do trabalho do Mestre Maçom, onde este, simbolicamente, delineia e traça os projetos da construção. Normalmente é uma placa plana de madeira, com as dimensões aproximadas de 40cm x 60cm, que fica encostada no Altar, de frente para o Ocidente (ver Pílula Maçônica nº 63).

    Hoje, na Maçonaria Especulativa, simbolicamente, é o exemplo e a orientação moral, dada pelo Mestre Maçom a todos que estão a sua volta, principalmente os Aprendizes e Companheiros.

    M.'.I.'. Alfério Di Giaimo Neto
    CIM 196017 

    Fonte: pilulasmaconicas.blogspot.com

    OS EFEITOS PSICOLÓGICOS DA PRÁTICA DO RITUAL MAÇÔNICO

    Rafhael Guimarães 

    A definição mais comum de Maçonaria é a de que “Maçonaria é um belo sistema de morali­dade velado em alegorias e ilustrado por símbolos” (ZELDIS, 2011). Isto já diz muito sobre a instituição e o seu modo de ensino e aprendizagem, que ocorre por meio de rituais repletos de alegorias e expressões simbólicas. No entanto, entre o desdobramento do ritual e o comportamento moral dos seus praticantes há um mecanismo psicológico que não pode ser ignorado e cuja compreensão pode colaborar um melhor entendimento da razão da Maçonaria atrair ao longo dos séculos o interesse de tantos distintos homens e a ira de tão perigosos inimigos, como os nazistas, papas e o Comintern – Comité Comunista Internacional (ROBERTS, 1969).

    Este estudo tem por objectivo analisar as influências psicológicas que a prática ritualística maçónica, as suas falas, movimentos, símbolos, dramas e alegorias, podem ter sobre os seus praticantes.

    Muitos talvez possam julgar os rituais maçónicos como ingénuos, ultrapassados, estranhos ou até mesmo supersticiosos. Serão apresentados neste estudo indícios de que tanto os rituais como a mitologia possuem as mesmas fontes de origem – o inconsciente (CAMPBELL, 2007; JUNG, 2005).

    Há, sem dúvida, inúmeras diferenças entre as religiões e mitologias da humanidade, e todas estas, de uma forma ou de outra, podem ser encontradas em alguma medida, representadas nas alegorias maçónicas (MAXENCE, 2010).

    Foi em 1900 que Sigmund Freud apresentou ao mundo a sua teoria do Inconsciente, na obra “A interpretação dos sonhos” (FREUD, 1972). O conceito de Inconsciente já existia de alguma forma desde a Grécia Antiga, contudo foi somente com Carl Gustav Jung que tal teoria encontrou a sua plenitude, alcançando um sentido mais amplo, quando o mesmo diferenciou a actuação do inconsciente de uma camada mais profunda, que chamou de Inconsciente Colectivo, que são formas ou imagens de natureza colectiva que se manifestam praticamente em todo o mundo como constituintes dos mitos e, ao mesmo tempo, como produtos individuais de origem inconsciente, que influenciam toda a nossa psique (JUNG, 2011c).

    Ao contrário da escola freudiana, que afirma que os mitos estão profundamente enraizados dentro de um complexo do inconsciente, para Jung, a origem atemporal dos mitos reside dentro de uma estrutura formal do inconsciente colectivo. Torna-se assim uma diferença considerável para Freud, que nunca reconheceu a autonomia congénita da mente e do inconsciente, enquanto que, para Jung havia uma dimensão colectiva inata e com autonomia energética.

    As ideias apresentadas por Jung foram o embasamento científico que o estudioso das Religiões e Mitologias Comparadas, Joseph Campbell, adoptou para sustentar as similaridades existentes entre todas as religiões e mitologias da história. Tal conceito chamado anteriormente de “Monomito” [1] por Jaymes Joyce, foi esmiuçado por Campbell, que mostrou todo o roteiro da manifestação arquetípica do herói, que se encontrava representado em todo o mundo como um arquétipo do Inconsciente Colectivo (JUNG, 2010; JUNG, 2011a).

    Assim, será com base nas obras de Campbell e Jung o desenvolvimento deste artigo, que visa comparar e reapresentar o simbolismo maçónico sob a óptica científica da Psicologia Junguiana e da Ciência das Religiões.

    Análise Comparativa da Psicologia Junguiana com o Simbolismo Maçónico

    O que é um Símbolo? [2]

    Os símbolos são, em síntese, metáforas e compêndios de um conhecimento sensivelmente elevado (CAMPBELL, 2007), mas que em outras palavras, são manifestações exteriores dos arquétipos. Os arquétipos só se podem expressar através dos símbolos em função de se encontrarem profundamente escondidos no inconsciente colectivo, sem que o indivíduo os conheça ou possa vir a conhecer (JUNG, 2011b). Desta forma, no nosso nível comum de consciência, para compreendermos um elevado sentimento contido no Inconsciente Colectivo, necessitamos dos símbolos, gestos existentes desde o início da humanidade (CAMPBELL, 2008; JUNG, 2011a).

    Estas afirmações precedentes necessitam de um exemplo hipotético: O amor da mãe para com o seu filho jamais seria compreendido por palavras ou descrições objectivas, como números ou letras. Em vez disto, podemos, ao invés de escrever sobre tal amor, apenas apresentar o conhecido símbolo do coração. Deste modo, mesmo que parcialmente, a noção que teremos a respeito do amor de uma mãe para com o seu filho, será muito mais próxima do que as expressadas por meras palavras (JUNG, 2011d).

    As mitologias e sentimentos são comumente manifestados por meio de símbolos e gestos. Do mesmo modo, a Maçonaria actua atra­vés da ritualística das suas iniciações e instruções. Os símbolos e gestos actuam como um catalisador de sentimentos dos seus praticantes através do mito trabalhado pelo grupo-cultura (CAMPBELL, 2008). O avanço moral que a Maçonaria proporciona aos seus adeptos é, além de consciente, educativo e ético, também um reforço psicológico.

    A diferença crucial entre símbolo e arquétipo é que o primeiro pode ser visto e em alguns casos também tocado e sentido, ao passo que o segundo pode ser apenas sentido, e mesmo assim, somente por intermédio do primeiro. Portanto, para que haja símbolos, deve antes haver arquétipos, pois aqueles são a manifestação destes em menor escala (JUNG, 2011d; JUNG, 2012). Contrariamente a esta teoria junguiana agora apresentada, observamos na psicanálise de Freud outra visão dos arquétipos, que se encontra centrada nos três arquétipos relativos ao chamado “Complexo de Édipo”, que, pelas suas características peculiares, possui proximidades com a antropologia e com a linguística, ao passo que a visão apresentada neste artigo, Junguiana, possui proximidades com os conceitos do Inconsciente Colectivo sustentados pelo sociólogo francês Émile Durkheim, um dos pais da Sociologia Moderna, onde na sua obra o define como o conjunto de crenças e sentimentos autónomos de uma sociedade (DURKHEIM, 2004). As suas teorias também influenciaram Freud, mas com devido efeito, acham-se proficuamente delineadas nas obras de Jung.

    O Templo Maçónico do Rito Escocês e a Psique Humana

    Os maçons são unanimes em dizer que o Templo Maçónico [3] é simbólico, e como já vimos, o símbolo é muito mais do que mera ornamentação artística para representar algo (JUNG, 2012). Importante registar que o templo maçónico não é uma réplica do Templo de Salomão, se não apenas simbolicamente inspirado no Templo de Salomão, mas contendo muitas outras influências, de acordo com o Rito adoptado (ISMAIL, 2012). No caso do presente estudo, refere-se a um templo do Rito Escocês Antigo e Aceito.

    Portanto, toda a ornamentação e divisão do templo não é fruto do acaso, a começar pela Sala dos Passos Perdidos, mais adiante o Átrio, a Câmara ou Caverna de Reflexões, e finalmente o Templo em si. Todos estes compartimentos são estágios há muito tempo utilizados para separar o sagrado do profano (VAN GUENNEP, 2011).

    Neste contexto, o ritual tem por objectivo a realização da passagem de um estado de consciência para outro, estados esses chamados maçonicamente de profano e sagrado, e em última análise, o templo com as suas divisões simboliza o estado de consciência em que nos encontramos. Desta forma, o templo em si representa um estado intransponível de pureza e santidade para os seus membros. As funções-cargos expressas no ritual e as disposições do templo são personificações simbólicas das leis psicológicas que actuam na psique (CAMPBELL, 2007; MAXENCE, 2010), conforme será demonstrado neste estudo.

    Rituais ou simples gestos simbólicos identificam a nossa consciência com o campo essencial de acção. O soldado que retorna da guerra, ao passar pelo Arco do Triunfo, um rito de passagem, acaba deixando a guerra para trás. Da mesma forma, ao passarmos pela sala dos passos perdidos e posteriormente pelo átrio, sabemos que estamos num local consagrado para a prática do bem, o Templo Maçónico. Assim, as salas que antecedem o templo, cumprem a função psicológica de devidamente introduzir o adepto num local que, por meio dos seus símbolos, colabora para o ingresso a um estado da consciência necessário para que o ritual cumpra o seu dever cognitivo de forma efectiva (JUNG, 1978; VAN GUENNEP, 2011).

    De acordo com a psicologia analítica de Carl G. Jung, a psique divide-se em três níveis: A consciência, o inconsciente pessoal e o inconsciente colectivo (HALL & NORDBY, 2010). Conforme se segue abaixo, tais divisões se conciliam em significados e funções com os cómodos de uma Loja Maçónica do Rito Escocês Antigo e Aceito, ou seja, sala dos passos perdidos, átrio e templo, sendo que na parte interior, teremos o ocidente e o oriente.

    Nível 1 – Consciência: Sala dos Passos Perdidos

    A consciência é a única parte da psique a qual conhecemos directa e objectivamente (HALL & NORDBY, 2010), e nela tudo ocorre geralmente de forma racional e lógica. Da mesma forma, isto também ocorre antes de entrarmos no templo, pois é na sala dos passos perdidos que tudo ainda ocorre de forma desprovida de questões oníricas, sem sinais ou gestos simbólicos.

    O significado psicológico de persona, para Jung, é aquela parte da personalidade desenvolvida e usada nas nossas interacções mundanas, ou profanas, no vocabulário maçónico. É a nossa face externa consciente, a nossa máscara social, como veículo não da nossa real vontade, mas da nossa necessária aceitação (JUNG, 1978; HALL & NORDBY, 2010). Assim que, nas iniciações maçónicas, o gesto dos candidatos serem despidos de todos os metais, e iniciarem todos exactamente da mesma forma, significa que, naquele momento, o indivíduo despe-se das suas personas. Este des­prendimento faz-se necessário visto que, conforme Jung, no nível do inconsciente pessoal – que citaremos logo adiante – não há persona, a qual se manifesta apenas no nível consciente.

    O crescimento psicológico ocorre, de acordo com Jung, quando alguém tenta trazer o conteúdo-conhecimento do inconsciente, para o nível consciente, e estabelecer uma relação entre a vida consciente e o nível arquetípico da existência humana (JUNG, 1978; JUNG, 2011b). O homem que assim o fizer, haverá de reconhecer as origens dos seus problemas no próprio inconsciente, pois a pessoa que não torna consciente as suas limitações e defeitos, acaba por projectar sobre os outros tais percepções negativas (HALL & NORDBY, 2010). Fazendo o devido paralelo, o crescimento na senda maçónica somente ocorre quando se aplica no chamado mundo profano o que se estuda e aprende no mundo maçónico, que é neste quadro comparativo o referido inconsciente pessoal, e assim tem-se a oportunidade de transformar o conhecimento em sabedoria.

    Nível 2 – Pré-consciência: Átrio

    Para Freud, a consciência humana sub­divide-se em três níveis, chamados de Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente. O estado inter­mediário entre a Consciência, abordada no Nível 1, e o Inconsciente, que será abordado no Nível 3, é o de Pré-consciência, o qual tem por característica uma experiência munida de relativo equilíbrio entre um material perceptível e um material latente (FREUD, 1972).

    Desta forma, tem-se o átrio do templo maçónico como representativo desse estado de pré-consciência, visto o átrio, apesar de muitas vezes interpretado como sendo uma extensão do templo, é fisicamente um cómodo intermediário entre a sala dos passos perdido e o templo maçónico. Nele ocorre o momento de transição entre os estados psicológicos, em que os maçons se concentram, geralmente com as luzes apagadas, para se desvencilharem dos problemas e pensamentos do chamado “mundo profano” e adentrarem ao interior do templo. Assim, o átrio assemelha-se em correspondência com o pré-consciente na medida em que ambos não possuem uma natureza específica, mas sim transitória. Portanto, este estado intermediário tem por objectivo introduzir o personagem no recinto onírico e simbólico seguinte.

    Nível 3 – O Inconsciente Pessoal: O Templo Maçónico

    Todas as experiências que se têm, mesmo aquelas consideradas esquecidas, mas que todavia não deixaram de existir, são armazenadas no inconsciente pessoal. É neste nível que ocorrem os sonhos quando se está dormindo, e como todos sabem, tais eventos sonhados são dotados de acontecimentos surreais e ilógicos perante a nossa realidade objectiva (JUNG, 2005).

    Assim o Inconsciente Pessoal encontra correspondência com o templo maçónico, onde a ritualística e os símbolos alcançam a totalidade dos trabalhos, e estes retratam bem o estado fictício e mítico do drama maçónico, estado este que – paralelamente – também é encontrado nos sonhos, com os seus símbolos abstractos, passagens ilógicas e surreais, onde tanto no estado onírico como na ritualística, pode-se viajar do Oriente ao Ocidente com alguns poucos passos, e do amanhecer ao pôr do sol, vai-se em alguns minutos, semelhante ao que ocorre nos sonhos, pois no nível do inconsciente pessoal não há uma limitação objectiva. Da mesma forma o simbolismo da ritualística não possui um senso lógico. Ambas linguagens (sonhos e ritualística) são figuradas.

    Assim como o ritual maçónico não é literal e tem por objectivo transmitir instruções morais, os sonhos também não o são e, segundo Jung (2011d), o crescimento e amadurecimento moral são a real e efectiva finalidade dos sonhos. Desta forma, em ambos os casos se perde o efeito do lógico e racional, para com isso, trabalhar o simbólico e onírico. Sendo assim, interpretar o ritual maçónico de forma literal é um erro lastimável, ao passo que o sonho, inexoravelmente, também deve ser interpretado de forma não literal (JUNG, 2012).

    Os conceitos de Anima e Animus foram talvez as duas mais importantes descobertas de Jung. Ambos são aspectos inconscientes de um indivíduo. O inconsciente do homem encontra ressonância com o arquétipo feminino, chamado de Anima, enquanto que a mulher associa-se com o arquétipo masculino, chamado de Animus. Cabe notar que quando se fala de masculino e feminino, quando se tratando de Animus e Anima, está a referir-se às expressões e características, e não algo literal (JUNG, 2011b; JUNG, 2012), pois, como supramencionado, o inconsciente reside num nível atemporal, inteiramente psicológico, portanto não material.

    A Anima manifesta-se na psique de forma emocional, passiva e intuitiva, por outro lado, o Animus manifesta-se de forma racional, activa e objectiva. Jung costuma relacionar Anima ao deus grego Eros, o deus do Amor, ao passo que Animus é relacionado com o termo Logos, que significa verbo, razão (JUNG, 1978). No templo maçónico tal equilíbrio dual é conhecido pelas duas colunas, Boaz e Jachin. No Rito Escocês, os Aprendizes Maçons tomam assento do lado da coluna Boaz, e ali são instruídos sobre a educação moral, espiritualidade e ética maçónica, conceitos perfeitamente associados ao arquétipo de Anima. Já do lado da coluna Jachin tomam assentos os Companheiros Maçons, que, ao contrário dos aprendizes, possuem as suas instruções voltadas para as artes ou ciências liberais, bem como para algum conhecimento esotérico, que são características de Animus. Ao Oriente vê-se o Sol e a Lua, que são símbolos conhecidos do Animus e da Anima.

    Desta forma, Boaz e Jachin, representam Anima e Animus, e a consecução entre ambas colunas representa o Casamento Alquímico, a totalidade do ser, ou seja, o Equilíbrio Perfeito, o Mestre. Aquele que caminha com tal união, anda pelo caminho ou câmara do meio (CAMPBELL, 2008), no nosso caso, o Mestre Maçom.

    Nível 4 – Inconsciente Colectivo: Sólio do Ori­ente

    Teoria proposta pela Psicologia Analítica, o inconsciente colectivo difere do inconsciente pessoal, visto que não se trata de experiências individuais, mas, como o nome sugere, são experiências colectivas (JUN, 1978). Trata-se de uma espécie de reservatório de imagens, estas chamadas de imagens arquetípicas. Tais imagens e concepções são herdadas pelo homem de forma inconsciente através do inconsciente pessoal. O inconsciente colectivo estimula no homem desde o nascimento um comportamento padrão pré formado. Assim, recebemos a forma do mundo numa imagem virtual e essa imagem transforma-se em realidade consciente quando, durante a vida, identificamos os símbolos a ela correspondentes (JUNG, 2011b).

    Os conteúdos do inconsciente colectivo são denominados de arquétipos. Um arquétipo é compreendido como um modelo original que conforma outras coisas do mesmo tipo, semelhante a um protótipo (JUNG, 2011b). Tanto o inconsciente colectivo como o arquétipo se confundem com aquilo que chamamos de egrégora.

    Jung acreditava que tanto a experiência quanto a prática religiosa eram fenómenos que tinham a sua fonte no inconsciente colectivo (JUNG, 2011c). O céu, o inferno, o Jardim do Éden, o Olimpo, são interpretados pela psicologia junguiana e freudiana como símbolos do inconsciente (JUNG, 2011c; FREUD, 1972), e se enquadram ao simbolismo do dossel e do sólio no Oriente, localizado a sete degraus acima do nível onde se encontram os Aprendizes, Companheiros e Mestres, onde se encontra o chamado Trono de Salomão e que possui estampado o olho que tudo vê no Rito Escocês Antigo e Aceito.

    Assim como o inconsciente colectivo dispõe da pré-formação psíquica da psique (JUNG, 1978), o direccionamento dos trabalhos vem do Oriente da Loja, além de que as informações originais da Loja, presentes na carta constitutiva, também se localizam na região do sólio.

    Os efeitos e sinais da Ritualística Maçónica no Inconsciente

    Os rituais praticados e todas as suas repetições centram o indivíduo dentro dos propósitos do mito, pois o ritual é a simples representação do mesmo. Ao participar de um ritual, vivencia-se a sua mitologia. Assim, tais gestos e movimentos transcendem os adeptos (CAMPBELL, 2008), como, por exemplo, na execução mito de Hiram Abiff, que ocorre no grau de Mestre Maçom. Tornar-se Mestre Maçom é o mesmo que Jung chamava de processo de individuação para realização do Si mesmo (MAXENCE, 2010).

    Quanto à ritualística e ao seu potencial psicológico, Jung (2011b), discorre sobre a psicologia analítica e as formas de actuar no inconsciente pessoal do indivíduo:

    Outra forma de transformação é alcançada através de um ritual usado para este fim. Em vez de se vivenciar a experiência de transformação mediante uma participação, o ritual é intencionalmente usado para produzir tal transformação. (…) Se recebe um novo nome e uma nova alma, ou ainda se passa por uma morte figurada, transformando-se num ser semidivino, com um novo carácter e um destino metafísico transformado. (Os Arquétipos e o Inconsciente Colectivo, CARL GUSTAV JUNG, 2011, p. 231)

    Desta forma, o indivíduo que vivencia o ritual, as iniciações, elevações e exaltações, acaba por se transformar, seja pelas convicções conscientes ou pela influência do inconsciente (JUNG, 1978).

    Os maçons devem, portanto, realizar reflexões da simbologia maçónica. Ao executar um ritual de alto valor cultural, com gestos e passa­gens incomuns à sociedade, o qual, sob um olhar céptico e profano, pode ser considerado como infantil e ingénuo, deve o Maçom analisar tais movimentos a nível psicológico, onde reside a sua maior força e resultado. Ademais, abordar o ritual maçónico ou qualquer outro ritual sem um entendimento psicológico e simbólico do seu significado, é como ver animais nas nuvens, ou seja, um exercício de vontade e imaginação sem maiores resultados.

    Conhecendo a antropologia das sociedades primitivas, Jung comparou a vida com a trajectória do sol num dia. A primeira parte, do nascimento para a sociedade, é semelhante ao amanhecer do sol. A segunda parte, da participação efectiva no mundo e na sociedade, é semelhante ao meio dia. E, enquanto o desafio da primeira metade da vida é a própria vida, o desafio da segunda metade é a própria morte, representada pelo anoitecer (CAMPBELL, 2008; JUNG, 2005).

    Para o primitivo não bastava ver o Sol nascer e declinar. Esta observação exterior correspondia a um acontecimento anímico, isto é, o Sol representava na sua trajectória o destino de um Deus. Todos os acontecimentos mitologizados da natureza, tais como o Verão, Inverno, amanhecer, meio dia e por do sol, as fases da lua, as estações, não são alegorias destas experiências objectivas, mas sim, expressões simbólicas do drama interno e inconsciente da alma, que a consciência humana consegue apreender através da dramatização dos rituais maçónicos (JUNG, 2011b).

    Outro detalhe ritualístico curioso relativo ao sol é a circulação em sentido horário, também chamada de dextrocêntrica. Uma prática tão antiga quanto a Maçonaria. Os gregos e romanos tinham o lado direito como favorável, visto que este, de forma geral, favorece mais o seu dono do que o esquerdo. Relacionaram tal procedimento ao aparente movimento que o Sol faz diariamente em torno da Terra. Assim, estas civilizações, tendo sempre o aparente movimento do Sol como referência, adoptavam a circulação em sentido horário, tendo altares, fogueiras, totens ou sacrifícios como eixo dos seus templos (ISMAIL, 2012).

    A função psicológica da ritualística maçónica é a de restaurar um equilíbrio psicológico por meio do sistema mitológico proposto pela instituição, de modo a produzir um material onírico no inconsciente dos seus membros (JUNG, 2005). Desta forma, o conhecimento da Maçonaria retrata um estudo do inconsciente, tanto do inconsciente pessoal, através dos efeitos directos da ritualística, como do inconsciente colectivo, através do estudo da Mitologia Maçónica.

    Nos rituais tribais de iniciação os membros recebem uma marca, que nos tempos actuais figura como simbólica (VAN GUENNEP, 2011), e que distinguem o iniciado dos não iniciados. Na iniciação no Rito Escocês isto ocorre com uma chancela no peito esquerdo. Seja uma marcação física ou apenas simbólica, tais actos ritualísticos operam igualmente no inconsciente (JUNG, 2005).

    A prática de diferentes termos linguísticos também é usada para separar o sagrado do profano nos grupos religiosos (VAN GUENNEP, 2011). Este exemplo é um dos diferenciais da ritualística maçónica, onde uma linguagem própria é comumente adoptada. Inúmeros são os exemplos disto no Rito Escocês, como justo e perfeito, tronco, Huzzé, sólio, pálio, veneralato e muitos outros.

    Conclusões

    Em síntese, a mitologia pode ser entendida, sob a óptica da Psicologia Junguiana, como um sonho colectivo, sintomático dos impulsos arquetípicos existentes no interior das camadas profundas da psique humana (JUNG, 1978), ou, numa visão religiosa, como a revelação de Deus aos seus filhos. Tanto a mitologia como os seus símbolos são metáforas reveladoras do destino do homem e nas diversas culturas são retratadas de diferentes formas (CAMPBELL, 2007). Sendo assim, a vivência do drama de um mito nada mais é do que uma ferramenta de compreensão e promoção do crescimento psicológico do individuo, sendo esta a função principal do mito (CAMPBELL, 2008). Assim, a análise para toda questão mitológica, como também, este estudo da ritualística maçónica em questão, é, por derradeiro, o estudo da psique humana.

    Em várias sociedades e cultos primitivos, a prática religiosa consistia em vivenciar a Mitologia de forma directa, pois o mito poderia influenciar o executor da prática religiosa de forma indirecta no decorrer das cerimónias, por intermédio do inconsciente. Assim o cresciment e a finalidade da Mitologia aconteciam de forma particular em cada um, como uma semente que aos poucos iria germinando (JUNG, 2005). Entendimento similar ocorre na Maçonaria e é explicitado quando maçons dizem aos neófitos na Palavra a Bem da Ordem que “hoje você entrou para a Maçonaria, mas precisa deixar que a Maçonaria entre em você”. A tradição maçónica conserva estes costumes como forma de instrução aos seus membros, sendo actualmente uma das poucas instituições em que o homem pode ter contacto com tais experiências (BLAVATSKY, 2009).

    Notas

    [1] O termo “Monomito” é de autoria de James Joyce, da obra “Finnegans Wake”.

    [2] O conceito adoptado nesta obra de símbolo é o da Psicologia Junguiana, que difere do conceito semiótico de símbolo instituído por Ferdinand de Saussure, pai da linguística, bem como também difere parcialmente de certas análises Psicanalíticas de Freud.

    [3] O termo “templo maçónico” é comumente usado nos ritos maçónicos de origem latina. Os de origem anglo-saxónica costumam chamar o local de reuniões de “Sala da Loja”.

    Bibliografia

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    Fonte: fremason.pt