ADOÇÃO DE LOWTONS E O CULTO DE MITRA (MITRAISMO)
Hercule Spoladore – Loja de Pesquisas Maçônicas Brasil – Londrina - PR
A Adoção de Lowtons e o casamento maçônico são talvez as duas cerimônias ritualísticas que podem ser assistidas por profanos em toda a sua totalidade.
A Adoção de Lowtons foi acrescentada às cerimonias maçônicas não muito tempo após a fundação da Maçonaria Moderna ou Especulativa, ou seja, a partir de 1717. Segundo José Castellani, Goerge Washington, que nasceu em 1732 foi lowton e iniciado em 04/11/1752 aos vinte anos de idade na Loja Fredericksonburg nº 4 na Virginia. Esta prática foi sido importada da Inglaterra.
Era uma cerimônia realizada com muito mais frequência no Brasil há cerca de 20 a 30 anos atrás. Com o advento dos De Molays, APJ (Associação Paramaçônica Juvenil) para jovens do sexo masculino, Arco-íris, Filhas de Jó para as jovens do sexo feminino a partir de 1980, quando o Brasil maçônico importou estas Ordens dos Estados Unidos. A Ordem de De Moaly aceita jovens de 12 a 21 anos.
Em função da idade dos jovens serem próximas às idades dos meninos e jovens a serem tornarem adotados quando até jovens de 17 anos poderiam ser adotados, estas novas organizações paramaçônicas por sua organização, sua participação dinâmica ritualística, com promoções filantrópicas, na sociedade diminuiu muito a cerimônia de Adoção de Lowtons nas Lojas e que até está em desuso, pois existem lojas mais modernas que nem sabem desta ritualística maçônica. Atualmente apenas um número diminuto de lojas ainda realiza a Adoção de Lowtons. Muitas Lojas não cumprem o compromisso assumido junto ao adotado e o Paraninfo ou Padrinho também não dá atenção que deveria dar ao seu afilhado através de ensinamentos que evidentemente preparariam o lowton para um dia ser maçom. Outros tempos, outros costumes e uma tradição linda está em desuso. Só que a Adoção de Lowtons é uma prática ritualística tipicamente maçônica e não paramaçônica.
Ainda segundo Castellani a Ordem de Molay foi fundada em 1919 em Kansas City pelo maçom Franck Shermann Land. Foi introduzida no Brasil em 1980 com a criação do Capítulo do Rio de Janeiro sob a liderança do Irmão Alberto Mansur, Grande Soberano do Supremo Conselho REAA, ligado ás GGLL.
O termo lowton não existe nos dicionários comuns. É uma palavra cuja origem não está bem esclarecida. Tem outras maneiras de escrever ou de se pronunciar: lawtons, Lewis, luverton, luston ou até sobrinhos.
Atualmente a palavra tem tomado mais o sentido de lobinho ou leãozinho como tradução. Não existe na língua inglesa como termo em seus dicionários.
Segundo alguns autores maçônicos, e estes existem muitos, cada qual com sua interpretação, a origem da palavra é muito antiga e estaria ligada a mitologia persa e significaria “jovem lobo”. Diz-se que os filhos dos Iniciados nos Antigos Mistérios usavam uma máscara que simbolizaria o lobo.
Este costume originava na crença dos antigos persas, depois incorporada a mitologia egípcia e romana em estreita relação entre o lobo e o sol, a quem o candidato representava durante a iniciação, porque diziam “assim como o rebanho foge e desaparece com a aproximação do lobo, assim as constelações desaparecem diante da luz do sol”.
Para os maçons deve se entender por lowton o filho descendente ou dependente adotado por uma loja durante a idade de 7 a 17 anos (minoridade). Existem potências maçônicas que adotam também meninas, o que é discutível não havendo concordância entre a maioria dos autores. A maioria entende que por tradição é uma cerimônia somente para meninos.
Trata-se de um compromisso público da loja e do Padrinho ou Paraninfo, que deverão proteger o adotado e se necessário pagar-lhe o estudo até o curso superior e se for órfão, sustenta-lo até a maioridade.
O lowton poderá ser iniciado aos 18 anos de idade, desde que passe pela mesma sistemática de aprovação exigida a qualquer profano e desde que o Pai ou Tutor consinta e pague suas obrigações pecuniárias desde que o jovem não tenha condições até os 21 anos, quando ele poderá receber o grau de Mestre.
A cerimônia de Adoção deve realizada no dia 24/06, dia de São João ou em dia próximo a 25 de dezembro, mas existem lojas que o fazem em outras datas como, por exemplo, dia 12 de outubro – Dia da Criança, dia do aniversario da Loja. Mas pode ser em qualquer data, a critério da Diretoria.
Não é correto chamar a adoção de lowtons de Batismo Maçônico, pois este erro poderá ser considerado como afronta ás religiões.
No ritual de Adoção de Lowtons predominam as práticas mitraicas.
Mitra seria filho do deus persa Aura Mazda do Bem, teria nascido em um rochedo em 25 de dezembro também se fala da presença de pastores que o reverenciaram e lhe trouxeram presentes reconhecendo a sua missão à qual estava predestinado. Mitra passou a converter os homens a serem úteis ao seu próximo e principalmente os habilitando para a agricultura. Para tanto teria firmado um pacto com o sol. Terminada sua missão no mundo, Mitra teria participado do banquete sagrado com o sol e subiu aos céus para voltar um dia e conceder a vida eterna a todos os fiéis.
O mitraismo organizado e iniciático como culto ao mesmo tempo como religião política e militar pode se situar a partir do século VI A.C.
A iniciação mitraica em si para os adultos era muito complicada. Tinha sete graus. O Iniciando tinha que apresentar provas de coragem física e mental e de fidelidade absoluta. O último grau habilitava o iniciando a uma comunhão mística com o sol, o deus Sol, seu amigo.
Usavam o batismo a agua lustral, para lavagem do templo, a purificação dos iniciandos, a agua benta, o sal, abluções ritualísticas e a refeição sagrada (a comunhão). Guardavam os domingos, os dias santificados, principalmente o dia 25 de dezembro por ser este dia imediato ou próximo do solstício de Inverno, ocasião em que o sol, recomeça a sua volta, partindo do sul do equador e “renascendo” volta a dar vida à terra.
Pelas similaridades pode-se se ver onde o cristianismo romano foi buscar suas inspirações no culto de Mitra (fontes persas).
São de origem mitraica na adoção de lowtons, a roupa branca que significa a pureza, a decoração das paredes do templo em branco pela mesma razão, água nas mãos para que elas permaneçam puras, sal na fronte para conduzir o lowtons a ter ideias justas e sadias, a benção dos olhos, o uso do incenso, o mel sobre os lábios para que o iniciando só profira palavras doces, a oferta do pão como fonte de alimento e do vinho. O vinho símbolo da vida que sol traz e para fazer com o iniciando tenha sabedoria e lute pelo bem e o fogo para purifica-lo.
A Maçonaria acrescentou a estes procedimentos o avental, a medalha e as luvas brancas e a Loja desta forma torna o jovem filho adotivo. Por esta razão deve se ter muito cuidado e prudência ao receber estes jovens. Após a cerimônia, deverá ser entregue um diploma, no qual a Loja declara que o lowton foi adotado por ela. Algumas lojas também costumam dar uma pequena medalha com os emblemas maçônicos, onde apareça escrito o nome da Loja, bem como o nome do lowton.
Quando se assiste uma bela cerimônia de Adoção de Lowtons vendo aquelas crianças ou então jovens de 14 ou 15 anos, deve-se imaginar que esta cerimônia teve como fonte inspiradora a Antiga Pérsia através do culto de Mitra.
Resta a apenas perguntar se o véu que cobre parcialmente a cabeça e faces dos lowtons em sinal de pureza e ingenuidade não teriam reminiscências na já citada máscara do jovem lobo dos Antigos Mistérios, usados pelos antigos seguidores do culto de Mitra.
Referências
ASLAN, Nicola – Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbolo Editora Artenova – Volume - Rio de Janeiro, 1972
CASTELLANI, José – Cadernos de Estudos Maçônico - Consultório Maçônico II e III - Editora “A Trolha” -Londrina, 1989
VAROLI, Teobaldo Fº - Curso de Maçonaria Simbólica - Editora A Gazeta Maçônica.S.A. - São Paulo, 1970
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