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PERGUNTAS & RESPOSTAS

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quinta-feira, 10 de junho de 2021

INSTALAÇÃO E POSSE NO DIA DE SÃO JOÃO

Em 28/09/2020 o Respeitável Irmão José Aparecido dos Santos, Loja Justiça 12, GOB (COMAB), REAA, Oriente de Maringá, Estado do Paraná, apresenta o que segue:

INSTALAÇÃO E POSSE VENERÁVEL MESTRE - DIA DE SÃO JOÃO - PADROEIRO DA MAÇONARIA

Fui Instalado e Posse de Venerável Mestre na ARGBLS Justiça 12 - Oriente de Maringá - Paraná, sendo no mês de São João - Padroeiro da Maçonaria, sendo uma data que vem se perpetuando por um longo tempo.

E o nosso Ano Maçônico sendo de junho a junho de cada ano, sendo que está sendo ventilado nos bastidores que a Eleição, Instalação e Posse dos Veneráveis Mestres, serão no mês de janeiro e não mais em junho.

Desta forma, a nossa pergunta e busca de informações, se a data do mês de junho para Instalação e Posse, tem algo nos Landmarks ou em algum livro e Constituição que estabelece desta forma ou seguindo o ano civil e não mais o Maçônico para Eventos Festivos?

Aguardando o vosso estudo e se temos algo embasado que é desta forma e que deve ser seguido.

CONSIDERAÇÕES:

Caro Irmão, como as datas comemorativas dos Joões se relacionam intimamente com períodos solsticiais, essas datas acabariam se tornando importantes para os franco-maçons desde a época da Maçonaria de Ofício do século XII, até a Moderna Maçonaria.

Nesse sentido, dois aspectos merecem ser ressaltados.

O primeiro deles se trata da influência religiosa oriunda da Igreja de Roma sobre as corporações de construtores da Idade Média (ancestrais da Maçonaria), já que os pedreiros medievais trabalhavam construindo principalmente para o clero que vinha em franca expansão desde o século XI.

Como profissionais a serviço da Igreja Estado, não é de se estranhar que os pedreiros livres passassem a ser protegidos pelo clero por uma boa parte da sua história.

O outro aspecto foi o relacionado diretamente ao ofício, ou a prática profissional da construção, já que essas corporações de canteiros atuavam principalmente no norte da Europa e da Grã-Brenha, latitudes onde o inverno era (e é) extremamente rigoroso. Com isso, o ofício ficava prejudicado pelos empecilhos dessa estação, o que fazia com que a prática profissional sofresse paralização no período hibernal.

Consoante às datas solsticiais do hemisfério Norte – verão e inverno – estarem associadas aos dois Joões, sobretudo pela implantação do cristianismo no Império Romano pelo Imperador Constantino Magno, consolidado posteriormente por decreto de Teodósio I, esse acontecimento obrigou a Igreja fazer acomodações no seu hagiológio na intenção de a ele adaptar algumas divindades pagãs oriundas de Roma. Um exemplo disso está na fixação pela Igreja do Natal em 25 de dezembro, destacando que no início do cristianismo os cristãos comemoravam o nascimento de Jesus em junho, época do verão pleno no Norte.

Por conta desse processo, a Igreja fixou o nascimento de João, o Batista, ou aquele que anteviu a Luz, na época de totalidade da Luz, ou seja, em pleno verão do hemisfério Norte. Assim, era estabelecida a data de 24 de junho para as comemorações alusivas ao Batista, certamente por estar próxima ao solstício de verão a 21 de junho.

Deste modo, a Igreja também nomeou João, o Evangelista, porém como aquele que pregou a Luz, constituindo sua data comemorativa a 27 de dezembro, estação de inverno no hemisfério Norte, cujo solstício ocorre a 21 de dezembro. Vale mencionar que foi também a Igreja que fixou a data do nascimento de Jesus Cristo a 25 de dezembro. Data do natal próxima ao solstício de Inverno no setentrião. Nesse contexto é atribuído a Jesus na qualidade Dele ser a “Luz do Mundo”.

Assim, João, o Batista é o personagem do cristianismo que no auge da Luz (verão) chega para anunciar a vinda da Luz. A Luz anunciada virá em plena escuridão (inverno) e tem a aspiração de “iluminar o Mundo”. Quanto ao João, o Evangelista, ele é o personagem do cristianismo que chegou no auge da escuridão (inverno) para difundir a Luz pelo mundo, isto é, pregar o evangelho do Cristo. Indisfarçavelmente toda essa alegoria religiosa é solsticial e provavelmente teve origem nos cultos solares da antiguidade – do mitraísmo persa, Igne Natura Renovatur Integra; do mitraísmo romano, Natalis Invicti Solis.

Nesse sentido, as corporações de ofício, ancestrais da Maçonaria, receberiam essa influência místico-religiosa.

Quando alguém era escolhido para ser feito maçom, um Aprendiz Admitido, por exemplo, por tradição e costume o ato ocorria geralmente num dos períodos solsticiais. Nessa ocasião, numa clara influência religiosa, o recipiendário prestava, na forma de costume, a sua obrigação diante do Evangelho de São João.

Foi graças a essa prática que as Lojas dos pedreiros ficariam conhecidas como as Lojas de São João.

Sobre o uso da Bíblia nas ocasiões de admissões, um fato merece ser abordado: nos tempos da maçonaria primitiva não existiam exemplares da Bíblia disponíveis facilmente como os que hoje encontramos. Na verdade, o volume da Lei Sagrada era propriedade exclusiva da Igreja Católica e nem as famílias mais abastadas tinham o direito de tê-la.

Além disso, havia a particularidade de que o volume da Lei Sagrada era escrito em pergaminho e a mão, o que lhe dava a característica de manufatura em um exemplar volumoso, pesado, de difícil manuseio e transporte.

Com isso era comum que nas lojas operativas, quando ocorria a aceitação de um novo membro do Craft, este prestava a sua obrigação sobre uma folha de pergaminho que trazia nela apenas escrito “São João”, ou “Evangelho de São João”. A bem da verdade isso servia para simular a presença volumosa, incômoda e pesada do Livro da Lei que era ainda manuscrito. Somente mais tarde, com o aparecimento da máquina de impressão inventada por Johannes Gutemberg em 1430 é que a Bíblia impressa se tornaria mais acessível.

Graças a esses fatos é que os Joões acabariam se consolidando como personagens patronais na Maçonaria transpassando do período operativo ao especulativo e se consagrando na Moderna Maçonaria com a fundação da Primeira Grande Loja em Londres e Westminster que, segundo a narrativa escrita de James Anderson, se deu a 24 de junho de 1717, dia de São João.

Vale mencionar que com a fundação dessa primeira Grande Loja era também inaugurado o primeiro sistema obediencial do mundo, cuja característica principal foi a de trazer um Grão-Mestre como seu dirigente maior.

O primeiro Grão-Mestre eleito dessa Grande Loja foi o Companheiro Anthony Sayer (ainda não existia o grau de Mestre) que foi empossado também no dia 24 de junho de 1717, dia de João, o Batista, verão no hemisfério Norte.

Com base nessa tradição é que na Moderna Maçonaria a maioria das Obediências e as suas respectivas Lojas dão posse aos seus dirigentes no dia de João, o Batista. Contudo, vale mencionar que muitas Obediências e Lojas (Escócia por exemplo) dão posse aos seus dirigentes no dia 27 de dezembro, dia de João, o Evangelista, inverno no hemisfério Norte.

No que diz respeito à possibilidade de as datas das posses estarem ligados a algum Landmark da Ordem, creio que não, até porque essa prática se correlaciona de fato com tradições, usos e costumes da Maçonaria, o que não pode ser confundido especificamente com um Landmark (imemorial, espontâneo e universalmente aceito).

Por fim, cabe considerar que o misticismo dos ciclos da Natureza sempre teve relação com as alegorias iniciáticas da Maçonaria. Independente de qual vertente maçônica o rito ou ritual pertença, sempre haverá nele algum aspecto relacionado à Luz. Até os calendários adotados pela Sublime Instituição se relacionam com os ciclos naturais e a sua renovação – conforme o calendário o ano maçônico pode iniciar no dia 1º ou 21 de março (equinócio de primavera no Norte). Alguns calendários, entretanto, foram adaptados ao mês de junho para coincidir com as posses administrativas. No Brasil a maioria das posses se dá no dia 24 de junho (ou próximos a ele), refletindo, provavelmente, a data da posse do primeiro Grão-Mestre da primeira Grande Loja de Londres e Westminster que se deu nessa data no século XVIII. Posses no dia de João, o Evangelista, por aqui não ocorrem porque nessa data a Maçonaria brasileira costumeiramente se encontra em férias.

T.F.A.
PEDRO JUK - jukirm@hotmail.com
Fonte: http://pedro-juk.blogspot.com.br

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