QUEM INSTRUI - PRIMEIRO OU SEGUNDO VIGILANTE?
(republicação)
Em 20/04/2017 o Respeitável Irmão
Jaime Ribeiro da Silva, sem mencionar o nome da Loja, Rito e Obediência,
Oriente de Cruzeiro, Estado de São Paulo, através de correspondência via
Trolha, formula a seguinte questão:
Cabe ao Primeiro Vigilante
instruir os Companheiros e ao Segundo Vigilante os Aprendizes?
Não é o que ensina a primeira
instrução dos Aprendizes.
CONSIDERAÇÕES:
De modo autêntico quem instrui os
Aprendizes é o Segundo Vigilante, enquanto que os Companheiros é o Primeiro
Vigilante.
Essa prática na Moderna Maçonaria
é devida à hierarquia na Loja e não pelo fato de que se deva coincidir com o
Vigilante da respectiva Coluna.
Nos ritos maçônicos que nasceram
no hemisfério setentrional, sempre os Aprendizes ocuparão o Norte e os
Companheiros o Sul. Isso se dá inclusive para aqueles ritos que por razões
históricas tradicionalmente invertem os seus Vigilantes (o Primeiro no Sul e o
Segundo no Norte). Mesmo nesses, os Aprendizes permanecem no Norte e os Companheiros
no Sul, excetuando-se algum rito que porventura tenha nascido no hemisfério
meridional, como é o caso do Rito Brasileiro – nesse os Aprendizes ficam no Sul
e os Companheiros no Norte.
Para que se possa entender isso é
preciso antes se despir da fantasia de que o Templo Maçônico seja um modelo
copiado do Templo de Jerusalém, pois na realidade a sala da Loja é
simbolicamente um canteiro especulativo de obras composto simbolicamente por um
segmento da superfície do Planeta e situado sobre o equador terrestre, cujos
limites são relativos aos pontos cardeais. Seu piso é o solo terrestre e a sua
cobertura é o céu.
Dados esses comentários
indispensáveis, segue então a razão histórica do ministério de instrutor dado a
cada Vigilante da Loja maçônica.
Na Maçonaria de Ofício
(antecessora da Maçonaria dos Aceitos), na época dos canteiros medievais quando
não existiam ainda nem ritos e nem templos maçônicos, os maçons se reuniam
literalmente nos canteiros de obras, nos adros das igrejas e nas tabernas.
Naqueles tempos, quando da admissão de um novo membro na guilda de construtores
– isso ocorria geralmente no solstício de verão europeu, dia de São João, o
Batista – costumeiramente era o Segundo Vigilante que recebia o candidato à
admissão e lhe ministrava as primeiras instruções e informações. Instruído e
informado, o candidato era então conduzido até o Primeiro Vigilante que fazia
uma prece em seu favor. Em seguida o candidato era recebido na forma de costume
pelo Mestre da Obra (na época um Companheiro experiente) que lhe tomava a
“obrigação” diante do Evangelho de São João entregando-lhe em seguida as luvas
e o avental operativo. O candidato então era constituído Aprendiz Admitido no
Ofício e o Segundo Vigilante o conduzia até os instrumentos de trabalho para lhe
ensinar os segredos da profissão.
Para receber aumento de salário,
o que viria ocorrer somente após ter sido cumprido o seu tempo de aprendizado
(geralmente de três ou cinco anos), o Aprendiz era então proposto e instruído
como Companheiro de Ofício. Nessa oportunidade, quem o recebia era o Primeiro
Vigilante, ocasião em que verificava e comprovava a sua habilidade no exercício
da profissão. Certificando-se, o Primeiro Vigilante lhe ministrava as
instruções finais e o recomendava ao Mestre da Obra para que ele fosse
constituído Companheiro de Ofício (Fellow Craft).
Essa é uma síntese de como era o
processo ancestral da Iniciação e do aumento de salário de um maçom operativo,
bem como o de quem o instruía no trabalho. É oportuno lembrar, entretanto, que
naquela época a Maçonaria de Ofício era constituída apenas por duas classes de
trabalhadores - a dos Aprendizes e a dos Companheiros. Elas eram classes
profissionais e não graus especulativos como hoje os conhecemos, a despeito
ainda de que o Mestre da Obra era um Companheiro escolhido entre os mais
experientes da Guilda.
Dado a esse roteiro ancestral é
que genuinamente o Segundo Vigilante era quem recebia e instruía os Aprendizes
e o Primeiro Vigilante, os Companheiros, destacando que na época o processo
iniciático não era como o que hoje conhecemos e nem mesmo se dava em recintos
decorados por liturgias específicas. A Loja era literalmente uma oficina
(canteiro de obras) onde trabalhavam os artífices da pedra de cantaria.
Assim, no intuito de se
preservarem os costumes do passado, é que alguns ritos da Moderna Maçonaria
procuraram preservar a tradição (a exemplo do REAA) atribuindo emblematicamente
ao Segundo Vigilante a missão de instruir os Aprendizes e ao Primeiro os
Companheiros, destacando-se que os Aprendizes ocupam o Norte do recinto e o
Segundo Vigilante o Sul, enquanto que os Companheiros ocupam o Sul e o Primeiro
Vigilante o Norte.
Nesse caso a questão não é a de
que os Vigilantes necessariamente precisem ser os instrutores nas suas
respectivas Colunas, mas a de tradição e hierarquia, até porque esse tem sido
apenas um elemento figurado de interpretação, pois a qualquer Mestre do Quadro
é dado o ofício de instruir.
É verdade, porém, que existem
ainda muitos rituais escoceses em vigência adotados pelas Obediências que às
vezes não seguem essa regra autêntica, contradizendo equivocadamente as
verdadeiras origens e costumes da Ordem. Infelizmente eles existem e muitos
deles são legalmente adotados.
Outro aspecto relevante para ser
observado é que na Moderna Maçonaria a regra que envolve os Vigilantes, e deles
qual instrui, não é universal quando se tratar de Ritos e Rituais, pois nem
todos eles seguem essa particularidade, já que originariamente muitos ritos
nasceram cada qual com a sua própria liturgia. Em síntese, não se deve
generalizar procedimentos na Maçonaria achando que nela tudo é igual.
Mesmo nos rituais escoceses
brasileiros encontramos inúmeras contradições nesse sentido que geralmente
foram adquiridas através de cópias (tesoura e cola) de rituais anacrônicos do
passado, mas que continuam se espalhando como ervas daninha no solo da cultura
maçônica.
Não me canso de mencionar que
infelizmente muitos Irmãos, sem qualquer critério, ficam por aí defendendo
teses ritualísticas, principalmente em grupos na Internet e fazendo comparações
como: “era assim no passado”, “eu tenho muitos rituais antigos”, etc.
Infelizmente, esses se esquecem de que antes de se proferir considerações
laudatórias, primeiro é prudente se certificar da veracidade dos fatos
escritos. Afinal, nem tudo que reluz é ouro.
Outro enorme problema relacionado
aos que apenas se prendem nos escritos de rituais anacrônicos é o de que muitos
deles não compreendem a razão existencial de cada prática ritualística e a sua
simbologia. Sintetizando, a questão não é apenas a de estar escrito, mas sim a
razão dela existir na liturgia do rito – isso é básico para a compreensão de um
arcabouço doutrinário.
Concluindo, são esses os
apontamentos relativos às instruções e quem é o responsável por ministra-las
aos Aprendizes e Companheiros, particularmente no Rito Escocês Antigo e Aceito.
E.T. 1 – A questão de quem deve
instruir e de quem deve receber a instrução é somente de caráter figurado para
preservar tradições, mas não de obrigatoriedade, já que é dever de todo o
Mestre Maçom ministrar preleções instrutivas em Loja, daí nem sempre a
incumbência de prover instruções inseridas nos rituais estarem direcionadas
exclusivamente para esse ou aquele Vigilante. Conforme os rituais, delas
geralmente participam, além dos Vigilantes, o próprio Venerável, o Mestre de
Cerimônias, os Diáconos, etc. - tudo conforme o Rito adotado. O mais
tradicional no que diz respeito à incumbência dos Vigilantes para esse mister é
mesmo o das instruções que visam promover aumento de salário.
E.T. 2 – Como prática dos
“antigos”, vide o Craft inglês que aqui no Brasil é conhecido como Rito de
York. Nele a Pedra Bruta fica junto ao Segundo Vigilante no Sul e os Aprendizes
no lado oposto no nordeste da sala da Loja, enquanto que a Pedra Cúbica fica
junto ao Primeiro Vigilante no extremo do Ocidente e os Companheiros no lado
Sul da Loja. Esse é um fato que demonstra perfeitamente não haver necessidade
de coincidência de lado (coluna) entre o que instruí e o que é instruído.
T.F.A.
PEDRO JUK
jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br
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