A CIRCUNVOLUÇÃO DO HOSPITALEIRO
A Circunvolução do Tronco de Beneficência é a demonstração efetiva de um exemplo do conjunto de símbolos, os quais constituem os ensinamentos ocultos das mensagens filosóficas da Maçonaria…
APRESENTAÇÃO
Acredito que todos os Irmãos ainda tenham gravado na retina de seus olhos, os primeiros passos de seus filhos, a forma descompassada, tentando se equilibrar nas pontas dos pés, normalmente com os olhos arregalados e boquiabertos, com um sorriso esplêndido estampado no rosto, ao atingir o seu objetivo, o colo de seus pais que os aguardavam de braços abertos.
Da mesma forma, os três passos, que me introduziram no cerne desta Ordem, são inesquecíveis, a respiração ofegante, as pernas trêmulas, o coração disparado, demonstrando não um nervosismo, mas sim a satisfação de um sonho realizado, além da certeza de que me foi dado a maior oportunidade da minha jornada neste plano.
Assim, ao ver os meus Irmãos caminharem no interior do Templo, ostentando na face uma satisfação em poder fazê-lo, me faziam imaginar como me comportaria quando chegasse a minha vez, tinha a consciência de que iria demorar a vivenciar esta emoção. Grande engano.
Como se fosse o inicio de uma grande “conspiração do Universo” a meu favor, fui convidado carinhosamente pelos Irmãos, para fazer uma visita a A∴R∴L∴S∴ Segredo Eterno, e assim o fiz.
Esta foi a minha primeira visita a uma Loja, e com que satisfação, fui por eles recebido, sem sombra de dúvidas, acabava de receber mais um grande presente para ficar gravado para sempre na minha memória.
Neste dia o Irmão Mestre de Cerimônias, dirigiu-se em minha direção e ofereceu-me uma Joia estendida em sua mão, e um brilho de felicidade no rosto, e disse enfaticamente:
“Hoje você é o Hospitaleiro”.
Inicialmente fiquei surpreso, relutei um pouco, mas no fundo, agradecia ao G∴A∴D∴U∴, a sublime oportunidade que estava me dando.
Sentia-me como aquela criança que chegou aos braços de seus pais após o intento dos seus primeiros passos, isto é, embebido de uma alegria infinda.
Iniciaram-se os trabalhos, e lá estava eu, sentado com uma Joia no pescoço, feliz, observando a tudo e a todos. Cada batida do malhete, me fazia saltar da cadeira, e não conseguia me concentrar, esperava ansiosamente a minha vez de praticar o meu ofício.
Então chegou a hora, seguindo o pedido do Venerável Mestre, para circular o Tronco de Beneficência, passei a cumprir o meu Oficio Ritualisticamente.
O Mestre de Cerimônias me acompanhou até eu ficar entre colunas, durante o percurso falava mansamente que tudo iria dar certo, era como que ensinar o filho a andar de bicicleta, tinha a certeza que tudo ia dar certo, eu confiava nele pelo brilho dos seus olhos.
À medida que caminhava observava, que cada um dos Irmãos que fazia a sua contribuição, me sorria, como que dando os parabéns, o Irmão Delegado, apertou os meus punhos com um semblante de criança, sorrindo, como que estivesse me abençoando, foi gratificante.
Assim, através das duas Instruções que recebi como Aprendiz, e dos exemplos dados pelos meus Irmãos, aprendi que fazer por fazer, é o mesmo “edificar a nossa casa sobre a areia”, ou seja uma beleza passageira, desta forma com o objetivo de consolidar esta oportunidade por mim vivenciada, junto de meus Irmãos, em forma de conhecimento, me foi proposto à realização deste trabalho o qual eu o abracei com muito carinho e gratidão, e também tomei a liberdade que me é facultada, para fazer deste, uma oportunidade de poder externar a emoção de um Aprendiz imensamente grato ao G∴A∴D∴U∴, por ter me dado a oportunidade de compartilhar desta grande fraternidade a qual posso dizer de corpo e alma, que é Justa e Perfeita.
INTRODUÇÃO
O Livro Sagrado nos apresenta personagens marcantes, pelas atitudes e pelos ensinamentos que transmitem. Alguns mais céticos acreditam que os relatos são apenas bibliografias de homens sagrados, deixando de lado os ensinamentos os quais muitas vezes estão ocultos, nos verbos, substantivos e até mesmo, na forma de relatar sobre revelações divinas, deixando aqueles que apenas veem apenas com os olhos da cara, estagnados a um conjunto de palavras que apenas são ditas e não sentidas.
Salomão é um exemplo deles, primeiro porque teve a oportunidade de dar continuidade e aperfeiçoar o trabalho de seu pai, segundo pela realização de um sonho. Como toda realização de nossos projetos de vida, Salomão primeiro criou seus objetivos, planejou e executou-os, assim o fez, passo a passo.
Primeiro conquistou a paz ao redor do seu Reino, depois, criou critérios para administrar a coleta dos alimentos de uma forma justa e sem provocar dificuldades ao seu povo.
Após, estas duas etapas, Salomão sonhou com Deus, e lhe pediu Sabedoria, e que soubesse discernir entre o bem e o mal, para que pudesse cuidar do seu povo. E Deus disse-lhe que pelo fato de não pedir riquezas daria mais do que Sabedoria, lhe daria também Inteligência infinda para que soubesse discernir entre o bem e o mal.
A sua Sabedoria foi colocada em prova pela primeira vez, quando Salomão teve que solucionar uma situação onde duas mulheres diziam-se mãe do mesmo filho. Com a finalidade de solucionar este impasse, Salomão ordenou que a criança fosse cortada ao meio, e que cada uma ficasse com a metade da criança. Uma das mulheres de imediato pediu para que a sentença não fosse concretizada, ela lhe pede para que desse a criança para a outra, pois apesar do sofrimento que teria por não estar junto de seu filho, ela se contentaria em apenas vê-lo crescer.
Desta forma Salomão pode perceber quem era a mãe verdadeira, e castigou a impostora. Após ter superado todas estas situações, Salomão resolveu então construir o Templo Sagrado. Escreveu para Hiram, pedindo que este lhe enviasse as pedras necessárias para a construção o Templo, e relata que teria condições de pagar pela mão de obra dos construtores.
Hiram assentiu em relação às pedras, quanto ao pagamento de seus construtores, disse a Salomão que não precisava pagá-los, e sim alimentá-los, e acolhê-los, em outras palavras, deveria hospedá-los.
Este ensinamento nos conduz a refletir que para construir-se um Templo, é necessário ter a paz interior, e no meio em que se vive, ter a Sabedoria para resolver as situações que a vida nos apresenta, buscando apenas a justiça e Inteligência para discernir entre o bem e o mal, desvencilhando-se das vaidades.
Contudo, isto não bastaria para a sua edificação, é necessário antes de tudo ser um Hospitaleiro, ou seja, aquele que faz a caridade.
É com esta consciência que devemos estudar com muita atenção os passos do Hospitaleiro, que deve antes de qualquer coisa ter Sabedoria e Inteligência, para discernir entre o bem e o mal, no ato da sua caridade, para evitar prejudicar o seu próximo tornando-o um indivíduo acomodado apenas na espera da ajuda.
ESTUDO
O Hospitaleiro tem o seu lugar situado no Norte do Ocidente, à frente do Tesoureiro.
Após a solicitação da circulação do Tronco (palavra derivada de “Tronc” do francês que significa “Caixa de Esmolas”) de Beneficência, o mesmo é conduzido pelo Mestre de Cerimônias para ficar entre Colunas, com a Bolsa junto ao seu corpo do lado esquerdo, e ali fica até que o Primeiro Vigilante lhe determine o inicio da sua circunvolução.
A circunvolução pode ser executada de duas formas: a primeira, ritualisticamente, e a segunda de maneira informal, realizada de acordo com a solicitação do Venerável Mestre.
A circunvolução realizada Ritualisticamente, procede da seguinte maneira:
Partindo das colunas o Hospitaleiro, caminha-se:
1º – em direção ao Oriente, até o Venerável Mestre (sabedoria – Sol);
2º – em direção ao Norte do Ocidente, até o Primeiro Vigilante (força – Lua);
3º – em direção ao Sul do Oriente, fazendo um giro pelo quadro do grau, indo até o Segundo Vigilante (beleza – Zênite).
Assim completa-se a construção do primeiro Triângulo que representa a Espiritualidade.
4º – em direção ao Norte do Oriente, em direção ao Orador (Arcturus);
5º – em direção ao Sul do Oriente, em direção ao Secretário (Spica) e após;
6º – em direção ao Sul do Ocidente, em direção ao Cobridor Interno (Antares).
Assim completa-se o segundo Triângulo que representa o Materialismo.
Esta circunvolução, forma a figura entrelaçada de dois Triângulos Equiláteros, representando uma Estrela de Seis Pontas, tendo um de seus vértices voltado para cima, e o outro para baixo, sendo a mesma conhecida por Estrela de Davi no Judaísmo, ou Estrela Flamejante no Rito de York, a qual está representada na Abobada do Templo acima do Segundo Vigilante.
Os próximos passos caracterizam que a circulação do Tronco de Beneficência ocorre respeitando a Hierarquia Maçônica dos presentes, assim a circunvolução ocorre da seguinte forma: O Hospitaleiro, dirige-se ao Oriente: Primeiro Diácono, Mestres e Autoridades acomodadas ao Norte do Oriente, Mestres e Autoridades acomodadas ao Sul do Oriente, Mestre de Cerimônias, Chanceler, Mestres acomodados ao Sul do Ocidente, Segundo Diácono, Mestres acomodados ao Norte do Ocidente, Tesoureiro, faz o giro pelo Painel Simbólico do Grau, e caminha em direção ao Sul do Oriente até os Irmãos Companheiros, caminha em direção ao Norte do Oriente em direção aos Irmãos Aprendizes, faz o giro pelo Painel Simbólico do Grau e segue em direção ao Cobridor Interno, posta-se entre colunas e entregando-lhe a bolsa para que ele possa fazer a sua contribuição, após ainda entre, comunica que o Tronco de Beneficência foi circulado.
Quando então recebe a instrução para que o mesmo seja entregue ao Tesoureiro.
Então o mesmo entrega o Tronco de Beneficência ao Tesoureiro e este retira o montante arrecadado, na presença do Hospitaleiro, sendo então devolvida a Bolsa a ele para confirmar se a mesma está completamente vazia, aguarda a contagem do numerário arrecadado, até o momento em que o Tesoureiro comunica ao Orador, o total do valor auferido, completando assim a Circunvolução Ritualística do Tronco de Beneficência.
A circunvolução do Tronco de Beneficência, sem formalidades, ocorre da seguinte forma:
1º – Venerável e demais Irmãos que ocupam o assento no Altar;
2º – Demais Irmãos do Oriente, com início pelos Irmãos acomodados ao Norte do Oriente;
3º – Primeiro Vigilante, e demais Irmãos da Coluna do Norte;
4º – Segundo Vigilante, e demais Irmãos da Coluna do Sul; e
5º – Próprio portador do recipiente, antes de chegar entre Colunas.
CONCLUSÃO
A Circunvolução do Tronco de Beneficência é a demonstração efetiva de um exemplo do conjunto de símbolos, os quais constituem os ensinamentos ocultos das mensagens filosóficas da Maçonaria.
O início da Circunvolução no Venerável Mestre, representado pelo Sol, significando que a Luz da Sabedoria Caminha para o Oriente, o segundo ponto, o Primeiro Vigilante, representado pela Lua, que ao emanar o seu brilho, representa o espelho da sabedoria emanada pelo Oriente, proporcionando-lhe força infinda, como a que a própria Lua tem para mover Oceanos, ou proporcionar os movimentos de contração da gestante para a chegada de uma nova vida ao nosso mundo.
O encontro destes dois pontos forma uma reta, que pode simbolizar a dualidade, por exemplo podemos citar o Divino e o Material, o Dia e a Noite, demonstrando que o homem, originariamente tem o seu mundo representado de forma binária, cabendo o seu progresso, na busca da evolução da compreensão do mundo divino com a sua aplicabilidade ao mundo material, em outras palavras, viver o mundo material cônscio da existência do mundo espiritual.
O trajeto percorrido do Primeiro Vigilante, representado pela Lua, ao Segundo Vigilante, representado pelo Zênite, forma uma reta a qual compreende o tempo de trabalho do maçom, do meio-dia em ponto (Zênite) à meia-noite.
O Triângulo Equilátero, formado pela união desses três pontos, determinam um espaço, com características matematicamente esotéricas, com três retas iguais (lados iguais), três ângulos iguais, mostrando que devemos ser iguais por dentro e por fora, entretanto seguindo os conceitos matemáticos que a soma dos ângulos internos de um triângulo deve ter 180º, cada vértice tem 60º, com isto, para manter a forma equilátera do mesmo se uma reta de um vértice ao outro for aumentada, os outros dois lados também deve crescer, aumentando a área interna, portanto, para ocorrer um crescimento externo, devemos crescer interiormente, e por isto o Triângulo Equilátero é considerado como um símbolo da Perfeição, Harmonia e Sabedoria, e consequentemente, do celestial e Divino.
O segundo Triângulo, representa o retorno do Ocidente ao Oriente, uma das viagens simbólicas de nossa iniciação, tendo o vértice inicial no Orador, observamos que ele representa a união do Mundo Espiritual, ao Mundo Material, de acordo com as Leis do Universo.
Representado pela estrela Arcturus, significa o Guardião do Oriente.
A jornada do Orador ao Secretário constitui a primeira reta, que é à base do novo Triângulo a ser formado. Esta reta pode representar o registro das Leis para a sua aplicabilidade no mundo material.
O trajeto percorrido do Secretário ao Cobridor Interno forma uma reta onde fica caracterizado que as Leis ditadas pelo Guardião do Oriente (Orador) devem ser praticadas pelo Guardião do Ocidente (Cobridor Interno).
O Cobridor Interno tem como estrela regente a Estrela Antares, pelo fato do mesmo ser o responsável por garantir a fronteira entre o mundo Iniciático do Profano, concluído assim o segundo Triângulo Equilátero.
Segundo a literatura, o cargo de Cobridor é tão importante e deve ser assumido por uma pessoa de profunda sabedoria, que este ofício deve ser assumido pelo último Venerável Mestre.
O Primeiro Triângulo é formado sem ultrapassar os Trópicos de Capricórnio e o de Câncer, sendo este trajeto o mesmo percorrido pelo Sol desde o seu Nascimento no Oriente até o seu ocaso, e o inicio da construção do Segundo Triângulo se dá na saída do Ocidente ao Oriente, coincidente com a Primeira Viagem da Iniciação do Neófito.
Podemos dizer ainda que o primeiro Triângulo representa Salomão, pela sabedoria implícita no seu cerne, e o Segundo representa Moisés por tratar das Leis do nosso mundo.
A estrela formada tem um vértice voltado para cima (Salomão), e o outro voltado para baixo (Moisés), deixando subentendido o legado de Hermes Trismegisto na fabulosa obra Tábua de Esmeralda: “O que está embaixo é como o que está no alto e o que está no alto é como o que está embaixo, para produzir os milagres de uma coisa só”.
O restante da circunvolução por ser realizada em ordem hierárquica nos transmite o ensinamento que devemos respeitar as Leis aplicadas pelo Universo ao nosso mundo, e ter a humildade de reconhecer que tudo tem a sua sequência e hora para se concretizar.
Assim podemos concluir que devemos ter olhos para ver, e ouvidos para escutar, devemos alimentar a chama da vontade de aprender acesa para ampliar nossos conhecimentos, nos destituindo de preconceitos e vaidades, para que possamos assim evoluir, e estas condições caracterizam a importância do Aprendiz na nossa Augusta Instituição, deixando claro que mesmo com o aumento salarial, devemos ter a consciência de aprender constantemente, pois o fato de aprender é inerente ao grau ocupado pelo Maçom, o qual apenas serve para discernir uma hierarquia material.
Ir∴ Ronaldo José Pereira
A.’.R.’.L.’.S.’. Conselheiro Crispiniano – GOP
Or∴ Guarulhos – SP.
Remessa do Irm Joel Affonso
09.12.2013
BIBLIOGRAFIA
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- Ritual de Aprendiz Maçom Rito Escocês Antigo e Aceito 2002.
- Regimento Normativo 1999.
- Manual do Aprendiz. Aldo Lavagnini (Magister). Editora Dag.
- Consultório Maçônico V. José Castellani. Editora Maçônica “A Trolha”–1997.
- Cadernos de Pesquisa Nº 16. A Maçonaria e as Religiões: Reflexões necessárias para os Maçons Conscientes.
- Fadel David Antonio Filho. Editora Maçônica “A Trolha” – 1997, págs 137-144.
- Circulação em Loja. Antonio Carlos Maciel Cunha. Trabalho apresentado em Tempo de Estudo da A∴R∴L∴S∴ Conselheiro Crispiniano em 2002.