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quarta-feira, 23 de junho de 2021

QUEM INSTRUI, PRIMEIRO OU SEGUNDO VIGILANTE?

QUEM INSTRUI - PRIMEIRO OU SEGUNDO VIGILANTE?
(republicação)

Em 20/04/2017 o Respeitável Irmão Jaime Ribeiro da Silva, sem mencionar o nome da Loja, Rito e Obediência, Oriente de Cruzeiro, Estado de São Paulo, através de correspondência via Trolha, formula a seguinte questão:

Cabe ao Primeiro Vigilante instruir os Companheiros e ao Segundo Vigilante os Aprendizes?

Não é o que ensina a primeira instrução dos Aprendizes.

CONSIDERAÇÕES:

De modo autêntico quem instrui os Aprendizes é o Segundo Vigilante, enquanto que os Companheiros é o Primeiro Vigilante.

Essa prática na Moderna Maçonaria é devida à hierarquia na Loja e não pelo fato de que se deva coincidir com o Vigilante da respectiva Coluna.

Nos ritos maçônicos que nasceram no hemisfério setentrional, sempre os Aprendizes ocuparão o Norte e os Companheiros o Sul. Isso se dá inclusive para aqueles ritos que por razões históricas tradicionalmente invertem os seus Vigilantes (o Primeiro no Sul e o Segundo no Norte). Mesmo nesses, os Aprendizes permanecem no Norte e os Companheiros no Sul, excetuando-se algum rito que porventura tenha nascido no hemisfério meridional, como é o caso do Rito Brasileiro – nesse os Aprendizes ficam no Sul e os Companheiros no Norte.

Para que se possa entender isso é preciso antes se despir da fantasia de que o Templo Maçônico seja um modelo copiado do Templo de Jerusalém, pois na realidade a sala da Loja é simbolicamente um canteiro especulativo de obras composto simbolicamente por um segmento da superfície do Planeta e situado sobre o equador terrestre, cujos limites são relativos aos pontos cardeais. Seu piso é o solo terrestre e a sua cobertura é o céu.

Dados esses comentários indispensáveis, segue então a razão histórica do ministério de instrutor dado a cada Vigilante da Loja maçônica.

Na Maçonaria de Ofício (antecessora da Maçonaria dos Aceitos), na época dos canteiros medievais quando não existiam ainda nem ritos e nem templos maçônicos, os maçons se reuniam literalmente nos canteiros de obras, nos adros das igrejas e nas tabernas. Naqueles tempos, quando da admissão de um novo membro na guilda de construtores – isso ocorria geralmente no solstício de verão europeu, dia de São João, o Batista – costumeiramente era o Segundo Vigilante que recebia o candidato à admissão e lhe ministrava as primeiras instruções e informações. Instruído e informado, o candidato era então conduzido até o Primeiro Vigilante que fazia uma prece em seu favor. Em seguida o candidato era recebido na forma de costume pelo Mestre da Obra (na época um Companheiro experiente) que lhe tomava a “obrigação” diante do Evangelho de São João entregando-lhe em seguida as luvas e o avental operativo. O candidato então era constituído Aprendiz Admitido no Ofício e o Segundo Vigilante o conduzia até os instrumentos de trabalho para lhe ensinar os segredos da profissão.

Para receber aumento de salário, o que viria ocorrer somente após ter sido cumprido o seu tempo de aprendizado (geralmente de três ou cinco anos), o Aprendiz era então proposto e instruído como Companheiro de Ofício. Nessa oportunidade, quem o recebia era o Primeiro Vigilante, ocasião em que verificava e comprovava a sua habilidade no exercício da profissão. Certificando-se, o Primeiro Vigilante lhe ministrava as instruções finais e o recomendava ao Mestre da Obra para que ele fosse constituído Companheiro de Ofício (Fellow Craft).

Essa é uma síntese de como era o processo ancestral da Iniciação e do aumento de salário de um maçom operativo, bem como o de quem o instruía no trabalho. É oportuno lembrar, entretanto, que naquela época a Maçonaria de Ofício era constituída apenas por duas classes de trabalhadores - a dos Aprendizes e a dos Companheiros. Elas eram classes profissionais e não graus especulativos como hoje os conhecemos, a despeito ainda de que o Mestre da Obra era um Companheiro escolhido entre os mais experientes da Guilda.

Dado a esse roteiro ancestral é que genuinamente o Segundo Vigilante era quem recebia e instruía os Aprendizes e o Primeiro Vigilante, os Companheiros, destacando que na época o processo iniciático não era como o que hoje conhecemos e nem mesmo se dava em recintos decorados por liturgias específicas. A Loja era literalmente uma oficina (canteiro de obras) onde trabalhavam os artífices da pedra de cantaria.

Assim, no intuito de se preservarem os costumes do passado, é que alguns ritos da Moderna Maçonaria procuraram preservar a tradição (a exemplo do REAA) atribuindo emblematicamente ao Segundo Vigilante a missão de instruir os Aprendizes e ao Primeiro os Companheiros, destacando-se que os Aprendizes ocupam o Norte do recinto e o Segundo Vigilante o Sul, enquanto que os Companheiros ocupam o Sul e o Primeiro Vigilante o Norte.

Nesse caso a questão não é a de que os Vigilantes necessariamente precisem ser os instrutores nas suas respectivas Colunas, mas a de tradição e hierarquia, até porque esse tem sido apenas um elemento figurado de interpretação, pois a qualquer Mestre do Quadro é dado o ofício de instruir.

É verdade, porém, que existem ainda muitos rituais escoceses em vigência adotados pelas Obediências que às vezes não seguem essa regra autêntica, contradizendo equivocadamente as verdadeiras origens e costumes da Ordem. Infelizmente eles existem e muitos deles são legalmente adotados.

Outro aspecto relevante para ser observado é que na Moderna Maçonaria a regra que envolve os Vigilantes, e deles qual instrui, não é universal quando se tratar de Ritos e Rituais, pois nem todos eles seguem essa particularidade, já que originariamente muitos ritos nasceram cada qual com a sua própria liturgia. Em síntese, não se deve generalizar procedimentos na Maçonaria achando que nela tudo é igual.

Mesmo nos rituais escoceses brasileiros encontramos inúmeras contradições nesse sentido que geralmente foram adquiridas através de cópias (tesoura e cola) de rituais anacrônicos do passado, mas que continuam se espalhando como ervas daninha no solo da cultura maçônica.

Não me canso de mencionar que infelizmente muitos Irmãos, sem qualquer critério, ficam por aí defendendo teses ritualísticas, principalmente em grupos na Internet e fazendo comparações como: “era assim no passado”, “eu tenho muitos rituais antigos”, etc. Infelizmente, esses se esquecem de que antes de se proferir considerações laudatórias, primeiro é prudente se certificar da veracidade dos fatos escritos. Afinal, nem tudo que reluz é ouro.

Outro enorme problema relacionado aos que apenas se prendem nos escritos de rituais anacrônicos é o de que muitos deles não compreendem a razão existencial de cada prática ritualística e a sua simbologia. Sintetizando, a questão não é apenas a de estar escrito, mas sim a razão dela existir na liturgia do rito – isso é básico para a compreensão de um arcabouço doutrinário.

Concluindo, são esses os apontamentos relativos às instruções e quem é o responsável por ministra-las aos Aprendizes e Companheiros, particularmente no Rito Escocês Antigo e Aceito.

E.T. 1 – A questão de quem deve instruir e de quem deve receber a instrução é somente de caráter figurado para preservar tradições, mas não de obrigatoriedade, já que é dever de todo o Mestre Maçom ministrar preleções instrutivas em Loja, daí nem sempre a incumbência de prover instruções inseridas nos rituais estarem direcionadas exclusivamente para esse ou aquele Vigilante. Conforme os rituais, delas geralmente participam, além dos Vigilantes, o próprio Venerável, o Mestre de Cerimônias, os Diáconos, etc. - tudo conforme o Rito adotado. O mais tradicional no que diz respeito à incumbência dos Vigilantes para esse mister é mesmo o das instruções que visam promover aumento de salário.

E.T. 2 – Como prática dos “antigos”, vide o Craft inglês que aqui no Brasil é conhecido como Rito de York. Nele a Pedra Bruta fica junto ao Segundo Vigilante no Sul e os Aprendizes no lado oposto no nordeste da sala da Loja, enquanto que a Pedra Cúbica fica junto ao Primeiro Vigilante no extremo do Ocidente e os Companheiros no lado Sul da Loja. Esse é um fato que demonstra perfeitamente não haver necessidade de coincidência de lado (coluna) entre o que instruí e o que é instruído.

T.F.A.
PEDRO JUK
jukirm@hotmail.com
Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br

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