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terça-feira, 4 de outubro de 2016

COMO DEVE PRATICAR-SE A CARIDADE

COMO DEVE PRATICAR-SE A CARIDADE
(Desconheço o autor)

Fala-se também muito, na Maçonaria e em outras instituições filantrópicas, da caridade e beneficência, como deveres que os mais afortunados tem para com os "desafortunados e deserdados da sorte". Mas, dificilmente a caridade e beneficência chegam a ser verdadeiramente caritativas e benéficas, porquanto procedem do erro, bem mais que da verdade, e assim contribuem muitas vezes a reforçar e tornar estático ou crônico o mal que querem eliminar, reforçando sua raiz.

Como ensinado por todos os sábios em todos os tempos (e esta pode ser, de certa maneira, a pedra de medição da verdadeira Sabedoria), a raiz e a causa primeira de todos os males, deve ser procurada no erro ou na ignorância. E até que não se remedie este erro e esta ignorância, toda a forma de caridade não será mais que um paliativo, pois não elimina a raiz do mal, senão que muitas vezes a torna ainda mais forte e vital com a própria consciência do mal que estimula.

Por exemplo, não há dúvida que o Tronco de Solidariedade oportunamente circulando em favor de um irmão necessitado, ou de outro caso piedoso, possa constituir uma ajuda útil e providencial a ajuda direta a esta ou aquele irmão. Mas, se a ajuda pecuniária (cujo valor e efetividade não podem ser senão temporais e transitórios) é acompanhada pelos presentes, como quase sempre acontece, por seus sentimentos e pensamentos de compaixão, e pior ainda, de comiseração, ou, se a pessoa necessitada for considerada impotente e em estado de inferioridade, a influência destes pensamentos de compaixão, e pior ainda, de comiseração, ou, se a pessoa necessitada for considerada impotente e em estado de inferioridade, a influência destes pensamentos torna muito pouco desejável e efetiva a ajuda, pois que contribui para abater bem mais que a realçar seu estado moral e a confiança em si mesmo.

O mesmo deve ser dito, e com maior razão, de toda forma de beneficência que mais que uma simples e espontânea manifestação do espírito de fraternidade entre irmãos livres e iguais, torne manifesta a distância entre benfeitor e beneficiado, ou de alguma forma em humilhação, se transforme para este a dádiva, com a qual paga muito cara a ajuda recebida. Não vamos dizer nada da beneficência que serve de pretexto à ostentação e à vaidade, pois neste caso dificilmente poderá considerar-se digna de tal nome.

A verdadeira beneficência deve ser secreta e espontânea e não deve envolver em si nenhuma forma de humilhação. Prever as necessidades de um irmão que se ache manifestamente em dificuldades é muito mais fraternal que esperar que este peça uma ajuda, pois com o pedido esta já está quase paga e nada se paga tão caro como quando se pede.

A mão que dá com verdadeiro espírito de fraternidade deve ser escondida, e "a esquerda não deve saber o que faz a direita". Deveria assim condenar-se absolutamente a prática em uso em algumas Lojas, de pedir a outras uma contribuição para ajuda a algum irmão, especialmente dando o nome deste irmão. Nem na própria Oficina deveria ser divulgado o nome da pessoa socorrida, pois não há necessidade de que se torne conhecida, com exceção daquelas que diretamente intervêm para ajudá-la.

A MAIS VERDADEIRA AJUDA

Ainda que a ajuda direta possa ser, em alguns casos, útil e necessária (sempre que for uma verdadeira manifestação espontânea de solidariedade e fraternidade) é muito melhor dirigir-se à raiz do mal, em vez de contentar-se com remediar temporariamente seus sintomas exteriores.

A pessoa que se acha em circunstâncias materiais difíceis tem antes de tudo, necessidade de ser ajudada espiritual e moralmente, com pensamentos positivos que reergam seu estado de ânimo abatido, e tenham para ela o efeito das palavras taumatúrgicas: Levanta-te e anda! Ajudar um irmão a caminhar sobre seus próprios pés é muito melhor que provê-lo de muletas. Facilitar um meio de ganhar por si mesmo aquilo de que necessita é muito mais fraternal, desejável e digno que facilitar-lhe uma ajuda que o ponha, como beneficiado, em condições de inferioridade.

Mas quando isto não for possível momentaneamente, compartilhar o que temos, com verdadeiro espírito de solidariedade fraternal, segundo o próprio ditado da consciência, deve ser considerado como um dever elementar, um privilégio e uma oportunidade para todo iniciado que verdadeiramente sinta em seu coração o laço de fraternidade, a mística cadeia de união que o une a todos os seres, e em particular aqueles com os quais tem uma mais profunda afinidade moral e espiritual.

As precedentes considerações não devem ser entendidas com meios para afastar alguém de seus deveres de solidariedade para com seus semelhantes em geral, e seus irmãos em particular, mas ao contrário, para que eles sejam melhor atendidos e praticados, despojados de toda ostentação por parte de quem dá e de toda humilhação por parte de quem recebe, como convêm para uma verdadeira expressão do espírito maçônico, que não pode ser nunca isolamento negativo nem deprimente solicitude.

Elevar-se sobre os sentimentos e os conceitos profanos de caridade, para realizar a verdadeira fraternidade dos iniciados, na qual aquilo que é feito por um irmão possui o mesmo espírito como se fosse feito para si mesmo, sem que disso nasça nenhuma obrigação ou dever de mostrar-se reconhecido, este tem de ser o ideal de todos os verdadeiros maçons.



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